Segredos de um Violino
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Sobre este e-book
Este livro faz parte da coleção Vida em pedaços, em que Carpinejar narra os melhores e piores momentos da infância e da adolescência. São lembranças dispersas que, aos poucos, vão ganhando unidade com a leitura e construindo a autobiografia do autor. Na orelha, texto de Celso Gutfreind
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Segredos de um Violino - Fabrício Carpinejar
UMA PRAÇA, UM FILHO,
O SUSTO DE CRESCER
Quando soube que seria pai, tossia com as pálpebras. Soletrava o sopro.
A vida era finalmente maior do que eu.
Bem maior. Não tinha como organizá-la, por onde pensar.
Falava por dentro: serei pai, serei pai, serei pai.
E toda a repetição vinha como uma frase nova, inédita.
Serei pai
não era igual, trazia algo diferente a cada vez que batia na garganta. O mesmo chamado com uma emoção extravagante. Não me convencia, eu me ampliava. Aumentava de corpo cada vez que me dizia: serei pai
.
Qualquer pai entende o embaraço, é quando perdemos o controle e somos completos.
Sentei na praça de mãos dadas com a minha namorada. Ela tampouco falava. Não era o susto do resultado, era o susto de crescer.
Foi um excesso de sentido. Uma vontade de contar para a cidade inteira que me parava nas próprias palavras. Não desci daquele banco, intencionado a não mudar tão cedo de sentimento, longe de substituí-lo por outra notícia.
Um silêncio de cadarço solto, chutando pedras. Olhei como nunca olhei o vendedor de algodão doce. Sua vassoura de cabeleira rosa. Olhei como nunca olhei a carrocinha de pipoca. A brancura amontoada. Olhei como nunca olhei os barulhos das correntes dos balanços. A sequência de um tambor. Olhei como nunca olhei a gangorra bater no chão. Venezianas abrindo. Olhei como nunca olhei a mim mesmo.
Liguei o ventilador de teto das árvores e recebi estrelas antigas. Podia carregar o carteiro no colo e costurar a cesta de meus braços. Podia beijar uma freira na testa e pedir perdão por não rezar na noite passada.
Uma paciência milagrosa, logo para um cara que não conseguia nem abrir o saquinho de pães. Reclamava do nó da padaria. Furava o plástico antes do jantar, cavando o miolo aquecido. Minha mãe repreendia a malandragem. Por mais que me ensinasse a respeitar a ordem, descumpria a cronologia da mesa. Amava provocá-la.
Hoje é uma maravilha desfazer o nó. Soltar as abas com paciência. Prever o giro certo das pontas. Sinto-me maduro.
Mas sempre chego atrasado. Os filhos já desgovernaram as cascas, já bagunçaram a mesa com os farelos. Os pães escapam pelo furo.
Tenho a chance de repetir a raiva materna, desligo a censura e estou rindo adoidado. A paternidade é uma compaixão por aquilo que deixamos de ser. Uma praça entre duas ruas. A infância e a serenidade.
Praça é quando duas ruas se casam.
O MAR PEDE
UM TEMPO
Quando há sol no litoral, a praia nos chama rápido com seu chiado de chaleira, a fome é maior do que o almoço, a sesta nem espera o bocejo, as crianças se divertem naturalmente. As horas correm de modo automático, quase um liga-desliga no próprio mar, sem a necessidade de controle remoto.
A chuva é que traz o nervosismo. Não contamos com um plano B ou uma saída alternativa. Vem a irritação. A geladeira é a única porta com luz.
Apesar do barulho chuvoso das calhas, tentei dormir até tarde para não decidir nada, mas fui obrigado a me acordar para não ter nada para decidir. A sensação é que não poderia desfrutar de vida naquelas 24h. Deveria deixar meu filho Vicente, sete anos, viver em meu lugar.
Fiquei interditado: é agora que meu filho vai se entediar. Não admitia que tivesse monotonia. Praia é sinônimo de verão inesquecível, um dia melhor do que o outro. Ele telefonaria para sua mãe no final da tarde e reclamaria:
– Hoje foi péssimo, não fizemos nada.
Já o pressenti riscando o dia de sua agenda, desenhando uma cruz