25 minutos: A vida de Chiara Luce Badano
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Sobre este e-book
Sua atitude transtorna. Passados mais de 20 anos de sua morte, ela fascina jovens do mundo inteiro. A Igreja Católica reconhece-a como um exemplo de realização, beatificando-a.
O que há de tão especial em Chiara Luce? É o que o Autor quer entender, buscando o sentido de tudo isso. E constata: a vida de Chiara Luce é uma história de plenitude construída dia após dia...
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Pré-visualização do livro
25 minutos - Franz Coriasco
Título do original:
DAI TETTI IN GIÙ: CHIARA LUCE BADANO RACCONTATA DAL BASSO
© Città Nova Editrice – Roma – 2010
TRADUÇÃO:
Irami B. Silva
© Editora Cidade Nova – São Paulo – 2013
REVISÃO:
Klaus Brüschke
Ignez Maria Bordin
PROJETO GRÁFICO:
André Mucheroni
FOTOS:
Arquivo da família Badano
CONVERSÃO PARA EPUB:
Cláritas Comunicação
ISBN 978-85-7821-136-3
(Original: 978-88-311-6086-5)
Editora Cidade Nova
Rua José Ernesto Tozzi, 198
Vargem Grande Paulista – SP – Brasil
CEP 06730-000 – Telefax: +55 (11) 4158-8898
www.cidadenova.org.br
Sumário
Premissas e promessas
Terra minha (que estás no morro)
Uma história de amor
Aprende-se aprendendo
Aquele trem ao longo do mar
Pequena mulher
Chiara e Chiara
Certos sons de teclado
Comissária de bordo ou pediatra?
Crash!
Vinte e cinco minutos
Passo a passo
Pernas loucas
Um vestido de noiva
Bem-aventurada ela, Bem-aventurados nós
Dos telhados para baixo
Eu, Chiara e o escuro
Posfácio
Sobre Chiara Luce Badano
Para Teresa e Ruggero,
por nos terem presenteado Chiara.
E a Kika,
por me ter convencido
a escrever o texto.
PREMISSAS E PROMESSAS
A santidade é um negócio misterioso, indefinível e fascinante como nenhum outro. Ainda mais para quem, como o autor do livro, não sabe ou não consegue acreditar que exista um Deus capaz de equilibrar as contas, dessa ou daquela outra parte do Céu.
Pois bem. Por um estranho capricho do destino, no curso de minha vida, encontrei santos, ou fortemente suspeitos de santidade, e muitos.
Encontrei-os pessoalmente, quero dizer. E não me refiro apenas às centenas de benfeitores que, como todos, também eu tive às vezes a sorte de me deparar e de reconhecer, mas que, no entanto, jamais vão acabar nas folhinhas. Digo santos verdadeiros, com seu séquito de postuladores, de causas em linhas de chegada, e de devotíssimos aficionados. A começar pela minha professora de catecismo (a provável futura beata Maria Úrsula), continuando com dois amigos de juventude, Carlo Grisola e Alberto Michelotti, cujas causas de canonização ainda estão em andamento. Cabe juntar a esses até dois papas (Paulo VI e João Paulo II) e campeões da fé à altura de Chiara Lubich, Igino Giordani e madre Teresa de Calcutá. Pessoas fascinantes, sem dúvida, com as quais tive a sorte de ter relações pessoais, apesar de, evidentemente, ainda não suficientes nem para fazer de mim a pessoa melhor a que aspiraria me tornar, nem a me desarraigar do agnosticismo que, há décadas, carrego nas costas. De forma que, não saberia sequer lhe dizer se essas frequências ocasionais tiveram um enredo, uma finalidade, um sentido, ou foram apenas fruto de mera coincidência.
Para não falar dela.
Chiara Badano. A beata Chiara Luce¹ Badano.
A melhor amiga de minha irmã Kika…
À diferença dos muitos personagens honoráveis acima citados, vislumbrei Chiaretta crescer, passando de menininha a jovem mulher, de garotinha cheia de sonhos a doente terminal, e mais, e, sobretudo, de uma pessoa aparentemente comum a uma testemunha extraordinária da própria fé. Deve ser por isso que a lembrança dela continuou também depois de sua morte a acompanhar as muitas confusões da minha vida e a apresentar-se de novo com tanta frequência nos precipícios mais profundos do meu íntimo.
