Medicina ecológica: Descubra como cuidar da sua saúde sem sacrificar o planeta
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Medicina ecológica - Alex Botsaris
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B767m
Botsaris, Alex
Medicina ecológica [recurso eletrônico] / Alex Botsaris. - 1. ed. - Rio de Janeiro : BestSeller, 2020.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5712-027-9 (recurso eletrônico)
1. Medicina alternativa. 2. Saúde ambiental. 3. Livros eletrônicos. I. Título.
20-65161
CDD: 615.85
CDU: 61:502
Camila Donis Hartmann - Bibliotecária - CRB-7/6472
Copyright © 2008 by Alexandros Spyros Botsaris
Editoração eletrônica da versão impressa: Abreu’s System
Capa: Sergio Campante
Ilustrações de miolo: Igor Campos
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia por escrito da editora, sejam quais forem os meios empregados, com exceção das resenhas literárias, que podem reproduzir algumas passagens do livro, desde que citada a fonte.
Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil reservados pela
EDITORA NOVA ERA um selo da EDITORA BEST SELLER LTDA.
Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: 2585-2000
Produzido no Brasil
ISBN 978-65-5712-027-9
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Sumário
1. Origens da medicina ecológica
2. O meio ambiente e a mudança de paradigmas
3. O princípio da precaução
4. Medicina ecológica e ética médica
5. Ecologia e inovação conceitual na medicina e na biologia
6. Toxicologia ambiental: um grande problema de nosso tempo
7. Os medicamentos no futuro
8. Ecologia e a causa de doenças
9. A medicina ecológica e o indivíduo
10. A medicina ecológica e o meio ambiente
11. A medicina ecológica e as medicinas complementares
12. Epílogo: É agora ou nunca
Dedico esse livro à memória de meu pai, Marcos Botsaris
1
Origens da medicina ecológica
PODE-SE CONSIDERAR QUE A medicina ecológica nasceu da fusão entre ecologia e medicina, duas áreas do conhecimento humano que têm pontos em comum: enquanto a ecologia trata da saúde dos ecossistemas, ou seja, dos conjuntos de seres vivos, a medicina trata exclusivamente da saúde de uma única espécie, o ser humano. Entretanto, essa seria uma visão simplista. A medicina ecológica foi formada por grupos de origens diferentes, e em processos de dinâmica própria, em cada país ou cidade onde surgiu.
Alguns desses grupos emergiram da ecologia social, uma interface entre sociologia e ecologia que procura entender as relações humanas a partir da perspectiva ecológica. Seus estudos concluíram que seria mais completo compreender a doença mental e mesmo física sob o ponto de vista ecológico do que recorrendo ao clássico conceito médico de patologia e fisiopatologia. Um dos trabalhos realizados nesse sentido passou a ser desenvolvido por um núcleo da University of California (UCLA) na segunda metade da década de 1990.
Na Rússia, a ideia partiu de médicos sanitaristas que trabalham com medicina preventiva, vertente que tem utilizado de forma ampla conceitos da ecologia (como nicho ecológico e vetores de doença)¹ para entender a dinâmica das doenças transmissíveis que se alastram de outras espécies animais para o homem. Na visão desses pesquisadores, é mais simples entender as doenças que desenvolvemos quando se olha o ser humano inserido em seu nicho ecológico.
Também na Europa surgiram trabalhos oriundos da medicina psicossomática, uma especialidade que busca criar modelos para se analisar os distúrbios humanos de ambos os pontos de vista, físico e psíquico — tanto na compreensão de sua dinâmica quanto na proposta de estratégias para tratamento. Alguns médicos que se especializaram nessa área concluíram que usando o conceito de nicho ecológico todas as influências capazes de gerar uma doença, inclusive as psíquicas, estão contempladas. Assim, a medicina ecológica seria uma abordagem mais completa do ser humano, fazendo surgir uma estratégia terapêutica mais adequada à sua proposta.
Há ainda as correntes que vieram das medicinas complementares, antes denominadas alternativas. Tal como a medicina ecológica, elas se baseiam no modelo holístico, para o qual o homem não pode ser separado do meio ambiente em que vive. A medicina convencional, contudo, tem dificuldade em desenvolver esse tipo de visão, deixando de incorporar essas técnicas a seu universo de ideias. Por isso, profissionais que praticam a medicina complementar enxergam na medicina ecológica a possibilidade de transformar a ciência médica tecnológica em algo mais humano e próximo do paciente, o que permite maior afinidade entre as duas correntes.
