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A Conspiração Gnóstica
A Conspiração Gnóstica
A Conspiração Gnóstica
E-book202 páginas4 horas

A Conspiração Gnóstica

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Sobre este e-book

Éfeso, século I. O velho apóstolo João lidera a igreja na rica cidade de Éfeso. Mas um novo inimigo surge e, desta vez, ele vem de dentro.
Nesta obra de ficção, acompanhe João narrando os fatos da vida de Jesus, enquanto tenta salvar sua igreja de uma misteriosa conspiração.
Testemunhe os grandes feitos realizados pelo Mestre, viaje nos momentos que antecederam a criação do seu Evangelho e os motivos que o levaram a escrevê-lo!
Este livro em forma de ficção procura provar a divindade de Jesus ao mesmo tempo em que explica como e porquê o quarto evangelho foi escrito.

Um produto CPAD.
IdiomaPortuguês
EditoraCPAD
Data de lançamento29 de jul. de 2014
ISBN9788526311701
A Conspiração Gnóstica

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    A Conspiração Gnóstica - Robson Rocha

    Introdução

    Ahistória de Lázaro sempre me fascinou. Não apenas pelo maravilhoso milagre que ela registra, mas principalmente por mostrar Jesus Cristo em uma situação em que tanto a sua humanidade quanto a sua divindade foram plenamente reveladas a um só tempo.

    Decidi então escrever um livro analisando todos os detalhes dessa maravilhosa narrativa. Porém, resolvi que o narrador dessa história deveria ser alguém mais capacitado do que eu: o próprio apóstolo João, testemunha ocular desse inigualável milagre realizado por Jesus e o único dos evangelistas que o descreveu.

    Concluí que para ter João como narrador o ideal seria escrever uma obra de ficção na qual o outrora discípulo amado e agora último dos apóstolos vivos contasse os detalhes da história que ele descrevera sucintamente em seu Evangelho.

    Mas qual seria o fio condutor? O que justificaria o apóstolo João estar contando a história de Lázaro? E a quem? A resposta apresentou-se na introdução ao Evangelho de João, na seção das Considerações Preliminares da Bíblia de Estudo Pentecostal:

    Segundo testemunhos muito antigos, os presbíteros da igreja da Ásia Menor pediram ao venerável ancião e apóstolo João, residente em Éfeso, que escrevesse este Evangelho espiritual para contestar e refutar uma perigosa heresia concernente à natureza, pessoa e deidade de Jesus, propagada por um certo judeu de nome Cerinto.

    Foi como uma revelação. Em um único parágrafo, encontrei a trama e os principais personagens que norteariam o livro!

    Com isso, o que inicialmente seria um livro devocional sobre Lázaro tornou-se em uma obra de ficção sobre os momentos que antecederam a criação do Evangelho de João e os motivos que o levaram a escrevê-lo.

    Essa decisão aumentou consideravelmente meu trabalho, levandome a empreender uma meticulosa pesquisa acerca da época, dos principais fatos, locais e personagens históricos, hábitos e costumes dos povos durante o século I, etc. Tive então de consultar diversas obras de arqueologia, atlas bíblicos, livros de história da Igreja e história antiga, além de consultar estudiosos sobre o assunto. Foi necessário também prestar atenção à linguagem utilizada por João ao escrever seu Evangelho e suas epístolas, a fim de que ao inserir citações de seus textos escritos fosse mantida uma coerência estilística com os diálogos e pensamentos criados por mim no livro.

    E a história foi surgindo. Aos poucos, ao correr das páginas, os personagens foram revelando sua personalidade e a história foi ganhando vida própria. Mas meu objetivo inicial não foi esquecido nem negligenciado. A cada capítulo, através do personagem João, procuro trazer ao leitor pensamentos, meditações e ensinamentos acerca dos atos e palavras de nosso Senhor Jesus Cristo.

    Este livro foi escrito, acima de tudo, para edificar vidas. Creio que sua publicação seja até mesmo oportuna, pois vivemos uma época em que a divindade de Jesus Cristo é sutilmente questionada, seja por estudiosos que buscam conhecer o Jesus histórico, como se fosse possível separá-lo do Jesus Filho de Deus, seja por escritores que inventam teorias conspiratórias e códigos guardados por sociedades secretas.

