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A psicologia dos justos
A psicologia dos justos
A psicologia dos justos
E-book512 páginas9 horas

A psicologia dos justos

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Sobre este e-book

Quem de nós não deseja servir a Deus de todo coração? Mas o anseio, o mais nobre entre todos, esbarra justamente na nossa própria natureza, aquela com a qual o Eterno nos dotou - possivelmente com o intuito de nos incentivar a discipliná-la, nos ensinando através de Seus mandamentos e da Halachá (Lei) a escolhermos o caminho correto. A Psicologia dos Justos analisa individualmente e em profundidade as características e mecanismos humanos - como a arrogância, a humildade, a avareza, a generosidade e a bondade, entre outros - com o intuito de iluminar todos os cantos da alma, nos fornecendo as ferramentas necessárias para lidar com nossas faltas e limites e reforçar e dar voz a nossos traços e possibilidades mais nobres, aquelas que têm o dom de nos elevar espiritualmente. Escrita há cerca de quinhentos anos por Tsadikim tão generosos quanto humildes (a ponto de não subscreverem seu precioso trabalho, que permanece anônimo - e atual - século após século), esta obra revela-se um sublime instrumento para o autoconhecimento que só faz florescer o amor e o temor a Deus e a compaixão ao próximo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2012
ISBN9788579310348
A psicologia dos justos

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    A psicologia dos justos - Anônimo

    A Psicologia dos Justos

    ISBN 978-85-7931-034-8

    A tradução desta obra está baseada no livro 

    ORCHOT TSADIKIM

    Versão Eletrônica

    ©2012 - Todos os direitos reservados à

    EDITORA E LIVRARIA SÊFER LTDA.

    Produção: LCT Informática Editorial

    Versão Impressa

    ©2002 - Todos os direitos em língua portuguesa reservados à

    EDITORA E LIVRARIA SÊFER LTDA.

    Alameda Barros, 735

    CEP 01232-001 — São Paulo - SP — Brasil

    Tel. 11 3826-1366 Fax 11 3826-4508

    [email protected]

    Livraria Virtual: www.sefer.com.br

    Em parceria com

    OR ISRAEL COLLEGE

    Rua Gal. Fernando Albuquerque, 1011 Cotia SP Brasil

    Tel.: 4612-2450

    Tradução Paulo Rogério Rosenbaum

    Edição Final Betty Rojter e Jairo Fridlin

    Revisão Rabino Chaim Vital Passy

    Rabino Raphael Shammah Rabino Raphael Shammah

    Editoração Eletrônica Editora Sêfer

    Projeto Gráfico e Capa Dagui Design

    Nota:

    Nesta obra, as citações da Torá foram extraídas do livro TORÁ – A LEI MOISÉS,

    do Rabino Meir Matzliah Melamed (Editora Sêfer, 2001);

    dos Salmos, do livro Salmos - com tradução e transliteração,

    de David Gorodovits, Vitor Fridlin e Jairo Fridlin (Editora Sêfer, 1999)

    Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem a autorização expressa da Editora e Livraria Sêfer Ltda.

    Prefácio à Edição Brasileira

    Praticar o que ensina é a melhor lição que um professor pode dar ao aluno. Não foi por acaso que o autor deste livro, num ato de imensa humildade, preferiu manter o anonimato. Ainda assim, muitos tentaram descobrir quem escreveu este verdadeiro tesouro.

    O Rabino Shabetai Meshurar Bass, de Praga, autor de Siftê Chachamim, o famoso comentário sobre Rashi, diz em seu livro que Orchot Tsadikim foi escrito pelo mestre do Rabino Iehuda Migash, um dos professores do Rambam (Maimônides).

    O livro Sêder Hadorot, do Rabino Chaim Iossef David Azulay, o Chidá, afirma que Orchot Tsadikim também pode ser chamado de Sêfer Hamidot, um título que Rambam cita em suas obras – o que confirmaria a hipótese do autor ter sido mestre de um de seus professores.

    Segundo outra opinião, o autor de Orchot Tsadikim seria o Rabino Iom Tov Hacohen, que também escreveu outro livro famoso, chamado Hanitzachon.

