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Aberrações Selvagens: Livro 1 - Ato 1 - Gênesis
Aberrações Selvagens: Livro 1 - Ato 1 - Gênesis
Aberrações Selvagens: Livro 1 - Ato 1 - Gênesis
E-book671 páginas9 horas

Aberrações Selvagens: Livro 1 - Ato 1 - Gênesis

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Sobre este e-book

"Em um mundo de seres antropomórficos, uma guerra mundial entre todas as raças havia sido finalizada e uma concórdia finalmente seria compartilhada entre todos, porém uma nova ameaça temia surgir depois de um incidente em uma boate. O que inicialmente parecia ter sido um evento normal, acabou revelando ser algo muito mais complicado de ser controlado.
Seres específicos começaram a demonstrar habilidades extraordinárias que poderiam ser vistas como possíveis ameaças para a sociedade. Como uma forma de ter controle dessa situação, o governo decidiu criar uma equipe com pessoas geneticamente modificadas com o objetivo de capturar qualquer um que poderia ser considerado um inimigo.
Mesmo com inocentes no meio disso tudo, a ditadura do continente local parecia ignorar completamente esse fato. Isso obrigaria a todos os envolvidos a lutar em busca de justiça, segurança e a verdade por trás do plano do Governador ao iniciar esse projeto."
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de set. de 2016
ISBN9788559961508
Aberrações Selvagens: Livro 1 - Ato 1 - Gênesis

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    Pré-visualização do livro

    Aberrações Selvagens - Felipe Salazar

    Personagens

    PRÓLOGO

    UMA VISÃO DO FUTURO

    30 de abril de 2020

    Uma visão desfocada é percebida por uma poeira densa. Pedras em volta... Não há como identificar o local. Parece ser uma rua deserta, completamente destruída.

    Olhando ao redor, é possível ver alguns prédios em ruínas. Barulhos são ouvidos, mas sem uma identificação maior dos sons.

    Os olhos quase se fecham e, dando uma rápida olhada para baixo, é possível ver a parte de um corpo. Algo metálico cobre seu torso, mas alguns pedaços estão faltando. Suas costas apresentam ferimentos... Parece que o impacto foi recente... As pernas estão estáticas. É possível perceber um leve movimento que não leva a nada. O corpo ferido cai para trás, escorregando pela parede que o apoiava. Alguns pedaços de pedra caíram no chão. Tudo parecia ter acontecido recentemente: poeira, destruição e dor.

    Com muito pó na frente, os olhos querem se fechar e, ao mesmo tempo, continuar abertos, mas algo os mantém ainda mais atentos, mesmo com a luz solar refletindo um pedaço de uma peça metálica de seu peito nos seus olhos verdes; o foco continua a ser a poeira: o que parece estar aí para tanta fixação? Salvação, esperança?

    Depois, olhando para a frente, uma silhueta de alguém se aproxima: os batimentos do coração se aceleram e a respiração também. Medo do misterioso ou o temor de algo conhecido?

    A criatura estava com os punhos fechados, mas a poeira continua a atrapalhar a visão. Enquanto o corpo se aproxima, a poeira vem junto com ele. Parece que o ser não é tocado pelo pó, como se houvesse um escudo, ou algo que estivesse soprando a poeira para os lados, como uma proteção que o impede de ser afetado por ela.

    Ele estava cada vez mais próximo e seus pelos brancos e marrons podem ser percebidos com nitidez. Orelhas pontudas, olhos verdes e uma face raivosa, mostrando os dentes afiados: era a figura de uma raposa se aproximando cada vez mais. O escudo em sua volta afasta a poeira e fica ainda mais potente. Parece estar ligado às emoções da raposa. Um sentimento de raiva é sentido no ar.

    A respiração do outro corpo caído se acelera e ele tenta se mover. A raposa, com sua pata, o empurra contra a parede.

    Pisadas firmes são sentidas no chão e um fio de sangue escorre da sua boca. Ferimentos? Nada aparente. Seus olhos estão fixados no corpo caído e, com muita raiva e determinação, ela grita com todas as suas forças:

    - Mash, eu vou te matar! - diz a misteriosa e raivosa raposa, avançando com determinação sobre ele.

    CAPÍTULO 1

    FIM DOS TEMPOS

    Boate Fim dos Tempos

    20 de março de 2020

    Muitas pessoas dançando, luzes coloridas e música alta.

    Dois elementos estavam sentados em uma mesa um pouco longe da pista principal: uma raposa de pelo laranja e branco e um tigre branco com listras pretas. Um de frente para o outro, bebendo uma mistura vermelha. A raposa estava incomodada e o tigre decidiu se manifestar.

    - Mash, sei que você está triste por que ela terminou o relacionamento, mas não pode se prender ao passado. As pessoas estão se divertindo e você pode se divertir como elas.

    A raposa deu uma rápida olhada para o lado e voltou a olhar para a bebida vermelha em seu copo, respondendo ao amigo:

    - Você pode estar certo, mas eu não estou me sentindo bem, e me trazer aqui não foi uma boa ideia - disse, olhando para o tigre.

    - Bem... Eu chamei seus amigos.

    - O quê? Não, você não fez isso, Mark - respondeu Mash, incomodado com a revelação do amigo.

    - Olha, Mash, eu não fiz isso por que quis, eu fiz por que é o certo. Você precisa dos seus amigos.

    Mash encostou-se à cadeira e olhou para as pessoas dançando, pensando no que o seu amigo lhe dissera e imaginando em que lugar os seus outros amigos estavam.

    - Tá bom, Mark, vamos lá falar com eles.

    - É assim que se fala! - respondeu Mark, levantando-se feliz porque a raposa aceitou se socializar com os outros.

    A raposa se levantou perguntando ao tigre por eles. O tigre respondeu que todos estavam do outro lado do salão e que deveriam passar pelas pessoas dançando para encontrá-los. Mark desceu uma pequena escada que dava para a pista de dança, mas percebeu que Mash não estava descendo por ela. Ele se virou e viu Mash em cima, se apoiando no corrimão e olhando fixamente na direção do público. Mash olhava para as pessoas dançando, via muitas cores e uma fumaça que escondia alguns lugares. De repente, deu um passo para trás. Mark viu seu recuo e perguntou se estava tudo bem:

    - Qual o problema?

