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Você é ansioso?
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E-book105 páginas1 hora

Você é ansioso?

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Sobre este e-book

Para você que não para de roer as unhas
Quando decidiu escrever sobre ansiedade, o mundo ainda não conhecia a COVID-19. Mas, sob a antiga normalidade, Pondé entendia a ansiedade como um dos temas mais preocupantes e inquietantes para todos: dos seus jovens alunos universitários aos leitores mais velhos de suas colunas no jornal; de quem se via ansioso por uma falta de sentido na vida aos que mal tinham tempo para perceber isso. "Somos todos ansiosos", dizia ele, com razão. À medida que escrevia e a pandemia se
espalhava mundo afora, foi percebendo que a ansiedade havia se tornado um marco da nossa era com todos os tipos de medos provocados pelo vírus.
O "timing" para o livro parecia perfeito – assim como a sua intenção. A partir da filosofia, sua área de atuação, ele analisa como o comportamento e a cultura têm produzido e lidado com esse novo paradigma que é a ansiedade como perspectiva de mundo. Explica a nossa ansiedade contemporânea e aponta possíveis formas de lidar com ela.
Pondé estuda algumas das inúmeras fontes do problema: desde as redes sociais e internet aos avanços da medicina, passando pela emancipação feminina, o desemprego e a competitividade no mercado de trabalho, fatores como o imperativo da felicidade, a coisificação das pessoas e o receio sobre o futuro da democracia. Até porque, segundo ele, a melhor forma de enfrentar a ansiedade é aceitar que ela jamais vai acabar e que atinge a todos nós. "Se somos todos ansiosos, temos razão
para sermos. Não se trata de um bando de idiotas ansiosos porque são bobos. Trata-se, antes de tudo, de um bando de ansiosos porque são informados". É um consolo...
IdiomaPortuguês
EditoraPlaneta
Data de lançamento24 de abr. de 2020
ISBN9786555350302
Você é ansioso?

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    Ótimo. Pondé sabe ir direto ao assunto e não intelectualiza muito deixando você pensar sobre o tema e chegar a suas próprias conclusões sem se abster do real.
  • Nota: 5 de 5 estrelas
    5/5
    Leitura muito útil no aumento dos casos de ansiedade no cenário atual.
  • Nota: 5 de 5 estrelas
    5/5
    Me surpreendi positivamente com a fluidez do livro. Tinha uma péssima impressão de filósofos midiáticos. Apesar de não concordar com alguns pontos gostei do livro.
  • Nota: 5 de 5 estrelas
    5/5
    O aclamado poder de síntese do Pondé abordando o grande sintoma da modernidade, a ansiedade. Com muita didática e propriedade, é uma grande reflexão e ajuda.

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Você é ansioso? - Luiz Felipe Pondé

ANSIEDADE

PREFÁCIO

Um detalhe apenas: escrevi a maior parte deste pequeno diagnóstico da nossa era da ansiedade na quarentena causada pela pandemia do coronavírus. Alguns diriam que teria sido uma bênção pelo tempo livre que fomos obrigados a ter, apesar dos custos enormes causados pelo empobrecimento geral do país e do mundo. Outros disseram que tive um exemplo histórico diante de mim e a minha volta sobre o que é ansiedade.

O medo das pragas e as próprias pragas assolam o mundo há séculos. Mas não é desse medo que eu falarei nesta abertura de modo muito breve. Não foi uma bênção, foi uma agonia. Só uma alma deformada goza com a agonia.

O que me chamou atenção atravessando a quarentena, que ainda não acabou enquanto termino este breve ensaio sobre a era da ansiedade em que vivemos, foi o gozo apocalíptico de muitas pessoas (o gozo da paranoia que descreverei abaixo). Não me refiro aos religiosos fervorosos que creem em pragas. Refiro-me às pessoas, na maioria bem formadas e não religiosas, que, por serem deprimidas, se deliciavam com o sofrimento dos demais. Vendo o mundo aparentemente se acabar, gozavam com o horror da vida. Esta talvez seja uma das piores formas de ansiedade: aquela que não diz seu próprio nome e que se transforma num veneno, quase físico, líquido, que escorre, como uma baba, pelo canto da boca.

