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O Paradoxo
O Paradoxo
O Paradoxo
E-book224 páginas4 horas

O Paradoxo

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Sobre este e-book

Todos os bons indivíduos, do passado e do presente, que lançaram luz para que outros os seguissem, tiveram que vencer sua própria cota de demônios e saíram da luta vitoriosos. Malcolm é um jovem formado em Harvard em visita à Itália. Faz amizade com um padre enigmático que se oferece para levá-lo a visitar a Catedral Duomo. A verdade se revela; esse chamado padre é, na verdade, o diabo, e está em busca da alma de Malcolm! Em suas viagens para chegarem à Catedral, Malcolm e o diabo encontram pessoas e seus vários pecados. Seus nomes estão escritos no caderninho do diabo; ele tomará suas almas. Malcolm discute com o diabo sobre os alegados pecados dessas pessoas enquanto se encontra um pouco temeroso: o diabo vai tomar sua alma também? “Você pode me chamar de diabo, pois eu devo lhe dizer, de fato sou ele”. “Isso é impossível, o diabo não se vestiria como um padre, não carregaria o livro sagrado, não usaria uma cruz e não trabalharia em uma igreja”. O diabo sorriu e disse: “Por quê não?”
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de jun. de 2017
ISBN9781547505166
O Paradoxo

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    O Paradoxo - Lamees Alhassar

    Mortal

    O Paradoxo

    Como o poder tem

    o poder de dar poder

    ao poder

    Lamees Alhassar

    Copyright © 2016 Lamees Alhassar

    Todos os direitos reservados.

    ISBN: 1537475983

    ISBN-13: 978-1537475981

    ––––––––

    DEDICATÓRIA

    ––––––––

    Dedico este livro a todos os fãs de ficção.

    SUMÁRIO

    ––––––––

    AGRADECIMENTOS

    ––––––––

    Agradeço a toda a minha família e aos grandes amigos pelo apoio e motivação que sempre me dão.

    Capítulo 1

    O Disfarçado

    A única pessoa que você está destinada a se tornar é aquela que decidir ser.

    ~Ralph Waldo Emerson

    Ele descia as ruas de pedra dos antigos quarteirões da cidade de Florença. Um sobretudo que parecia um disfarce pendia de seus ombros largos. Apesar da cabeça descoberta, à distância ele parecia estar usando um capuz. Ao se aproximar, era possível distinguir um belo rosto de pele clara, com alguns fios grossos de cabelo caindo pela testa larga. Alto e esbelto. A mandíbula era firme e forte; havia uma claridade estranha nos olhos e uma curvinha nos lábios, como se houvesse algo incrivelmente engraçado cuja resposta só ele sabia. Tinha a postura de um homem que exalava autoridade e confiança sem jamais precisar se esforçar para isso.

    Balançava a cabeça agradavelmente para as pessoas que passavam por ele, e de sua parte, elas se sentiam estranhamente atraídas e confortáveis em sua presença. Assim que se afastavam, elas se sentiam como se houvessem se recuperado de alguma espécie de feitiço. Desfrutando do efeito que causava às pessoas ao seu redor, o Disfarçado começou a assobiar suavemente, apenas para si. Continuou vagueando pelas ruas e piazzas, sondando com preguiça as multidões que passavam por ele. Havia muitos turistas de diferentes lugares do mundo. Gente da Inglaterra, da França, do Japão, da Coreia, da China e, é claro, dos Estados Unidos.

    Ele olhava para todas aquelas pessoas com uma mistura engraçada de indiferença e desdém. Os ricos turistas usando acessórios de costureiros famosos estavam sendo ciceroneados por seus bem vestidos operadores turísticos.

    Turistas asiáticos emergentes carregavam suas filmadoras, câmeras fotográficas e garrafas de água, destacando-se entre os muitos jovens mochileiros que usavam botas gastas, camisas sujas e calças jeans.

    Um jovem turista americano, de aparência intensa, com 20 e poucos anos, engatou uma discussão acalorada com um guia italiano. Chamou a atenção do Disfarçado, que de agora em diante será chamado de O Encantador.

    O jovem discutia com o guia a taxa cobrada.

    — Você prometeu mostrar o pôr-do-sol próximo ao grandioso palácio do século XVI que pertenceu ao Duque de Florença, mas cheguei antes do pôr-do-sol, então mereço um desconto —, disse o jovem.

