Primeira infância: dicas de especialistas para esta etapa que é a base de tudo
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Sobre este e-book
Não faltam estudos e pesquisas ao redor do mundo com evidências econômicas, sociais e de saúde para atestar a importância do investimento nessa fase da vida: tanto em atenção e afeto por parte dos pais e cuidadores; quanto em recursos financeiros por parte das autoridades públicas.
Nas páginas deste livro, você, que tem filhos na primeira infância (ou está planejando tê-los), vai encontrar uma seleção de capítulos que abordam a educação de crianças.
Nosso objetivo é ajudar pais e mães a fazer a diferença na vida dos pequenos nessa etapa que é a base de tudo.
Generosamente, cada um dos coautores dessa obra compartilha conhecimentos e experiências em diferentes áreas de estudo para inspirar você na desafiadora missão de acolher, aí na sua casa, uma semente do futuro.
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Primeira infância - Ivana Moreira
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Apresentação
Se a gente muda o início da história, a gente muda ahistória toda
Junto com meu filho mais velho, nasceu em mim um desejo enorme de ser a melhor mãe do mundo para aquele garotinho. Mas eu não tinha, àquela época, a menor clareza sobre o que significava, de fato, ser uma boa mãe para um menino nos seus primeiros anos de vida. Não tinha a consciência que tenho hoje de que as experiências vividas até os 6 anos de idade definem o futuro de cada criança.
Crianças que recebem os estímulos apropriados até os 6 anos de idade têm um desenvolvimento emocional e cognitivo mais saudável. O que elas vivem nesta etapa vai impactar de forma complexa diferentes áreas da vida quando forem adultas - tanto na vida privada quanto na vida em sociedade.
Não faltam estudos e pesquisas ao redor mundo com evidências econômicas, sociais e de saúde para atestar a importância do investimento nesta fase da vida: o investimento de atenção e afeto por parte dos pais e cuidadores; e o investimento de recursos financeiros por parte das autoridades públicas.
Prêmio Nobel de Economia no ano 2000, o americano James Heckman mostrou que cada dólar investido em políticas de desenvolvimento na primeira infância gera um retorno de 13% para a sociedade - nenhum outro investimento social é tão rentável. O economista provou que qualquer nação que mire no desenvolvimento social precisa investir nas crianças com idade entre 0 e 6 anos.
Meus dois filhos já tinham passado dessa fase quando meu ofício, o jornalismo, me levou a descobrir todos esses estudos. Por puro instinto, acertei em algumas atitudes que tive como mãe. Mas também errei muito, por desconhecimento. E quero que outras mães (e pais) tenham mais informação do que eu mesma tive sobre essa fase ímpar do desenvolvimento de seus filhos.
Criar filhos melhores para o mundo é hoje o propósito que me move. Oferecendo informação, tento ajudar pais e mães a educar meninos e meninas que se tornem adultos emocionalmente preparados para conviver em sociedade e contribuir para o bem coletivo.
Uma das pioneiras mundiais no trabalho de coach para pais, a inglesa Lorraine Thomas costuma dizer que criar um filho é como colorir uma tela em branco. Cada mãe e cada pai é um artista em potencial para pintar uma obra prima: só precisa buscar as informações certas e praticar.
Nas páginas a seguir, você, que tem filhos na primeira infância (ou está planejando tê-los), vai encontrar uma seleção de artigos de especialistas em educação de crianças. Nosso objetivo é ajudar pais e mães a fazer diferença na vida dos pequenos, nesta etapa que é a base de tudo. Generosamente, cada um dos coautores dessa obra compartilha conhecimento e experiência, em diferentes áreas de estudo, para inspirar você nesta desafiante missão que é acolher, aí na sua casa, uma semente do futuro.
Diretora de um documentário tocante, O Começo da Vida
, a cineasta brasileira Estela Renner traduziu numa frase singular (que adoro) o papel dos pais na primeira infância: Se a gente muda o início da história, a gente muda a história toda.
