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O Espírito do Catolicismo e do Barroco na Cultura Brasileira
O Espírito do Catolicismo e do Barroco na Cultura Brasileira
O Espírito do Catolicismo e do Barroco na Cultura Brasileira
E-book151 páginas2 horas

O Espírito do Catolicismo e do Barroco na Cultura Brasileira

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Sobre este e-book

No início da abertura democrática, nos anos 80, voltei ao Brasil. Encontrei um país diferente do que deixara, principalmente pela emergência de novos atores sociais, como o sindicalismo do ABC, o Partido dos Trabalhadores, as comunidades eclesiais de base etc.

Meu entendimento foi que a Igreja Católica tinha tido um papel fundamental na oposição ao regime militar e na emergência dos movimentos sociais. Debrucei-me, então, sobre essa instituição no país.

Nasceram dois ensaios desses estudos. No primeiro, Lula e o PT: da esperança ao feijão-com-arroz & outros escritos, descobri que o líder sindical era no imaginário um mito messiânico de caráter cristão. No segundo, O sujeito oculto do lulopetismo e dos movimentos sociais, apontei que a Teologia da Libertação, doutrina católica muito influente na América Latina, era a ideologia escondida na germinação do fenômeno político contemporâneo.

O presente ensaio, O espírito do catolicismo e do Barroco na cultura brasileira, constitui uma incursão às raízes remotas do catolicismo e sua influência estruturante na fundação da cultura brasileira. Nesse percurso, cruzei com a cultura do Barroco e foi em um estalo que realizei seu profundo impacto e seus vestígios ainda presentes na mentalidade brasileira.

O Estado português, desde a Revolução de Avis (1385), configurou-se como patrimonial. O Brasil herdou essa estrutura, como descreve Faoro sobre o patronato político nacional, em Os Donos do Poder. No entanto há uma lacuna em sua grande obra que é a herança do catolicismo e do Barroco na cultura brasileira. Tal é o nosso propósito.

O catolicismo não é considerado em sua dimensão de fé transcendental, e sim enquanto ideologia, construída principalmente por São Paulo e por Santo Agostinho. Foi sua vertente fundamentalista, ibérica, que foi transplantada para a Colônia portuguesa. Em estreita associação com ela, exportou-se a cultura do Barroco. Pode-se detectar a influência dessa mentalidade, por exemplo, no campo jurídico como o extremo legalismo (convivendo com a grande ilegalidade), no labirinto do sistema político nacional, no inesperado na dinâmica social. Tudo revelando um país aquém da modernidade.

Nos escritos políticos, incluídos nos anexos, é descrita uma resultante trágica dessa mentalidade arcaica no fenômeno político contemporâneo do soba.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de fev. de 2019
ISBN9788547328832
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    O Espírito do Catolicismo e do Barroco na Cultura Brasileira - Fernando Antonio Mourão Flora

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2019 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    APRESENTAÇÃO

    Minha geração, a baby-boom ou pós-guerra, sempre foi sensível aos problemas sociais do Brasil. Éramos desenvolvimentistas até o regime militar de 64. Resistimos com passeatas no tempo do Castelo, aí veio o AI-5 e a Ditadura. Fui indiciado num inquérito policial-militar por participação no movimento estudantil (salvo pelo Dr. Flauzino, meu tio amado).

    Tornei-me um exilado voluntário e fui para a República francesa. Lá, no pós-68, estudei na Universidade (operária) de Vincennes (em seminários de Deleuze, Châtelet, Poulantzas, Foucault etc.). Reconheço que a principal influência intelectual que recebi foi a estruturalista, em contato diário (curto) com o Dr. Lacan, de 1975 a 1981.

    Regressei com a abertura e com o propósito que poderia ser mais útil aqui que na França. Ingressei na política municipal em minha cidade natal, cheio de esperança no futuro do país. Aí veio a decepção com a Nova República. Constatei que desde os anos 60 e a ilusão desenvolvimentista o país continuava em seu arcaísmo, em berço esplêndido, a mesma desigualdade absurda.

    A reflexão sobre o atual estado de coisas, sobre o retorno para a nova barbárie (Vico), levou-me à elaboração do presente ensaio. Como se poderá constatar, trata-se de uma imersão no inconsciente coletivo brasileiro, tendo como guia a ferramenta do simbólico, como ensina Lévi-Strauss (ler seção Mentalidade barroca).

    Fiquei surpreso com o que encontrei em minha pesquisa. Deparei-me com o patrimonialismo e a superestrutura do catolicismo e do Barroco. Em artigo recente¹, Davi Lago concluía que nossa burocracia é um terrível anacronismo e que era preciso superar a burocracia mental brasileira. Esse autor só não tem consciência da mentalidade católica e barroca, que é a nossa descoberta. Roberto Macedo² constata o imenso imbróglio social, político, econômico e institucional, que explica por que o Brasil ficou para trás.

    Nosso ensaio contribui revelando as raízes profundas desse labirinto. O que fazer? No imediato, um novo pacto social, por meio de uma Assembleia Constituinte exclusiva. Nossos escritos políticos, acrescentados como anexos, elaboram o presente.

    Poços de Caldas, abril de 2018.

