Formação Docente: Recriação da Prática Curricular no Ensino Superior
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Formação Docente - Adão Caron Cambraia
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2019 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO FORMAÇÃO DE PROFESSORES
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha, por proporcionar espaços de formação continuada e possibilitar que a comunidade acadêmica se aperfeiçoe permanente; à Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul, na qual realizei minha formação acadêmica; à Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul, pelo apoio concedido por meio do programa de Auxílio para Recém Doutor e pelo fomento à pesquisa.
Prefácio
Este prefácio apresenta-se como um forte convite à leitura crítica deste livro, cujo tema vem sendo amplamente discutido, em nossa área, junto à aposta de que o avanço do conhecimento sobre a melhoria do ensino e da educação supõe, antes, o avanço no conhecimento sobre a melhoria da formação do professor. Eis aí a relevância da contribuição do livro: ao avanço do conhecimento sobre a problemática da formação docente, sob o viés da articulação de saberes constitutivos do conhecimento profissional de professor, seja na dimensão teórica ou prática.
Este livro trata, pois, de uma temática relevante de ser estudada e sistematicamente ressignificada na área da Educação, com atenção voltada, particularmente, ao desafio e ao motivo central: de avançar no conhecimento sobre a perspectiva da formação integrada no contexto dos cursos de licenciatura. Adão debruçou-se ao enfrentamento dessa problemática, atuando na condição de investigador, de professor e de gestor, num processo de recriação coletiva do currículo e da formação docente de um curso de licenciatura, numa perspectiva integradora de saberes/fazeres docentes dinamicamente em construção.
Tive o privilégio de conhecer Adão desde sua atuação como professor da educação básica e de ter interagido com ele mais próxima e sistematicamente durante seu doutoramento, ora como professora, ora como sua orientadora. Pude também compartilhar importantes saberes/fazeres educativos com Adão por ocasião das interações em parceria colaborativa como participante de um projeto de pesquisa que coordenei, nos últimos anos, sobre a temática do Currículo Integrado
. Esses e outros convívios consolidaram a percepção e o reconhecimento do professor pesquisador Adão estudioso, compromissado, inquieto, curioso, dedicado, sério, crítico, compenetrado, colaborativo, sistematicamente engajado na busca por respostas condizentes aos sistemáticos questionamentos, desafios e reflexões que acompanhavam os processos formativos vivenciados.
Nos últimos anos, atuando na condição de professor e de gestor/coordenador de um curso de licenciatura, Adão ampliou seus estudos e seus processos investigativos, avançando na compreensão da complexidade da formação e da prática profissional docente, sempre interessado em aprofundar e expandir os debates teóricos acerca da temática da formação de professores; nunca deixando de enfrentar e assumir os inerentes desafios e dificuldades que acompanhavam seus processos de estudo, ação, observação e reflexão.
Ao longo do livro, Adão tece argumentos teórica e empiricamente fundamentados em defesa da potencialidade de cada coletivo organizado de formadores de professores para promoverem, em cursos de licenciatura, processos de sistemática recriação das propostas e práticas curriculares, numa perspectiva integrada e integradora da formação profissional. Embora o livro trate, particularmente, do contexto de um curso de licenciatura em Ciências da Computação, suas contribuições estendem-se aos distintos campos de conhecimento dos cursos de formação profissional, sem deixar de ser focado na formação de professores.
Para tratar dessa temática, Adão retoma e expande a noção de Desenvolvimento Profissional Docente (DPD) mediante uma abordagem dinamicamente desenvolvida sobre um ciclo de pesquisa-ação articulado e articulador de sistemáticos processos de reconstrução de concepções e práticas docentes, em que: as mudanças na docência ocorreram desde suas concepções, o que representa transformações também no fazer
, como diz Adão, no livro. Para isso, o autor descreve e analisa, de forma ampla e profundamente fundamentada, um movimento investigativo coletivamente vivenciado como processo de DPD em Rede: uma tentativa intencional e interativamente empreendida na articulação entre os professores formadores do curso em espaços presenciais e virtuais organizados em torno de sistemáticos ciclos de estudo, produção e reflexão coletivamente empreendidos, com sistemática recriação da formação e da prática formativa, na interlocução mediada pelo compartilhamento de discussões críticas e reflexivas em torno de relatos de experiência.
