Uma Nova Vida
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Sobre este e-book
Ao sofrer uma inesperada perda e sentir-se só frente a um futuro incerto, Alice Legan decide mudar a sua vida. O destino reserva-lhe um novo emprego que a ilusiona e que a leva até à bela cidade de Paris, onde deverá cuidar a jovem e rica herdeira, Lady Katherine Westfield, que passa habitualmente aí o verão. As duas jovens criam uma amizade e tudo parece indicar que estes dias serão prazerosos. No entanto, um misterioso e desagradável episódio transformará este prazer em angústia e fará entrar em cena o inspector Pascal Lambert cuja investigação levá-lo-à a descobrir um importante segredo na família de Lady Katherine.
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Uma Nova Vida - Alessandra Cesana
CAPÍTULO I
ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
––––––––
Era sábado e estava chovendo. O belo relógio que estava pendurado numa das paredes da sala que pertencia a Alice e onde se encontrava neste momento, marcava, exactamente as seis da tarde. Alice, uma das protagonistas da nossa história é uma doce e jovem menina cujos cabelos são tão loiros como o trigo dourado ao sol e os seus olhos de um azul tão intenso como um mar sob um céu claro e sereno. A nossa bela protagonista estava sentada em frente à janela observando como as finas gotinhas de água caíam do céu, ao mesmo tempo, que duas lágrimas deslizavam sobre as suas pálidas bochechas encontrando-se com os seus lábios. Os seus olhos, risonhos por natureza, demonstravam o contrário, a tristeza e a solidão que sentia no seu coração igual aquelas lágrimas que não cessavam de deslizar sobre o seu belo mas amarelado rosto. De repente, um som inesperado rompeu o silêncio que durante horas tinha permanecido intacto e esse som era, indubitavelmente, a campainha da porta. Quem seria a pessoa que se atreveria a interromper aquele calado silêncio? Alice perguntava-se, ao mesmo tempo que secava as lágrimas e caminhava pelo largo e curto corredor até chegar onde se encontrava a porta e, uma vez, chegada a ela, só teve de abrir para descobrir que a autora da inesperada visita era Gina, a sua irmã maior. Parecia como se esta tivesse o pressentimento certo de que Alice a necessitava e, por isso, decidiu apresentar-se na casa da sua irmã sem, nem sequer, avisá-la da sua visita.
Gina era uma jovem e esbelta garota de cabelos negros e brilhantes, os quais estavam delicadamente penteados e recolhidos num rabo-de-cavalo, os seus olhos eram grandes e muito azuis e a sua tez possuía a cor de um pêssego. Trazia um vestido vermelho que lhe chegava um pouco mais acima dos joelhos e sustentava duas grandes malas brancas.
_ Gina, que surpresa tão agradável! _ exclamou Alice sorrindo pela primeira vez desde algumas semanas.
_ Alice, não sabes o quão contente estou de voltar a ver-te depois de tanto tempo! _ disse Gina levantando os braços para poder abraçar a sua irmã menor. Alice e Gina depois de darem um forte abraço, dirigiram-se ao magnífico salão onde a Alice estava antes da chegada da sua irmã e, uma vez nele, sentaram-se no cómodo sofá que estava a um canto frente a uma pequena mesinha. Apesar dos esforços que Alice fazia para que Gina não se desse conta do seu baixo estado de ânimo, a esta não lhe passou inadvertida a triste expressão dos seus olhos que pretendia esconder sobre esse sorriso postiço; quando Alice tinha algum problema nunca sabia dissimulá-lo e preocupada, a sua irmã perguntou-lhe o que sucedia ao que Alice respondeu:
_ Gina, lembras-te de Nick?
_ Nick?_ murmurou Gina tentando recordar-se, mas sem êxito.
_ Sim, Nick, o meu namorado, aquele rapaz que te apresentei há um ano no funeral do papá.
_ Ah, sim! Já me lembro, tens algum problema com ele? _ quis saber Gina.
_ Bom... na verdade é que já não posso ter nenhum problema com ele porque... já não existe _ respondeu Alice com um fio de voz e novamente de lágrimas nos olhos.
