Ética e cidadania: Caminhos da filosofia
De Sílvio Gallo e GESEF
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Sobre este e-book
Essa obra, que recebeu o prêmio Jabuti em 1998, pretende despertar a curiosidade, provocar o questionamento, diante de fatos e informações que passam despercebidos no dia a dia. Trata-se de um caminho proposto, de um roteiro de viagem. O professor tem a liberdade de alterar a rota e programar a viagem como preferir. Sendo assim, esse livro foi pensado como um ponto de partida que viabilize um exercício de reflexão para professores e alunos, uma produção coletiva de saber, como é a própria filosofia.
PRÊMIO JABUTI 1998 - Didático de 1º e 2º graus. - Papirus Editora
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Ética e cidadania - Sílvio Gallo
ÉTICA E CIDADANIA:
CAMINHOS DA FILOSOFIA
(elementos para o ensino de filosofia)
Sílvio Gallo (coord.)
Ilustração: Alexandre J. de Moraes Assumpção
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SUMÁRIO
Apresentação para quem ensina filosofia: ENSINAR A FILOSOFAR
Apresentação para quem estuda filosofia: A JUVENTUDE E A FILOSOFIA
unidade 1 A FILOSOFIA E O CONHECIMENTO
unidade 2 POLÍTICA E CIDADANIA
unidade 3 IDEOLOGIA
unidade 4 ALIENAÇÃO: (DES)HUMANIZAÇÃO DO HOMEM NO TRABALHO
unidade 5 ÉTICA E CIVILIZAÇÃO
unidade 6 O CORPO
unidade 7 SEXUALIDADE: O NOME DA COISA
unidade 8 A LIBERDADE
unidade 9 ESTÉTICA: ARTE E VIDA COTIDIANA
unidade 10 ESTÉTICA DE SI
unidade 11 ÉTICA E CIDADANIA NA SOCIEDADE TECNOLÓGICA
SOBRE OS AUTORES
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REDES SOCIAIS
CRÉDITOS
Apresentação para quem ensina filosofia:
ENSINAR A FILOSOFAR
Depois de duas décadas, este livro continua sua trajetória de ser um instrumento de trabalho para o ensino de filosofia. Laureado pela Câmara Brasileira do Livro com o prêmio Jabuti de 1998 na categoria Didático de Ensino Fundamental e Médio
, define bem sua vocação: ser didático.
Ele nasceu no início de 1995 no Grupo de Estudos sobre Ensino de Filosofia (Gesef), que estava vinculado ao departamento e ao curso de Filosofia da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Foi gestado nos encontros de professores de filosofia promovidos, inicialmente, pelos alunos do curso de Filosofia em prática de estágio supervisionado. Depois se ampliou com o engajamento na luta pelo retorno do ensino de filosofia como disciplina curricular.
A fim de pensar a situação do ensino de filosofia nas escolas públicas e privadas, o Gesef foi um lugar de cultivo de estratégias para uma ação efetiva entre ensino, pesquisa e extensão, com o objetivo de criar um instrumento inicial para transmitir a filosofia por meio de recursos datados. Cabe ao professor e a seus alunos atualizarem os recursos e levarem adiante a paixão pela filosofia. Reinventado o livro com os temas propostos, novos caminhos são possíveis para articular a reflexão ética no exercício da cidadania.
Qual a realidade do ensino de filosofia na sua escola? É somente no espaço e no tempo circunscrito que este livro pode cumprir sua aposta inicial: um instrumento para criar e instaurar o ensino de filosofia. Aqui, o leitor encontrará uma resposta/proposta à situação do ensino de filosofia na década de 1990, que adquire sua maioridade
nesta 20ª edição. Ao que tudo indica, continua contribuindo com a tarefa de exercitar o pensamento livre e autônomo, não tutelado por nenhum fundamentalismo.
Diante do diagnóstico da situação histórica do ensino de filosofia, decidimos delinear novos traços, colocar mais cores, alterar o quadro. Na época, avaliamos que faltava um toque da paleta de Vincent van Gogh. Desse modo, assumimos a proposta de pensar a filosofia como arte do cuidado de si, uma ética fundada na estética e na política. Pensamos o filósofo como um artista da palavra, um criador de conceitos. Nossa premissa: a filosofia é a arte do conceito. Ensinar filosofia como arte requer um trabalho inventivo cotidiano.
