Contos de humor
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Sobre este e-book
De fato, nos textos reunidos no livro, Artur Azevedo transforma em humor flagrantes do cotidiano da cidade maravilhosa, muitas vezes nem tão maravilhosos assim... São histórias que envolvem amores ilícitos, escandalosos, ambição, alpinismo social, traições, hipocrisia, enfim, todos os aspectos da vida social de uma cidade em ebulição. Tudo isso costurado com uma escrita ágil e alinhavado com diálogos vivos. Dessa enorme colcha de retalhos, surge um vigoroso painel em que se encontram as várias faces da realidade carioca, daí a importância também histórica da obra. Afinal, como lembra Augusto Pessôa, "para muitos pensadores, os comediógrafos e humoristas são retratistas fiéis de seu tempo" .
No ano em que se comemora o centenário de morte de Artur Azevedo, Contos de humor é uma homenagem ao escritor das comédias de costumes que tão bem retratam a alma carioca e os meandros da nossa história, e uma oportunidade para os jovens se familiarizarem com a obra deste que é um dos grandes autores da literatura brasileira do século XIX, aprenderem com ela e darem boas risadas.
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Contos de humor - Artur Azevedo
Organizador
Apresentação
Com certeza você já deve ter ouvido esta frase: O homem é o único animal que ri.
Mas será que ele sempre riu da mesma forma?
O humor se transforma através do tempo, seguindo hábitos, costumes e pensamentos vigorantes em cada uma das épocas da vida social. Por isso, as formas de humor são elementos importantíssimos para a compreensão das transformações culturais que ocorrem nas sociedades humanas.
Para muitos pensadores, os comediógrafos e humoristas são retratistas fiéis de seu tempo. Exemplos disso são as comédias gregas de Plauto ou as comédias de costumes de Martins Pena.
O riso é um elemento vital para a condição humana. Santo Tomás de Aquino considerava o humor um bem útil
, como podemos verificar por suas próprias palavras: O humor é necessário para a vida humana.
Apesar de não haver uma definição precisa para humor, é possível se fazer uma interessante distinção entre humor, ironia e sátira, baseada em estudos de teóricos de renome, como Sócrates e Kant, entre outros.
A ironia é uma espécie de ignorância fingida
. O irônico é aquele que pergunta sabendo a resposta; uma forma sutil de dizer uma coisa por outra.
A sátira é mais implacável e ridiculariza, de forma divertida, exageros e defeitos; uma espécie de espada vingadora
que fulmina abusos e injustiças.
Já o humor tem como fator determinante a personalidade de quem ri. Com isso podemos dizer que é a mais subjetiva das categorias do cômico. É um estado de espírito que funciona de acordo com o que sentimos, como vivemos e como encaramos os fatos e acontecimentos que surgem no nosso dia a dia.
Um bom exemplo disso é o famoso humor carioca
: a deliciosa capacidade de transformar em graça fatos importantes ou corriqueiros. O morador do Rio de Janeiro (seja ele carioca de fato ou de alma) consegue criar uma expressão irônica e engenhosamente elaborada da realidade. Transforma o seu cotidiano em pura comicidade. Um humor leve. Não da gargalhada escrachada, mas do sorriso sutil. O carioca é conhecido mundialmente pela capacidade de transformar em graça até a mais terrível realidade.
Esse humor carioca, na segunda metade do século XIX e início do século XX, expressou-se também por intermédio de um escritor que amava como ninguém o Rio de Janeiro: Artur Azevedo.
Criador de musicais, burletas e revistas, Artur Azevedo é um dos autores mais populares de sua época. Além de grande dramaturgo, arte pela qual é mais conhecido, foi também jornalista, tradutor, crítico de teatro e contista.
Esse célebre maranhense, que nasceu em 1855 e chegou ao Rio de Janeiro em 1873, logo se apaixonou pela cidade. Tornou-se um grande observador dos costumes da sociedade carioca da época e retratou-os em sua imensa produção literária: as relações familiares e amistosas, as infidelidades, as festas, os preconceitos, os nascimentos, as mortes, enfim, tudo que acontecia na então capital do país.
Nos contos aqui reunidos, o humor é a palavra certa. Aliás, como é para toda a obra do autor, e até no que diz respeito à sua vida particular. Uma das muitas passagens engraçadas de seu cotidiano é aquela em que escritores novos se queixaram ao diretor do Correio da Manhã de não poderem publicar seus contos porque o jornal só dava espaço aos trabalhos de Artur Azevedo. O diretor então decidiu demitir o antigo contista e abriu um concurso de contos para novos autores. Os ditos novos
deveriam enviar histórias para o jornal para que a melhor fosse publicada, e seu autor, além de ser contratado, receberia um prêmio em dinheiro. Escondido sob um pseudônimo, Artur Azevedo enviou um texto para o jornal com o título A viúva e foi o vencedor do concurso. O autor escreveu uma carta irônica ao jornal, revelando não se tratar de um novo
. Elegante, dispensou o prêmio em dinheiro e foi para o jornal O Século, para o qual passou a escrever alternadamente contos e crônicas dialogadas, estas na seção a que deu o nome de Teatro a vapor
, publicados de 1906 a 1908, ano em que faleceu.
Sua morte guarda uma curiosidade. Segundo as palavras de seu filho caçula, Aluísio de Azevedo Sobrinho – com quem conversei no final da década de 1980, por ocasião da montagem da peça de Artur, Amor por Anexins, da qual participei – o pai faleceu sentado à mesa de trabalho, com a pena na mão e vestindo seu robe preferido, velho e surrado, do qual nunca se separava, tendo sido, inclusive, enterrado com ele.
Morreu pobre nosso grande homem do riso e deixou, ironicamente, o país muito triste. Mas a alegria que ele sempre espalhou pode ser compartilhada com você, leitor, por meio destes 20 primorosos contos, o que comprovará mais uma vez que esse maranhense possuía alma e humor tipicamente cariocas.
AUGUSTO PESSÔA
O Juvêncio, explicador de matemáticas, era um homem lúgubre.
Nunca ninguém o viu rir, nunca ninguém lhe apanhou a expressão do olhar através dos óculos escuros.
Tinha as faces encovadas, o nariz adunco, a barba crescida.
Trajava sempre de preto e usava chapéu alto.
Era distraído e parecia estar sempre vagando pelos intermúndios do infinito, levado sobre uma nuvem de algarismos.
Numa dessas belas tardes cariocas, em que todas as mulheres bonitas vão assoalhar na avenida a sua beleza e as suas toilettes,