    Em Sedê Chemed, obra do Rabino Chaim Chizkiyáhu Medini, afirma-se ainda que o autor jamais poderia ser alguém tão anterior à época de Maimônides, uma vez que o livro (Orchot Tsadikim) cita em suas páginas o próprio Rambam e outros rabinos que viveram depois dele. E ainda acrescenta que o Sêfer Hamidot citado pelo Rambam não seria o Orchot Tsadikim.

    Daí concluímos que o verdadeiro autor de tão magnífico manancial de sabedoria determinou-se a fazer o tipo mais elevado de Tsedacá – escreveu e doou anonimamente sua obra, a qual viemos a receber sem conhecer a identidade do doador.

    Sabemos apenas que a primeira edição do livro foi em yidish e que veio à luz no ano judaico de 5302 (1502). Para o hebraico, foi traduzido somente no ano de 5341(1581). Podemos inferir da leitura que o autor teria vivido durante o período posterior à expulsão dos judeus na França, porque cita alguns dos sábios da época.

    Também encontramos em Orchot Tsadikim citações de obras como Chovot Halevavot, de Bachiá ibn Pacuda (publicado recentemente em português pela Editora Sêfer sob o título Deveres do Coração), de Shaarê Teshuvá, escrito pelo Rabênu Ioná, do Mishnê Torá, obra do Rambam, de Sêfer Mitsvót Gadol e do Sefer Chassidim, entre outros.

    Orchot Tsadikim também é citado por outros grandes sábios em suas obras, como, por exemplo, em Reshit Hochmá e em Migdal Oz, de Iaabets. Na introdução de uma edição de Orchot Tsadikim de 5570 (1770) escrita pelo Rabino Iechezkel Michalzhon, ele cita o Sefat Emet, um dos Rebes de Gur, que aconselhava seus discípulos a estudarem os livros Orchot Tsadikim e Chovot Halevavot.

    Como se vê, dispomos apenas de indicações mas de nenhuma certeza quanto ao nome do autor de Orchot Tsadikim. Tomemos como inspiração a humildade desse ilustre erudito e façamos de sua grandiosa obra um instrumento que nos ajude a lapidar nosso próprio caráter.

    * * *

    A época que vivemos incita ao culto das aparências. Não nos referimos aos cuidados para manter a saúde ou a boa forma física, essenciais para a saúde espiritual. Esta requer cuidados ainda maiores. Quando os recebe, estes cuidados refletem-se imediatamente na maneira como nos relacionamos com a vida e com nossos semelhantes.

    Orchot Tsadikim analisa minuciosamente o perigo de nos tornarmos pessoas falsas e vazias, como é citado no Tratado Iomá 86b: "Alguém que se faz de Tsadic e Chassid é chamada de Chonef, um bajulador e um falso, e é uma Mitsvá desmascará-lo."

    A Psicologia dos Justos, nome da edição brasileira do Orchot Tsadikim, é composto de 28 capítulos que têm o poder de despertar nossa capacidade reflexiva, convidando-nos a prestar atenção ao que ocorre em nosso mundo interior. O conteúdo profundo é transmitido de forma clara e direta, e inclui indicações de ordem prática cuja finalidade é a de nos levar a alcançar níveis cada vez mais elevados de Ticun Hamidot – o aperfeiçoamento das nossas virtudes.

    As lições de vida contidas em Orchot Tsadikim transformam-no em obra de referência para todos os que têm o sagrado anseio de desenvolverem seu potencial espiritual. A ampliação do entendimento dos conceitos expostos, que invariavelmente resulta de várias leituras, conduz à pratica e à aplicação de tudo o que nossa Torá ensina.

    Em sintonia com a humildade que levou-o a omitir o próprio nome, o autor respeitosamente citou as fontes que deram origem às suas considerações. Com o intuito de facilitar a leitura, parte das fontes foi transferida para o final desta edição em português.

    Que este livro nos incentive a apreciar a grande força espiritual de que dispomos, o precioso potencial explicado com tanta felicidade pelo autor no último capítulo, através da analogia que estabelece entre o corpo humano e o universo.