Não que a tenha conhecido tão bem, quando ainda viva. A não ser de vista
, como costuma acontecer com as melhores amigas das próprias irmãs. Portanto, justamente dessa minha posição tão marginal e ininfluenciável, vi e ouvi muito. Muitas vezes, muito mais do que nossas esporádicas convivências permitiam, do cruzamento aleatório ou forçado das nossas respectivas existências, aliás, tão diferentes por geração, formação cultural, gostos e temperamento.
Uma testemunha absolutamente à margem de uma história decididamente extraordinária: foi o que fui. Como um centurião qualquer no Calvário, um padioleiro em Waterloo, o porteiro das Torres Gêmeas. Mas, uma história que me marcou; como, aliás, marcou todos aqueles que só depois passaram a conhecer Chiaretta. Assim, neste pequeno livro que me predisponho a escrever, com a ajuda fundamental de minha irmã e dos pais de Chiara (por quem sinto muitíssima afeição há mais de vinte anos), quero tentar percorrê-la novamente. Antes de tudo, para verificar se, por acaso, me escapou, nesse ínterim, alguma coisa. Alguma coisa importante dela. Ou de mim… Acima de tudo, gostaria de fazer as coisas direito, tentando, tanto quanto possível, evitar as armadilhas e os clichês típicos de toda pesquisa retrospectiva. Buscando inclusive nos recantos, sobretudo naqueles menos batidos pelas hagiografias clássicas, quem sabe remexendo também lá onde o fulgor da santidade ofusca a vista, anulando os detalhes ou os contornos.
Confesso que nutro inclusive a esperança de encontrar em Chiara Luce também um monte de defeitos. Com certeza, não pelo gosto do bastião contrário iconoclasta, mas porque acredito que das duas, uma: ou um santo sem defeitos não é suficientemente santo, ou à diferença do que sempre me contaram, a santidade não é para todos.
No momento, se repenso na beata Chiara Luce como a conheci, sei apenas duas coisas, ou presumo. Primeira: não se nasce santo, pois a santidade é um ofício — além de uma escolha — que se aprende no vir a ser. Segunda: uma história de santidade não tem um final feliz, porque é uma história que não acaba nunca.
Dito isso, caro leitor, venha atrás de mim. Se lhe aprouver…
1. Lê-se Quiara Lutche, Clara Luz. [N.d.E.]
TERRA MINHA (QUE ESTÁS NO MORRO)
Sassello. Qualquer um daqueles pequenos povoados que cochilam há séculos, arraigados nas alturas que dominam o mar da Ligúria. Aqueles híbridos que não se sabe nem dizer se são filhos de uma colina presa a manias de grandeza ou de uma montanha tímida demais. Terra de fronteiras entre Poente e Nascente, onde os Alpes se abrandam nos montes Apeninos. Um lugar para amantes de ecoturismos pacíficos, mountain bike, bird watching e amenidades afins. O interior da Ligúria é cheio de lugares assim.
A primeira vez em que ouvi aquele nome (suponho que da própria Chiara), acredito que logo pensei, por assonância, em Brescello de Peppone e dom Camilo¹. Um daqueles lugares deliciosos e, ao mesmo tempo, claustrofóbicos, perfeitos para uma história de província ser ali ambientada, cheia de valores nítidos e contrapostos, como as do bom Guareschi; ou, ao contrário, para revelar suas contradições extremas, mas bem escondidas sob os sossegos laboriosos e as hipocrisias típicas do provincianismo do nosso país.
Chiara Badano nasceu lá. E ela gostava muitíssimo de Sassello: porque era a sua terra, e aquele era o seu povo. Chiara gostava de tudo de Sassello, dos recantos mais escondidos, dos panoramas circunvizinhos, e das pessoas. Dizia que, quando a neve caía, lhe parecia uma pequena Suíça. Ainda hoje me assalta até a dúvida de que se Chiara não tivesse crescido em Sassello, talvez jamais tivéssemos tido uma beata Chiara Luce.