    A raposa deu uma olhada para frente e depois olhou para o amigo.

    - Eu já volto, ok? - disse, se afastando da escada.

    - Ok...- concordou Mark, se virando também e passando pela multidão para encontrar seus amigos.

    Boate Fim dos Tempos

    Salão

    - Essa boate é ótima! - gritou Alex, uma raposa de pelos pretos e brancos, muito excitada e animada pelo som alto da música. Para uma garota, ela se vestia com um estilo bem masculino, com camisa preta e jeans: um típico comportamento tomboy, mas ao mesmo tempo com postura e sensualidade animalesca bem feminina.

    - Eu sei, Alex, eu já vim aqui várias vezes! - disse Psyanide, um lobo cinzento, apoiado na mesa. Ele bebia e mexia o cabelo para o lado, afastando os fios dourados da frente de seus olhos amarelados, olhando para as garotas presentes. Próximo dele estava Oskar, outro lobo um pouco mais jovem, de pelagem cinza e olhos azuis, que estava conversando com uma raposa fêmea sentada próxima a ele.

    - Sabe, você está fazendo um grande progresso vindo aqui - disse Oskar para Melissa. Alex, a raposa tomboy sentou ao lado dela com um copo de bebida na mão, e perguntou:

    - Então, Mel, já perdeu seu medo do público?

    - Alex! Precisava dizer na cara da Melissa o medo dela? - disse Oskar, tentando proteger Mel.

    - Calma, Oskar, eu só perguntei.

    No mesmo instante, Psyanide aproximou-se do balcão colocando na mesa seu copo quase vazio.

    - Então, Psyanide, está aproveitando a boate? - perguntou o jovem lobo ao seu amigo.

    - Com certeza!

    Alex, enquanto terminava sua bebida, apontou para um local onde as pessoas estavam dançando.

    - Pessoal, olha, é o Mark! - disse Alex, enquanto o tigre se aproximava dos seus amigos.

    - E aí gente, tudo bem? - perguntou Mark.

    - Tudo! E então, cadê o nosso anfitrião? - perguntou Psyanide, enquanto se virava para falar com o tigre branco.

    - Ah, continua na mesma. Eu o chamei, mas ele não quis vir. Acho que ele fica incomodado com a música e a multidão.

    - Talvez ele só precise de mais tempo - disse Melissa.

    - Mais tempo? - perguntou Psyanide, surpreso - Eu acho que os três meses já foram demais pra ele.

    - Você já ficou triste por causa de uma garota? - falou Alex para Psyanide.

    - Não, mas não é tão complicado assim.

    Psyanide levantou-se e viu a necessidade de explicar o que ele pensava.

    – Olha, ele iniciou uma relação com uma garota e não deu certo; ela não era a ideal pra ele e, assim, não tem motivos para continuar triste. Viu? bem simples.

    - Psyanide, não é tão simples assim. E o sentimento?

    - Oskar, sentimentos são como informações: ao mesmo tempo que os sentimos, nós podemos descartá-los. Mash está triste, mas ele poderia estar bem melhor se tentasse esquecê-la.

    - Psyanide, ele está tentando. Veio aqui por que quis, não foi obrigado. E quer muito melhorar - respondeu o tigre, olhando sério para o lobo.

    - Bem, pensem o que quiserem. O que parece é que ele quer ficar deprimido por ainda pensar nela.

    Ao ver que o seu copo estava vazio, ele se levantou.

    - Vou pegar outra bebida e já volto – disse ao sair do local.

    - Às vezes esse cara me tira do sério... - comentou Oskar.

    - É verdade, ele está muito diferente - acrescentou Mark, concordando com seu amigo.

    - Não é pra menos. Vocês se lembram do que aconteceu com ele, certo? – perguntou Alex, olhando para os amigos.

    - Ah, nem me faça lembrar - afirmou Mark, surpreso. Em seguida, se virou lentamente e olhou as pessoas dançando, imaginando onde seu amigo poderia estar naquele momento.

    Boate Fim dos Tempos

    Banheiro Masculino

    Um som de descarga é ouvido e, no local, veem-se paredes sujas e danificadas. Alguém ainda está no banheiro. Mash olhou para a frente e viu seu reflexo no espelho por alguns segundos. Em seguida, abriu a torneira envelhecida e molhou seu rosto. Olhou para o reflexo de novo, e viu seu pelo todo molhado e os olhos verdes um pouco avermelhados. Olhando novamente, viu pelo reflexo do espelho a sua solidão e sentiu o barulho de música que exaltava a felicidade e o prazer das pessoas do lado de fora. Ele nunca se sentira tão vazio como agora.

    Inúmeros pensamentos passavam pela sua cabeça enquanto ficava paralisado vendo seu rosto no espelho. Às vezes se sentia fora do corpo, mas, ao mesmo tempo, preso por uma ligação corporal que não lhe garantia liberdade, apenas dor.

    A jovem raposa não aguentou a solidão, baixou a cabeça cobrindo-a com uma das mãos. Logo ficou olhando a água cair da torneira, gota a gota, enquanto passava a mão em seus pelos curtos.

    De repente, fechou a torneira, limpou os olhos e começou a conversar com o seu reflexo.

    - Por quê? Por que você fez isso comigo? Eu só estava tentando te proteger, não foi culpa minha, eles... - sussurrou para si mesmo, tentando evitar o contato com os seus olhos verdes refletidos, com medo de entrar naquela escuridão ocular que viu e presenciou naquele momento triste, se lembrando da garota que o havia deixado. As lembranças vieram à tona e aquele banheiro sujo se tornou um santuário mental de memórias de tristeza e depressão. Em seguida, fechou os olhos e se apoiou na pia, ignorando as suas perigosas rachaduras. Era óbvio que aquele lugar era um lixo, mas ele não estava focado nisso. Simplesmente fechou os olhos sem se importar com o que estava em volta ou se alguém poderia roubá-lo, pois não tinha nada de valor a perder. Na verdade, ele nem iria ligar se perdesse algo, pois sentia que já havia perdido tudo depois do fim daquela relação.