_ Queres dizer que está... morto?_ perguntou Gina muito surpreendida pela terrível notícia.
_ Sim, está morto! _ exclamou Alice com um arranque brusco de humorismo.
_ Bom Alice tranquiliza-te, mas diz-me: o que foi que ocorreu para que... _ Gina fez uma pausa antes de acabar a sua pergunta, pois resultava-lhe muito difícil ter que fazer-lhe semelhante questão à sua própria irmã que estava destroçada pelo que havia sucedido _ ... falecera tão de repente? _ disse, quando finalmente reuniu o valor suficiente para acabar de formular a sua pergunta.
_ Oh... teve um acidente de carro e... ficou inconsciente. A sua irmã Brenda foi quem me comunicou a desgraça pelo telefone do hospital. Eu fui tão rápido quanto pude e mesmo os médicos dizendo que o seu estado era muito grave e que provavelmente morreria eu nunca perdi a esperança... mas... nem as minhas esperanças nem as minhas orações serviram de nada, Nick morreu ali ao meu lado sem eu puder fazer nada para evitá-lo, foi absolutamente terrível!
_ Alice, lamento mas... bom sei que é difícil ver algo positivo numa desgraça assim mas... diz-me, quem te assegura a ti que a morte de Nick tenha que ser obrigatoriamente má para ti? Talvez... Deus tenha-te reservado um futuro melhor que o que ias ter com o Nick.
_ Mas Gina, como é que podes dizer isso? Nick e eu éramos felizes, o nosso amor era verdadeiro, apaixonado, terno... e tudo devido à pessoa maravilhosa e única que era e eu... eu jamais poderei querer alguém, nunca! Além disso, se o Nick e eu não éramos o casal ideal, por que não permitiu Deus que simplesmente discutíssemos ou nos divorciássemos? Não achas que a morte é uma solução demasiado trágica para um problema tão fácil de resolver?
_ Sim, certamente a morte é um preço muito alto para um problema tão simples. Alice, a morte é um facto arrepiante, misterioso e mil coisas mais, é algo a que todo o mundo já tememos alguma vez, mas, no entanto, quando te sentes infeliz e talvez incompreendida, o único que desejas é que te alcançara. De qualquer forma, a morte é um facto que não se pode mudar porque pertence à natureza e se não existisse, hoje em dia haveriam tantos seres humanos de tantas épocas diferentes que já ninguém caberia mais neste planeta.
_ Sim, mas ele era tão jovem... porque teve de calhar a ele!?
_ Pois, na verdade... não sei... era o seu destino e, por muito que queiramos não podemos fazer nada para mudar o nosso destino, absolutamente nada.
Alice levantou-se do sofá e com um olhar triste dirigiu-se à janela. Ainda chovia, mas as finas gotinhas já se tinham convertido em gotas grandes e incrivelmente ruidosas ao bater contra o vidro da janela.
_ Oh, Gina! E ainda não sabes o pior deste caso _ exclamou a filha menor dos Legan depois de girar-se lentamente em direcção à sua irmã.
_ O pior do caso? O que queres dizer?_ interrogou Gina estranhada.
_ Pois... estou grávida! _ exclamou Alice sumamente envergonhada.
_ Grávida! A sério Alice, lamento mui... _ de repente Gina sentiu-se totalmente ridícula; tinha de dizer que lamentava por passar algo tão bonito como o que a Alice pudesse sentir neste momento, esta experiência tão agradável de ter um filho. Era certo que nunca conhecera pessoalmente o seu pai, mas Alice tinha que ter confiança no amor e pensar que, mais cedo ou mais tarde, alguém se apaixonaria o suficiente para casar-se e ajudá-la a educar o seu filho assim que tentou explicá-lo como pode:
_ Alice, escuta-me, realmente pensas que não poderás apaixonar-te por mais ninguém?
_ Sim, realmente é isso que penso.
_ E... pode-se saber porque pensas tamanha estupidez?
_ Gina, tu não entendes... nunca perdeste um namorado... sofri muito com a perda do papá e mais ainda com a da mamã mas... creio que a que mais me doeu foi a de Nick.