Estive lá inúmeras vezes: a primeira, para os seus funerais, depois para alguns aniversários. E devo dizer que, enquanto a minha percepção de Chiara mudava a cada vez, Sassello continuava sempre igual: silenciosa, reservada, levemente simplória; talvez orgulhosa da fama daquela filha sua cada vez mais conhecida no mundo, porém, discreta demais, ou distraída, para manifestá-lo. Sassello, com suas ruelas ladeirentas, com seus bosques de castanheiras, e aquelas casinhas bem conservadas, mas sem aquele cuidado maníaco do detalhe, como se podem encontrar justamente na Suíça ou no Tirol.
A estrada sobe do mar de Albissola nesse pequeno vale feito de gargalos e de alargamentos inesperados, e depois novos gargalos. Mais ou menos como foi a vida de Chiaretta — vem-me ao pensamento agora que volto para aqui com uma finalidade específica.
Sassello é dominada pelo monte Beigua, de onde nasce a torrente Sansobbia, que escavou o vale. Está a pouco menos de quatrocentos metros de altitude e possui cerca de mil e oitocentos habitantes, subdivididos em cerca de novecentas famílias, que se tornam bem mais numerosas no verão. Está geminada com uma cidadezinha espanhola chamada Alquerias del Niño Perdido e tem o mesmo padroeiro de minha Turim, são João Batista, que se festeja em 24 de junho. O Istat (Instituto Nacional Italiano de Estatística) refere que, em 2005, a renda média per capita era de cerca de dezoito mil euros anuais²: uma cidadezinha não rica, mas nem tampouco pobre, exatamente como a família Badano. A propósito: em Sassello, metade da cidade tem sobrenome Badano. E os Badano moram, vejam só, na rua Badano, perto de um distrito chamado, por sua vez, Badani…
Dessa vez, volto para pesquisar, e, como bom repórter, procuro estar atento a tudo o que me rodeia. É outono avançado, faz frio, há pouca gente circulando. A morada dos Badano é uma pequena casa sem pretensões, reformada ao longo dos anos com muito cuidado e pouco dinheiro. Tem um portão de madeira feito com ramos de castanheiro trançados. Um portão que tem um simples raminho como fecho: na casa dos Badano pode entrar qualquer um, e desde sempre. Não muito longe, há também uma capela votiva dedicada ao Menino Jesus de Praga, que o avô materno de Chiara construiu há muitas décadas, como promessa e lembrança da cura milagrosa de seu pai.
Teresa e Ruggero recebem a mim e a minha irmã com o afeto envolvente de sempre. Ou melhor, é Teresa que envolve
; o afeto de Ruggero é menos efervescente, feito de mil subentendidos. Kika diz que Chiara herdou mais dele, como caráter.
Estava junto também meu cunhado, a quem pedi que tirasse algumas fotos da casa, só para contextualizar
. Assim, lá está a casinha que Ruggero construiu para o correio, lá está a polia elétrica para levar a lenha do depósito à lareira do segundo andar. Depois, as escadas internas que levam ao apartamentinho do sótão, que parece um chalé de montanha, com as pranchas de madeira nas paredes. E eis o quartinho de Chiara, exatamente como era quando ela mudou definitivamente de domicílio, em 7 de outubro de 1990. Agora que penso nisso, é o mesmo ano em que perdi a fé, se é que tive uma fé seriamente…
Não quero explicar bem demais a Teresa e Ruggero o que tenho em mente: não para esconder deles o projeto, lógico (estou mais do que certo de que ficariam bem felizes), mas antes para evitar que tenham preocupações, ansiedades, ou restrições de qualquer espécie. Vamos almoçar juntos num restaurante a dois passos dali. Está cheio, apesar de ser um dia de semana: gente simples, operários, alguns caminhoneiros de passagem. Vê-se que os Badano são de casa. Polenta com os cogumelos do lugar: uma delícia. Começamos a falar dela
, e de nós, e também de Sassello. Assim, descubro que, na realidade, os sasselenses preferem como seu padroeiro a Santíssima Trindade (à qual é dedicada a igreja que foi também a paróquia de Chiara) e obtenho a confirmação de que os cidadãos dos Badano são pessoas acostumadas a não se meterem na vida dos outros,