Por onde andam as pessoas interessantes?
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Pessoas interessantes querem se encontrar! Use #PorOndeAndam e descubra.
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Por onde andam as pessoas interessantes? - Daniel Bovolento
Depois que terminei meu namoro, senti que as coisas deram a devida reviravolta que eu tanto proclamava. De quatro a seis semanas foi o suficiente pra poeira baixar e chegar ao limbo.
O limbo é aquele lugar calmo, não muito raro, que todo mundo tem dentro de si. Um sótão que não é escuro, não abriga histórias de terror, não tem nada a ver com os filmes. Passei um bom tempo lá e confesso que tava até feliz por não ter que me distrair com ninguém a não ser eu mesmo.
Depois de todo fim, a gente precisa de um tempo pra cuidar da gente, botar a cabeça no lugar, sair por aí pegando uma infinidade de gente – papo chato de autoafirmação; aposto que você me entende. E, depois de tudo isso, a gente para lá no limbo pra tomar uma cerveja.
De uns meses pra cá eu senti nada. Sentia nada, nadinha. Nem por uma, nem por dez das pessoas que jantaram comigo – e não é exagero, foram dez mesmo. Mexicano, japonês, italiano, comida no parque, jantar na casa dela, McDonald’s no shopping, rodízio de pizza, crepe na Voluntários, cachorro-quente num aniversário, sobremesa aqui em casa. A cada pessoa nascia aquele interesse curioso que era rapidamente sucedido pela preguiça de se dispor, de ter que contar toda a minha história, de ter que voltar pro grande jogo das conquistas.
Não me entenda mal. Eu sempre gostei de conhecer gente. Sempre gostei de ter um coração meio vagabundo que se encantava fácil, que era só achar quem tratasse bem ou batesse um pouco que ficava grudado no celular esperando resposta. E agora nada. Nadica. A maior demonstração disso foi quando superei o medo irrefreável de tirar o last seen do WhatsApp.
Não tenho esperado mais resposta de ninguém e tenho tido pavor de responder a alguém que não seja um dos meus amigos. Ontem, por exemplo, peguei um ônibus lotado e um senhorzinho puxou assunto. Contou da vida, perguntou da minha. Monossilábica, meu senhor, é assim que ela anda. Nem escondi a intolerância e tratei logo de botar dois fones no ouvido pra me esconder do desconhecido. Reparei que a gente sempre faz isso na vida. A gente sempre abafa o que tenta incomodar a apatia com algum som familiar, com alguma memória preenchida ou com a desculpa de que a gente tá sempre ocupado e não pode prestar atenção. Eu, assim como um monte de gente, não quero sair da inércia, não quero sair daquele limbo sentimental, a menos que alguém me puxe.
E isso me leva a outra questão: por onde andam essas pessoas que costumavam puxar a gente? Já falei sobre timing e sobre um monte de ingredientes pra equação, mas nem exijo amor, não. O que eu quero é uma história à toa, por menor que seja, só pra não lidar com o egoísmo da solidão. E nada de aparecer alguém que dê match na vida real como a gente dá no Tinder; ninguém que faça a gente ter vontade de continuar um papo tranquilo sem cobrança, mas com vontade de continuar. Quando falo em gente interessante, me refiro única e exclusivamente a quem se conecte com a gente de verdade, para além do mundo virtual e dos telefones da vida.
Outro dia perguntei pra um amigo se ele sentia que as pessoas interessantes tinham sumido e ele disse que sim. Mais uma corja de amigos recém-separados e na mesma faixa de idade responderam o mesmo. E isso me faz pensar se a gente é que ficou desinteressante, ou se o limbo emocional – nossa casa constante com o passar dos anos e dos relacionamentos – acabou tornando a gente mais exigente e maduro. Ou se realmente anda difícil encontrar conexão emocional numa época em que os aplicativos de pegação, a variedade de opções e a falta de tempo costumam transformar em instantâneos os relacionamentos que já estavam se tornando efêmeros.
Daqui do limbo as coisas vão de mal a monótonas. Cada novo encontro mostra que a barra de compatibilidade do last.fm tá quebrada. E eu já não sei mais se é a gente que deixou a coisa da conexão emocional se apagar por conta do momento, da apatia, da vontade interna de manter as coisas caladas, ou se o mundo não tem proporcionado bons encontros com gente interessante – que deve andar escondida.
Talvez nós mesmos tenhamos nos tornado desinteressantes pela apatia. A única coisa que sei mesmo é que o Arnaldo Antunes nunca fez tanto sentido como hoje. Enquanto eu escrevia esse texto, um trecho dele martelava na minha cabeça, no meu limbo, na minha falta de interesse: Socorro, alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha
.