_ Claro que entendo! O que se passa é que tu ainda não podes pensar em viver e ser feliz sem o Nick, mas logo darás conta de que eu tenho razão. Meu Deus! Já contaste alguma vez todos os rapazes desta cidade? São incontáveis! E em Boston há ainda mais que aqui e estou segura que tu caçaras um desses bonitões e interessantes rapazes que andam à procura de uma bonita e simpática companheira que lhes sirva para algo mais do que ir ao cinema, que, além disso, lhes dêem carinho e ternura, sentimentos que serão correspondidos e assim se ajudem mutuamente a que as suas respectivas vidas sejam belas e dignas de ser disfrutadas dia-a-dia.
Alice, confia no amor porque ainda que acredites que esse sentimento não voltará a nascer em ti, é muito provável que te equivoques já que a mesma solidão e falta de amor e carinho por parte de Nick te fará desejar o amor e carinho de outra pessoa, de outro homem a quem chegarás a querer tanto como a Nick só que nunca poderás nem deverás esquecer o que agora deves deixar para trás, o que agora deves aceitar como parte do teu passado: a Nick, não só porque tens um filho com ele, como também porque foi uma pessoa muito especial para ti e provavelmente no teu coração sempre o será.
Gina vivia em Boston com o seu marido Roger e a sua filha Melissa, de apenas dois anos de idade. Os três sentiam-se felizes na sua bonita casa situada numa bela zona residencial. Só esperava que Alice voltasse a disfrutar dessa felicidade, esse maravilhoso sentimento de sentir-se querido e compreendido por alguém uma vez mais.
_ Escuta Alice, porque não vens viver comigo e com o Roger para Boston? Aí poderás procurar um trabalho e começar uma nova vida, além de que, desta forma, não estarás só. _ propôs Gina a sua irmã. _ Mas eu não quero causar-te nenhum mal estar, nem a ti nem a Roger, serei uma carga para vocês e para isso, prefiro ficar só. _ respondeu Alice. Mas Gina, sem vacilar, responde: _ Alice não comeces com as tuas bobeiras, tu virás comigo a Boston esta mesma noite. Necessitas uma mudança de ar e o mais importante: uma mudança de vida
CAPÍTULO II
UMA NOVA VIDA PARA ALICE
A maravilhosa imagem da lua junto às luminosas estrelas já podia ser admirada quando as duas filhas dos defuntos Srs. Legan chegaram ao seu destino. Roger estava sentado no alpendre do seu jardim quando viu as duas esbeltas figuras femininas que se dirigiam até ele e ao reconhecê-las, não fez mais que levantar-se para cumprimentá-las ao mesmo tempo que chamava um dos criados para que recolhesse a equipagem das duas belas damas.
_ Pode-se saber o que fazem por aqui? Pensei que ficariam em Providence. _ disse, mostrando-se surpreendido.
_ Mudamos de ideia. _ respondeu-lhe a sua esposa sem dar-lhe mais explicações.
Alice e Gina entraram na casa enquanto Roger, ainda sem entender o motivo da inesperada aparição da sua mulher e cunhada, decidiu retirar importância ao assunto:
Talvez Alice preferiu vir, talvez queria ver a Melissa
pensou, de todas as formas não importa
e depois de pegar um livro depositado numa mesinha perto donde estava sentado pôs-se a lê-lo.
O matrimónio de Roger e Gina tinha-se celebrado há quatro anos atrás e, apesar da boa relação que as duas irmãs tinham, Alice não tinha estado em muitas ocasiões na casa destes. Seja como fosse, agora encontrava-se ali, em Boston, na casa da sua irmã, com o seu cunhado, com a sua sobrinha e com Gina. Ali tudo seguia igual: a mesma casa com o seu ambiente acolhedor, o mesmo Roger com as suas ironias e grande atractivo, a mesma Melissa travessa e incansável e a mesma Gina tão orgulhosa e dominante como costume. No entanto, Alice não era a mesma desde que Nick tinha morrido, o seu carácter, normalmente alegre e risonho, tinha-se convertido em triste e mesmo os seus habituais pontos negativos, característicos da sua personalidade, tinham adquirido agora um grau superior. Isso não era nada estranho, já que uma tragédia desse