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NA ESTRADA - Jack London
NA ESTRADA - Jack London
NA ESTRADA - Jack London
E-book194 páginas3 horas

NA ESTRADA - Jack London

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Sobre este e-book

Na Estrada, (The Road) publicado por Jack London em 1907, é livro que se destaca pelo fato de ser uma autobiografia de jack London no período que compreende a sua juventude, quando literalmente meteu o pé na estrada de ferro e partiu em busca das aventuras que um dia viria a relatar. Trata-se de nove histórias vividas por London nesse seu período como andarilho clandestino nos trens americanos. São histórias reais e emocionantes, contadas com todo o talento pelo escritor que as viveu. Jack London creditou sua habilidade de contar histórias aos dias que ele passou como um andarilho aprendendo a fabricar contos para obter refeições de estranhos simpáticos. Na Estrada, retratar a vida, não somente do autor mas também de milhares de outros que colocavam o pé na estrada em busca de algo a mais do que a depressão vigente na época. Ao ler "Na Estrada", tem-se a sensação de que estamos também ali, ao lado de Jack London, em meio as aventuras e enrascadas em que se metia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de set. de 2017
ISBN9788583861713
NA ESTRADA - Jack London
Autor

Jack London

Jack London (1876-1916) was an American writer who produced two hundred short stories, more than four hundred nonfiction pieces, twenty novels, and three full-length plays in less than two decades. His best-known works include The Call of the Wild, The Sea Wolf, and White Fang.

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    NA ESTRADA - Jack London - Jack London

    cover.jpg

    Jack London

    NA ESTRADA

    Título original

    The Road

    Primeira Edição

    img1.jpg

    Isbn: 9788583861713

    A LeBooks Editora publica obras clássicas que estejam em domínio público. Não obstante, todos os esforços são feitos para creditar devidamente eventuais detentores de direitos morais sobre tais obras. Eventuais omissões de crédito e copyright não são intencionais e serão devidamente solucionadas, bastando que seus titulares entrem em contato conosco.

    Prefácio

    Prezado e aventureiro leitor

    Seja bem-vindo a Coleção Jack London, onde você terá acesso aos principais títulos daquele que é considerado um dos grandes nomes da literatura americana.

    Este quarto volume da coleção – Na Estrada – é um livro que se destaca pelo fato de ser uma autobiografia de London no período que compreende a sua juventude, quando literalmente meteu o pé na estrada de ferro e partiu em busca das aventuras que um dia viria a relatar.

    Trata-se de nove histórias vividas por London nesse seu período como andarilho clandestino nos trens americanos. São histórias reais e emocionantes, contadas com todo o talento pelo escritor que as viveu.

    Boa leitura

    LeBooks Editora

    A verdadeira função do homem é viver, não existir.

    Eu não gastarei os meus dias a tentar prolongá-los.

    Usarei o meu tempo.

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    APRESENTAÇÃO

    Sobre o autor

    img3.jpg

    Jack London, cujo nome de batismo é John Griffith Chaney, nasceu em São Francisco, nos Estados Unidos, em 1876, filho de um astrólogo e uma professora de música. De acordo com os seus biógrafos, a mãe de London não queria ter um filho e, por isso, atirou em si própria; o que não a matou, mas a deixou gravemente ferida. Traumatizada com a gravidez, Jack foi dado aos cuidados de uma babá logo ao nascer e durante a sua infância teve pouco contato com sua mãe.

    Após alguns anos, a mãe de Jack, que até então se chamava John Griffith Chaney, casou-se com um veterano da Guerra da Secessão chamado John London, o que motivaria a criança a adotar o sobrenome no padrasto anos mais tarde.

    Em 1885, com apenas 9 anos, London começou a desenvolver o seu gosto pela leitura.

    Após ler Signa, um romance vitoriano, o garoto passou a frequentar a biblioteca da cidade em que morava. Em uma das suas cartas, ele diz que chegou a cultivar uma grande amizade com a bibliotecária.

    Pouco tempo depois, em 1889, com apenas 12 anos, Jack começou a trabalhar em uma fábrica de enlatados. Cansado dessa situação, ele pediu dinheiro emprestado à babá que o criou e comprou um pequeno barco a vela de um pirata de ostras. Ele começou a trabalhar neste ramo e, após alguns meses, devido ao seu bom trabalho, ele se tornou um membro da Patrulha Pesqueira da Califórnia.