    Lentamente começou a se acalmar, a pensar nos seus amigos e que deveria ir lá falar com eles. Mas o que dizer? Como fazer isso? Ele não conseguia pensar como uma raposa.

    É da natureza de uma raposa pensar nas possibilidades do que fazer, mas desde a Grande Guerra ele nunca tinha adquirido esse costume, pois era proibido. Então, ficou lá, parado, pensando só nos seus amigos.

    Boate Fim dos Tempos

    Salão

    Voltando para o salão principal: os cinco amigos de Mash continuavam bebendo e conversando quando, de repente, a fumaça que havia na boate ficou um pouco mais densa. A visão da pista de dança ficou prejudicada e as pessoas que estavam mais longe da pista não conseguiam ver nada. Alguns se sentiram incomodados e mesmo os que estavam acostumados com o local viram que aquilo não era normal.

    - O que está acontecendo? - perguntou Psyanide, virando o rosto em direção à fumaça, confuso.

    - Oskar, você não acha melhor sairmos? Eu não estou conseguindo ver nada! - disse Alex a Oskar, enquanto puxava sua camisa para passar e tentar ver além da densa fumaça.

    - Sim, você está certa. Mark, você consegue ver a saída?

    - Sim - respondeu o tigre branco apontando para uma direção. - É por aqui, vocês só precisam me seguir!

    No caminho, Mark encontrou-se com Psyanide e disse para ele segui-lo. O lobo concordou e todos fizeram o mesmo.

    Várias pessoas tentaram encontrar a saída. Com toda a confusão, as luzes ainda iluminavam a pista e a música continuava a tocar, porém ninguém estava ligado nisso. Todos queriam sair.

    Os cinco amigos de Mash estavam sentindo dificuldade de ficar juntos, pela confusão no local. Misteriosamente, a música começou a aumentar ainda mais e as pessoas tampavam os ouvidos. De repente, um grito altíssimo ecoou e todos se viraram para tentar localizar a sua origem.

    - O que foi isso? - perguntou Mark, surpreso.

    Virando-se, o tigre branco viu Oskar e Alex à sua frente, Melissa ao lado e Psyanide logo atrás, mas estava faltando alguém. Ele estava pensando em Mash e onde ele poderia estar.

    Boate Fim dos Tempos

    Banheiro Masculino

    Mash ouviu a música aumentar e o grito o fez ficar curioso. Logo que abriu a porta do banheiro e virou à direita em direção ao corredor, viu a porta de entrada do salão principal se abrir e várias pessoas saindo por ela.

    Ele se aproximou lentamente e viu seus amigos saindo. Ele decidiu que era hora de sair também e encontrá-los no lado de fora da boate.

    Boate Fim dos Tempos

    Área Externa

    - Mark! – gritou a raposa saindo da boate.

    Os cinco amigos se viraram e se juntaram a Mash, enquanto outras pessoas passavam em grupos ou indo embora sozinhos.

    - Eu achava que você tinha ido embora – explicou o tigre.

    - Não, eu só precisava ficar um tempo sozinho, mas agora estou melhor – respondeu a raposa.

    - Então, o que aconteceu lá dentro? Eu ouvi um grito e a música aumentou bastante... Alguém sabe o que aconteceu?

    - Não - falou Melissa, timidamente.

    - Eu também não - disse Alex.

    - Talvez algum defeito na caixa de som ou na máquina de fumaça? Isso nunca aconteceu antes, porém tem sempre uma primeira vez pra tudo - respondeu Psyanide, tentando usar a lógica.

    - Tá, e o grito? Como você explica aquele grito altíssimo e assustador? - perguntou Oskar, olhando para Psyanide.

    - Sei lá... Talvez a caixa de som tenha caído em cima da pata de alguém - respondeu Psyanide, levantando os braços em dúvida.

    Diante dessa piada, todos em volta riram alegremente, porém algo chamou a atenção de Oskar:

    - Ah não... – disse Oskar, preocupado, olhando para a direção oposta a que seus amigos estavam olhando.

    De repente, alguém se aproximou do grupo.

    - Ei Mash! – gritou uma voz misteriosa.

    Enquanto todos se viravam para olhar, Mash ficou paralisado por alguns segundos. Ele se lembrava muito bem daquela voz e sabia exatamente de quem era. Engoliu a saliva, olhou para o chão e fechou os olhos, incomodado.

    Virando-se, Mash abriu lentamente os olhos, querendo que aquilo que estava para ver não fosse verdade. Mas não foi o que aconteceu.

    O que ele viu o paralisou. Uma raposa estava na sua frente com brilhantes olhos verdes, encarando-o, com uma pelagem marrom e branca se movendo com a brisa. Ele estava com os punhos fechados, com muita raiva. Aquele sentimento foi uma das primeiras coisas a se notar. Sua testa franzida e os seus olhos o ameaçavam. Mash estava com medo e não sabia o que fazer. Os dois se olharam por alguns segundos.

    - O que você está fazendo aqui, Mashey? – perguntou Mash, baixando as orelhas com medo, mas ainda encarando aqueles olhos verdes.

    A raposa deu um leve sorriso que não durou muito tempo, voltando à sua expressão de raiva.

    - Você não acha que eu iria me esquecer de você, não é?

    - O que você quer?

    - O que eu quero? - perguntou Mashey, surpreso.

    Fechando os olhos por alguns segundos, o canino mostrou um leve sorriso de desprezo e os dentes afiados, balançando lentamente a cabeça para os lados. Mais uma vez fechou a expressão e encarou a sua presa, sem se importar com os outros, que estavam paralisados também.

    - Eu quero cumprir uma promessa que fiz há muito tempo.

    Mash ficou com medo de perguntar, mas ao mesmo tempo sentia a necessidade de saber que promessa era essa.

    - Como assim? O que você quer exatamente...? – perguntou a jovem raposa, recuando, enquanto os cinco amigos não sabiam o que fazer.

    Mashey colocou a mão esquerda atrás das costas, levantou um pouco a camisa e tocou em um objeto metálico como se fosse o cabo de uma arma. Mash ficou assustado.

