Buzinga
De Edmar Camara
()
Sobre este e-book
A infância se constitui num período de experiências onde a camada mais base do ser humano se forma e se torna fundamental para a recepção de estímulos onde neste tempo a personalidade primeira é definida na moralidade que fará companhia a contornos de autoestima e empatia.
Neste livro, baseado em fatos reais, acompanhamos os desafios num cenário de precariedade e ausência de redes de cuidado na pobreza que desfila no ambiente familiar que representa as muitas milhões de outros crianças pelo mundo.
Expostas a muitos riscos, integral desnutrição e presa fácil de violência, as crianças sobrevivem nestes ambientes inseguros e de difícil provimento. Estímulos saudáveis convivem com outros não tão nobres e adversos, cujas variáveis inibe uma potencial linguagem de sociabilidade.
O cenário se passa numa cidade qualquer de um interior e segue acompanhando o crescimento desta criança, suas fantasias, seu mundos e suas possibilidades de viver, mesmo a duras penas.
Edmar Camara
Um ativista da arte - pintor, designer, romancista, poeta, contista e produtor de conteúdo digital radicado no Brasil com nascimento em Minas Gerais e vivências em outras territorialidades. Produz textos que se diferenciam por estarem carregados de uma intenção que se adequa ao leitor que o interpreta em sua subjetividade; o que resulta em narrativas que questionam e provocam uma verdade que é exposta, mas que não se apresenta como absoluta.
Leia mais títulos de Edmar Camara
Mais Humano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEu No Poder Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMe Leve a Pernambuco Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Real Está Adiante Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTerra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFale ao Sol Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBerne Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Vagar Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Buzinga
Ebooks relacionados
Fazenda Bonsucesso: narrativas do interior mineiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAvôa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNena O Menino Que Inventava Histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPor Onde Andas Chapeuzinho? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCaminhos Transversos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVidas Traçadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistorinha Desengonçada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNa Pele De Um Crente Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Padre E A Política Elo Do Bem E Do Mal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPé De Menina Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIub Aram Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLições Através Do Tempo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Dedo De Prosa E Poesia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVocê É Inesquecível Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJoão Bom Nas Artes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Velha Da Banheira E Outras Histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCoisas De Criança Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVelho espelho Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNo Meio Do Caminho Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Passado Que Não Quer Calar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMinha imagem Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pensamentos, Palavras E Obras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Babbo com Alzheimer: Uma anatomia do amor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMeninos...homens...heróis!epub Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMemórias De Infância Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Filho De Ninguém Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÀ Caminho Do Sol Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJosefa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCaminhando com Elias - A História de uma Jornada de Vida e de uma Alma Realizada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAbdo Fariz e outras lembranças Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ficção de Ação e Aventura para você
Contos Eróticos Picantes Nota: 3 de 5 estrelas3/5De volta à Atlântida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA volta ao mundo em 80 dias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLágrimas Em Salém Nota: 4 de 5 estrelas4/5O enigma da Bíblia de Gutemberg Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Conde de Monte Cristo: Edição Completa Nota: 5 de 5 estrelas5/5CANINOS BRANCOS - Jack London Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSete enigmas e um tesouro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Viagem ao Centro da Terra Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dom Quixote Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Herança Dos Dragões Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNOSTROMO - Joseph Conrad Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnjos & Soldados: A Batalha no Reino Espiritual está só començando Nota: 5 de 5 estrelas5/5As crônicas de Aedyn - o voo dos exilados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Sapinho Que Não Queria Mostrar A Língua Nota: 5 de 5 estrelas5/5O vento nos salgueiros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlice no País das Maravilhas: Por Monteiro Lobato Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Lobo do Mar Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mitologia Indígena Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlice no País do Espelho: Por Monteiro Lobato Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO HOMEM QUE QUERIA SER REI - Rudyard Kipling Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFaça O Que Tem Que Ser Feito Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMinha Vida, Meu Caminho, Santiago De Compostela Nota: 5 de 5 estrelas5/5Fim dos dias – Fim dos dias – vol. 3 Nota: 5 de 5 estrelas5/5Peter Pan Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Melhores Contos de Jack London Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA ilha misteriosa Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Categorias relacionadas
Avaliações de Buzinga
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Buzinga - Edmar Camara
A luz do dia ainda estava fraca para encher o local de claridade onde Buzinga dormia com outros dois irmãos que dividiam este quarto. Buzinga acordou tropeçando em si mesmo para poder seguir o ritmo dos demais da casa e não se atrasar para a missa. Era domingo; e naquela pequena cidade do interior, fica quase que como uma obrigação, seja pela manhã ou nos outros horários, ir ao serviço católico.
A família não estava completa; seu pai juntamente com outros dois irmãos tinham ido arriscarem-se a tentar trabalho em outras cidades maiores e mais distantes. Mas disso Buzinga nada sabia; ainda. Era muito pequeno; em idade e estatura. Suas preocupações eram imediatas. Onde estariam as meias para usar naquele adereço que ele chamava de calçado? E a roupa? Parecem perguntas absurdas, mas a coisa era toda medida; o recurso financeiro praticamente inexistia. O restante da família que ficara se resumia em cinco irmãos menores e uma pessoa adulta – sua mãe; sendo que todos, atualmente, sem renda. O dinheiro para sustento, que parca e eventualmente existia, provinha daqueles que estavam a pelejar fora, vindo de serviços e de ocupações temporárias. Ninguém detinha emprego fixo e de carteira assinada. Suas profissões são aquelas mais básicas: pedreiro, pintor, eletricista, etc. Nesta época que dista do tempo presente por décadas, o valor para a hora ou o dia trabalhado era muito irrisório. A sobra, retirados os gastos para sobrevivência deles próprios, era mínima.
