Só por uma noite
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Sobre este e-book
- Mudar completamente o visual (OK)
- Descobrir um terrível segredo sobre suas amigas (OK)
- Confessar que está apaixonada pelo seu melhor amigo (OK?)
Samanta Calliari tem vivido com medo durante a sua vida toda. Por causa disso, ela tem se privado de viver intensamente. Uma prova dessas privações é a paixão secreta que Sam tem pelo seu melhor amigo, Gustavo. Só que ela não está sozinha nessa. Suas três melhores amigas, Nat, Marina e Daphne, também sentem medo. Elas irão acompanhar Samanta na noite mais reveladora de suas vidas, quando enfrentarão seus maiores medos, devido a uma lista de desafios deixada para elas cumprirem.
Então o que, possivelmente, poderia dar errado na tão esperada noite das quatro amigas? Quase tudo, é claro. Declarações de amor frustradas, verdades engasgadas e loucuras em cada item da lista as aguardam nessa noite.
Para sobreviver a lista de desafios e para revelar a verdade para suas amigas, Samanta vai precisar de toda a sua coragem. Mas como ela irá fazer isso se toda vez que é corajosa algo a sua volta desmorona?
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Só por uma noite - Monique Sperandio
SUMÁRIO
Capa
Sumário
Folha de Rosto
Folha de Créditos
Epígrafe
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
NOTAS
Monique e Mônica Sperandio
© 2016 Editora Novo Conceito
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, seja este eletrônico, mecânico de fotocópia, sem permissão por escrito da Editora.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Produção editorial:
Equipe Novo Conceito
Índices para catálogo sistemático:
1. Ficção : Literatura brasileira 869.93
Rua Dr. Hugo Fortes, 1885
Parque Industrial Lagoinha
14095-260 – Ribeirão Preto – SP
www.grupoeditorialnovoconceito.com.br
Noite. Noite encantada. Noite dolorosa. Noite doida, mágica e louca. E ainda sim, noite. Noite que parece não terminar nunca. Noite que às vezes passa rápido demais.
— em Desculpa se te chamo de amor, de Federico Moccia —
PRÓLOGO
Tudo começou com uma garrafa barata de tequila. Eu não pude evitar. A culpa não foi minha, as palavras apenas saíram da minha boca como se eu as vomitasse. Ok, não foi tão fácil quanto vomitar, mas foi tão desagradável quanto. Aliás, deve ser assim com todos os segredos que nos deixam despertas a noite toda. Quando eles escapam pela nossa boca, a sensação de enjoo se torna uma constante e nada faz com que ela vá embora. E, é claro, sem esquecer a sensação de ter o estômago comprimido, como se estivesse revestido de cimento ou ácido, qual for o pior. Mas, de qualquer modo, foi tudo culpa da tequila. E da Vicky, mas sobre ela eu falo depois. Essas são as razões de eu estar aqui, do lado de fora do Mustang Sally, um bar dos anos 1960, no meio da noite, frente a frente com o meu-melhor-amigo-e-garoto-por-quem-nutro-uma-paixão-secreta-há-três-anos, esperando que ele faça alguma coisa. Tipo, qualquer coisa mesmo. Algo como respirar ou piscar, por exemplo.
Dou um passo vacilante para trás, quase caio devido à altura do meu salto e às tais doses de tequila que tomei. Isso parece despertar Gustavo do transe em que ele se encontra. Seu rosto está indecifrável, coberto pelas sombras da noite, e a única coisa que prova que ele ainda está vivo é o leve e ritmado movimento que seu peito faz. Ele pisca, atônito, desvia o olhar para os carros que passam na rua e volta os olhos para mim. Dessa vez, quem desvia o olhar sou eu. Porque eu sei que se eu olhar dentro daqueles olhos — dentro daqueles olhos verdes que me hipnotizam, que me fazem ceder —, sei, do fundo da alma, que irei desmoronar. E eu não posso desmoronar. Não agora. Não quando tudo está em jogo.
— Sam... você... você não pode estar falando sério. Quer dizer, você está bêbada — diz ele, engolindo em seco. — Isso só deve ser uma aposta boba das suas amigas. Acho melhor eu chamar um táxi pra você poder ir pra casa e...