    Ele puxou uma arma com rapidez e a apontou para Mash. Todos os seis recuaram um pouco; Mash arregalou os olhos de surpresa. A arma que Mashey tinha puxado era uma pistola semiautomática – uma modernísima Beretta 92-9mm.

    Mashey apontou a arma na direção do peito do Mash.

    - Vingança – explicou Mashey, enquanto sua respiração e ansiedade aumentavam também.

    Todos estavam surpresos e Mash só olhava para a pistola, imaginando a direção da bala. Mesmo assim, ele olhou para Mashey e tentou persuadi-lo a não atirar.

    - Mashey, não faça isso, por favor! - balbuciou a jovem raposa.

    Ele sabia que, com alguém apontando uma arma para o seu peito, mesmo gritando, ninguém o ajudaria. Estava tudo vazio e parecia que todos tinham saído da boate. Ninguém mais podia ouvir seu apelo de piedade...

    - E por que eu deveria? – perguntou Mashey, segurando firmemente o cabo da arma. Sua mão tremia e parecia estar sendo controlada por um desejo de sangue e morte. – Você destruiu minha vida! e o mais importante... Você matou meus pais!

    - Eu não fiz isso!

    - Cala a boca! – gritou a feroz raposa.

    Vendo a pistola balançar, Mash sabia que qualquer movimento leve poderia ativar o gatilho e a morte seria certa.

    Mashey lembrou-se do passado e da morte dos seus entes queridos mais importantes. Ele ia apertar o gatilho.

    Após tomar a decisão de matar a jovem raposa, Mashey ouviu um barulho conhecido, do cão de uma pistola sendo puxada. Sentiu que havia algo estranho atrás de sua cabeça; uma sensação de pânico passou por seu corpo inteiro e ele parou de encarar a jovem raposa; tentava avaliar o que estava acontecendo e não queria se virar, pois sabia que poderia ser baleado a qualquer momento.

    - Não faça isso – disse uma voz misteriosa.

    Mashey virou lentamente a cabeça. Sabia que esse sujeito não queria que ele atirasse em Mash. Virando o suficiente, pôde ver um pedaço do rosto da misteriosa criatura, com um capuz negro e uma máscara que protegia seu rosto. Usava algo como uma focinheira metálica que fazia parte da máscara, com furos para poder respirar. Era impossível ver o seu focinho.

    Os olhos estavam cobertos por um vidro negro, mas era possível ver uma luz branca o observando. Parecia que essa luz branca eram seus olhos. Por debaixo, marcas triangulares e triângulos negros virados para baixo.

    Por cima dos olhos, marcas verticais que iam até o topo da cabeça. O resto era coberto pelo capuz, só com as orelhas negras visíveis.

    Mashey nunca tinha visto nada assim, mas ele não conseguia pensar direito com um sujeito apontando uma pistola para sua cabeça.

    De repente, viu algumas pessoas se aproximando devagar. Ele precisava agir logo, para não chamar a atenção do público. Lentamente, abaixou a pistola, olhou para o Mash e ganiu para a jovem raposa.

    - Isso ainda não acabou! – disse Mashey com raiva, se virando e correndo para longe, fugindo das pessoas que estavam chegando.

    Mashey desapareceu ao virar a esquina e Mash e seus amigos relaxaram. Só então Mash pôde ver com mais detalhes o sujeito mascarado. Vestia um casaco preto sobre um colete cinzento que protegia todo o seu torso. Era possível ver mais proteções nos braços e nas pernas, sem falar das ombreiras. Ele parecia estar preparado para uma situação de confronto.

    Mash lentamente se aproximou do mascarado que correu no sentido contrário, desaparecendo na escuridão da noite.

    - Ei, espera! Eu gostaria de te agradecer! – gritou a raposa, em vão. O mascarado desapareceu completamente.

    Enquanto Mash olhava para a escuridão por onde o sujeito desapareceu de vista, uma mão tocou seu ombro.

    - Mash, você está bem? – perguntou Mark, preocupado com o amigo. - Sim, estou – respondeu Mash para o amigo.

    - Quem... Quem queria te matar? - perguntou Melissa, que estava atrás de Psyanide, com medo.

    - Mashey, ele é... - disse Psyanide, tentando explicar a Melissa.

    - Um amigo - acrescentou Mash, interrompendo o lobo.

    Psyanide e Mash se olharam. Ele estava um pouco mais sério enquanto olhava para Psyanide.

    - Sim, apenas um amigo – finalizou Psyanide, olhando para Mash, um pouco decepcionado.

    - Mash, você não acha que devíamos chamar a polícia? - perguntou Mark.

    - Talvez - respondeu Mash, olhando para onde Mashey havia corrido.

    - Quem é esse tal de Mashey? - perguntou Melissa novamente.

    - É uma longa história... - respondeu Mark.

    O silêncio invadiu o ambiente. Todos se olhavam e ninguém sabia o que falar, quando a jovem raposa decidiu se expor.

    - Olha gente, eu acho que eu vou embora agora.

    - Nós podemos te acompanhar até sua casa - sugeriu Psyanide.

    - Isso seria ótimo - opinou Mash.

    Todos se afastaram da boate e acompanharam Mash até em casa. A caminhada foi silenciosa, como se o grupo não tivesse mais vontade de comemorar nada depois do ocorrido. Apenas alguns sussurros entre eles, porém nada importante. Após curtos minutos, chegaram ao seu destino. Pararam em frente a uma grade de ferro que rodeava o prédio.

    - Obrigado por me acompanharem até aqui - agradeceu Mash.

    - De nada - disse Psyanide. - Bem... Até amanhã, então.

    Todos se despediram e Mash também se afastou. Ele queria ir para casa, pois sabia que ficaria mais seguro. Mashey não tentaria matá-lo ali, senão já teria feito. Porém, ele ainda temia o pior. Como ele sabia que Mash estava na boate? E se ele soubesse onde ele morava? Todas as perguntas preocupavam a jovem raposa enquanto entrava no prédio.

    Mash tinha se mudado nos últimos dias para esse lugar e sabia que era impossível Mashey saber onde ele morava. Subiu as escadas, chegou ao apartamento e abriu a porta. Sentia-se como uma presa, numa brincadeira entre gato e rato. Entrou lentamente e olhou para o lado de fora, ainda com um pouco de medo, mesmo sabendo que Mashey não estava por perto. Aquele momento do lado de fora da boate iria ficar marcado em sua mente por um bom tempo. Foi tudo muito rápido, como o disparo de uma arma.