Eu convido você a escrever
a melhor primeira infância para o seu filho. E garantir um final feliz para a história dele.
Boa leitura!
Ivana Moreira
Fundadora da Canguru News, plataforma de conteúdo sobre infância. Certificada em educação parental pela The Parent Coaching Academy (Inglaterra). Colunista de educação do jornal Metro (Grupo Bandeirantes de Comunicação). Como jornalista, foi editora-chefe da revista Veja BH, editora executiva do jornal Metro, chefe de redação da rádio BandNews FM, chefe de redação da TV Band Minas, correspondente do jornal Valor Econômico e repórter do jornal O Estado de S. Paulo. É mãe de Pedro (nascido em 2004) e Gabriel (de 2008).
Prefácio
O que acontece na primeira infância
A primeira infância, fase do desenvolvimento infantil que vai dos 0 aos 6 anos de idade, é a fase de maior crescimento físico, cognitivo e emocional de um ser humano. Não é à toa que um bebê tão dependente até para se alimentar, em poucos anos, aprenda a andar, correr, falar, planejar, resolver problemas, vestir-se, comer e banhar-se sozinho entre tantas outras façanhas.
Os acontecimentos desse período – as experiências, descobertas e aprendizagens - são levados para toda a vida daquele ser humano. Por esse motivo, os estímulos e a interação são tão importantes nessa fase - podem tornar essa criança um adulto mais (ou menos) saudável emocionalmente.
Há alguns séculos, as crianças eram vistas como mini adultos e suas opiniões, ideias ou desejos não eram considerados. Houve até uma época da história da humanidade na qual o trabalho infantil foi estimulado. E, nesse período, as crianças tiveram o seu valor.
É recente, na história, a percepção da importância da infância no desenvolvimento de toda uma geração futura de adultos. Antes, as crianças precisavam apenas ser vestidas e alimentadas.
Os estudos mais recentes da neurociência comprovam que o cérebro de uma criança pequena aprende mais rápido e melhor do que em qualquer outra fase (1 milhão de conexões por segundo!) e se desenvolve a partir de relações e experiências no ambiente em que ela vive. No entanto, se não houver interações significativas nesse período, janelas de oportunidades
serão desperdiçadas. O afeto, as brincadeiras, as conversas, o cuidado com a saúde da criança são fatores que podem ajudá-la a desenvolver seu poder pessoal e autonomia. Percebem o tamanho da nossa importância e contribuição na vida futura dos nossos filhos?
Primeira Infância e Parentalidade no Brasil
No Brasil, ainda temos uma alta taxa de mortalidade infantil, relacionada às péssimas condições de saneamento básico e à enorme desigualdade socioeconômica do nosso país. A porcentagem de crianças que tem acesso a escolas de Educação Infantil de boa qualidade e tem suas necessidades básicas atendidas (nutrição, segurança, afeto etc) ainda é muito pequena.
Felizmente o número de mães e pais que hoje busca compreender melhor as fases do desenvolvimento infantil, para poder lidar com mais sabedoria e eficácia com os comportamentos (muitas vezes desafiadores) das crianças, aumenta a cada dia. Você certamente faz parte desse grupo seleto de adultos - que sabe a importância dos estudos sobre Parentalidade. A criação dos filhos está deixando de ser vista como responsabilidade quase que exclusiva da mãe e muitos pais têm também participado ativamente dessa revolução
nas formas de criação. Existem alternativas às tradicionais formas punitivas ou permissivas que vem sendo discutidas, apresentadas e utilizadas com sucesso nas últimas décadas.