    Que esta obra magnífica possa aperfeiçoar o que nossa alma possui de melhor, contribuindo para transformá-la de pedra bruta no mais brilhante diamante lapidado.

    Nissan 5763.

    Rabino Chaim Vital Passy

    Rabino e educador da Ieshivá Or Israel College

    Nota do Editor

    A escolha do título A Psicologia dos Justos está baseada na segunda acepção da palavra hebraica "ôrach, citada pelo dicionarista Avraham Even Shoshan em seu Hamilon Haivri Hamerucaz", dérech hitnahagut (comportamento), e na definição abaixo encontrada no Aurélio.

    A tradução mais convencional, caminho, acabaria por confundir o leitor com a obra do Rabino Moshe Chayim Luzzatto, O Caminho dos Justos, já publicada por esta Editora.

    Ao final do livro, o leitor atento compreenderá nossa decisão.

    Psicologia: [De psic(o) + logia.] s.f. 1. A ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento. 2. Conjunto de estados e disposições psíquicas de ideias de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos…

    Aurélio Século XXI – O Dicionário da Língua Portuguesa

    Editora Nova Fronteira, 1999

    Observação: Os intertítulos foram elaborados pelos editores e acrescentados à obra apenas para facilitar sua leitura.

    Introdução do Autor

    "E tendo tudo sido devidamente estudado, eis a conclusão final:

    Teme a Deus e guarda Seus mandamentos,

    pois nisto consiste todo o dever do homem".

    ¹

    Este versículo foi escrito pelo rei Salomão, o mais sábio e grandioso de todos os homens, que a todas as criações terrenas e celestiais conheceu.² E que depois de ter visto todos os feitos e de tudo ter experimentado e com imensa sabedoria ter brindado o mundo, disse que a essência de todas as coisas é o temor a Deus. Começou sua obra Mishlei (Provérbios) afirmando que O temor a Deus é o início do conhecimento ³ e a concluiu com as palavras A mulher que teme a Deus – ela será glorificada.⁴

    Se fosse outro o homem a nos alertar sobre o temor aos céus, possivelmente não aceitaríamos de pronto suas palavras. Diríamos Esta pessoa não tem outras preocupações. Assim, ocupa seu tempo exortando-nos a temer a Deus. Mas o rei Salomão não só foi o mais inteligente dos homens mas também o mais rico, como está escrito: E o rei adornou Jerusalém com prata e pedras preciosas. (1 Reis 10:27) Apenas alguém que já provou tanta riqueza, saber, poder e glória poderia ter afirmado que tudo é vão e fútil. Por isso não temos que nos preocupar com mais nada, exceto temer a Deus. Moisés, o maior dos profetas, disse: E agora, Israel, qual é a coisa que pede o Eterno, teu Deus, de ti? Senão que temas ao Eterno, teu Deus.⁵ O rei David reforçou esta ideia: O temor ao Eterno e a plena compreensão de Seus mandamentos são a base da sabedoria.⁶

    E porque vemos o homem como a mais perfeita criação Divina no mundo material, forjado à Sua imagem e possuidor de uma alma sábia, capaz de compreender os mistérios mais elevados e os mais simples, somos levados a crer que ele é o propósito primeiro deste mundo e que tudo aqui foi criado em seu benefício. Por esta razão o homem recebeu a Torá da verdade – para aprender o caminho justo. Pois o homem é profundamente amado pelo Eterno, que determinou aos anjos que sirvam aos íntegros e ilustres, como nossos patriarcas Abrahão, Isaac e Jacob,⁷ e a Oseias,⁸ e Daniel.⁹ Em outra ocasião, um anjo veio em socorro de um homem justo.¹⁰ Apesar de todos os homens serem dotados do mesmo potencial, sabemos que alguns atingiram um nível espiritual e intelectual superior ao de outros, pois se esforçaram para isto, fazendo com que sua alma governasse suas paixões e não permitindo que elas dominassem seu espírito, impedindo assim que a trajetória de suas vidas fosse como a daqueles que tateiam em meio à escuridão.