O desafio que perpassou o processo investigativo desenvolvido por Adão foi centrado no investimento de esforços na direção de entender formas de promoção de interações capazes de contribuir para a constituição do conhecimento profissional do formador de professores, pela instituição de processos de DPD em Rede, tematizado neste livro na busca de compreender formas de enfrentamento de limites e dificuldades que acompanham as novas práticas de integração curricular na formação de professores. Adão problematiza e contribui na ressignificação da noção de DPD, de forma intrinsecamente colada à sua prática, avançando no entendimento da potencialidade da formação imbricada na prática profissional com promoção da indissociabilidade entre teorias e ações educativas.
Trata-se, assim, de uma publicação decorrente de uma corajosa e desafiadora trajetória de pesquisa-ação, desenvolvida como trabalho acadêmico em forma de livro, a partir da iniciativa de instituir e investigar espaços de interação propulsores do enfrentamento dos desafios que necessitam ser enfrentados quando o objetivo é desenvolver e analisar um DPD em Rede transformador da prática curricular no curso de licenciatura, na perspectiva integradora da formação docente. A leitura contribui no conhecimento sobre a formação de professores reflexivos que ressignificam seus saberes acerca de relatos de experiência compartilhados de forma presencial e no ciberespaço, demonstrando que essa atenção é ampliada a partir da noção de DPD afinada como formação profissional com sentido alargado, em contraposição aos limites da racionalidade técnica.
Dessa forma, o livro, ao discorrer sobre um movimento de recriação da prática na formação de professores situa o conhecimento sobre o papel social dos cursos superiores, particularmente das licenciaturas, vistos como um todo, diferentemente da tendência de limitar a discussão da educação profissional à dimensão técnica. Afinal, cada diferente curso superior contempla alguma educação profissional, de uma ou outra, a exemplo de um curso superior em Filosofia, que habilita para alguma forma de atuação do egresso em seu respectivo campo de atuação profissional.
No livro são explicitadas e analisadas características do espaço formativo coletivamente investigado que favorecem e que limitam o DPD em Rede na perspectiva crítica transformadora da prática curricular. À medida que articula diferentes núcleos do conhecimento integrantes do curso, assumindo a abertura ao diálogo como fundamento central da formação de professores, o DPD recria o currículo e vice-versa. Nele, os professores do curso percebem-se, cada vez mais, como formadores dos futuros profissionais e se assumem como tal, se envolvem e se responsabilizam pela própria formação, e de seus pares, em prol da constituição do futuro professor
. Diz Adão, ainda, no livro, que não seguir um modelo único é o intuito no processo desencadeado na investigação
coletivamente vivenciada, no próprio contexto da formação profissional. Nele, os problemas iniciais transformam-se, mas continuam presentes. Os próprios professores/formadores são responsáveis pela formação de seus pares
.
Uma interessante linha de argumentação em torno de motivos propulsores de tal processo formativo refere-se à disposição para intercambiar saberes sobre fazeres pedagógicos sistematicamente socializados/discutidos no contexto interativo presencial e virtual. Como discute Adão: a finalidade de um relato é comunicar uma ação realizada de forma coletivamente refletida
, de sistematicamente realimentada por leituras, estudos e produções escritas. Tal processo de produção coletiva
[...] contribuiu para desencadear interações em que os sujeitos realizam leituras e modificações no texto, ressignificam e refazem inúmeras vezes até que haja consenso sobre a publicação; um sujeito questiona o outro e ambos constroem novos significados, constituindo uma escrita hipertextual, que conecta diferentes concepções sobre o currículo. A publicação é mais um passo, não o último.