    CAPÍTULO 2

    O CRIMINOSO

    Ruas

    20 de Março de 2020

    Mashey corria na escuridão da noite, tentando não chamar a atenção. Entrou em um beco escuro com muitos sacos de lixo no chão. A raposa se escondeu atrás de uma lixeira, sentou no chão e encostou as costas na parede. A raiva em seu coração não desaparecia e ele se sentia frustrado pelo que aconteceu. Mesmo pensando em se esconder, não parava de pensar em vingança, mas a imagem daquele homem mascarado surgiu em sua mente. Quem era ele? Um amigo de Mash?

    A raposa só sabia pensar em retaliação e raiva. Pegou a pistola e olhou para ela, tentando evitar que alguém do lado de fora do beco pudesse vê-la. Sem dúvida, ele queria apertar o gatilho. Para ele, a vingança era uma forma de justiça, em que a morte de Mash era a única solução.

    Mashey se levantou lentamente e guardou a pistola. Fora do beco não havia muito movimento, porém ele manteve a atenção em todos à sua volta, pois não se sentia seguro. Ele sabia que poderia causar confusão com aquela arma, pois não tinha idade para ter uma. Caminhava pelas ruas de Nadius olhando para todos os lados, esperando que, em algum momento, pudesse encontrar sua presa. Rancoroso e vingativo: essa era a sua natureza.

    As ruas de Nadius nunca estiveram tão vazias como naquela noite. Ele se sentia sozinho e isso o fortalecia, pois sabia que a solidão era uma consequência causada pela existência de alguém que ele queria exterminar. Isso alimentava sua sede de vingança.

    Havia uma grade ao seu lado enquanto caminhava em uma parte abandonada da rua. Ele parou, segurou a grade e encostou sua cabeça nela. Podia sentir seu pelo atravessando os buracos da grade e a frieza do metal. Gostava dessa sensação de frio. Aí, lentamente forçou seus dedos entre as grades, tentando quebrá-las. Mesmo sabendo não ser possível, queria soltar sua raiva em algo.

    Mash surgiu em sua mente novamente e várias imagens do passado apareceram em questão de segundos. Mas a imagem que ele não esquecia era a do dia em que o conheceu. Nesse momento, Mashey começou a rosnar lentamente ao pensar no passado. Seu coração batia rapidamente e as recordações envenenavam sua mente, mas mesmo assim tentava manter o controle. Sabia que poderia cometer um erro se não planejasse as coisas direito, mas sua mente estava em dois lugares ao mesmo tempo.

    Sua cólera era como uma faca afiada e tinha um objetivo: uma presa, alguém que ele matasse e que o faria ficar feliz. Porém seu sofrimento não terminaria enquanto o seu alvo continuasse respirando, vivendo sua vida, sem perceber os pecados que cometera no passado: os mesmos que estavam fazendo a raposa vingativa sofrer.

    Mashey soltou a grade, raspando levemente suas garras negras no metal gelado. O barulho e os pequenos cortes feitos nas suas mãos foram prazerosos para a raposa. Seu desejo era fazer o mesmo com Mash. Fazê-lo sofrer lentamente, até que ele ficasse como a grade, com marcas do passado em seu corpo, como... cicatrizes. Para que ele se lembrasse para sempre de como Mashey estava sofrendo por causa dele, e de como a justiça seria feita da maneira correta, da sua própria maneira.

    Voltando a andar pelas ruas, ele se viu em um local um pouco mais movimentado. O peso da arma que segurava era encantador, e de certa forma, viciante. A sensação do metal em sua mão lhe dava uma sensação de poder e de superioridade sobre todos, mas, pelas circunstâncias, se viu obrigado a manter esse poder em sigilo e manteve a arma no bolso. Enquanto virava a esquina, algo lhe chamou a atenção: dois felinos, uma pantera negra e um puma de pelos ruivos. Não eram felinos comuns, pois vestiam roupa azulada com destaques pretos e dourados e coldres com pistolas nas cinturas. Eram dois guardas felinos.

    Mashey percebeu o problema: tinha que se afastar o mais rápido possível. Porém, sua linha de pensamento não estava conectada ao seu corpo, pois pensou tarde demais. Ao se deparar com os dois felinos se assustou, e, como reação, tentou recuperar a postura sem disfarçar. Seu movimento atraiu a atenção dos dois guardas que já estavam à sua frente.

    Tentou continuar caminhando como se nada tivesse acontecido e conseguiu passar por eles. Porém, o puma percebeu que havia algo estranho em seu bolso.

    - Ei, garoto - disse o puma, tentando chamar a atenção da raposa.

    O outro guarda se virou também e botou a mão em seu coldre, preparado para qualquer situação.

    Mashey ficou parado por alguns segundos. O puma se aproximou, tentando olhar melhor a raposa.

    Mashey percebeu e, sem saber o que fazer, decidiu agir por impulso. Tirou a pistola do bolso o mais rápido possível e apontou para o puma, que, surpreso, parou no mesmo instante.

    A pantera tentou sacar a arma de seu coldre, porém Mashey apontou a arma em sua direção.

    - Não faça isso! – gritou a raposa.

    Ele estava nervoso. Sua mão começou a tremer e sua mira não estava perfeita. Porém, pela distância que estava dos guardas, poderia certamente acertá-los. Todos em volta perceberam e ficaram olhando. A raposa percebeu também, e ficou mais nervosa ainda.

    - Garoto, você não quer fazer isso, coloque a arma no chão - explicou um dos guardas ainda com as mãos para cima, tentando evitar que ele atirasse.

    A respiração da raposa começou a acelerar, pois nunca havia passado por essa situação antes. Vendo o problema que havia causado, Mashey se virou e começou a correr na direção contrária. Os dois guardas, de armas em punho, foram atrás dele.

    A raposa entrou em um beco à direita e tentou correr o mais rápido possível, mas os dois guardas o seguiam com facilidade. Ele tentou jogar alguns objetos no chão, como sacos de lixo e caixas, tentando despistá-los, porém não adiantou nada.