    O homem possui cinco sentidos: audição, visão, olfato, paladar e tato. São faculdades presentes em todas as suas ações. Transmitem o que captam ao coração e este age, então, a partir das informações que recebe. O coração humano é o centro de muitas emoções e características, como o orgulho, a humildade, a memória, o esquecimento, a tristeza, a alegria, a vergonha e a ousadia, entre tantas outras. Todas elas vêm dos sentidos. E por isso um cego não pode ter a mesma certeza daqueles que veem.

    É dever de cada um utilizar ao máximo seus sentidos, de modo a aprimorar sentimentos e traços como os que mencionamos acima, usando-os apenas para aprimorar seu comportamento e ampliar a quantidade das boas ações que faz. Quanto mais se aprimorar e se elevar no uso de seus sentidos, maiores podem ser suas aspirações espirituais, até que atinja o nível do Bem Supremo e mereça as recompensas reservadas aos justos no Mundo Vindouro. O rei David galgou todos os níveis.¹¹ Mas só atinge graus espirituais tão elevados quem se empenha o bastante.¹²

    Uma vez descritos os estágios espirituais superiores do homem justo, explicaremos o que é importante e o que é supérfluo, o que é bom e o que é ruim em relação às virtudes, para que as pessoas sábias possam selecionar o que há de melhor e aprimorar suas atitudes, tomando o trigo e livrando-se do joio, podendo então atravessar os portais do palácio do Rei.

    Dos Traços de Cada Um de Nós

    Você já deve ter percebido que certas pessoas que estão sempre zangadas, enquanto outras praticamente jamais se enfurecem – e, quando isto acontece, é passageiro. Já deve ter sentido que algumas pessoas são excessivamente arrogantes e outras, extremamente humildes; que algumas jamais se saciam, enquanto outras se contentam com o mínimo que precisam para sobreviver e até com menos do que têm. Existem os que se ocupam incansavelmente em amealhar fortuna¹³ e os que fazem bastar o que recebem, sem correr atrás de lucros. Há os que são tão mesquinhos que prejudicam a si mesmos, deixando de gastar até mesmo o estritamente necessário para sua própria saúde, enquanto outros, de tão perdulários, gastam logo tudo o que têm. A estas personalidades opostas, podemos relacionar características pessoais igualmente opostas. Entre eles, estão disposição e depressão; avareza e generosidade; crueldade e misericórdia, e coragem e covardia etc.

    Certos traços pessoais são inatos, enquanto outros são adquiridos no decorrer da vida, de acordo com a constituição física e as inclinações de cada um. Muitos de nós não nascemos com determinados traços de caráter, por exemplo, mas os aprendemos observando o comportamento de outras pessoas, ou passamos a adotá-los depois de concluirmos que implicam a forma correta de agir ou, ainda, porque ouvimos outros mencionarem os benefícios que produzem. Alguns destes traços devem estar em estado de alerta todo o tempo, ao passo que outros são acionados em situações especiais.

    Podemos fazer uma analogia com o preparo de um prato por um cozinheiro. Imaginemos que ele use vegetais, carne, água, sal e pimenta para fazer um cozido, mas que coloque na panela um volume generoso de determinado ingrediente e apenas uma pequena porção dos demais. Se ele colocar pouca carne, o cozido ficará aguado. Se exagerar no sal, não poderemos saboreá-lo. O mesmo princípio se aplica ao restante dos ingredientes: se usar muito quando pouco é o suficiente ou se usar pouco daquilo que é preciso em maior quantidade, invariavelmente estragará o prato. Como especialista que é, ele deve saber a quantidade exata de cada ingrediente do prato que prepara. O mesmo se dá com nossos traços de caráter: alguns devem estar presentes em nossa conduta praticamente todo o tempo, como a humildade, a vergonha e virtudes semelhantes. Por outro lado, atitudes como o orgulho, a audácia e a severidade devem ser raramente adotadas. Por isso, o homem precisa pesar e equilibrar o uso de cada uma de suas características, de modo a não ultrapassar a medida indicada pelo bom senso. Não deve ser parcimonioso em relação às virtudes que lhe são necessárias em grandes quantidades e nem exagerar ao lançar mão de traços que só trazem benefícios quando minimamente usados. Só assim ele alcançará o Bem maior.