    Contudo, quando tinha praticamente concluído a obra, partindo para o refinamento estilístico do texto, vi em uma livraria uma obra que me gelou o coração: um livro intitulado A História de João, escrito pelo famoso escritor americano Tim LaHaye! Ao folhear o livro, percebi inúmeras semelhanças com a minha a proposta. Tive então receio de que, se publicasse o meu, alguém pudesse pensar que sou um plagiador, pois, afinal, ele é o autor famoso e eu o desconhecido. Comprei então o livro, e depois de lê-lo, percebi que apesar do mesmo conceito básico, há profundas diferenças tanto na história quanto na narrativa e, principalmente, no conteúdo abordado. Concluí que as duas obras podem coexistir sem problemas, e, assim, continuei com o meu trabalho.

    Tenho dificuldade em classificar esta obra: ficção, devocional ou apologética? Deixo esta dúvida para você, para que leia o livro e tire suas próprias conclusões. O que importa, o que realmente importa, é que a leitura traga edificação à sua vida e que o nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus, seja glorificado.

    Em Cristo,

    Robson Pereira Rocha

    Capítulo

    1

    BOAS LEMBRANÇAS E MÁS NOTÍCIAS

    Éfeso, ano 85 d.C.

    Eu já estava acordado quando o galo cantou.

    Na minha idade, é normal deitar-se tarde e acordar cedo. Especialmente quando se vive em uma cidade tumultuada e barulhenta como Éfeso. Não deixa de ser irônico: justamente no período da vida que temos menos força em nossos membros, passamos mais tempo acordados. Certo estava Moisés quando escreveu — como era mesmo? ... a duração de nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado.¹

    Tantos anos se passaram, mas ainda não me acostumei com o burburinho das grandes metrópoles. Luzes demais, gente demais, pecado demais. Ainda mais se você vive na maior cidade da costa oeste da Ásia. Por aqui, todos os dias passam caravanas e barcos de povos que em minha juventude eu nem sabia que existiam.

    Sinto saudade, muita saudade, de minha cidade natal. Sinto falta de minha aldeia, Cafarnaum, do mar da Galileia, de meu pai, o velho Zebedeu.

    Mas minha terra, tal como eu a conheci, não existe mais. Roma reprimiu a rebelião judaica com mão de ferro. Rios de sangue correram pelas ruas de Jerusalém e nem o Santo Templo escapou da vingança romana, como predisse meu Senhor: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada.²

    São lembranças amargas que ainda doem neste velho coração judeu.

    O galo cantou mais uma vez. Papias ainda dorme. Agradeço ao Senhor por me enviar esse moço. Há muito que o vigor se foi do meu corpo, e sua ajuda me tem sido valiosa nas mais corriqueiras tarefas do cotidiano. Não é muito esperto, é verdade, porém é deveras prestativo. Deus lhe pague todas essas beneficências para com este pobre velho, meu menino. Espero que seu discipulado junto a mim seja tão frutífero quanto foi o de Policarpo.

    Com algum esforço, levanto-me do meu leito, tomo meu cajado e vou em direção à janela. Lentamente, o véu estrelado da noite dá lugar à luz do dia.

    A luz resplandece nas trevas e as consome, revelando o que estava oculto. Cada nascer do sol que meus olhos cansados contemplam me recorda do verdadeiro amanhecer, quando Ele chegou. Como estava escrito:

    Mas a terra que foi angustiada não será entenebrecida. Ele envileceu, nos primeiros tempos, a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, a enobreceu junto ao caminho do mar; além do Jordão, a Galileia dos gentios.³

    Galileia dos gentios. Não é um nome muito honroso, embora reconheça que seja apropriado. Minha terra, situada ao norte da Palestina, sofreu muita influência gentia e pagã, especialmente no período do exílio. Na época em que lá vivia, convivíamos também com a proliferação de rebeldes agitadores, os zelotes. Estávamos em densas trevas espirituais.