    — Não, Signore Malcolm, — protestava o guia. — Prometi trazê-lo ao local em que o sol se põe, não no momento em que ele se põe.

    — Como pode ser o local em que o sol se põe se não há sol se pondo, meu caro? —, questionou Malcolm.

    O Encantador decidiu intervir.

    — Pegue o dinheiro e caia fora —, ordenou ao guia azarado que, a princípio, pareceu surpreendido, e em seguida, submisso.

    — Si, Pai — dirigiu-se a ele e, pegando o dinheiro de Malcolm em silêncio, desapareceu. De fato, O Encantador era um padre, como era possível observar por seu hábito claramente visível sob o sobretudo.

    Malcolm disse:

    — Nossa, isso foi muito legal, Sua Santidade. Sem dúvida o senhor o fez agir de forma sensata rapidamente.

    O Encantador virou-se para fitar Malcolm e deu um sorriso suave.

    — Fiz, não foi? — disse, com perfeito sotaque americano.

    Foi a vez de Malcolm se surpreender.

    — O senhor é americano?

    O Encantador respondeu com calma.

    — Na verdade, não. Passei alguns anos trabalhando lá, mas sou italiano.

    — Bem, bom saber, e obrigado por sua ajuda com o guia. Acho que vou indo. Tchau.

    O Encantador ficou impressionado com o equilíbrio e a compostura de Malcolm em sua presença, já que a maioria das pessoas eram forçadas a experimentar sua influência com muita facilidade, e não saíam de perto tão rapidamente.

    O Encantador disse, com voz calma e amigável:

    — Você tem que ser levado até as vistas. Posso sugerir uma visita à catedral florentina, o Duomo? Você pode vir comigo, estou indo para lá. Posso mostrar o lugar, e não precisa me pagar.

    — Poxa, obrigado, quanta gentileza! Então vamos.

    Malcolm e O Encantador saíram em direção à Catedral Duomo, caminhando juntos pelas calçadas de pedra de Florença.

    — Estudou em Harvard? —, perguntou O Encantador repentinamente, depois de cerca de 15 minutos de caminhada.

    Malcolm, visivelmente chocado, respondeu com uma pergunta:

    — Estudei. Você é vidente?

    O Encantador sorriu e disse:

    — Há quem o diga, mas seu sotaque da Costa Leste e o comportamento educado possibilitou que eu fizesse uma adivinhação calculada.

    Malcolm sorriu:

    — Desculpe, que bobagem a minha me espantar desta forma. Mas é claro que você poderia se arriscar a adivinhar.

    — Ah, Harvard, armazém de tudo o que é intelectual —, disse O Encantador, com um brilho no olhar.

    — Parece que discorda...

    — Isso lhe ofende?

    Malcolm exclamou — Com mil diabos, não!. — Percebendo estar falando com um padre, se apressou em se desculpar. — Desculpe, quero dizer, não acho que Harvard seja o depósito de todo o conhecimento.

    — Não precisa se desculpar por nada. Se quiser praguejar, siga em frente.

    — Mas o senhor é um padre!

    — O que tem uma coisa a ver com a outra?

    — Meu Deus, você fala quase como se fosse o — Malcolm se deteve.

    — Como se fosse o demônio! — O Encantador completou a frase para ele. – Não se choque; você também disse Deus, então acabou equilibrando as coisas. Em todo caso, quando pensar em um deles, o outro estará à espreita em algum lugar próximo.

    — Sério? Que interessante —, disse Malcolm, começando a gostar dO Encantador, agora que fez uma afirmação filosófica, já que era muito interessando nas questões pertinentes à filosofia.

    *****

    Malcolm Murray, filho do distinto advogado criminalista John Murray e da renomada pediatra Betty Murray, havia acabado de se formar em Harvard, alma mater de muitos corajosos e nobres líderes mundiais. Antes de se juntar a seu pai na firma de advocacia, Malcolm decidiu que precisava se dar um ano para atravessar partes da Europa que lhe eram familiares na infância, e possivelmente aventurar-se continente adentro para fazer novas descobertas que lhe afagassem a alma. Buscava respostas para todas as questões que lhe atormentavam referentes à vida, ao amor e a Deus.