    Saiba e entenda que a pessoa acostumada a maus hábitos, não preocupada em corrigi-los, terminará fazendo por desaparecer quaisquer traços positivos que possua. Assim como a dor, o sofrimento e o desconforto indicam que o corpo está enfermo, o mau comportamento aponta a existência de uma doença da alma. Da mesma forma que o palato de quem está fisicamente doente não distingue o doce do amargo (e há homens doentes que recusam o que lhes faz bem e pedem o que lhes faz mal), o enfermo de espírito deseja e ama o mal, odeia o caminho do bem e não é capaz de se modificar, o que lhe seria tremendamente difícil em razão da própria doença. Assim o profeta Isaías falou destes enfermos: Pobres dos que chamam o mal de bem e o bem de mal; confundem a escuridão com a luz e a luz com a escuridão, o doce com o amargo e o amargo com o doce. ¹⁴ Para o rei Salomão, este tipo de indivíduo está fugindo do rumo certo e enveredando por caminhos tenebrosos.¹⁵

    Portões que Estão Sempre Abertos

    Salomão escreveu de quem não tenta se desfazer de suas más qualidades: Menosprezam os caminhos da moral e da correção.¹⁶ Algumas pessoas desejam seguir os caminhos do bem mas não sabem o que é bom para elas; desejam elevar-se, mas não conseguem fazê-lo. Isto pode ser explicado de duas maneiras:

    1) Há quem não conheça os próprios defeitos ou não saiba distinguir entre seus defeitos e qualidades. Se uma pessoa procura por outra mas não a conhece, jamais a encontrará, mesmo que procure sem trégua e em todos os lugares. Poderá até passar por ela várias vezes, mas não a reconhecerá. O mesmo se dá com quem não conhece os próprios defeitos: não consegue aprimorar-se, ainda que se interesse em seguir o caminho correto.

    2) Há quem conheça os defeitos que possui, mas não se esforça em tratar de corrigi-los nos locais apropriados. Assim, não consegue emendar-se. Quando uma pessoa a outra conhece mas não a encontra, é porque não sai à sua procura ou, então, não a busca com o devido empenho.

    O rei Salomão escreveu: A prata testa a língua do justo.¹⁷ Podemos entender este versículo do seguinte modo: Se alguém vier saldar os débitos com seu credor com certa quantidade de prata, mas se o credor não conhecer os pesos e medidas usados para determinar o valor da prata sofrerá prejuízos por não saber avaliar o metal precioso ou reconhecer seu grau de pureza. Mesmo se for um especialista em prata mas na maneira de pesá-la não prestar a devida atenção, poderá receber seu pagamento em prata pura mesclada a metais baratos. Em todos os casos, será prejudicado. Mas se for um especialista e estiver atento à pesagem, será recompensado com a quantidade certa de prata pura. Ao comparar a língua do justo ao teste da prata, o rei Salomão quis dizer que o homem justo deve saber reconhecer a diferença entre o bem e o mal e saber pesar o valor de cada virtude humana, observando atentamente cada uma delas e usando todas as suas forças físicas e mentais para abster-se das tolices do mundo, para purificar sua alma e preparar-se para Deus, como está escrito: Remove a impureza da prata e tomará forma na mão do artesão (ibid. 25:4). Aí, ele implica que somente a remoção das impurezas permite à matéria ser moldada.

    Existe um outro tipo de pessoa, caracterizada por sua conduta pouco estável, inconsistente: ora comporta-se de determinada maneira, ora de outra. Assemelha-se ao caminhante que muda de trilha várias vezes a caminho de certa cidade, dando voltas e se confundindo, até não mais encontrar seu destino, como disse o rei Salomão: A labuta dos tolos os exaure como o caminhar de quem não sabe chegar até a cidade.¹⁸ Devemos nos apiedar das pessoas que vivem mergulhadas nas futilidades da vida e orientá-las para que tomem o caminho certo e pesem suas ações de maneira correta e justa. Se as ensinarmos a trilhar o caminho correto, reconhecerão desde o início que trata-se da rota que os levará de encontro a um lugar fértil e prazeroso, onde as benesses são abundantes. Esta trilha é o temor a Deus, propósito supremo de todas as ações humanas. É a pergunta que o Eterno faz na Torá, dirigindo-se à nação como um todo e cada indivíduo em particular: E agora, Israel, qual é a coisa que pede o Eterno, teu Deus, de ti? Senão que temas ao Eterno, teu Deus.¹⁹