    Depois de ler Moby Dick, de Herman Melville, Jack entrou na fase da sua vida em que trabalhava em barcos de caças à baleia e, entre as viagens, era um andarilho e fazia pequenos trabalhos em fábricas na costa oeste norte-americana. Durante estes anos, ele não parou de ler e até mesmo escrever os seus pensamentos em um diário. Por conta disso, ele desenvolveu uma ótima habilidade de escrita.

    Fixando-se em Oakland, começou a escrever pequenas notas para jornais e em 1896 foi admitido na Universidade da Califórnia. Nessa época, ele começou a se aproximar de conceitos e ideias socialistas, as quais influenciariam diretamente as suas obras. Foi durante esta época que ele começou a escrever romances e conseguiu vender um deles para uma editora por 40 dólares, chamado A Thousand Deaths. O livro teve um relativo sucesso para um iniciante e isso permitiu que ele escrevesse mais para jornais e revistas, tornando o seu nome conhecido.

    No início de 1903, Jack London começou a escrever a obra que o deixaria famoso: A Call of the Wild. A partir disso, sua carreira como escritor se tornou um empreendimento para ele, que se forçava a escrever 1.000 palavras por dia. Entretanto, por conta de erros em investimentos, sua fortuna começou a diminuir e ele teve um forte período de declínio, mesmo publicando romances e contos de tempos em tempos

    Por fim, sua saúde começou a piorar. Jack London tinha problemas intestinais e urinários, o que fazia com que ele sofresse com dores constantes. Em 22 de novembro de 1916, Jack London faleceu na varanda do seu chalé com apenas 40 anos de idade. Alguns acreditam que ele cometeu suicídio, mesmo que o motivo oficial da sua morte seja uremia, causada após uma cólica renal. Suas cinzas foram sepultadas em Glen Ellen, na Califórnia.

    London teve uma breve existência, mas a viveu intensamente e escreveu o que viveu. Seus livros têm três cenários distintos: o da corrida do ouro no Alaska, vindo depois o das ilhas até hoje deslumbrantes do Pacífico Sul e finalmente o espaço político socialista (e comunista) norte-americano do fim do século 19 e início do século 20. Nesses três cenários, Jack London viveu as emoções mais profundas, correu os riscos mais mortais e travou as mais duras batalhas. Ele de fato, tinha muito para relatar e fez isso de forma intensa deixando inúmeras obras, sendo as mais conhecidas.

    – A filha da Neve ( Daughter of the Snows – 1902 )

    – O Chamado Selvagem ( The Call of the Wild – 1903 )

    – O Lobo do Mar ( The SeaWolf  – 1904 )

    – Caninos Brancos ( White Fang – 1906 )

    – Na estrada  ( The road – 1907 )

    – Tacão de ferro ( The Iron Heel – 1908 )

    – O Andarilho das Estrelas ( The Star Rover – 1915 )

    Veja, no final deste ebook, os títulos da Coleção Jack London já publicados.

    Sobre a obra

    img4.jpg

    Capa da primeira edição – Mac Milan Company, 1907

    Na Estrada, é uma memória autobiográfica de Jack London, publicada pela primeira vez em 1907. É o relato das suas aventuras como andarilho, viajante clandestino em trens na década de 1890, durante a pior depressão econômica que os Estados Unidos haviam conhecido até então.

    London descreve suas experiências puxando trens de carga, agarrando-se a um trem quando os funcionários estão tentando jogá-lo para fora, implorando por comida e dinheiro e inventando histórias extraordinárias para enganar a polícia e inúmeras outras situações de aventura e risco. Ele também conta os trinta dias que ele passou na Penitenciária do Condado de Erie, que ele descreveu como um lugar de horrores impenetráveis, depois de ter sido engaiolado por vagabundagem. Além disso, ele relata seu tempo com o Exército de Kelly, ao qual ele se juntou no Wyoming e permaneceu até a sua dissolução no rio Mississippi.

    Para ele, é provável que o maior encanto da vida de andarilho seja a ausência de monotonia. No mundo dos andarilhos a vida se acelera como uma fantasmagoria visão sempre em mudança, onde o impossível acontece intercalado de saltos inesperados dos arbustos em cada sentido da estrada de ferro. O andarilho nunca faz ideia do que vai acontecer no próximo momento; portanto, ele vive apenas cada instante, como se fosse o último.