    Malcolm sempre teve essa busca por respostas para as perguntas que o confundiam ou perturbavam. Acima de tudo, ele buscava a felicidade — nem tanto para si, mas para todos no mundo. Causava-lhe dor o fato de ter tudo que um homem poderia desejar da vida enquanto muitos outros ao redor do mundo precisavam batalhar contra a fome, a pobreza e a doença.

    Ainda assim, gostava da vida que levava em Boston. Seus anos estudando Direito em Harvard passaram por um turbilhão de palestras, apresentações, dissertações, competições esportivas, encontros ocasionais e planos para o futuro. Ele não sentia que não deveria ter uma boa vida só porque milhares de outras pessoas de sua idade mal conseguiam sobreviver. Isso para ele não resolveria o problema.

    Para ele, era inexplicável e inaceitável que pobreza extrema e miséria pudessem existir, mesmo quando a humanidade havia avançado o suficiente para enviar equipamentos de investigação para o espaço e planejava enviar astronautas a Marte. Porque as pessoas não conseguiam programar suas mentes para aliviar sofrimentos humanos básicos ao redor do mundo primeiro e acabar com isso?

    Bertrand Russell, grande filósofo do século XX, poderia estar ecoando o ponto de vista de Malcolm ao escrever, "Três paixões, simples mas esmagadoramente fortes, governam minha vida: o desejo de amar, a busca pelo conhecimento, e uma pena insuportável da humanidade sofredora. Essas paixões, assim como fortes ventos, me sopram para lá e para cá, de forma desordenada, por um grande oceano de angústia, chegando ao próprio limite do desespero".

    E então ali estava ele, Malcolm Murray, egresso de Harvard, nas encruzilhadas da vida, vagando pelas ruas de pedra de Florença, sendo guiado rumo a uma catedral por um padre italiano que parecia saber usar as palavras.

    Capítulo 2

    Os Caminhos dos Seres Humanos

    As ações humanas podem ser modificadas até certo ponto, mas a natureza humana não pode ser mudada.

    ~Abraham Lincoln

    Conforme Malcolm e O Encantador continuavam se arrastando pelas ruas, Malcolm se deu conta de que já estavam andando há algum tempo e a Catedral continuava completamente fora de vista.

    — É muito longe daqui? —, perguntou aO Encantador.

    — Ah, não muito, mais uns quinze ou vinte minutos de caminhada. Tomei a liberdade de fazer o caminho mais longo. Esse caminho é mais agradável, e há várias vistas interessantes ao longo do trajeto.

    O Encantador tinha razão, já que logo chegaram a uma inclinação que os levou ao alto de um morro, do qual podiam ver a extensão da cidade de Florença com todos seus gloriosos edifícios, praças e piazzas. Os raios do sol ao entardecer banhavam o local com um brilho pálido, e Malcolm sentiu uma grande sensação de relaxamento tomando conta de si.

    — A brilhante obra de Deus — , Malcolm resmungou consigo.

    — Deus nada tem que ver com isso. É tudo efeito da luz, causado pela bola de gás, ‘o sol’, e o efeito causa ainda maior impacto ao luar.

    — Ah, deixa eu adivinhar, um padre que estudou ciências. Vocês deram um passo e tanto desde que ameaçaram o coitado do Galileu de tortura por dizer que a Terra girava em torno do sol.

    — Tem razão, realmente estudei ciências. Assim como muitos outros padres. Mas todos eles veneram Deus.

    — Assim como você, certo? Você é padre!

    — Deixemos Deus fora disso por enquanto e falemos sobre o homem – ou sobre seres humanos, para ser mais politicamente correto —, disse O Encantador, com toda a seriedade.

    Malcolm era todo ouvidos, já que estava curioso para ouvir de um homem de Deus, que não tinha Deus em muito alta conta, quanto ao que pensava afligir a humanidade.

    — Tudo o que o homem conquistou foi consequência de cobiça, desejo e orgulho.

    — Você denigre todas as conquistas da humanidade, os esforços para melhorar as vidas das pessoas e todas as nobres descobertas atribuindo tudo isso à avareza pessoal.

    — Você fala feito um contador de histórias ou um trovador que não analisa ou investiga os fatos da questão. Não é isso que se espera de um egresso de Harvard —, O Encantador repreendeu Malcolm gentilmente.