Ao longo do texto serão discutidos argumentos em defesa de interações no ciberespaço e nos encontros presenciais capazes de mobilizar interlocuções que
[...] fluíram de forma a proporcionar o estudo coletivo com planejamento, desenvolvimento e avaliação, de forma articulada com o desafio de ampliar e aprofundar as leituras sobre matrizes teóricas que possibilitam uma qualificação da prática profissional. A proposta foi enfatizar essa visão dos entrelaçamentos entre as interações no contexto presencial e no ciberespaço, como ambiência formativa em permanente recriação. [...] Trata-se de um processo que permite um compartilhamento de ideias e um crescimento intelectual do coletivo dos professores, por meio da constituição do grupo como amigos críticos.
Esses breves comentários acerca do livro são aqui tecidos não com o intuito de apresentar as suas características como um todo, mas de, ao mencionar algumas delas, recomendar sua leitura, por um motivo especial (amplamente discutido ao longo da obra): prosseguirmos apostando e argumentando em defesa de processos investigativos capazes de produzir avanços na compreensão de formas com que cada coletivo organizado de formadores de professores possa instituir novos processos de DPD em Rede articulados como pesquisa-ação. Como diz Adão, em distintos cursos
[...] esse processo de estudo coletivo pode ser instalado no interior de cada novo grupo motivado pela leitura reflexiva deste livro. Assim, nesta obra se encontra um motivo forte para a criação de grupos de pesquisa-ação crítica e emancipatória para o DPD em Rede como perspectiva para a recriação permanente da formação e da prática curricular.
Ao discutir potencialidades e limites do DPD em Rede, Adão discute sobre uma ampla diversidade fatores que movem os professores formadores a uma participação mais ativa na transformação das práticas formativas vigentes no curso em que atuam. Nessa direção, a leitura do livro enseja uma compreensão inovadora que adentra crítica e reconstrutivamente na discussão de uma problemática atual e relevante, que carece de ser mais amplamente estudada, ao tematizar sobre a perspectiva da integração do currículo e da formação nos cursos de licenciatura. Para isso, ao longo do percurso de diversas linhas de tematização, o leitor é inserido em dinâmicas abordagens e problematizações situadas na busca por uma compreensão mais fundamentada sobre a constituição do conhecimento profissional de professor.
A leitura provoca a refletir sobre desafios da formação docente que necessitam e podem vir a ser interativamente compreendidos e levados em conta, na perspectiva de superar velhas dicotomias entre saberes, pelo seu enfrentamento de forma crítica e reconstrutiva como caminho para a produção de interações capazes de propiciar a essencial integração dos processos de mediação de conhecimentos exigidos para tal. E é assim que a leitura do livro permite avanços no entendimento da problemática da integração curricular nas licenciaturas, como reflexão fundamentada sobre um desenvolvimento profissional docente que abre caminhos para a melhoria da educação pelo viés da melhora da formação dos professores. Fica o convite para tal leitura crítica e transformadora das compreensões e proposições, sejam as sinalizadas por Adão, sejam as que cabe a cada leitor também sinalizar.
Professora Doutora Lenir Basso Zanon
Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Unijuí.
LISTA DE SIGLAS
Sumário
Introdução
1
Pesquisa-ação no DPD na recriação da prática coletiva de integração curricular
1.1 Origem e contextualização da problemática de pesquisa
1.2 O Desenvolvimento Profissional Docente com Recriação Curricular na Relação com Estudos Anteriores
1.3 O processo de explicitação do problema
2
A Recriação da Prática Curricular Como Objeto do DPDLiC
2.1 O contexto de criação do ciberespaço para o DPDLiC
2.2 O contexto formativo da pesquisa: construindo caminhos para o DPD
2.3 O espaço interativo: entrelaçamentos entre a formação presencial e o ciberespaço
2.4 O que dizem os Documentos sobre a Recriação da Prática Curricular na PEC
3
Interlocuções no DPDLiC sobre a Prática Profissional: construção do Projeto e Seminário Integrador
3.1 O Planejamento colaborativo no contexto do Projeto Integrador
3.2 Ações em Interação no Desenvolvimento do Projeto Integrador
3.3 Avaliação do Projeto Integrador e Desafios ao Processo Coletivo
4
Desenvolvimento Profissional Docente na Recriação Curricular da licenciatura
4.1 Características do Desenvolvimento Profissional Docente Investigado
4.2 Recriação da prática curricular no movimento formativo vivenciado
5
Desenvolvimento Profissional Docente em Rede por meio da pesquisa-ação crítica e emancipatória
5.1 A perspectiva da pesquisa-ação crítica e emancipatória no DPDLiC
5.2 Desenvolvimento Profissional Docente em Rede na Licenciatura em Computação
Considerações em continuidade ao movimento de pesquisa-ação
REFERÊNCIAS
Referências Bibliográficas – Relatos de Experiência analisados
ANEXO I
Planos de Ensino da PPI do 3º semestre do ano de 2014
ANEXO II
Sumário Livro professores da LC
Introdução
Minha trajetória¹ de pesquisa tem sido marcada por estudos sobre tecnologias, formação de professores e currículo. Quando estava cursando o quarto semestre do bacharelado de Informática, participei de uma seleção de professores para atuar em uma escola técnica. Embora meu curso não fosse de licenciatura, fui selecionado. Foi a primeira experiência como docente, trabalhar com o curso integrado de Informática. Havia um esforço para fazer uma relação com o mundo do trabalho e propiciar integração.
