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A caverna do tempo perdido
A caverna do tempo perdido
A caverna do tempo perdido
E-book167 páginas1 hora

A caverna do tempo perdido

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Sobre este e-book

Donato é um jovem de dezessete anos apaixonado por arqueologia.
Contra a vontade do pai, ele embarca em uma emocionante expedição ao Parque Nacional da Serra da Capivara, com seu professor Abreu, a filha deste, Maíra, e o misterioso Carlos. O grupo parte em busca de vestígios de civilizações perdidas.
Carlos é um homem rude, e constantemente ameaça o professor Abreu e até o próprio Donato. Por que o professor permitiu que Carlos participasse da expedição? E o que será que ele procura, uma vez que não se interessa por arqueologia?
Durante a expedição uma estranha caverna foi encontrada pelo professor. Qual será o segredo dessa caverna, onde o tempo "anda para trás" e pessoas são mumificadas vivas?
E será que antes mais alguém esteve ali?
Com essa eletrizante aventura, Elizabeth Loibl combina ficção e realidade, abordando fatos importantes relativos a descobrimentos e patrimônios históricos do Brasil.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de mar. de 2014
ISBN9788506074541
A caverna do tempo perdido

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    A caverna do tempo perdido - Elisabeth Loibl

    autora

    I

    – Arqueologia?! – exclamou Emílio Silva, irritado. – Você poderia fazer o favor de explicar o que significa isso? – perguntou ao filho Donato, em tom irônico. A família estava reunida à mesa do jantar e, apesar da aparente harmonia, reinava um clima tenso.

    – Mas eu já expliquei, pai – respondeu Donato com um suspiro.

    Depois de alguns instantes de silêncio, Emílio Silva continuou o interrogatório:

    – O que está acontecendo com você, filho?

    – Nada, ora! – explodiu Donato.

    Emílio levantou a voz:

    – Isso não é resposta! Seu lugar na fábrica já está reservado.

    – É que... – Donato respirou fundo. Sabia muito bem que a fábrica era o ponto fraco do pai, mesmo assim arriscou: – Eu não quero passar o resto da minha vida trancado na fábrica, pai. É isso.

    A reação era a esperada: o pai empurrou o prato, o sangue lhe subiu à cabeça.

    – O que deu em você?! Ficou louco? – gritou.

    Donato tentou explicar:

    – Pai, você sabe que eu me interesso por arqueologia. Um dos meus professores, o professor Abreu, é arqueólogo. Ele pretende fazer uma pesquisa no Piauí. Ele disse que...

    Emílio Silva não deixou o filho terminar:

    – Não acredito! Não vai me dizer que você quer ir ao Piauí?! – perguntou, alterado.

    – É isso que eu ia dizer, mas eu também queria...

    Emílio o interrompeu de novo:

    – Nunca ouvi tamanha bobagem!

    Donato esforçou-se para manter a calma. Com os olhos fixos no prato, murmurou:

    – Eu quero ser arqueólogo, pai.

    Emílio perdeu o controle e deu um murro na mesa.

    – Você perdeu o juízo! – gritou.

    – Emílio! Cuidado com a pressão – interveio dona Diva, a mãe de Donato, uma senhora à moda antiga, que acatava tudo o que o marido dizia.

    – Pressão! Como posso cuidar da pressão se meu filho me vem com esse tipo de criancice?

    – Você está fazendo tempestade em copo d’água, Emílio – disse dona Diva.

    Donato resolveu enfrentar o pai:

    – Eu vou com o professor para o Piauí, pai.

    Emílio deu outro soco na mesa.

    – Eu não permito que vocês resolvam as coisas sem meu consentimento, você sabe disso! Piauí! Imagine! Você não vai mesmo!

    Mônica, a irmã mais nova, tentou intervir a favor do irmão:

    – Deixa ele ir, pai!

    – Não se intrometa, filha!

    Emílio Silva fixou os olhos no filho.

    – Piauí! – repetiu. – Fazer o que lá?

    – O professor Abreu já foi ao Piauí pesquisar inscrições rupestres em Sete Cidades.

    – Inscrições rupestres?! Sei lá o que é isso! Você não vai, está resolvido!

    Com a teimosia que herdou do pai, Donato disse:

    – Se você não deixar, eu saio de casa.

    Pai e filho se encararam como inimigos. Emílio Silva, um homem de origem humilde, lutou muito para chegar aonde chegou. Seus pais trabalharam na roça em Minas Gerais e ele veio cedo para São Paulo para ganhar a vida.

    Repetia mil vezes, para quem quisesse ouvir, mas principalmente para os filhos, que começou do zero e hoje era dono de uma metalúrgica de porte médio no ABC paulista.

    Os tempos estavam difíceis para a indústria automobilística e, consequentemente, para as fábricas que dependiam dela. Justo agora, seu único filho lhe causava ainda mais problemas.

    Emílio esforçou-se para recuperar o autocontrole. Mais calmo, perguntou:

    – Afinal, o que é arqueologia? Eu gostaria de entender seu interesse por essa... hum, essa coisa.

    Aliviado, Donato tentou explicar:

    – É a ciência que estuda os testemunhos da cultura humana, de povos que viveram no passado. É...

    O pai, um homem voltado para as conquistas da vida moderna, não deixou o filho continuar. Impaciente, interrompeu-o novamente:

    – Bobagem! É o presente que interessa!

    Donato não recuou.