Um calçado, uma calça curta, uma camiseta de manga, uma meia rota e um suspensório emprestado. Um vestuário vulgar e pouca coisa mais; o resto improvisava-se. As coisas estavam difíceis. O alimento, quando tinha, era muito básico. Buzinga compensava, já aos seis anos, vendendo leite de porta em porta; antes disso, quando seu pai ainda não tinha ido embora, carregava tijolos como ajudante nas obras em que ele pegava.
Não havia pagamento em dinheiro no trabalho de entrega de leite; na volta, para devolução do vasilhame ao dono, ele recompensava com alguns litros de um líquido azedo, subproduto do leite que chamava de sorão
. Era normalmente – naquela época, reforçado para engorda de animais, mas que Buzinga bebia com prazer. Questão de sobrevivência.
O dono da leiteria nem sempre lhe dava esta oportunidade de entregar leite; nesta situação, as coisas apertavam um pouco mais para Buzinga; aí ele testava sua paciência indo bater às portas de uma casa de ajuda dirigida por uma irmandade de freiras. Neste local, em alguns dias da semana, elas serviam uma sopa rala de legumes reforçada por um pouco de macarrão. A questão da paciência se justifica pela exigência delas a de que todos os beneficiados deveriam aprender, e na sequência, a cantar alguns hinos religiosos. A que Buzinga recorda-se com um misto de saudade e riso era ter que responder, num formato de canto, a algumas perguntas formuladas pelas freiras no salão de refeição. Estas cantilenas era em homenagem ao santo católico São Francisco de Assis. Uma destas perguntas repetitivas de maior ênfase se dava no grande salão de refeição quando da passagem do enorme caldeirão de sopa que desfilava por entre as mesas com todas as pompas ladeado pelas freiras, elas então perguntavam em alto e bom som São Francisco de Assis?
e o público presente faminto, quase todos crianças de baixa idade, respondiam juntas, no máximo que suas pequenas gargantas permitiam esperar a sopa
. E assim prosseguia como num mantra o ritual a repetir estas frases.
E se por acaso, mesmo assim, barrassem a sua entrada por conta das roupas e da aparência não serem dignas dos demais e do ambiente, Buzinga, junto com seu amigo passarinho, checavam as latas de lixo de duas conhecidas lojas de sorveteria, buscando encontrar sobras das embalagens feitas de material comestível onde as bolas de sorvete eram servidas.
Assim Buzinga ia levando o período da sua minha primeira infância; driblando a miséria e a fome do jeito que podia; esforço necessário para, nos seus poucos anos de idade e muita imaginação, sobreviver nestes tempos duros.
Mas neste dia, por ser domingo, psicologicamente sentia-se diferente; a começar pelo uso da única roupa decente existente, e assim, todo arrumadinho, partir para missa.
Não entendia muito todo aquele ritual que se desenrolava no piso mais elevado e a frente da nave da igreja, tendo como personagem principal o padre e alguns meninos que o auxiliavam. Se acomodava entre dois irmãos, duas irmãs e sua mãe num dos muitos bancos de madeira. E aí começava o teatro
ditado pelo mestre de cerimonias
: senta, levanta, música, sinos, instrumento musical, incensos, balançar de castiçais, filas, entrega de hóstias e cumprimentos. Fim.
De volta à sua rua, era comum estar fervilhando de gente. Muito disso era devido aos fregueses da venda do seu João Coito. Os habituais compradores se juntavam aos cachaceiros de fim de semana. Ficava bem defronte a minha casa. Brigas feias aconteciam por ali por conta de discussões que Buzinga não saberia explicar, mas que muito era pelo excesso de bebida.
Mas hoje existia uma certa dose extra por ali; tinha um fotógrafo agregando valor à movimentação local. Com a chegada da comitiva da família de Buzinga, e a conversa fiada do fotógrafo, a mãe de Buzinga se entusiasmou e colocou ele com suas duas irmãs para imortalizar a cena. E assim foi.
Até hoje ao rever aquela foto, Buzinga se mostra com um ar de poucos amigos; zangado até. Possa ser que seja pela presença das proximidade de tantas pessoas a olharem e também a comentarem sobre a cena com um ar de riso nas faces. A foto foi na calçada, na frente da casa da família de Buzinga
Uma dessas pessoas que prestava uma atenção genuína na cena, era o careca
, filho do seu João Coito, herdeiro da venda
– nome dado aos pequenos comércios que vendiam de quase tudo. Tinha alimentos secos – disposto em grande sacos de linhagem, enlatados, carnes desidratadas, bebidas, doces, roupas, calçados, chapéus, cintos, fumo de rolo, material de higiene, combustível como querosene e álcool. Seria quase que um minimercado com um balcão a separar