Hoje, com um olhar para o passado, percebo que era um curso Técnico de Informática e outro de ensino médio. Lembro que os alunos podiam cursar ensino médio em qualquer escola e fazer somente as disciplinas técnicas conosco. Mas a maioria dos alunos fazia todo o curso na instituição. As dificuldades em desenvolver práticas de integração curricular eram inúmeras. Entendo que se tratava de um curso concomitante, pois, o que ocorria era que os alunos frequentavam e concluíam o ensino médio e técnico ao mesmo tempo, mas não havia nenhuma formação continuada de professores que permitisse uma interlocução docente e, por conseguinte, uma integração curricular.
Com essa experiência inicial e com a crescente incorporação das Tecnologias Digitais (TD) nas escolas, ingressei como professor em uma escola privada de educação básica. Nesse período, participei de seminários de Informática na Educação com a finalidade de entender e aprimorar a cultura tecnológica nas escolas. A instituição proporcionava encontros semanais de estudos: reuniões gerais, estudos por área, estudos por projetos e situações de estudo². Além disso, os professores eram incentivados a escrever sobre suas práticas docentes³, constituindo nesse âmbito um espaço fértil para formação de professores autores, críticos e ativos na recriação curricular. Assim, ocorriam movimentos interdisciplinares, pois o diálogo entre os professores, o estudo com outras áreas, o planejamento colaborativo, a reflexão e o desenvolvimento de projetos eram permanentes. A escola tornou-se uma referência no desenvolvimento de uma cultura tecnológica. Éramos convidados a relatar nossas experiências e organizar oficinas em seminários⁴. Nesse período organizei um portal educacional para realizar a formação permanente de professores para o uso das Tecnologias Digitais na educação, um espaço para relatos de experiência e elaboração de vídeo-aulas sugerindo a incorporação de tecnologias na educação (CAMBRAIA, 2010).
Além dessas experiências com escolas de educação básica, ingressei no mestrado em Educação nas Ciências (Unijuí) em 2003⁵, quando realizei uma investigação a respeito da presença da cultura tecnológica no espaço da escola, e de como ela se constitui no âmbito das práticas pedagógicas. Para isso identifiquei os papéis dos principais agentes envolvidos nesse processo: alunos, professores e ainda um outro, nem sempre lembrado, o profissional de informática residente
na escola. Foi a partir do olhar desse profissional que elaborei o texto, desenvolvida em duas linhas de investigação: a observação do espaço da escola e a escuta dos seus integrantes, e uma redescoberta da trajetória do profissional de informática na educação. Nas publicações⁶ realizadas nesse período percebi indícios que demonstram a necessidade de um professor reflexivo, para a recriação da prática curricular, aliando e recontextualizando conhecimentos científicos, tecnológicos às culturas locais.
Outro desdobramento de minha dissertação foi a percepção da importância do desenvolvimento da escrita para a constituição de um professor reflexivo (SCHÖN, 1992; 2000; ZEICHNER, 1993; 1998). Foi nesse período que tive a oportunidade de ler o livro de Mario Osorio Marques, Escrever