    Nenhum ato é perfeito se não for acompanhado do mais puro temor a Deus. Por isto é importante alertar Seus filhos que todo aquele que deseje aumentar o número e a qualidade de suas boas ações, deverá imbuí-las do temor ao Eterno, o elo que une todas as virtudes. Podemos fazer uma comparação com o fio que une as pérolas e forma um colar. Se cortado o fio e uma pérola deslizar, todas as outras a seguirão. O mesmo se dá com o temor ao Eterno: ele é o vínculo entre todos os traços do caráter humano. Sem ele, todas as virtudes se esvairão, uma após a outra. E, sem nossas virtudes, não poderemos ter a Torá e as Mitsvót (mandamentos), pois toda a Torá depende do aperfeiçoamento do caráter humano.

    O homem sábio pode transformar todos os traços negativos de seu caráter em qualidades, mas o tolo transforma suas virtudes em defeitos. Quem caminha na escuridão, sem refletir sobre seus hábitos, põe todos os seus méritos a perder. Exemplo disto é o arrogante, que se acha melhor que seus colegas, menosprezando-os e tentando governá-los, denunciando-lhes os defeitos e divertindo-se às custas do infortúnio alheio. Uma pessoa como esta se assemelha a um vinho raro vertido sobre um barril sem fundo. O bom vinho se perde – a menos que reparemos o barril. Assim é o arrogante. Ainda que estude a Torá, acaba perdendo seus méritos em função de sua soberba, a menos que procure corrigi-la.

    Poucos homens no mundo reconhecem a Verdade. Outros não são suficientemente sábios para reconhecê-la. Tal e qual o amputado que não pode subir uma escada, a pessoa desprovida de senso de compreensão não pode galgar os degraus do conhecimento. Existem também pessoas inteligentes que utilizam esta condição para conseguir tudo o que puderem no plano material e alimentar suas paixões, hábito que cultivam desde a juventude e do qual não conseguem livrar-se na idade adulta, caindo presas da própria luxúria e dos maus hábitos. Outros entendem o bastante para reconhecer que devem trilhar o caminho da bondade e que desejam fazê-lo. Mas como não encontraram homens justos para lhes ensinar como proceder, continuam a tatear no escuro. Assemelham-se à pessoa que tem um tesouro oculto em sua casa mas não sabe, e vende a casa.

    Observe os diferentes traços do caráter humano: cada um deles nos induz a tomar tipos diferentes de atitudes e o Iétser Hará (inclinação malévola) está sempre pronto a nos levar a escolher o caminho errado. Com o quê isto se parece? Com um homem que viaja pelo deserto e se depara com animais selvagens, predadores. Se ele não mantiver os olhos bem abertos e ficar atento o tempo todo, estes animais poderão devorá-lo em segundos. O mesmo acontece com o homem: as más qualidades, como a luxúria, o orgulho, o ódio, a raiva etc, circulam sem parar dentro do coração. Se ignorá-las, se não tentar remediar a situação, eliminará a luz da verdade de sua alma e seguirá tateando no escuro.²⁰

    Quando nasce, o homem é a mais fraca de todas as criaturas, física e mentalmente. Todos as outras começam a caminhar, a se alimentar e a cuidarem de si mesmas logo no início da vida. O ser humano precisa de atenção ininterrupta por um longo período para não perecer. Assim, da mesma forma que precisa aprender a atender aos chamados do seu corpo, deve treinar seu espírito, aperfeiçoando sua compreensão e conhecimento, para que se habitue a trilhar sempre o caminho do bem. Sem um mestre para educá-lo, acabará assemelhando-se a um animal; seu coração não passará de uma tábua lisa onde se pode gravar qualquer coisa. Se tal pessoa cair aproximar-se de um tolo, este rabiscará nela coisas sem sentido, até inutilizá-la por completo. Mas, junto a um sábio, terá gravado neste mesmo coração tudo o que precisa saber para manter-se saudável, para cumprir do melhor modo os deveres para consigo mesmo e para com os que dele dependem, fazendo-o de maneira correta e constante. Assim é o coração humano: os tolos desenham nele figuras vãs e ilusórias, preenchendo-o com pensamentos fúteis e vazios, mas os sábios nele escrevem as palavras de Deus, fundamentos da Torá e das Mitsvót, do conhecimento e das boas virtudes, até fazerem-no brilhar como o azul do firmamento.²¹