Identificamo-nos com a definição de arte esboçada por Van Gogh que, em junho de 1879, escreveu a seu irmão Théo: A arte é o homem acrescentado à natureza, à realidade, à verdade, mas com um significado, com uma concepção, com um caráter que o artista ressalta e aos quais dá expressão, resgata, distingue, liberta, ilumina.
Cada filósofo, lidando com os problemas de seu tempo, cria um quadro conceitual através do qual olhamos a realidade. A realidade é pintada, construída, fabricada, produzida, forjada. O filósofo é o artista que registra a passagem do homem no mundo
, no dizer de Merleau-Ponty em seu Elogio à filosofia. Ressaltando o demasiado humano, o filósofo resgata a essência distinguindo-a das aparências. Mantendo-nos ainda na analogia da atividade filosófica com a do pintor, podemos dizer que os conceitos são as cores que o filósofo utiliza para pintar o quadro da realidade. Cada quadro é uma janela através da qual contemplamos o real.
Através de que enquadramento poderemos ter acesso ao real? Em qual realidade nos movemos? Sobre qual realidade falamos?
Tornou-se lugar comum dizer que a crise ocupa a soberania nos diagnósticos realizados pelas ciências humanas e nos discursos políticos. Tudo está em crise. A crise é apontada como causa de infindáveis problemas identificados e como consequência da própria condição da vida moderna.
Jean Baudrillard caracteriza a década de 1980 como a pós-orgia da modernidade
. A discussão sobre a crise da modernidade está em curso, buscando mapear os conflitos na sociedade atual. Diante deste mundo moderno (ou seria pós-moderno? transmoderno? hipermoderno?), que nos promete as mais fantásticas realizações humanas, vivemos uma sensação de vertigem, de um colapso que ameaça destruir a todos. Convivem a opulência das conquistas tecnológicas com a indigência de milhões. O abismo entre o luxo e a miséria cresce assustadoramente. O conceito de pobreza já não é suficiente para designar o estado de milhões de homens que vivem à margem (excluídos) dessas conquistas da modernidade.
Diante desse estado de vertigem, no qual a crise ocupa o lugar soberano, somos instigados a pensar sobre as possibilidades de ensinar a arte filosófica.
A questão espinhosa se impõe: É possível ensinar filosofia? A filosofia é uma profissão? Vez ou outra, estamos nos indagando se somos filósofos ou professores de filosofia e constantemente nos questionamos sobre nosso lugar na universidade. A questão da identidade do filósofo ronda nossas conversas e poucas vezes temos a coragem de enfrentar essas indagações sobre nosso trabalho.
Em 1975, Giannotti perguntava-se: O que anima o aprendiz do filosofar? Dentre os mais diversos motivos, é possível apontar um que faz dele desde cedo um filósofo: ambos (professor e aluno) possuem aquele distanciamento do mundo e aquela intimidade que só pode ser obtida pela via da reflexão. Nesse sentido, não se ensina filosofia, mas se alimenta o desabrochar de uma recusa secreta, de uma necessidade de recuo, de encontrar um caminho produtivo para um estranhamento atávico
(Filosofia miúda e demais aventuras. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 13). A máxima kantiana impõe-se como dedução: não é possível ensinar filosofia, só podemos ensinar a filosofar. Mas o ato de filosofar só é possível pela mediação dos clássicos. O professor de filosofia é aquele que estabelece a interlocução entre os clássicos (o saber sistematizado) e a recusa secreta do mundo. Caminhando com o professor entre as veredas históricas da filosofia, o aluno elabora sua trajetória desse estranhamento atávico. O pensamento constitui-se pelo recurso histórico da descendência conceitual. Nesse sentido, a filosofia não tem fronteiras. Pensar as condições atuais de possibilidades existenciais é ampliar as justificativas valorativas de que este mundo no qual estamos inseridos não está coerente com nossos desejos.
O filósofo da Basileia fez uma exigência àqueles que desejam se dedicar à filosofia: situar-se acima do bem e do mal. Nietzsche afirmou em Ecce Homo, de 1888: A filosofia, tal como até agora a entendi e vivi, é a vida voluntária em gelo e altas montanhas – a procura por tudo o que é estrangeiro e problemático na existência, por tudo aquilo que foi exilado pela moral.
Procurando aceitar essa exigência nietzschiana, cremos que a atividade filosófica pode ser pensada numa analogia com a atividade artística, pois talvez assim tenhamos alguns elementos para pensar estratégias de intervenção na realidade educacional pelo ensino da filosofia.