Como profissional da Educação, mãe e madrasta experiente que sou, percebo que o interesse de mães e pais por conteúdos da Pedagogia e Psicologia aumentou nos últimos anos. Eu trabalho com formação de profissionais da educação (professores e coordenadores pedagógicos) há mais de 30 anos e com formação de mães e pais há pouco menos de 10 anos. Atualmente, já formei mais de mil Educadores Parentais em Disciplina Positiva. Hoje, ser educador parental está se tornando uma profissão, além de um propósito de vida: divulgar formas eficazes e respeitosas de criação de filhos.
A quantidade de informação de qualidade era mínima há poucas décadas e o acesso ao grande público muito limitado, pelo menos em português e no Brasil. Minha filha tem, hoje, 23 anos e meus enteados mais velhos 28, 29 e 30 anos (eu os conheci – e me apaixonei por eles- quando tinham 1, 2 e 3 anos). Lembro que nossa maior preocupação, na gravidez e nos anos iniciais da vida dos nossos filhos, era quase que exclusivamente com a saúde do bebê: cuidávamos da nutrição adequada, de preparar um ambiente acolhedor, um enxoval prático e bonito e, as mais estudiosas, liam algum livro sobre limites. Os cuidados com o bebê eram responsabilidade exclusiva da mãe, que por vezes tinha ajuda de alguma outra mulher- uma avó, babá, empregada doméstica ou vizinha. As mães que, depois de 3 meses do nascimento, precisavam voltar a trabalhar, consideravam utilizar os berçários e creches. O foco da maioria das universitárias dos anos 80 e 90 não era a criação dos filhos - era a inserção no mercado de trabalho e a valorização profissional, mesmo sendo mulher. Muitas de nós tínhamos sido criadas exclusivamente por mães que precisaram ou escolheram dedicar-se exclusivamente ao lar e aos filhos. Queríamos romper com esse padrão da sociedade machista e capitalista que vivíamos (passado?). Talvez por isso o mercado da Educação Parental ainda fosse tão pequeno. Ser mãe não era nossa principal meta. E acreditávamos que não precisávamos estudar para isso. Bastava replicar o que nossas mães fizeram conosco ou fazer exatamente o contrário.
Felizmente, as novas gerações de mães e pais são muito mais conscientes da importância do seu papel na educação dos filhos, que, aliás, podem decidir ter ou não. Aliás, essa é a geração da liberdade: podem escolher trabalhar fora/para outras pessoas ou não, casar-se ou não, ter filhos ou não, ter parceir@s ou não, morar perto dos pais e familiares ou do outro lado do mundo. Hoje, finalmente, o cuidar de uma casa, saber cozinhar, costurar etc é tão valorizado como qualquer outra escolha pessoal e profissional. Há alguns anos atrás era um trabalho desvalorizado, invisível. O segredo do sucesso, na minha opinião, é cuidar bem de si mesmo primeiro para poder fazer escolhas sábias e respeitosas e aí, se quiser, ter filhos e assumir a responsabilidade de educá-los.
Há um longo caminho a ser trilhado por cada um de nós que acredita em maneiras mais respeitosas, empáticas e eficazes para criar filhos e lidar com os desafios da maternidade e da paternidade.
Este livro está repleto de exemplos e reflexões que acredito que podem ajudar você nesse processo de autorreflexão e tomada de decisões. Bons estudos!
Bete P. Rodrigues
Graduada e licenciada em Letras (Português e Inglês) e Mestre em Linguística Aplicada pela PUC-SP. Trainer em Disciplina Positiva para pais reconhecida pela Positive Discipline Association (da qual é membro), Coach pelo ICI (Integrated Coaching Institute) especializada em atendimento de pais, psicólogos e educadores. É diplomada em Neurolinguística pela International Neuro-Linguistic Programming Trainers Association. Cotradutora dos livros: Disciplina Positiva; Disciplina Positiva em Sala de Aula; Disciplina Positiva para Crianças de 0 a 3 anos; Disciplina Positiva para Adolescentes e os baralhos Disciplina Positiva para Educar Filhos, Disciplina Positiva para Professores, Disciplina Positiva para Casais.