    Mas eu, Yochanan, estava lá quando essas palavras proféticas se cumpriram. Vi esta luz, fui iluminado por ela e nunca mais fui o mesmo. Nele estava a vida, e a vida era luz dos homens. Quando o vi e ouvi suas palavras, sabia que era Ele. Sabia que era o escolhido. Somente não sabia que minha vida mudaria tanto.

    Não fomos nós que fomos até Ele, mas sim Ele que veio até nós. Quando soube da prisão de João, o Batista, deixou Nazaré e foi morar em nossa aldeia, Cafarnaum. E a luz começou a brilhar. Ali Yeshua começou a pregar sua mensagem. Ainda me lembro de suas palavras: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.

    Nunca ninguém havia falado como Ele antes. Não com tal autoridade e convicção. Mas, apesar disso, foram poucos os de Cafarnaum e de suas redondezas que o seguiram. Contudo, suas palavras arderam em alguns corações, inclusive no meu e no de meu irmão mais velho.

    Estávamos nós dois às margens do mar da Galileia, juntamente com nosso pai, sentados no barco consertando as redes de pesca, quando Ele passou e nos chamou. Yeshua nos chamou!

    Eu era tão jovem... um rapazote, pouco mais que uma criança, mas sabia o que tinha de fazer: segui-lo, por onde quer que fosse. Todos nós sabíamos que era a coisa certa a fazer. Na verdade, saber não é a palavra correta. Sentíamos em nossos corações que devíamos segui-lo. E não apenas nós, mas nosso pai também entendeu e não fez objeção à nossa partida.

    Ele era meu mestre, e eu seu talmidim, seu discípulo. Sim, eu também era um dos doze que o seguiam.

    Mas para mim, Ele era mais que um mestre, era um pai, alguém em quem eu podia me recostar e descansar. Ao seu lado não havia o que temer. Nunca houve dúvida ou temor em sua voz. Ele sabia exatamente o que fazia, o que dizia. Sim, nEle estava a vida. Não uma vida qualquer, mas a plenitude da vida. E a vida era luz dos homens. Mas as trevas não a compreenderam.

    De repente, percebo que meus pensamentos me levaram de Éfeso à distante Palestina de cinquenta anos atrás. Quantas memórias um simples amanhecer pode nos trazer!

    Deixando minhas memórias para trás, viro-me em direção a Papias e percebo que o moço já está acordando.

    — Paz seja contigo, Papias. Dormiste bem?

    — Paz seja contigo, apóstolo. Dormi muito bem, obrigado — respondeu Papias ainda sonolento. — Gostaria que preparasse a refeição matinal?

    — Seria bom, meu rapaz. Ah, por favor! Chame-me apenas de presbítero, está bem? Não pretendo ser mais do que um simples ancião com alguma experiência para transmitir aos mais jovens.

    — Como o senhor quiser. Ensinaram-me que aqueles que viram o Senhor Jesus e foram convocados por Ele para serem seus discípulos deveriam ser chamados de apóstolos. Mas se o senhor não faz questão, quem sou eu para discordar? — disse-me o jovem com um sorriso.

    E lá se foi ele a preparar nosso desjejum.

    Mais um dia se inicia. Quais surpresas virão com ele?

    Não demoraria muito para que eu descobrisse. Pouco tempo após a refeição matinal, ouço palmas à porta de minha casa. Quem seria e o que quereria com um pobre velho como eu?

    — Presbítero, Demétrio e o diácono Diótrefes trouxeram alguns irmãos que desejam ver o senhor.

    — Mande-os entrar, Papias.

    Pela porta da humilde casa, entra um grupo de cinco homens. Não tardo em reconhecê-los.

    — Paz seja contigo, apóstolo.

    — Amados Demétrio e Diótrefes, paz seja convosco! E seja também com os amados irmãos que vos acompanham e me dão a honra desta visita. Não é sempre que este pobre velho recebe os presbíteros das principais igrejas da Ásia a uma só vez. Infelizmente, não creio que seja este um bom sinal. Receio que pretendam me deixar a par de algo sério acerca da igreja, não é isso?

    — É verdade, apóstolo. E fico feliz em constatar que sua mente se mantém não apenas lúcida como também aguçada — afirmou Gaio, um dos presbíteros que acompanham Demétrio.