    Desesperado, Mashey se virou e apontou a arma para os dois guardas. A pantera se protegeu atrás de uma lixeira. O puma se agachou rapidamente e colocou toda sua energia nas patas traseiras, saltando em seguida e surpreendendo Mashey. Ele levantou a arma e tentou acertá-lo, sem sucesso.

    Vendo seu erro, nem teve tempo de fugir, surpreendido por um peso imprevisto em suas costas. O puma havia caído sobre ele; A arma que estava segurando caiu; A raposa tentou alcançá-la, porém o puma a imobilizou, colocando o braço em volta do seu pescoço.

    A jovem raposa tentava escapar, mas sempre, a qualquer movimento, o guarda forçava mais o braço em seu pescoço, fazendo-o se sentir asfixiado.

    - Bom trabalho - comentou a pantera, saindo de seu esconderijo e pegando a arma da raposa que havia caído.

    - Essa raposa aqui não vai causar mais problemas – explicou o puma, colocando mais força em seu braço, para incômodo do pescoço do Mashey.

    - Algeme-o.

    A pantera guardou a pistola da raposa e algemou Mashey. A raposa, cansada e ferida, só olhava para baixo com um olhar de fracasso e dor. Os três saíram do beco em direção a um carro de polícia. A porta de trás foi aberta, a raposa jogada para dentro e os felinos entraram no carro.

    - Não se preocupe, raposa, pelo menos você vai ter um lugar bem especial para dormir essa noite – disse a pantera, de maneira sarcástica. Mashey abaixou a cabeça, humilhado e derrotado.

    Prisão da Cidade de Nadius

    A raposa passou a maior parte do tempo de cabeça baixa, tentando controlar seus sentimentos. Raiva, aflição e medo. Ele queria sair daquele lugar, mas sabia que não seria possível. O carro parou, a raposa levantou a cabeça lentamente e pôde ver através da janela o seu próximo destino: um prédio imenso, cheio de janelas e grades. Viu o carro parando em um estacionamento e suspirou. A porta de trás foi aberta e as mãos de um dos guardas segurou com força seu braço direito, puxando-o em seguida. Ainda era noite, provavelmente de madrugada. Algumas luzes estavam acesas na rua deserta. Os guardas começaram a andar e puxavam a raposa com eles. Os três entraram no prédio. Mashey apenas olhava para o chão, ignorando as vozes em volta. Não valia a pena ouvir ou se lembrar das vozes de todos, pois ele sabia que estava no fundo do poço. E quando se está no fundo do poço, nada parece importar mais. Muito menos os mínimos detalhes.

    Sua mente estava presa em uma inundação de fragmentos do passado. Palavras e imagens eram como ondas batendo em seu corpo, fazendo-o lembrar-se de seu objetivo e ao mesmo tempo mostrando-lhe como estava na pior naquele momento. Ele continuou caminhando, guiado pelos guardas que pararam em frente a uma jaula sem ninguém dentro. Ele sabia que aquela jaula era um lugar de punição: o seu próprio exílio.

    A porta se abriu e, novamente, ele foi jogado ao chão. Um dos guardas se aproximou e tirou as suas algemas. Depois saiu, trancando a porta e deixando a raposa sozinha. Mashey apenas pôde sentir o chão gelado e um sentimento de vergonha. Em volta havia mais jaulas, porém seus ocupantes não se igualavam ao seu estado físico e mental.

    Na sua frente, viu uma jaula cheia de répteis. Um lagarto estava raspando suas garras na grade. Próximo dele havia uma salamandra tremendo, provavelmente de loucura ou algo assim. Ao se levantar completamente, Mashey olhou melhor à sua volta: apenas um espaço minúsculo, com um banco para sentar. Apenas isso. Ele sabia que seria uma tortura. Sentou no banco e ficou olhando para o nada, ouvindo as garras do réptil raspando o metal, fazendo-o lembrar-se do seu desejo de violência e vingança. Fechou os olhos lentamente. Era óbvio que estava cansado e mesmo na escuridão, continuou concentrado em tudo e sentiu prazer em se focar no som das garras tocando o metal.

    Com os olhos fechados, aquilo parecia um som viciante. Ele imaginou Mash preso em local deserto, sem nenhuma possibilidade de fuga e sem ninguém para ajudá-lo. O som ajudou a criar imagens de garras imaginárias indo contra o pelo alaranjado de sua presa. O corpo da raposa lentamente se despedaçava em sua mente. O sangue jorrava contra sua vontade e gritos de agonia eram ouvidos quando ele rastejava. Cada vez que a garra do réptil raspava o metal, a raposa gritava em sua mente. Seus desejos mais profundos de vingança vieram à tona e ele nunca seria considerado culpado, pois era a única testemunha de seus atos. Não havia culpa, nem punição: só justiça.

    - Ei, acorde!

    Mashey abriu os olhos e tudo que estava imaginando desapareceu. A emoção e todos os sentimentos se apagaram, como uma chama no espaço.

    O guarda se abaixou em seguida, segurando uma bandeja de comida. A raposa não ligou, pois de qualquer maneira aquilo era apenas comida de presidiário. Quando o guarda saiu, se certificou de que a porta estava realmente trancada. A raposa levantou o rosto e pôde ver que os dois répteis ainda continuavam nas celas ao lado, dormindo. Ao olhar pela janela que havia em uma parede próxima, era possível ver uma luz forte. Provavelmente já era de manhã. O barulho das garras no metal e as imagens na sua cabeça... Nada passou de um sonho. Provavelmente o som ainda estava em sua mente quando adormeceu.

    Apesar de ter dormido, seus olhos ainda continuavam cansados. Sabia que ficaria ali dentro por um bom tempo. Era menor de idade e estava sem porte de arma... Provavelmente ficaria lá por umas duas semanas ou algo assim. Ao se levantar, percebeu seu corpo muito fraco. A sua posição ao dormir também não era favorável. Segurou a grade sentindo o metal gélido, encostou a cabeça e lentamente fechou os olhos.