Um dia me perguntaram qual era o pior tipo de amor que eu já tinha vivido. Pensei de primeira nos amores errados, naqueles que trilharam início bonito, meio conturbado e fim desastroso. Pensei nos amores de panelas batendo na cozinha, daqueles de bom-dia para o porteiro, de portas rangendo e pés cuidadosos tarde da noite no piso da casa. Pensei nos amores que a gente apresentou pros amigos e pros pais, cujos nomes, depois, teve que pedir que esquecessem rapidamente. Mas não. Esse nunca foi o pior tipo de amor.
O pior tipo de amor é o amor imaginário.
E, quando eu falo em amor imaginário, não me refiro àqueles platônicos, que você sente pelo seu ator preferido ou por aquela modelo russa que viu num comercial. Falo de todo amor que, por algum motivo, acabou indo parar no mundo da imaginação. E se...? Como seria se...? O que aconteceu com...? O que vai ser da gente? E todas aquelas perguntas que a gente faz quando um amor não acontece, ou acontece pela metade, ou ainda é arrancado da gente pelo destino ou por alguma fatalidade, ou, quem sabe, decide ir embora e interromper tudo? O que sentimos ao viver um amor imaginário é difícil de descrever: vai da felicidade extrema em ter finalmente encontrado alguém à desolação natural de quem encontrou as chaves em cima do criado-mudo – sinal de renúncia da casa.
Os amores imaginários também podem ser bastante cômicos. Eles não são apenas chocolate, sorvete e O Diário de Bridget Jones nos finais de semana. São amores de pontos de ônibus, são os mozões que a gente viu uma única vez na vida e já pensou no nome dos três filhos e na cor dos quartos de cada um. São os amores que não aconteceram porque a gente pisou numa casca de banana no exato momento em que a tal pessoa olhou pra gente. São os amores que a gente viu que nem eram grande coisa e que tinham algo de errado, como feijão preso nos dentes ou chulé insuportável.
Amores imaginários são tragicômicos. Trágicos porque são com a gente; cômicos porque alguém sempre vai acabar rindo no fim das contas – nós ou os outros, que vão ouvir as histórias. Tragicômico é o adjetivo que define meus amores nos últimos anos, tão imaginários que só existiram na minha cabeça, nos meus cadernos, nas músicas que escrevi e nunca cantarolei por aí. Aprendi que dá pra rir e chorar com os amores imaginários que a gente tem ao longo da vida. E que eles não são imaginários para sempre.
Alguns dos amores imaginários são tão reais que chegam a cortar a pele ou manchar a boca da gente com chocolate ou canela – depende da situação do beijo, se vai ser em casa ou num café. Alguns vão render histórias que poderiam virar um livro ou uma boa conversa de bar com outro amor imaginário. Afinal de contas, eles andam por aí aos montes fantasiados de histórias reais que a gente nunca vai viver – pelo menos, não do jeito que a gente gostaria que fosse. E é por isso que são imaginários.
Pensando a respeito desse assunto, resolvi mudar um pouco a resposta que eu daria sobre o pior tipo de amor que alguém pode ter. Balbuciei alguma coisa em torno de amores não correspondidos – que não deixam de ser um tipo de amor imaginário. Mas, ainda assim, são só uma fatia do todo. Achei que essa resposta compensaria e faria justiça a esses amores, até porque foi pensando na dimensão deles que percebi não serem os do pior tipo. Nah. Seria uma injustiça dizer isso.
Os amores imaginários são os que mais ensinam pra gente; são nossa prova de fogo. O vestibular de medicina em que todo mundo vai passar um dia na vida. Quem nunca teve um amor imaginário? Eu já tive, você também. E, se não teve, prepare-se, porque uma coisa é certa nesta vida: você vai ter algum. Mesmo que só exista na sua cabeça. Aliás, nunca entendi o problema que as pessoas têm com histórias que acontecem na nossa cabeça.
Parafraseando um grande personagem da minha adolescência que disse algo muito sábio uma vez, eu te pergunto: só porque acontece dentro da sua cabeça, quer dizer que não seja real? É real pra burro. Você já sentiu isso. E, se não sentiu, paciência. É só questão de tempo.
Nunca contei isso pra ninguém, mas ontem percebi que eu coleciono começos.
Coleciono-os de forma quase inconsciente. São os primeiros bilhetes de cinema, a nota fiscal do primeiro jantar, o primeiro sachê usado no café, a foto do primeiro local em que a gente se viu. São partículas de inícios, coisas que simbolizam os primeiros passos de uma história que eu não sei se vai se desenrolar. Se pudesse, colecionaria até os primeiros beijos. Primeiro-alguma-coisa, e pronto... já vai logo parar numa caixa.
Meus começos são guardados porque,