    — Meu amado Gaio, sou um presbítero como tu; não há necessidade de tratar-me como apóstolo.

    — Perdoe-me por discordar, mas é justamente do apóstolo que precisamos neste momento, e você o último dos apóstolos vivos. Precisamos de você, João.

    Havia uma certa gravidade na voz de Gaio.

    João. É pela forma grega de meu nome que sou conhecido, e não apenas eu. Desde que as Boas-Novas começaram a ser anunciadas também aos gentios, tivemos de abrir mão de nossa língua materna e utilizamos o grego para alcançar a todos os povos. Por isso fomos conhecidos por outros nomes: meu irmão Ya’akov, Tiago. Shim’on agora é conhecido como Pedro. Bar-Talmai e T’oma são Bartolomeu e Tomé. Mattityahu, Mateus. Taddai, como era mesmo? Ah, é mesmo: Tadeu. Até mesmo o nome dEle teve de ser convertido para o grego. Yeshua Hamashiach, Jesus Cristo. Mas confesso que não é fácil para minha velha mente pensar neles com seus nomes em grego.

    Aqui estou eu de novo, perdendo-me em meus pensamentos!

    — Mas que anfitrião sou eu? Recebo visitas em minha própria casa e não tenho a delicadeza de oferecer ao menos uma bacia com água para vossos pés no melhor estilo judaico! Papias, por favor, traga uma jarra com água, meu filho.

    Os presbíteros tentaram objetar que não havia necessidade, porém, gentilmente, os fiz perceber que fazia questão. Para mim, era muito importante manter viva minha identidade judaica e cristã.

    Em poucos instantes, Papias trouxe-me a bacia e a jarra e, enquanto despejava a água cristalina na bacia, abaixei-me para lavar os pés de nossos ilustres visitantes.

    Não pude deixar de perceber o constrangimento deles com meu gesto e, confesso, me diverti com a sua reação. Porém, enquanto lavava seus pés, percebo uma mudança em seus semblantes. O constrangimento deu lugar a um profundo respeito e meu gesto trouxe-lhes a memória um ato ocorrido há tempos, do qual eu mesmo participei e tive a oportunidade de contar para eles. O Senhor Jesus lavou nossos pés, os meus e o de meus irmãos discípulos. Nossa reação não foi muito diferente da deles naquela época.

    Após essa singela cerimônia, sentamos para enfim tratar do motivo daquela inesperada visita.

    — Pois bem, meus amados. Em que posso ser útil?

    — Ninguém melhor do que você para saber o quanto custou para que a Igreja do Senhor pudesse crescer e se espalhar por todo o Império Romano. Muitos irmãos e irmãs derramaram seu próprio sangue por amor a Cristo, sem negar o seu nome jamais. Estêvão foi o primeiro deles — começou a falar Gaio.

    Homens dos quais o mundo não era digno⁵ — completou Demétrio.

    — É verdade — disse eu — e entre eles estavam os apóstolos. Todos martirizados por amor a Cristo.

    — Naquele tempo Satanás levantou adversários que, embora poderosos e brutais, eram de fora de nossa comunidade. Mas hoje, ele mudou a tática. — A expressão de Gaio estava carregada.

    — O que está querendo me dizer?

    — Já ouviu falar de Cerinto?

    — Na verdade, não.

    — É um judeu que tem visitado nossas igrejas por toda a Ásia. E em todo o lugar aonde chega, lança as sementes da discórdia e da mentira.

    — Como esse tal Cerinto faz isso?

    — Em seus sermões e ensinos, o tal homem tem contestado a doutrina dos apóstolos acerca da natureza, da pessoa e da própria divindade de Jesus.

    Ao ouvir tal coisa, meu coração disparou não querendo crer no que estavam me contando.

    — O que está me dizendo, Gaio?

    — Este Cerinto está desviando a muitos do caminho, fazendo com que abandonem a sã doutrina e a Igreja.

    — Sim, com muita astúcia e dissimulação, ele tem inserido suas heresias em nosso meio — confirmou Demétrio.

    — Mas que ensinos são esses? — perguntei eu.

    — João, ele prega que Jesus não é o

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