Contudo, os grupos mais fortes e atuantes vieram da toxicologia ambiental, cujos estudos se baseiam nos efeitos negativos que as substâncias tóxicas lançadas no meio ambiente podem ter sobre a saúde, que tipo de doenças elas provocam e como tratar essas intoxicações. Sabemos que novas substâncias químicas vêm sendo produzidas e amplamente utilizadas. Que consequências isso pode trazer para as formas de vida que conhecemos?
A arqueóloga Carolyn Raffensperger, atual diretora-executiva da Science & Environmental Health Network (Rede de Ciência e Saúde Ambiental), uma das ONGs mais atuantes nesse campo, é considerada uma das primeiras pesquisadoras a usar o termo medicina ecológica
. Já há algum tempo, faz palestras em todo o mundo, alertando para o fato de o meio ambiente estar cada vez menos saudável, enquanto diversas doenças vêm se tornando cada vez mais frequentes. Mesmo com todos os avanços da medicina, males como diabetes, pressão alta, depressão, ansiedade, insônia, transtorno obsessivo-compulsivo, dislipidemias, infertilidade, cólon irritável, alergias, aterosclerose e vários tipos de câncer têm se disseminado de maneira alarmante. Contudo, embora Raffensperger utilize a abordagem sanitarista para promover o conceito da medicina ecológica entre os médicos, os setores mais conservadores da medicina, justamente os que têm maior poder de influência nas universidades e associações médicas, ainda se mostram bastante resistentes a essa nova visão.
Na prática, a medicina ecológica está muito ligada aos conceitos da saúde pública, considerada um ramo da medicina. A diferença é que, nessa área, a preocupação é limitada a setores como saneamento básico, condições de habitação etc. A medicina ecológica, por sua vez, é bem mais ambiciosa: sua proposta é que toda a medicina, independente de sua especialidade, seja feita a partir da perspectiva ecológica.
No Brasil, onde a qualidade de nosso serviço médico se encontra em queda livre, necessitando de ideias para se renovar, ainda não se fala na medicina ecológica. Não só estamos significativamente desatualizados em alguns campos importantes — como a toxicologia ambiental, por exemplo —, como temos atuado de maneira conservadora, seguindo os passos do modelo norte-americano.
Assim como a economia atravessa uma grande crise no mundo, a medicina tem sido grave e amplamente questionada, uma vez que seu custo, que não para de aumentar, não se vem refletindo em benefícios proporcionais à saúde. A medicina ecológica pode ser uma luz no fim do túnel. Há uma grande necessidade de renovação de valores e de resgate de uma conduta ética — elementos que, como veremos ao longo deste livro, são fundamentais para os desafios que a medicina, e mesmo a espécie humana, vai enfrentar no novo milênio.
Por outro lado, é possível que a partir dessa grande crise brote a oportunidade para que essa transformação se realize. O advento da internet tornou a comunicação mais dinâmica, enquanto os desafios ambientais, cada vez maiores e mais presentes na vida das pessoas, vão colocar a ecologia no centro das preocupações da sociedade.
O Brasil é um país jovem e com enorme potencial de desenvolvimento, mas precisa ter maturidade para desenvolver em seu seio as ideias inovadoras, sem esperar pela aprovação alheia. Temos de abandonar o ranço colonialista, fruto de uma sociedade que só valoriza o que vem de fora e vive correndo atrás do que é produzido nos países do Primeiro Mundo. Embora estejamos um pouco atrasados nos debates sobre a medicina ecológica, minha expectativa é que este livro funcione como um estímulo a essas novas ideias.
1. Nicho ecológico é um local com características específicas de clima, relevo, composição química e outras variáveis ambientais, em que um grupo de espécies coabita de forma sustentável e harmônica. Vetores de doença são agentes que transmitem doenças aos seres humanos.
2
O meio ambiente e a mudança de paradigmas
AS PRÓXIMAS DÉCADAS SERÃO decisivas para a espécie humana e para a evolução da sociedade moderna. Nunca o homem encarou desafios tão grandes — não apenas relacionados à própria sobrevivência, como também à preservação de inúmeras espécies que vivem na Terra. A questão é vital e urgente e não pode mais ser adiada: como habitar este planeta, usufruindo de todas as suas riquezas, sem destruí-lo?