    Uma Semana Depois

    28 de março

    A raposa prisioneira estava sentada no banco. Com o passar do tempo, vários prisioneiros entraram em sua jaula, mas ele os ignorava. Sua visão estava focada no nada, apenas pensava no seu sofrimento. Mesmo sofrendo, pôde sentir que sua raiva aumentava mais e mais, como se sua vontade de vingança voltasse à tona. Se Mash nunca tivesse existido, ele não estaria nessa situação.

    O portão principal se abriu e a luz do sol entrou no local, iluminando as jaulas. O sol bateu nos olhos verdes de Mashey. Ao mesmo tempo em que sentia um incômodo, olhou na direção da luz e viu uma silhueta escura. A porta se fechou e a luz do local permitiu uma visão mais apurada do sujeito, mas sem poder identificar a sua raça. Ele se aproximou de uma mesa próxima da entrada onde dois guardas conversavam, porém a raposa não conseguia saber sobre o que estavam falando.

    Logo depois o sujeito se virou e saiu, fazendo a luz forte do sol entrar novamente no local. Antes que a porta pudesse se fechar completamente, a raposa prisioneira foi capaz de ver um detalhe interessante na parte de trás do sujeito que acabara de sair: uma queimadura na nuca.

    O guarda saiu de seu posto e foi em direção à jaula do Mashey, que percebeu e se levantou para tentar ver o que iria acontecer. A porta foi aberta e outro guarda entrou na jaula. A raposa olhou com certo olhar de preocupação para os dois guardas felinos.

    - Você está livre - explicou um dos guardas.

    Mashey ficou surpreso, pois não esperava que isso fosse acontecer. O guarda se moveu para o lado, abrindo caminho para a sua liberdade tão logo o portão foi aberto. O sol iluminou o rosto da raposa que, incomodada, colocou rapidamente a mão em frente aos olhos.

    Mashey ouviu o portão se fechar atrás dele. Os dois guardas não o estavam mais seguindo. O sol lentamente deixou de incomodar. Mashey sabia que havia perdido tempo na prisão, e, ao ver que não tinha mais a sua arma, sentiu-se vulnerável.

    - Então, gostou da sensação da liberdade? – perguntou uma voz misteriosa. Mashey se virou para a direita em direção a um estacionamento onde estava um carro. Não era um carro da polícia, mas um carro escuro. Era possível ver um lobo cinzento, com um uniforme militar acinzentado com detalhes pretos, sentado na parte traseira e com um cigarro na boca. Havia uma queimadura em sua nuca.

    - Quem é você? – perguntou Mashey, virando-se e ignorando a luz do sol no seu rosto.

    - Pode me chamar de Virgil - respondeu o lobo enquanto fumava.

    - O que você quer? – perguntou a raposa, com um olhar sério e desconfiado.

    Virgil não respondeu e apenas fez um sinal com a cabeça. Mashey se virou ao perceber que alguma coisa parecia estar por trás dele. Duas grandes sombras eram vistas ao seu lado e, pela forma, eram de felinos. Antes que Mashey pudesse reagir, levou um soco no estômago e caiu de joelhos no chão. Enquanto cobria sua barriga com os braços, tentou levantar-se, mas, ao levar uma joelhada no rosto, caiu completamente estatelado.

    Virgil aproveitava a ótima sensação do cigarro enquanto a raposa era espancada na sua frente. Infelizmente - para a raposa - não havia ninguém na rua e nem ao menos a polícia sabia o que estava acontecendo.

    Logo o lobo saltou do carro e abriu a porta de trás. Os dois felinos perceberam, levantaram a raposa ensanguentada e a levaram em direção ao banco de trás.

    Mashey percebeu o que estava acontecendo e tentou se mover. Mas que o que conseguiu foi olhar para Virgil, que também estava olhando para ele com um olhar de superioridade enquanto fumava.

    - Relaxa – disse o lobo.

    A raposa ficou confusa e, sem que ela tivesse chance de reagir um dos felinos cobriu sua cabeça com um saco e deu-lhe um último golpe na cabeça, fazendo-o ficar completamente inconsciente.

    Virgil se virou e encostou-se ao carro enquanto olhava em volta, ouvindo apenas os dois felinos jogando a raposa dentro do carro e fechando a porta. Virgil apenas olhou para o carro que se distanciava do local. Após alguns segundos, ele se virou e começou a caminhar normalmente, fumando seu cigarro, como se nada tivesse acontecido.

    Local Desconhecido

    De longe era possível ouvir o barulho do motor de um carro em movimento. O corpo de Mashey estava encostado em algo macio e, mesmo assim, seu pescoço doía devido à posição em que ficou durante muito tempo. Ele se mexeu um pouco e lembrou que havia um saco em sua cabeça. Tentou mover os braços, porém suas mãos estavam algemadas. Ao perceber que suas pernas não estavam presas, tentou se mexer para garantir uma posição mais confortável. A raposa movimentava a cabeça para baixo e para cima, para tentar fazer com que o saco saísse, porém era inútil. Conseguia respirar, mas a sensação de não poder ver o deixava nervoso.

    - Ei, fique quieto! – ordenou alguém.

    Depois, sentiu uma mão encostada na sua cabeça, puxando o saco. A escuridão sumiu e sua visão estava melhor. Ao sentir o ar, respirou profundamente. Ao abrir os olhos, pôde perceber que estava em um carro. Havia dois homens à sua frente, dois leopardos imensos usando roupas escuras. A raposa pensou em perguntar para onde estava sendo levada; mas ao olhar para a frente, pôde ver melhor o seu destino: um prédio imenso e bem iluminado, com uma grade em volta e quatro torres gigantes de observação em cada canto. Era possível ver vários soldados caminhando, vestidos com um uniforme com padronagem camuflada. Todos estavam bem armados. Aquilo o surpreendeu.

    - O que é isso? – perguntou a raposa, enquanto olhava pela janela lateral do carro.

    - É o prédio do governo - respondeu um dos sujeitos, ainda mantendo sua visão focada no caminho.

    O carro virou e entrou em um estacionamento, parando entre outro carro e um caminhão. Os dois sujeitos saíram do carro e puxaram a raposa para fora. Enquanto saía, teve uma visão mais ampla do lugar: o campo era enorme e havia vários veículos de todos os tipos. Caminhões, furgões... vendo todos aqueles soldados andando pelo campo, concluiu que aquilo não parecia algo apenas de padrão governamental e sim militar.