Este pequeno livro foi pensado para isso. Tomando a reflexão filosófica como arte, como pensamento voltado para a vida e o cotidiano, queremos intervir na realidade de nossas escolas, o que não é possível com massudos manuais de introdução à filosofia. Nos Encontros de Professores promovidos pela Unimep, uma queixa foi constante: embora de qualidade inegável, os principais livros didáticos para o ensino de filosofia não têm dado conta das necessidades, principalmente nas escolas públicas. Por dois motivos básicos: o primeiro é o tamanho; embora aleguem que o livro não é pensado para ser trabalhado na íntegra, dada sua extensão, torna-se caro para a imensa maioria dos alunos. O segundo é o nível da linguagem; é sabido que a filosofia é muitas vezes tomada como hermética, um conhecimento ao qual apenas alguns iniciados podem ter acesso. E tal hermetismo é sustentado por uma linguagem que, em vez de aproximar as pessoas, afasta-as. Nem sempre os manuais para ensino da filosofia, por mais que se esforcem, conseguem estabelecer uma comunicação de fato com o público a que se destinam.
Defendemos aqui, portanto, uma vulgarização? De forma alguma. Mas esforçamo-nos para traduzir determinados conceitos de forma a possibilitar o acesso do aluno ao conhecimento filosófico. Tentamos buscar uma linguagem que não seja nem aquela que os adolescentes usam em seu cotidiano nem uma outra, inacessível para eles. Acreditamos que conhecer é dominar a linguagem. É necessário um esforço de domínio da língua; entretanto, se o esforço necessário para assimilar um texto for muito grande, é muito provável que ele seja abandonado.
Esta obra não pretende ser exaustiva, mas uma singela introdução; se conseguir despertar em nossos alunos uma situação de curiosidade diante de determinados fatos que passam despercebidos em seu cotidiano, terá cumprido sua tarefa. Tampouco pretende ser a última palavra
: trata-se de um caminho proposto, de um roteiro de viagem. O professor tem a liberdade de alterar a rota e programar a viagem como preferir. De todo modo, o texto foi pensado como um ponto de partida que viabilize um exercício de reflexão com professores e alunos, uma produção coletiva de saber, como é a própria filosofia.
Apresentação para quem estuda filosofia:
A JUVENTUDE E A FILOSOFIA
Você deve estar acostumado a ser visto pelos adultos como um incômodo
. E isso não deixa de ser verdade. O adolescente passa por uma verdadeira revolução em sua vida, é uma pessoa em movimento, seu corpo se transforma, suas ideias se transformam, seus sentimentos se transformam... Muitos dos que são mais velhos já estão acomodados na vida, e não desejam – na maioria das vezes – mudanças que perturbem sua situação. E é por isso que o jovem incomoda. Ele representa o novo, que traz em si o antigo do mundo pronto
em que ele nasce lutando contra o velho que já passou por esse processo de ser o novo. O jovem é a força do movimento, reagindo contra toda a acomodação e, portanto, incomoda
os acomodados – que se esquecem de que já passaram por isso.
Mesmo na escola, você deve viver um pouco dessa realidade, sentindo na pele a situação. Mas talvez com a filosofia seja diferente; talvez com ela você se sinta à vontade. É porque a filosofia é uma jovem de quase 2.700 anos de idade. Desde que surgiu na Grécia, no século VII a.C., a filosofia pode ser caracterizada como uma situação de incômodo, de inconformismo. Ela apareceu porque algumas pessoas – os primeiros filósofos – estavam insatisfeitas com as explicações sobre a realidade que existiam na época.
Elas se sentiam espantadas diante da complexidade do mundo, e queriam fugir das explicações simplistas que eram dadas. A filosofia surgiu como uma interrogação constante sobre a realidade, e um descontentamento com as respostas oferecidas. Isso fez dela uma eterna revolução, um movimento de construção do saber. Note: a filosofia não é a sabedoria, mas um movimento em sua direção, sempre uma busca. E, como nunca deixou de ser busca, a filosofia não envelheceu: continua hoje tão jovem quanto era em sua remota origem.
Se a juventude é vista pelos acomodados como um incômodo
, o mesmo acontece com a filosofia. No século V a.C., Sócrates, já idoso, foi condenado à morte pelo tribunal popular de Atenas. Diziam que ele não acreditava nos deuses da cidade e corrompia a juventude; mas na verdade ele incomodava demais aqueles que se sentiam confortáveis em sua situação. Ao longo de sua história, a filosofia seguiu sendo esse incômodo, causando desconforto nas pessoas, mas também possibilitando a emergência de novos saberes, de novas perspectivas