Dou um passo à frente, mas não sem antes tropeçar. Maldita tequila! O mundo gira e o vento chicoteia meu rosto, tenho plena consciência de que irei de encontro ao chão em questão de milissegundos. No entanto, essa certeza se dissipa no instante em que sinto dois braços firmes me segurarem. Começo a rir histericamente e sinto Gustavo me abraçar de um jeito protetor. De um jeito que só um melhor amigo faria. E, para ser honesta... não quero um melhor amigo. A não ser que seja um melhor amigo com benefícios.
Consigo me desvencilhar dele e o empurro.
— Sério, vou chamar um táxi pra você, Sam — avisa ele com um tom autoritário na voz. — Você não sabe o que está fazendo.
— Cala a boca — digo. — Por acaso você não ouviu o que eu disse? — O coração se contrai à medida que as palavras escapolem. — Eu acabei de dizer que estou apaixonada por você, e tudo que você faz é comentar que eu estou bêbada? — Neste exato momento, não me importo em fixar os meus olhos nos dele. Caramba, não estou nem aí. Quero apenas ouvir alguma palavra. Qualquer coisa. De preferência algo do tipo: Eu também nutro uma paixão secreta por você, Samanta. Vamos caminhar pela noite de mãos dadas enquanto falamos bobagens
.
Entretanto, não é isso o que ele fala. Meu Deus, passou longe! Gustavo lança um olhar de cólera e tenta pegar a minha mão enquanto solta as palavras que acabam por fazer ruir tudo.
— E... eu... eu tenho namorada, Sam.
Chacoalho a cabeça, mal acreditando no que Gustavo diz. Então engulo em seco, em uma luta particular para conter as lágrimas. Estou bêbada. Acabei de levar um fora do meu melhor amigo. E estou prestes a dar um show na porta de um bar. A noite não poderia ter ficado pior.
Como ele tem coragem de falar isso? Como ele tem coragem de... de... de não me querer? Como ele pode?... como...
— Sam, por favor, não chore — suplica ele, tentando me alcançar. Mas eu já estou longe. Apenas alguns centímetros de distância dele, porém jamais estive tão longe dele como agora. Gustavo não pode me alcançar mais. Não pode.
— Não me peça para não chorar. Não quando você é o motivo do choro — digo rispidamente, me embaralhando com as palavras. Tudo está girando e cada carro que passa na rua joga a luz de seus faróis em meu rosto, piorando ainda mais a tonteira.
— Se não fosse por isso, eu... Quer dizer, nós teríamos...
— A Andreya é uma descarada, uma oferecida. Você sabe disso, não sabe? Ela te traiu duas vezes e você ainda continua com esse relacionamento
.
— Sam, por favor, pare com isso. É complicado para mim... — Gustavo começa a falar, mas, neste momento, eu não me importo. Meu celular vibra em meu bolso e eu o pego para checá-lo. Notificação de nova mensagem no visor. Clico na tela e leio o que está escrito, com certa dificuldade.
Faça. Faça agora antes que seja tarde demais. É a última chance. Lembre-se das razões pelas quais estamos aqui, para começo de conversa. Vicky acreditava em você, assim como nós!!!
Então, sem parar para pensar — porque se pensar agora, se tiver o mais leve pensamento, sei que o medo acabará tomando conta de tudo e arrastará a coragem para longe (e, neste momento, eu preciso da coragem aqui comigo) —, faço a única coisa que posso fazer. Avanço até Gustavo e beijo-o.
Ele fica sem reação. Está assustado demais para fazer algo a respeito, como me impedir ou mesmo corresponder, então aprofundo o beijo ainda mais, passando os meus braços ao redor de seu pescoço, incentivando-o. Quer saber? Que se dane. É verão. E eu estou bêbada. É isso aí. A minha língua em sua garganta. Para o inferno as regras. Estou beijando o meu melhor amigo, e isso nunca me havia parecido tão certo, mesmo que pudesse ser tão absurdamente errado.