    – Eu quero fazer descobertas, não quero ficar o dia todo na fábrica – insistiu, decidido a lutar por aquilo que queria.

    – Que desaforo! – gritou Emílio Silva. – Você fala como se fosse uma vergonha trabalhar na fábrica! De onde acha que vem o dinheiro para sustentar vocês?

    Donato, até então calmo, não se conteve mais:

    – Você nunca me perguntou se é isso que eu quero! Eu tenho vontade própria, sabia?

    Emílio levantou-se sem ter tocado na comida e foi até um pequeno bar, onde encheu um copo de uísque puro.

    – Emílio, por favor... – começou dona Diva, mas foi imediatamente interrompida pelo marido:

    – Deixe-nos sozinhos, Diva.

    – Mas...

    – Por favor!

    Havia muitos anos acostumada com o caráter autoritário do marido, dona Diva saiu da sala sem mais uma palavra. Mônica, a irmã de Donato, não se conformava com o jeito submisso da mãe e, apesar de bem mais nova que o irmão, não raras vezes a criticava com palavras duras.

    Agora recusava-se a sair da sala, pois queria dar uma força ao irmão.

    – Pai, deixa ele ir ao Piauí, não tem nada de mais!

    – Não se meta nisso, Mônica! – respondeu Emílio, irritado.

    Apesar de atrevida, o que era próprio de sua idade, Mônica também possuía inteligência fora do comum. Sabia quando era preciso recuar. Trocou um rápido olhar com o irmão e depois foi atrás da mãe.

    Com o copo na mão, Emílio olhou para o filho como se o visse pela primeira vez. Donato tinha dezessete anos e estava na hora de se interessar pela fábrica. Tudo o que Emílio construíra foi pensando nos filhos.

    Diante do silêncio do pai, Donato criou coragem.

    – É que... você nunca me perguntou se eu queria trabalhar na fábrica.

    Emílio encheu o copo novamente.

    – Eu não entendo... a gente gasta uma fortuna pensando que vai dar uma educação melhor do que a gente teve... pra quê?

    O pai não tinha muita instrução, mas não era bobo. Sabia que podia perder o filho se não mantivesse a cabeça fria.

    – Você ainda é muito jovem, não sabe nada da vida, das dificuldades.

    – Pai, eu...

    – Espere! Você teima em ir com aquele... hum, professor, para o Piauí fazer não sei o quê. Vá para os Estados Unidos, filho. Ou para a Europa.

    – Você não quer entender, pai! Eu já decidi: vou para o Piauí com o professor Abreu!

    Por alguns instantes fez-se silêncio. Depois o pai, aparentemente calmo, perguntou:

    – Por que o Piauí, filho? O que tem de tão interessante lá?

    – É que o professor Abreu procura vestígios de civilizações perdidas. Ele acha, por exemplo, que no Piauí vai encontrar sinais do Peabiru, o lendário caminho pré-histórico. Segundo os relatos de alguns pesquisadores, existem em Sete Cidades e também na Serra da Capivara sinais que confirmam a presença dos fenícios e dos vikings. O professor...

    Donato se empolgara, mas, de repente, notou que estava falando à toa.

    – Pai! Você não está nem prestando atenção! Depois não vai dizer que não te conto nada!

    Emílio Silva olhou, pensativo, para o copo vazio, como se ali estivesse a resposta para seus problemas. Finalmente, suspirou:

    – O que você me contou, filho, pra mim é grego. Não entendi nada. Tudo isso me parece um tanto confuso, mas, se é isso que você quer...

    – Escuta, pai...

    Emílio levantou a mão, num gesto de resignação.

    – Espere! Eu concordo com essa maluquice de ir ao Piauí, mas com uma condição.

    – Condição?!

    – Quero lhe propor um acordo, filho. Você vai para o Piauí e, quando voltar, trabalha um ano comigo na fábrica. Se depois você ainda quiser estudar arqueologia, não vou mais interferir; você terá meu apoio. Eu acho que é uma proposta justa!

    Donato ficou mudo. Trabalhar um ano na fábrica! Por outro lado, o pai lhe prometera ajuda. Estudar e pesquisar sem problemas financeiros! Poucos tinham essa chance!

    – Se você faz questão... – respondeu, sem muito entusiasmo.

    – Claro que faço questão! Arqueologia não paga contas, filho!

    Mais tarde, em seu confortável quarto, no décimo andar de um luxuoso prédio de apartamentos da zona sul, o rapaz foi até a janela. A seus pés se estendia São Paulo, a antiga Piratininga, a cidade dos bandeirantes, homens destemidos que conquistaram terras desconhecidas. Eu gostaria de ser como eles!, pensou, respirando fundo. Por que enfrentara o pai com tanta teimosia? Nenhum de seus colegas e amigos compartilhava seus sonhos; ao contrário, todos zombavam dele! O divertimento e as aventuras dos colegas limitavam-se a jogos eletrônicos, filmes, televisão, internet... mas, para ele, Donato, a vida se passava lá fora. O que havia de errado nisso?

    I I

    – Oi – disse Carol.

    – Oi – respondeu Donato, mal-humorado.

    Por alguns minutos andaram em silêncio, até que Carol não aguentou mais:

    – O que você tem? – E sem esperar resposta: – É verdade que você vai para o Piauí com o professor Abreu?

    Donato deu de ombros.

    – Então você já sabe?

    – Todo mundo sabe.

    – E daí?

    – Nada... é que... por que o Piauí?

    Donato chutou uma lata vazia.

    – Pra

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