    - Por que há tantos soldados aqui? - perguntou a raposa, guiada pelos dois leopardos no campo.

    Os dois não responderam e Mashey percebeu que eles não dariam nehuma resposta. Ao se aproximar do prédio, viu uma estátua em frente à entrada. Havia holofotes próximos a ela, porém quando tentou enxergar melhor a estátua e sua forma, foi levemente empurrado para a frente por um dos leopardos, mostrando que ele deveria acelerar o passo. Uma porta foi aberta e, quando a raposa entrou, viu um salão com muitos soldados e agentes do governo. No final do salão havia uma pessoa atrás de um balcão, mexendo em um computador e com várias câmeras de segurança por trás. A raposa não foi capaz de observar tudo, sendo guiada até um elevador, à direita de onde havia entrado.

    No elevador, ele se sentiu sufocado novamente, pois sabia que não havia como escapar daquele ambiente. O elevador começou a descer para o subterrâneo. Os dois leopardos ficavam sempre observando. Eram imensos e não havia como lutar contra eles. A porta se abriu para um corredor com vários caminhos. Sentiu-se como um rato em um labirinto, pois não sabia que caminho seguir, mas antes mesmo de tomar uma decisão, um dos agentes se postou em sua frente.

    - Por esse lado - indicou o leopardo maior.

    Todos viraram à esquerda e continuaram andando. Começaram a surgir várias portas e guardas caminhavam pelos corredores para assegurar que nada errado iria acontecer. Após caminhar por alguns minutos e virar por várias esquinas, foi possível ver mais um corredor. Havia uma janela no lado esquerdo e era possível ouvir o som de pessoas correndo e atirando, como se houvesse alguma situação de perigo. Felizmente, esse era o caminho para seu destino, e ao passar pela janela, a raposa decidiu observar rapidamente o que estava acontecendo.

    Era uma grande sala parecida com um armazém, com caixas e estantes, e algumas pessoas entrando e saindo. Todos usavam pistolas. Ele não foi capaz de ver mais nada, sendo empurrado novamente pelo leopardo. Logo depois chegou ao seu destino. Havia uma porta, com dois guardas bem armados protegendo a entrada.

    - Que lugar é esse? – perguntou a raposa, esperando desta vez uma resposta. - Está na hora de você conhecer nosso líder – explicou o leopardo.

    - Merten? - inquiriu Mashey, um pouco surpreso, pensando na possibilidade de o atual líder canino estar na sala ao lado.

    O leopardo deu uma pequena risada enquanto um dos guardas se afastava da porta, revelando um dispositivo de segurança com vários números. Ele digitou um código, fazendo a porta se abrir.

    A raposa foi obrigada a entrar na sala. A porta se fechou rapidamente atrás dele e, ao olhar para a frente, viu uma sala com quadros, emblemas e documentos na parede. Também era possível ver uma mesa no centro e uma poltrona virada atrás dela. A poltrona virou-se, revelando uma criatura com as duas mãos juntas, que olhou para a raposa.

    - Finalmente você chegou - disse a voz misteriosa.

    CAPÍTULO 3

    DESCOBERTAS

    Apartamento do Mash

    20 de Março de 2020

    Mash fechou a casa, se virou e apoiou as costas na porta com os olhos fechados. Aparentava cansaço, mas não físico. Parecia cansado da vida. Abriu os olhos lentamente, olhando o lugar onde morava. Uma sala de tamanho médio, um sofá com algumas almofadas fora do lugar, uma mesa de centro com folhas de papel em cima - cartas e contas para pagar -, um tapete vermelho sob a mesa e uma televisão diante do sofá.

    À direita, na cozinha, geladeira, fogão, a pia com a água pingando da torneira, alguns pratos já limpos ao lado e alguns talheres que não foram guardados. Era uma moradia como outra qualquer, organizada em certos pontos, desorganizada em outros. Mash sempre foi uma raposa bagunçada, mas sempre tentava manter as coisas em ordem - ou, em outras palavras, intocáveis, para que não fossem desarrumadas depois.

    A jovem raposa não queria saber de mais nada, mesmo tendo quase sido morto ao ter encontrado um velho amigo e ter sido salvo por um sujeito misterioso, À esquerda de onde estava havia duas portas que se abriam para o banheiro e para o seu quarto. Ele abriu a do quarto, acendeu a luz e se viu em um dormitório completamente desarrumado. A cama tinha o cobertor jogado de qualquer maneira, todo amassado, e com algumas roupas displicentemente por cima dela.

    Mash sempre foi de ignorar a desarrumação, mas era a sua tristeza que estava causando essa situação e ele deixou de ligar para a maioria das coisas. Entrou no quarto, trocou de roupa e jogou a que acabara de usar dentro do armário, suja, de qualquer jeito. Deitou na cama e encostou a cabeça no travesseiro. Queria apenas se desligar do mundo. Clicou no interruptor que estava perto dele como se fosse um botão alternativo para se desligar das luzes do mundo. A escuridão tomou conta do quarto e o silêncio da noite também. Alguns minutos se passaram e Mash ainda estava acordado. Às vezes o silêncio da noite era quebrado por um carro passando ou por passos de pessoas andando pela rua. Mesmo a raposa estando triste, a noite continuava sendo uma alegria para outros. Mash mexia sua orelha quando ouvia algum barulho, mas com os olhos ainda fechados. Tudo que passava por sua cabeça eram as memórias daquela garota. Na verdade, ela parecia ser a única coisa importante em que pensar. Ele vivia do passado e sempre se lembrava do fato de quase ter sido morto. Ele sabia que a dor em seu coração era muito mais forte.

    Alguns minutos mais tarde, Mash adormeceu, com um triste sorriso no rosto. Por vezes se mexia enquanto dormia, às vezes sonhava, mas naquela noite foi tudo diferente. Pelo lado de fora, parecia uma raposa cansada, parada na mesma posição, mas por dentro era uma depressão angustiosa que tomava conta de seus pensamentos a cada segundo, percebendo que quase fora morto algumas horas atrás. Aquilo diminuiu sua

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