    Jack London creditou sua habilidade de contar histórias aos dias que ele passou como um andarilho aprendendo a fabricar contos para obter refeições de estranhos simpáticos. Embora o livro não tenha se tornado tão conhecido como outras obras do autor, traz o encanto de retratar a vida real, não somente do autor mas também de milhares de outros que colocavam o pé na estrada em busca de algo a mais do que a depressão vigente na ocasião. É impossível lê-lo sem ter a sensação de que estamos também ali, ao lado de Jack London, vivendo com ele as mesmas aventuras ao longo da estrada de ferro.

    Sumário

    CONFISSÃO

     CLANDESTINO

     INSTANTÂNEOS

     GRAMPEADO

     A PENITENCIÁRIA

    ANDARILHOS CRUZANDO A NOITE

     PÉ NA ESTRADA

     DOIS MIL ANDARILHOS

     TIRAS

    Conheça outros títulos da Coleção Jack London – LeBooks:

    A ESTRADA

     Para JOSIAH FLYNT Andarilho Autêntico, amigo do Peito

    CONFISSÃO

    Há uma mulher no estado de Nevada a quem, certa vez, menti descaradamente por algumas horas. Não que eu queira me desculpar com ela. Nada disso!  Porém desejo me explicar. Infelizmente, não sei o nome dela, muito menos seu endereço atual, mas caso ela leia estas linhas, espero que me mande notícias.

     Foi em Reno, Nevada, no verão de 1892. Era época de feira e a cidade estava repleta de pequenos ladrões e vigaristas, para não falar de uma enorme e esfomeada horda de andarilhos. Foram justamente estes que colocaram aquele lugar em estado de sítio, batendo em tantas casas que os cidadãos deixaram de lhes abrir as portas.

    Uma cidade difícil para se pedinchar, comentavam os mendigos. Deixei de comer muitas vezes, é verdade. Mas estava com eles nos bons e maus momentos. Fosse na hora de pedir comida aos moradores ou de ganhar alguns trocados na rua, estávamos juntos.

     Bem, passei por tantas dificuldades lá que, certo dia, driblei o cobrador na plataforma da estação ferroviária e invadi o vagão particular de um viajante milionário, em um trem pronto para partir. Aproximei-me do ricaço enquanto o funcionário vinha logo atrás, prestes a me agarrar. Foi por um triz. Alcancei o milionário no mesmo instante que o outro homem me alcançou. Não havia tempo para formalidades.

     — Me dê um quarter para eu comprar comida! — gritei.

     Pois não é que o milionário meteu a mão no bolso e me deu… somente… precisamente… um quarter! Estou certo de que ele ficou tão estupefato que obedeceu automaticamente; desde então, me arrependo muito de não ter lhe pedido um dólar. Com certeza teria conseguido.

     Pulei do trem enquanto o cobrador fazia o possível para chutar minha cara.

     Ele não conseguiu me acertar. Uma pessoa fica em terrível desvantagem quando tenta se jogar do degrau mais baixo de um vagão, sem quebrar o pescoço, e ao mesmo tempo um negro enraivecido, na plataforma acima, tenta lhe acertar um chute na cara. Enfim, consegui a moeda de um quarto de dólar! Vitória!

    Voltando à mulher a quem menti tão descaradamente… Foi na minha última noite em Reno. Eu tinha ido ao jóquei assistir a uma corrida de cavalos e, por isso, perdera meu almoço. Estava esfomeado. E, para completar, um comitê de segurança pública havia acabado de ser organizado para livrar a cidade de alguns pobres mortais famintos, exatamente assim como eu. Muitos de meus irmãos andarilhos tinham sido agarrados pelos braços da lei, e eu já podia ouvir o chamado dos ensolarados vales da Califórnia, do outro lado dos cumes gelados das Sierras. Mas faltavam ainda duas coisas para eu fazer antes de sacudir a poeira de Reno da sola dos meus sapatos. Uma delas era pegar o expresso que seguiria para o Oeste aquela noite. A outra era conseguir algo para comer. Até mesmo um jovem como eu hesita em viajar de estômago vazio, noite adentro, em um trem veloz, passando por abrigos contra avalanches, túneis e neve eterna das montanhas que quase chegam a tocar o céu.