    Aprender é Possível

    O rei Salomão também escreveu que os atos de uma pessoa podem ser reconhecidos como bons ou maus desde sua juventude.²² Esta ideia refere-se às diferenças de comportamento que notamos nas pessoas desde a mais tenra idade. Alguns jovens demonstram possuir a qualidade da vergonha; outros são arrogantes. Alguns são fúteis e outros demonstram inclinação para as boas virtudes. Saiba que todas as qualidades encontradas na fase adulta e na velhice já estavam presentes durante a infância das pessoas. Mas nem sempre dispõe-se de meios que favoreçam o desenvolvimento do que existe em potencial. Uma criança mal comportada talvez possa ser corrigida a tempo se ouvir de fontes e maneira adequadas o que é certo fazer. Na idade adulta, porém, não se abandona maus hábitos facilmente. Nessa fase, podemos comparar a pessoa a uma bandeja de prata que ficou enterrada durante muito tempo, adquiriu uma camada espessa de sujeira e precisa de uma série contínua e incessante de polimentos para readquirir seu brilho original. Se um homem cultivou maus hábitos durante toda a vida, é necessário polir seguidamente sua mente adulta para que possa discernir entre o bem e o mal, entre o puro e o impuro, despertando e cultivando nele o hábito de servir ao Eterno até que os traços positivos de seu caráter se tornem enraizados em seu coração.

    Este livro também poderia ser chamado de O Livro das Virtudes, pois foi escrito com sabedoria, para ensinar discernimento ao homem e servir-lhe de instrumento para retificar suas qualidades e ações. Um artesão pode moldar qualquer coisa se tiver ao seu alcance as ferramentas adequadas mas, sem elas, nada poderá fazer. Por isso, meu filho, ouça este conselho e use as ferramentas que tem agora em mãos para corrigir e aprimorar seus traços de caráter. Não é evidente que se alguém tiver no bolso moedas de diferentes valores mas não conhecer o valor específico de cada uma, lhe será difícil adquirir qualquer coisa com elas? Esta pessoa deverá saber também quais as moedas que o rei tirou de circulação e quais moedas ainda são válidas. Somente depois de pesar e avaliar cada uma, saberá o que pode comprar. Tomará cuidado também para não usar as moedas que não têm valor e correr o risco, assim, de ser punido pelo rei. Terá a mesma prudência para eleger a melhor maneira de usar as moedas válidas, de modo que a escolha lhe traga benefícios. Por outro lado, o tolo, aquele que não sabe distinguir as moedas e usa as proibidas, acabará fazendo grande mal a si mesmo.

    Meu filho, aplique esta analogia a cada uma de suas virtudes, grandes ou pequenas, pesando cada traço de caráter o melhor que puder, até aprender o real valor de cada um deles. Aprenda quais são os traços de caráter que o Grande Rei tirou de circulação, cuidando para que não estejam em seu poder e que não façam parte de sua vida. Só assim, sendo o escultor do seu próprio caráter, você poderá alcançar a perfeição. A partir daqui, vamos lhe mostrar a raiz de cada qualidade humana e falar de suas ramificações, seus benefícios e perigos. Nosso único objetivo é fazer com que os homens abandonem a tolice e amem o bom conselho, transformando-se de simplórios em sábios.

    Rogamos ao Eterno, bendito seja, que nos auxilie e mostre o rumo certo a seguir, o caminho dos justos, para que as tribos de Ieshurún (Israel), Sua misericordiosa congregação, possam trilhá-los!