A importância de conviver com a natureza durante a infância
Capítulo 1
Neste capítulo, abordaremos a importância do contato com a Natureza na infância e adolescência, os percalços encontrados no caminho que dificultam este contato no cenário atual e os benefícios à saúde que esta presença traz, assim como as complicações na saúde. O texto instiga o leitor a um movimento de mudança que nos leva ao encontro da Natureza e traz à mente as lembranças da nossa infância, tão lúdica e saudável, que tanto falta atualmente.
Por Adriana Tonelli
No tempo em que vivemos conectados 24 horas por dia, confinados em salas de escritórios, consultórios, coworkings, onde muitas vezes pouco vemos a luz solar, e nossos filhos necessitam ficar por vezes mais de 8 horas em atividades escolares, é de suma importância se lembrar do valor da natureza no desenvolvimento infantil.
A maioria de nós teve uma infância inesquecível. Nas décadas de 60, 70, 80, as ruas ainda eram tranquilas. Brincávamos até altas horas com amigos da vizinhança e primos, muitos primos! Pulávamos corda, elástico, jogávamos bets
com latas de óleo e algum pedaço de vassoura. Bolinhas de gude, 5 marias
com caroços de jaca, jogávamos amarelinha. Subíamos em árvores sem medo de cair.
Tomávamos sol sem proteção. E também tomávamos chuva.
As crianças não tinham medo de pegar lagartixa na mão e nem correr atrás dos sapos durante a chuva. Era diversão garantida!
E, nesse meio tempo, passava o tio do sorvete
, tocando uma cornetinha típica. Era vendido o sorvete da cidade
(na minha cidade, era o famoso sorvete Cinderela
).
Inesquecível isso tudo, não?
Agora nos projetamos para o século atual. Século 21.
Estamos no ano de 2020. Ano difícil, tragédias ambientais, crises econômica e política. Crise da água. E atualmente estamos vivendo uma pandemia, a do coronavírus, que nos faz ficar em casa isolados social e sanitariamente.
Num momento onde encontramos, de um lado da balança, uma abundância de recursos, sejam eles tecnológicos, financeiros, sociais e educacionais, temos o outro lado abalado.
A infância. Nossos filhos, netos e bisnetos.
Cenário da infância atual
Eles estão vendo a infância voar em alta velocidade.
E será que estão aproveitando ao máximo? Ou têm sua infância roubada?
Quando falamos de infância roubada, significa excluir recursos que promovam o bem-estar físico, mental e social das crianças, providos pelo contato direto com a Natureza.
Muitas crianças estão privadas do contato direto com a Natureza. Do sol, da lua e do brilho das estrelas. Sendo cada vez mais banhadas em álcool gel antes, durante e depois de brincar no parque ou após fazer carinho num animalzinho.
Essa exclusão do contato com a Natureza, o que se traduziria em brincar livremente, causa outro grande impacto na saúde pública, o sedentarismo infantil. A falta de sol se traduz clinicamente em baixos índices de vitamina D, tão essencial para a saúde óssea, além de suas múltiplas funções no organismo.
Quando perguntei para minha filha, de 6 anos, o que é natureza para ela, rapidamente recebi a resposta: Natureza é a Mãe-Terra
.
A minha leitura foi que, para uma criança, Natureza é tudo. É onde vivemos, plantamos e colhemos.
E por que desestimulamos ou pouco estimulamos o contato das crianças com a Natureza? Falta-nos tempo, segurança, locais apropriados e talvez até um pouco de paciência.
Dificilmente vemos um adulto num espaço verde com seu filho sem manipular o celular. Sem fazer fotos e instantaneamente postar nas redes sociais.
Dificilmente vemos uma criança brincando com objetos simples num parque ou numa piscina. Estão brincando com objetos extremamente estruturados.
Não se fazem casinhas com pedaços de tijolos e pedras encontrados pelo caminho. Fazem-se com casinhas já prontas.