Dedico este livro a todos que atravessaram a quarentena lutando.

É POSSÍVEL FALAR DE

UMA ERA DA ANSIEDADE?

UM PEQUENO REPARO

METODOLÓGICO

Ansiosos somos todos nós. Mas podemos mesmo falar de era da ansiedade? Os historiadores, seguramente, dirão não, e com uma certa razão. É possível dizer que hoje somos mais ansiosos, por exemplo, do que eram as populações que viveram dez mil anos atrás?

Segundo a historiadora das religiões inglesa Karen Armstrong, no seu monumental A grande transformação, os povos da Antiguidade profunda viviam uma vida aterrorizante, representada nas cosmogonias e nos rituais violentos presentes em suas mitologias, crenças e religiões. Não acho fácil supor que nossas vidas regadas a longevidade, razoável segurança nas ruas, férias, antibióticos, Netflix e celulares sejam mais ansiosas do que a vida desses homens que eram mortos aos milhares na idade de 15 anos, nem dessas mulheres que eram violentadas aos 10 anos todos os dias. Nossa vida é mais fácil, nesse sentido. Talvez, justamente, pela facilidade das nossa vida, nossa ansiedade seja grande e de outra forma. Minha intenção neste livro é, além de outras coisas, tentar iluminar o modo típico da nossa ansiedade contemporânea e, em alguma medida, apontar possíveis formas de lidar com ela.

Para além desse exemplo, os historiadores afirmam que não há elementos empíricos concretos para comparar as diversas épocas em termos de ansiedade ou mesmo qualquer que sejam os afetos. Tendo a concordar com eles nisso. Como medir a ansiedade de quem viveu durante a Revolução Francesa ou a Segunda Guerra Mundial com alguém que vive passeando em shopping centers? Mesmo aterrorizados pela epidemia de coronavírus como estamos nestes dias, a humanidade nunca teve tantas ferramentas para combater uma epidemia.

O filósofo alemão Hans Jonas, conhecido por ser um especialista na heresia gnóstica cristã dos primeiros séculos da era cristã, usava expressões muito próximas da ideia de era da ansiedade para o século XX. E justificava seu uso contra a negativa dos historiadores.

Primeiramente, vamos esclarecer o objeto de estudo de Jonas. O gnosticismo cristão foi uma heresia que afirmava que o mundo tinha sido criado por um deus mal, o demiurgo. Jesus, o Salvador, era uma emanação de Agnostos Theos, o deus desconhecido, que nada tinha a ver com a criação e mandara buscar alguns homens e mulheres que tinham um parentesco ontológico com ele: uma centelha como diziam os gnósticos – esses homens e mulheres eram, claro, os portadores dessa centelha. Deixando de lado a complexa cosmogonia e redenção desses evangelhos gnósticos encontrados, em sua maioria, na região de Nag Hammadi, no Egito, em meados dos anos 1940, o que importa aqui é a semelhança que Jonas encontrava entre os gnósticos e a época em que ele vivia, o século XX, marcado, inclusive, pelo nazismo e pelo holocausto. Hans Jonas foi um dos inúmeros intelectuais alemães judeus que tiveram que fugir do massacre. E como muitos outros em sua condição, jamais se recuperou de uma profunda melancolia por causa dessa tragédia.

Jonas entendia que o existencialismo sartriano, e seu pessimismo atroz, negando qualquer sentido da vida, já que nós viemos do nada e voltaríamos para ele, se assemelhava ao vazio de sentido da cosmologia gnóstica, uma vez que, sendo o criador perverso, o mundo era uma máquina de torturas. Para Jonas, a derrocada do Império Romano na Antiguidade e a destruição da civilização europeia na primeira metade do século XX criaram as condições sociais e psicológicas para a experiência de uma ansiedade gigantesca que não se contentava com nenhum pequeno objeto causal imediato. Respirava-se medo, falta de sentido e, por isso mesmo, uma ansiedade sem horizonte de solução, daí o vínculo entre existencialismo e gnosticismo contido no conceito de niilismo, para Jonas. Niilismo é a forma mais radical de melancolia filosófica em relação ao mundo, na

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