    Malcolm não se ofendeu nem um pouco, mas viu O Encantador com um novo respeito e admiração. Começou a vê-lo como um mentor, da forma que ele considerava alguns de seus professores em Harvard.

    — Então, o que é que guia o esforço humano?

    — Avareza, inveja, luxúria, ira, preguiça, orgulho e gula.

    — Ah, os sete pecados capitais. Honrados por um homem de Deus e direcionados pelo demônio. — Agora Malcolm parou de se surpreender com a conversa dO Encantador.

    — Um dia, o demônio foi um anjo do Senhor, nunca se esqueça disso, Malcolm.

    — Agora está do lado do demônio?

    — Por questões de argumentação, digamos que eu seja o advogado do diabo; ou melhor ainda, o próprio.

    Bastante envolvido na discussão, já que se parecia muito com as oficinas realizadas em Harvard, nas quais as pessoas assumiam posições opostas por questões de argumentação, ele parou para encarar O Encantador e dar uma boa olhada nele. Seu rosto era muito bonito e intenso, com penetrantes olhos castanhos que pareciam ser capazes de olhar no fundo da alma. Cara, ele parecia possuído. Parece mais com Lúcifer do que com um padre, Malcolm pensou consigo.

    — Como eu já disse, Lúcifer foi o anjo favorito de Deus.

    Imediatamente, Malcolm foi desperto de seus pensamentos agradáveis, ao pensar no que O Encantador acabara de dizer. Como é que ele pode ler meus pensamentos? Deve ser uma coincidência; estou lendo entrelinhas demais.

    — Padre, posso saber seu nome? Estamos conversando há um tempo já, e deveríamos ao menos saber o nome um do outro. Eu sou Malcolm.

    — Já que estamos assumindo que sou o demônio, você pode me chamar por qualquer um de seus nomes — Satã, Belzebu, O Maléfico, Chefe dos Demônios, Anjo Caído, ou pode me chamar de Padre.

    Malcolm agora estava convencido de que O Encantador era extremamente excêntrico, ou até mesmo um pouco perturbado, mas sem dúvida tinha algumas coisas interessantes a dizer, e decidiu acompanhá-lo por mais um tempo. Ao menos até chegarmos à Catedral, pensou consigo.

    Capítulo 3

    Professor e Aluno; Aluno e Professor

    Sede sóbrios; vigiai; porque o Diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar

    ~1 Pedro 5:8 (A Bíblia Sagrada)

    Malcolm olhou para O Encantador, que caminhava exatamente ao seu lado, nem um passo à frente, nem um passo atrás.

    — Disse que queria bancar o advogado do diabo? Sabia que existe um filme com esse nome; é um dos meus filmes hollywoodianos favoritos. Al Pacino dá um show no papel de John Milton.

    — Engraçado como as cores do mundo real só parecem reais de verdade quando as vemos em um filme.

    — Sabe, a gente parece um pouco com Kevin Lomaz e John Milton, especialmente quando você disse que posso chamá-lo de Padre.

    — Também pode me chamar de diabo pois, devo lhe dizer, de fato o sou.

    — Impossível, o diabo não se vestiria como um padre, não carregaria as sagradas escrituras, não usaria uma cruz, nem trabalharia em uma igreja.

    O diabo sorriu e disse:

    — E por que não? Ainda creio em Deus. Nunca deixei de reverenciá-lo.

    —  Prove.

    —  Provar o quê, exatamente?

    — Prove que é o diabo. Você não teria algum tipo de superpoder? Consideremos que pelas últimas horas que passamos juntos, você nada fez além de observar gente. Mostre-me seus superpoderes, e então acreditarei que é o diabo.

    O diabo sorriu e disse:

    —Posso responder usando a mesma fala de Al Pacino no papel de John Milton no filme O Advogado do Diabo, já que é seu filme favorito. Você tem razão quanto a uma coisa: estou observando. Não consigo me conter. Observar, esperar, prender o fôlego. Mas não sou manipulador de marionetes, Malcolm. Não faço coisas acontecerem. Não é assim que funciona.

    —  Mas o que está fazendo passeando comigo?

    —  Estou contigo porque quero a tua alma.

    — Quer minha alma? Vai me matar? Ou vai me

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