Deixamos de trabalhar a criatividade das crianças, já que tudo está pronto. Deixamos de exercer a paciência da criança quando nós mesmos executamos tudo com base no imediatismo. Tiramos foto. Postamos. Chorou. Ganhou.
É necessário refletirmos sobre esse modo de vida que vivemos.
A urbanização e seu impacto no brincar na natureza
É fato que não podemos condenar a urbanização como a culpada por essas questões. Com o crescimento das cidades e os cuidados integrados das sociedades e organizações, associados aos Direitos Internacionais da Criança, o trabalho infantil diminuiu, a escolaridade aumentou e o acesso à saúde melhorou. Entretanto, muitos avanços ainda são necessários.
Porém, a questão é multifatorial. Muitas vezes uma praça é distante da residência, ou falta segurança ou faltam cuidados locais.
A questão da diminuição do brincar na natureza não é apenas no cenário brasileiro. Desde 1970, no Reino Unido, áreas onde as crianças poderiam brincar sem supervisão caíram a quase 90%. E o número de crianças que tem atividades em áreas externas caiu à metade.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou em 2019 um manual de orientação sobre os benefícios da Natureza no desenvolvimento de crianças e adolescentes (encontra-se disponível on-line no site da SBP).
O manual contextualiza a urbanização na questão das atividades do brincar livre e do lazer. Brincar na natureza é um direito universal concedido à criança e traz inúmeros benefícios no que tange ao seu desenvolvimento sócio-bio-psico-motor. Sérios problemas de saúde física e mental podem surgir na ausência desse direito.
E quanto ao confinamento ao qual estamos sujeitos, enumera-se, num cenário complexo, a dinâmica familiar, a mobilidade, o planejamento das cidades, a desigualdade social, a violência, o consumismo exagerado, o uso abusivo de eletrônicos, o medo e a violência.
A dinâmica familiar é diversificada em todas as camadas sociais, porém o resultado final é o mesmo: pais trabalhando excessivamente, crianças em período integral nas escolas ou em casas de cuidadoras
, onde não há planejamento educacional ou de lazer, falta de planejamento urbano e perda excessiva em trânsito. Não é difícil pensar que a rotina dessas crianças se torna limitada, inclusive ao contato com os próprios pais.
No que se refere ao planejamento urbano, houve um crescimento do mercado imobiliário, o que favorece a melhoria das condições de moradia, inclusive da condição sanitária da população. Porém, esse crescimento não se fez na mesma velocidade da implementação e melhoria da mobilidade ou da presença de áreas verdes próximas às residências ou escolas.
Nesse interim, as crianças estão por 8 horas ou mais nas escolas. Pais, eu lhes pergunto: a disponibilização de área verde na escola foi primordial na sua escolha?
A ONU recomenda 12 m2 de área verde por habitante. Em São Paulo temos 2.6 m2 por habitante. E essa mínima área verde é muitas vezes desprezada pelo poder público e pela população, já que muitos pensam essa terra não é minha
. Ações comunitárias de moradores dos bairros estão sendo feitas com a intenção de recuperar praças e parques, inclusive assumindo com os custos, para que as crianças se beneficiem. Essa é uma atitude memorável, pois caso contrário, esse espaço pode se tornar mais um espaço de violência e uso de drogas, lícitas ou não.
Crianças e natureza protegidas pelas leis
Mas porque é tão importante o contato da criança com a Natureza? Vários marcos legais garantem o direito à natureza e ao brincar: a Constituição Brasileira nos artigos 227 e 225; a Convenção das Nações Unidas Sobre os Direitos da Criança e do Adolescente no artigo 31 e no comentário #17; o Estatuto da Criança e do Adolescente; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e pelo Marco Legal da Primeira Infância. Todos eles dizem respeito ao direito que a criança tem do descanso e lazer, e de brincar na Natureza.