Subitamente, depois de alguns segundos beijando-o, sinto sua mão em minha nuca, e o toque me congela. Ele está correspondendo! Meu Deus, sim, está! Eu, animada e cheia de esperança, me descongelo rapidamente e aprofundo o beijo. Seu toque é delicado e carinhoso, como se receasse me quebrar. E talvez receie. Receie quebrar o que existe entre nós. Mas eu me pergunto se depois de beijar o meu melhor amigo/garoto por quem estou apaixonada, será que ainda resta algo a se quebrar? A amizade foi para algum lugar bem distante, onde parece ser impossível de ser alcançada. Depois desta noite, não sei o que será daqui em diante. Mas será algo. Pela maneira como Gustavo me beija, sei, com cem por cento de certeza, que será algo.
Bem, pelo menos é isso que eu penso até sentir um braço me puxando com toda a força e me derrubando no chão. Olho para cima sem saber como há dois segundos estava nos braços do meu melhor amigo e agora estou caída de joelhos em um chão imundo. Com os joelhos ralados, é claro. Porque, de algum jeito, sempre acabo no chão com os joelhos esfolados, sangrando.
Pisco atordoadamente, até que compreendo. Sim, compreendo tudo.
Ela está aqui.
CAPÍTULO 1
Cinco horas atrás
O reflexo no espelho mostra quem nós realmente somos ou quem nós aparentamos ser? Honestamente, eu não sei. Mas, durante meus dezessete anos de vida, o reflexo no espelho nunca me pareceu tão... certo. Sabe quando se tem aquela sensação de olhar para a sua imagem e encontrar força e determinação naqueles olhos que encaram você de volta como se estivessem enxergando a coisa em si, pela primeira vez? Bem, é exatamente assim que estou me sentindo. Eu. Euzinha. Não um arquétipo do que a sociedade espera que eu me pareça. Pela primeira vez em dezessete anos, sinto que reconheço a pessoa do outro lado do espelho.
Então, sem esperar um segundo a mais sequer, digito o número tão conhecido no teclado do meu celular. Depois de chamar três vezes, ela finalmente atende.
— E aí? — pergunta Daphne.
— Eu fiz — digo a ela, e volto a me olhar no espelho do salão de beleza. Ouço outra voz, que só pode ser da Nat, e então, efusiva, ela emenda:
— Aimeudeusdocéu. Levante essa sua bunda da cadeira e a traga aqui agora mesmo! Nós estamos na loja do lado!
Dou risada e faço exatamente o que ela pede, não sem antes agradecer e pagar a minha cabeleireira preferida, Ana, e ela me abraçar, sussurrando um boa-sorte
cheio de convicção e altruísmo.
— Agora é a vez da sua amiga. Até depois — diz ela.
Marina respira fundo e se senta na cadeira. Seu olhar está petrificado. Sei que ela está tremendo de medo.
— Nós estaremos te esperando aqui do lado — digo sorrindo. — Você está em boas mãos, Mari.
Ela dá um meio sorriso e acena.
Saio do salão com uma confiança que nunca tive em toda a minha vida. Eu tinha conseguido! Tinha sido a primeira a cumprir um dos itens da lista.
Respiro fundo e olho para o céu de Curitiba. A cidade, que é costumeiramente chuvosa e cinza, em dezembro parece outro planeta. O céu nunca me pareceu tão sereno e colorido, com um laranja vibrante se espalhando pelas nuvens, deixando-as numa mistura de tons róseos e amarelados.
Estremeço ao sentir a brisa leve de verão bater em meus ombros, devido à estranha sensação de ter abandonado os cabelos compridos. O longo cabelo que tive por anos é coisa do passado. Jaz agora no chão do salão, para ser varrido e jogado no lixo. Assim como o meu medo e as minhas incertezas. Agora, o meu cabelo é curto e leve.
Passo as mãos entre os fios e sinto a maciez deles. O loiro apagado e sem vida que compunha a cor deles foi substituído por um tom chocolate vivo e intenso, que chega a brilhar.