A atividade humana vem modificando o meio ambiente e a superfície terrestre de tal forma que até o clima vem sendo afetado. A temperatura da atmosfera está se elevando e as consequências dessa elevação são assustadoras. O derretimento do gelo nos polos e nas montanhas acrescentará alguns decímetros no nível do mar — números suficientes para que as águas invadam regiões costeiras, destruindo milhões de quilômetros de ecossistemas e provocando impacto negativo em recifes de coral. Milhares de espécies correm risco de extinção e os ambientes naturais estão cada dia mais reduzidos.
Furacões e tempestades se tornarão ainda mais intensos e devastadores, aumentando a velocidade de ventos e o volume de precipitação, uma vez que esses fenômenos dependem da diferença entre as temperaturas na superfície da Terra e na estratosfera (o delta T
). Alguns décimos de grau a mais na atmosfera terrestre significam bilhões de joules (medida de energia termodinâmica) a mais — o que se traduz em mais ventos e mais chuva. Movidas a ar quente, as zonas de alta pressão, dispersoras de ventos, também devem aumentar. Como são elas que criam os desertos, a expectativa é que se ampliem as zonas áridas e semiáridas em todo o planeta. Muitas regiões, como o sertão do Nordeste brasileiro, correm o risco de se transformar em desertos. Paralelamente a isso, lugares que têm ecossistemas mais sensíveis às variações de temperatura, como as regiões polares e frias, devem sofrer modificações drásticas no clima, levando ao extermínio de milhares de espécies.
Os prejuízos causados pela relação predatória que o homem mantém com a natureza não param por aí. Além dos danos ambientais, a vida das pessoas e a economia também serão atingidas. A produção de alimentos deverá ser afetada, com a elevação dos preços e o crescimento da fome no mundo. Pessoas que moram no litoral poderão ser obrigadas a abandonar suas casas. Parte da infraestrutura dos países necessitará de reparos e mudanças a um custo de trilhões de dólares. Tudo isso vai pesar no bolso das pessoas, causando queda em seu poder aquisitivo e alterações significativas em sua qualidade de vida.
Na análise de vários cientistas que estiveram reunidos na Conferência Mundial para o Clima, patrocinada pela ONU, a tendência é que os problemas ambientais se agravem progressivamente. Caso medidas profundas e radicais não sejam adotadas para preservar o meio ambiente e neutralizar alguns dos desequilíbrios já causados, estaremos colocando em risco a própria raça humana. Dados coletados nos últimos anos apontam para cenários ainda mais sérios e pessimistas já na próxima década. Muitos governos estão estudando medidas e programas de proteção ambiental para fazer frente a esses desafios.
A crise ambiental não se limita ao aquecimento global. A camada de ozônio, que desempenha papel fundamental na proteção dos seres vivos contra a radiação ultravioleta emitida pela luz solar, tem sido destruída por gases produzidos pelo homem. Entre eles, os cloro-flúor-carbono (CFC), eliminados pela indústria e considerados os mais destrutivos. Mas não são os únicos: já existem evidências de que outros produtos gasosos tenham o mesmo efeito deletério.
Toneladas de resíduos tóxicos e substâncias químicas que não se degradam, atiradas sistematicamente na superfície do planeta, vêm se acumulando nos ecossistemas, causando uma série de prejuízos às espécies e contaminando cada vez mais o meio ambiente. Muitos desses resíduos vêm envenenando os lençóis freáticos, comprometendo as fontes de água potável, já bastante alteradas pela poluição dos rios. Segundo as últimas previsões, a água — elemento fundamental para a vida — vai faltar no futuro. Enquanto isso, o aumento da população mundial traz novas consequências à contaminação do solo, como a redução significativa dos terrenos habitáveis. Simplesmente, essa é uma conta que não fecha.
A tendência é que, nos próximos anos, os efeitos das mudanças provocadas pelo homem no planeta se tornem mais perceptíveis e comecem a causar problemas na maior parte dos países. Sentindo esses efeitos cada vez mais próximos, a opinião pública se mobilizará, conscientizando-se para o fato de que, sem vencer o desafio ambiental, o homem corre sérios riscos de comprometer a própria sobrevivência na Terra.
Ao assumir importância cada vez maior nas sociedades organizadas no mundo, o tema ecologia se transformará na questão central em torno da qual vão gravitar outros temas, como o arcabouço legal, a economia e a política. Não será mais possível pensar em qualquer atividade humana que seja incompatível com a continuidade da vida no planeta.
Essa