Muitas pesquisas têm sido feitas, corroborando os aspectos positivos no desenvolvimento infantil: controle de doenças crônicas, diminuição do risco de dependência química (seja ela qual for), desenvolvimento adequado da psicomotricidade, diminuição de problemas de comportamento em geral, melhora do bem-estar mental e da imunidade. O contato com a Natureza cria um indivíduo preocupado com o próximo e com o bem-estar do planeta, preocupado com o destino do lixo, estimula o cuidado com a fauna e com a flora, além de construir um ser criativo, dinâmico, responsável, feliz, autêntico, sensível, ético e com senso de pertencimento. Eu devo cuidar, pois isso (a praça, o parque, o rio) também é meu.
Brincar na Natureza estimula a maturação neuronal. Várias neossinapses são formadas. Constrói-se um ser humano diferenciado. A sua aquisição neuropsicomotora e nas áreas de linguagem, matemática, criação, execução de tarefas, entre outras, são indiscutíveis. Por outro lado o não-brincar
pode acarretar depressão, obesidade, doenças crônicas, estresse, déficit de atenção ou outros transtornos comportamentais. Vários estudos mostram esse impacto na saúde do adulto.
A Natureza a que me refiro é aquela que citei no início desse capítulo, são áreas saudáveis e incluem o verde, o sol, a Lua, as estrelas, os animais, as pedras encontradas pelo chão.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, recomenda-se brincar no mínimo 1 hora por dia ao ar livre, no ambiente escolar ou familiar. Cada faixa etária tem sua especificidade e deve seguir tais orientações: 0-7 anos, brincar livre com supervisão e reforçando o vínculo pais-filhos. Dos 7-12 anos, descobertas e autonomia, os riscos e brincar com amigos. Adolescentes: buscam desafios e aventuras entre pares.
As escolas, onde as crianças ficam a maior parte do tempo, precisam investir em áreas verdes, planejar estudos de meio que envolvam o meio ambiente e outras culturas, fornecer áreas naturais abertas para as crianças brincarem na hora do recreio e instigar um pensamento crítico sobre os cuidados com o meio ambiente. Desde as instruções sobre lixo reciclável, desperdício na cozinha, manejo de horta, cuidado e curiosidades sobre os animais que moram
nas escolas. Hoje em dia é cada vez mais comum encontrar escolas com coelhos, galinhas e cães, que são os mascotes
das escolas, e pelos quais as crianças também têm que zelar.
Simbiose do bem
Não nos esqueçamos que as crianças precisam da Natureza. E a Natureza precisa delas. Não puna a criança que quis colher uma flor para lhe dar. É um gesto de amor e retribuição.
Deixe-a jogar as pedrinhas no riacho. Deixe-a parar uma caminhada para observar as formigas, as borboletas, a lagarta. São momentos riquíssimos de aprendizado, que fortalecerá o vínculo familiar e tornará esse momento inesquecível.
Crie a criança imersa na natureza. Apenas desta forma teremos pessoas engajadas no cuidado com a Terra e na sua preservação.
Deixe-a brincar livremente. Ela precisa observar, descobrir, criar. "O contato com a natureza é muito produtivo, pacificador e restaurador1."
É nossa missão, como pais e orientadores, promover uma infância verde e feliz. Desta forma, e apenas assim, teremos civilidade no planeta. Adultos engajados, saudáveis e conscientes.
Referências
ENGEMANN, Kristine et al. Residential green space in childhood is associated with lower risk of psychiatric disorders from adolescence into adulthood. PNAS, v. 116, n. 11, p. 5188-5193, 12 mar. 2019. Disponível em:
MONBIOT, George. If children lose contact with nature they won´t fight for it. The Guardian, 19 nov. 2012. Disponível em:
PROJETO CRIANÇA NATUREZA. Disponível em:
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de orientação: benefícios da natureza no desenvolvimento de crianças e adolescentes.