    Portal Um

    A Psicologia do Orgulho (Gaavá)

    O orgulho é nosso primeiro tema de discussão. A ordem procede, uma vez que o homem tem por obrigação manter-se distante dele, pois é a porta de entrada para muitos males. Nenhum outro traço de personalidade nos parece tão prejudicial quando usado sem sabedoria e critério. É nosso dever rejeitá-lo totalmente sempre que fora de hora e lugar.

    O orgulho é uma moeda cunhada pelo Grandioso Rei, bendito seja, que nos alertou na Torá, sobre seu uso: Guarda-te que não te esqueças do Eterno, teu Deus, ²³ porque o orgulhoso geralmente se esquece de Quem o criou, como está escrito: …e teu gado e teu rebanho se terem multiplicado, e tua prata e teu ouro se terem multiplicado…por isso tudo, se orgulhe o teu coração e te esqueças do Eterno, teu Deus… quiçá dirás no teu coração: ‘A minha força e a fortaleza da minha mão me conseguiram estes bens! Mas antes te lembrarás do Eterno, teu Deus, porque é Ele quem te dá força para conseguires riqueza.²⁴ Se a Torá alerta até os reis²⁵ para que não se se deixem tomar pelo orgulho, o quanto este alerta não cabe ao homem comum!

    Existem dois tipos de orgulho. O primeiro é o orgulho que o homem sente em relação ao próprio corpo. O segundo é aquele que sente em relação às suas atitudes, à qualidade de sua sabedoria e às suas boas ações. Também o orgulho quanto aos dotes físicos existe sob duas formas – uma delas boa e a outra, má. Esta última é a vaidade humana, a qual, quando se instala no coração invade todo o corpo, da cabeça aos pés. Na cabeça:²⁶ Pois as filhas de Tsión caminhavam vaidosamente e de queixo erguido; nas mãos e nos pés, como está escrito: Que não me calque o pé do arrogante, nem me desvie a mão do perverso. ²⁷ Nossos sábios contam sobre a filha do Rabi Chaniná ben Tardion. Ao passar em frente a dignitários romanos, ouviu-os elogiar seu modo de andar e esmerou-se ainda mais. Por isto, teve sua vaidade punida e acabou morando em um bordel.²⁸

    A vaidade ainda se instala nos olhos, como disse o mais inteligente dos homens: Olhar fidalgo e língua mentirosa despejam sangue inocente.²⁹ Na audição, ela se manifesta quando não ouvimos o pranto dos miseráveis; no olfato, quando estamos na presença dos necessitados, quando entramos em suas casas e franzimos o nariz, magoando seus corações. Até na fala, que não faz parte dos cinco sentidos mas é uma faculdade adquirida, o orgulho pode estar presente – quando nos referimos com desdém aos justos e íntegros, por exemplo. Também torna-se visível nas maneiras que temos à mesa e nos alimentos que ingerimos; em nossas peças de roupa e na forma ostensiva com que imitamos os gentios no vestir.³⁰ Tudo isso nos alerta quanto a um mesmo ponto: a nação de Israel deve se diferenciar dos povos que a rodeiam no seu modo de vestir, falar e caminhar.³¹

    Deus odeia os orgulhosos, como está escrito: Quem se orgulha em seu coração é uma abominação aos olhos do Eterno.³² À mercê de seus maus instintos, ele não recebe assistência Divina. Mesmo que não dê mostras de seu orgulho através de palavras ou ações, abrigando-o somente em seu íntimo, ainda assim, o traço será considerado abominação. Nossos sábios ensinam que o arrogante de espírito iguala-se ao idólatra,³³ como está escrito – Quem se orgulha em seu coração, é uma abominação aos olhos do Eterno ³⁴ – e como se lê na Torá: Não tragas abominações para dentro de vossa casa.³⁵ Eles comparam o orgulhoso a quem oferece sacrifícios em altares proibidos, porque todas estas abominações fizeram os homens da terra que estavam antes de vós. ³⁶ O Talmud alerta: No final, o orgulhoso será rebaixado ³⁷ ou, como disse Job: Os elevados serão diminuídos. ³⁸ Isaías disse que os orgulhosos merecem ser erradicados, como as árvores usadas para cultos idólatras ³⁹ e que as cinzas do orgulhoso serão espalhadas ao

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