Vivi quase a minha vida inteira sem grandes mudanças de visual. Sem me aventurar ao novo, sem me aventurar em coisas que faziam o meu coração saltar no peito. Sem tentar qualquer coisa fora do trivial, ou que me causasse medo. Sem mergulhar no desconhecido. Admito que é muito mais fácil ficar na impenetrável e frágil bolha. Sem permitir que ninguém ultrapasse a zona de conforto. É um lugar bom. Mas não um lugar ótimo. E, então, percebo que nunca gostei do bom, que o bom nunca me foi suficiente. Eu quero o ótimo. O extraordinário. Quero o que me faz escapar o fôlego, o que me deixa desperta nas noites quentes e abafadas de verão. Quero o impossível, o irreal, o absurdo.
Se eu quero doce? Que nada. Eu quero mesmo o extrapicante, quero pegando fogo.
— Vai ficar aí olhando para o céu esperando por um milagre? — grita Nat, a alguns metros de mim. — Não essa noite, Sam! Hoje iremos fazer acontecer! — afirma ela, toda confiante.
Vou em direção à Natália (se ela me escutasse a chamando desse jeito, não iria nem responder. Ela odeia o seu nome, então obriga todos a chamarem de Nat) e escuto um guincho de animação.
— Seu cabelo! Minha nossa! Você está tão linda! — exclama ela, me abraçando.
— Você gostou? Ficou bom mesmo? — pergunto, deixando-a me olhar.
— Sam, você era uma garota linda com o cabelo antigo. Mas... Agora? — ela indaga. — Caramba, coitada da garota que disputar um garoto com você! Vai perder feio! — Nat passa as mãos em meu cabelo enquanto eu sorrio. — Seus olhos azuis ficaram muito mais intensos com essa cor. Você está perfeita. A mudança só está começando. Vem, vamos entrar na loja. — Nat está radiante. Posso ver em seus olhos (castanhos, diga-se de passagem) que ela está cheia de esperança. E eu, também.
Apesar de eu ser cliente do salão há anos, poucas vezes havia percebido a incrível loja que tem ao lado dele. As araras são repletas de vestidos coloridos, todos combinando com o meu humor hoje.
Por sorte, a loja está vazia e a vendedora é simpática e prestativa. Seu nome é Jacqueline e ela nos mostra um look melhor do que o outro. Acabo pegando alguns vestidos, shorts e blusas e levo-os ao provador.
Uma música animada e contagiante ecoa das caixas de som localizadas no teto da loja.
— Você está sexy — elogia Daph, saindo do provador. — Este cabelo curto te dá um ar de mistério e perigo. Gostei.
Rolo os meus olhos e devolvo um sorriso a ela. Daphne se dirige ao espelho gigante que fica no centro da loja. Ela sobe num degrau e dá uma volta.
Seu cabelo loiro está solto e cai como uma cascata sobre a blusa tomara que caia branca que usa. Uma saia azul florida superjusta e divertida dá uma cara de verão ao look dela. Daph está linda. Pronta para arrasar.
— Linda! O melhor de tudo é que combina com todos os lugares que iremos essa noite. Aprovada! — afirma Nat, escolhendo algumas roupas nas araras.
— Você precisa comprar, te deixou superiluminada — digo, entrando no provador.
— É, essa roupa me deixou mais viva. E, olha só, até que me deixa com peito maior, o que é uma proeza considerando o meu pacote, né? Vou levar! — ouço Daphne dizer para a vendedora e solto um riso.
Daph sempre foi a mais corajosa e forte de todas nós. Ela não tem medo de dizer o que pensa, nem o que sente. Essa é uma das coisas que eu mais admiro nela. Não é à toa que ela namora um dos caras mais gatos da escola. Quer dizer, namorava. Seu namorado terminou com ela ontem. E quer saber o pior? Ela não está nem um pouco triste! Nem ligou para uma de nós para chorar. O Lucas parecia ser o garoto perfeito, mas, definitivamente, não foi perfeito para Daph. Ninguém sabe ainda o motivo do término. Tirando isso, não sei nem por que a Vicky fez alguns desafios na lista para ela. Não que eu não quisesse que ela estivesse aqui, de forma alguma. Não seria a nossa noite se Daph não participasse. Só estou dizendo que Daphne nunca precisou de uma lista de desafios para ter coragem, era destemida por natureza.