    Fernando Antonio Mourão Flora

    PREFÁCIO

    O título deste ensaio, de Fernando A. M. Flora, por si só já é uma provocação. Ao nos oferecer a possibilidade de pensar a identidade cultural brasileira a partir do catolicismo e do barroco, já nos convida a rever perspectivas de análise excessivamente limitadas ao campo das ideologias e da teoria de classes. Para muitos, isso chega a ser uma heresia, pois o ensaio procura fugir das ortodoxias teóricas e formalísticas, seja na sua estrutura geral – não está organizado dentro de uma periodização histórica rígida – seja colocando-nos em contato com autores que utilizaram de forma original o aparato conceitual da antropologia, da sociologia e da história das religiões. Não é um ensaio que se preocupa em repetir fórmulas consagradas de análise – históricas ou sociológicas – com as quais estamos acostumados. Mais uma vez: é uma sadia provocação.

    O autor esteve, recentemente, preocupado em identificar o caráter nacional brasileiro e, por certo, passou pela conhecida tese de Dante Moreira Leite, defendida há anos na década de 1950. Provavelmente, deve ter dado um salto histórico para revisitar os estudos do antropólogo Roberto da Matta sobre o jeitinho brasileiro e sobre você sabe com que está falando?. Insatisfeito com ambas as abordagens, procurou caminhos próprios de análise, escolhendo – sem menosprezar os clássicos como Nietzsche, Hegel, Weber, Lévi-Strauss e outros – autores que não são muito familiares do público leitor brasileiro. O resultado é uma importante e oportuna contribuição para alargar nosso campo de visão e expor, com clareza, didatismo e objetividade, mas sem perder a elegância da linguagem e, até certo ponto, erudita, da permanência – o que chega a ser assustador – das raízes religiosas de nossa cultura.

    A seção em que revê como o cristianismo católico esteve presente na formação histórica de Portugal é bastante esclarecedora e nos ajuda a entender o papel civilizador da Companhia de Jesus, que monopolizou, até a Reforma Pombalina, a ação educativa e missionária na Colônia Brasileira. A seção referente ao Barroco expõe suas características estéticas e o que está nela subjacente ou implícito em termos do reforço (inconsciente) da fé e como o Barroco pode ser considerado como uma verdadeira ideologia da Contrarreforma no campo das artes e da literatura. Analisa a mentalidade jesuítica e como ambos – jesuitismo e barroco – funcionaram como resistência à inserção de Portugal – como das demais colônias e, particularmente, da Colônia Brasileira – no movimento iluminista que precede a Modernidade no Ocidente. As referências sobre os símbolos nacionais religiosos e a religiosidade, em geral, dos brasileiros – a importância das procissões, atos de fé, rituais e o símbolo que se tornou o santuário de Aparecida do Norte não são casuais – são brilhantes e merecem leitura atenta.

    O ensaio não fica parado no tempo. Na seção sobre como evoluiu a doutrina social da católica, em função das transformações socioculturais, políticas e econômicas, principalmente no então denominado Terceiro Mundo e, posteriormente, nos processos de modernização da América e da África, há uma breve revisão das encíclicas papais. É uma excelente contribuição para se compreender como a Igreja Católica – então liberada do controle político do Estado – conseguiu contrabalançar a pressão de ideias e comportamentos pós-modernos que poderiam colocar em perigo a hegemonia da fé. É uma seção que, apresentada inteligentemente pelo autor, não se desvincula da espinha dorsal do ensaio e reforça o objetivo principal que é a compreensão do atual, do hodierno, do contemporâneo – para o bem ou para o mal – de nossa identidade cultural e do nosso comportamento principalmente no campo social e político.

    No fundo, mesmo fazendo um recorte das raízes católicas e barrocas de nossa identidade cultural, não deixa também de ser um ensaio político, de intervenção no campo das de ideias e posições do nosso complicado contexto político atual, se considerarmos que política também é um elemento inserido na cultura. E ajuda-nos a compreender, por exemplo, porque na gestão pública do Estado ainda não nos desvencilhamos de algumas de suas dimensões mais anacrônicas em termos de modernidade, ou seja, o patrimonialismo e a tremenda confusão entre o público e o privado.

    É imprevisível o que pode acontecer com a publicação de um texto, em termos de sua influência sobre os leitores para ajudá-los a entender de forma não superficial, o debate de ideias, opiniões e julgamentos que refletem o momento histórico ou a conjuntura em que vivemos. As redes sociais se transformaram no principal canal de transmissão de informações e de discussões. Salvo honrosas exceções, estão contaminadas por um confronto político e ideológico de baixíssimo nível e qualquer publicação pelos meios considerados mais nobres – como os livros – corre o risco de ser solenemente ignorada pela chamada opinião pública, se considerarmos essa expressão no seu sentido mercadológico.

    É um ensaio que está dirigido a uma opinião pública no sentido do contexto em que a própria expressão surgiu que foram as guerras culturais que caracterizaram o embate entre os Antigos e os Modernos, no longínquo século XVI europeu. Refiro-me a uma opinião pública que é fundamental e decisiva para a formação de um ambiente sociopolítico e de um clima psicológico que efetivamente nos ajudem a sair de uma modernidade periférica e tardia em que nos envolvemos, inclusive com atraso de quase três séculos.

    Sem sombra de dúvida, irá provocar o debate, o diálogo, o confronto de ideias sobre o

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