     Mas conseguir algo para comer era difícil. Fui mandado embora de uma dúzia de casas. Algumas vezes era insultado, diziam que eu estaria melhor atrás das grades. E o pior de tudo é que havia um fundo de verdade naquilo tudo. Por esse motivo, eu partia para o Oeste aquela noite. John Law andava ansiosamente pela cidade querendo colocar as mãos nos famintos e sem-teto que incomodavam os habitantes.

     Em algumas casas, os moradores batiam a porta com força na minha cara, cortando de forma brusca meu humilde pedido por comida. Numa delas, sequer abriram a porta. Fiquei em pé, na varanda, e bati; eles olharam para mim pela janela. Chegaram até mesmo a levantar um garotinho robusto nos braços, para que ele pudesse ver, sobre os ombros dos pais, o mendigo a quem não dariam nada para comer.

      Moradores batiam a porta com força na minha cara Comecei a achar que teria de recorrer aos mais pobres para conseguir alimento — estes são o último recurso de um andarilho faminto. O resultado é garantido, sempre se pode contar com eles. Nunca mandam embora os que estão passando fome. Por todos os Estados Unidos, várias vezes me recusaram comida em grandes mansões, no topo da colina. Mas em um casebre qualquer, à beira de um riacho ou de um pântano (com suas janelas quebradas, remendadas com trapos, e uma mãe de rosto cansado, esgotada pelo trabalho), sempre me deram de comer. Oh, vocês que vivem pregando a caridade! Aprendam com os pobres, pois somente eles são generosos. Não dão sobras porque não as têm. Nunca regateiam o que possuem. Muitas vezes dão o pouco que podem, mesmo estando, eles próprios, muito necessitados. Jogar um osso a um cachorro não é nenhuma caridade. Caridade mesmo é compartilhar o osso com o cão quando você está com tanta fome quanto ele.

    Lembro-me de uma casa, em particular, de onde fui escorraçado aquela noite. As janelas da sala de jantar davam para a varanda e, através delas, vi um homem comendo uma torta — uma grande torta de carne. Fiquei em pé, diante da porta aberta, e enquanto ele falava comigo, não parava de mastigar. Era próspero, mas notava-se que tinha ressentimento contra seus semelhantes menos afortunados. Ele cortou abruptamente minha conversa, dizendo de supetão:  Fiquei em pé, diante da porta aberta — Não acredito que você queira arrumar trabalho.

     Naquele instante, aquilo era algo irrelevante, até porque eu não tinha dito nada sobre trabalho. O tema da conversa, que eu tinha proposto, era comida.

     De fato, eu não queria trabalhar; queria era pegar o trem expresso para o Oeste aquela noite.

     — Você não trabalharia mesmo se lhe dessem uma oportunidade — provocou.

     Olhei para o rosto tímido da mulher dele e tive certeza de que, se não fosse por aquele Cérbero, eu ainda poderia ganhar um pedaço daquela torta. Mas o cão de guarda se atirou na empada, e percebi que deveria amansá-lo se quisesse ganhar um pedaço dela. Então, suspirei e fingi aceitar sua visão moralista em relação ao trabalho.

     — É claro que quero trabalhar — blefei.

     — Não acredito em você — respondeu, fungando.

     — Então me arrume algo para fazer — respondi em tom desafiador, sustentando o blefe.

     — Está bem — ele disse. — Venha à esquina da rua tal com a rua tal — já esqueci o endereço! — amanhã de manhã. Você sabe, lá onde fica o edifício incendiado. Vou colocar você para descarregar tijolos.

     — Está certo, senhor, estarei lá.

     O homem resmungou e continuou a comer. Esperei. Após alguns minutos, ele olhou com uma expressão no rosto do tipo "Tai ainda?" e perguntou:

    — Então? — Eu… Eu estou esperando algo para comer — respondi, gentilmente.

    — Eu sabia que você não queria trabalhar! — vociferou.

    Ele tinha toda razão, certamente; porém, deve ter chegado àquela conclusão por leitura de pensamento, e não por raciocínio lógico, algo que lhe faltava. Mas aquele que mendiga de porta em porta deve ser humilde. Por isso, concordei com sua lógica, assim como havia aceitado sua lição

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