Alexander W. A. Kellner, Editor-Chefe, Anais da Academia Brasileira de Ciências, Museu Nacional/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Acredito que todos têm a consciência que um dos lugares mais remotos do nosso planeta tem sofrido bastante com as mudanças climáticas. A Antártica hoje é um deserto gelado, mas no passado foi uma região com florestas de gimnospermas e vertebrados extintos como plesiossauros nos mares, dinossauros em terra firme e pterossauros nos céus. É uma região que tem sido pesquisada ao longo de muitas décadas.
O Brasil tem atuado na região através do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), que acaba de completar 40 anos de atividades. Entre as comemorações está o lançamento de um número especial dos Anais da Academia Brasileira de Ciências (AABC), a única revista multidisciplinar com um escopo amplo editada no país. A publicação (AABC-94-Suppl.1) foi organizada pelos pesquisadores Jefferson C. Simões, Marcelo C. Leppe e Juliana M. Sayão, que reuniram 57 trabalhos cobrindo diferentes áreas de pesquisa, como Geociências, Ecossistemas, Ciência Animal, Paleontologia, Ciências Químicas, Biologia Celular e Molecular, Ciências Sociais, Microbiologia e Ciências da Saúde.
Também é importante reconhecer as conhecidas dificuldades que a ciência enfrenta no país no que tange ao financiamento, afetando todas as atividades dos cientistas, inclusive aqueles que pesquisam o continente gelado. Por um lado, temos a pandemia, que teima em persistir apesar das vacinas. E a guerra decorrente da invasão da Ucrânia pela Rússia tem contribuído para problemas na economia mundial, situação que também torna as atividades científicas e culturais vítimas com sucessivos cortes orçamentários.
Figura 1. Foto do acampamento realizado em 2016 na Ilha James Ross, Península Antártica, pelo projeto PALEOANTAR.
Diante dessas dificuldades, o fascículo 94 Suppl. 2 dos AABC é uma conquista da comunidade científica que pesquisa a Antártica, demonstrando a resiliência dos pesquisadores.
Apesar de alguns poucos projetos terem conseguido desenvolver estudos em diferentes locais mais ao sul do continente por meio de financiamentos especiais, a grande maioria das pesquisas realizadas no âmbito do PROANTAR são obrigados a limitar as suas atividades ao norte da Península Antártica.
Embora reconhecidamente controverso, há os que defendem que o Brasil deveria ter um quebra-gelo para poder navegar mais ao sul. Isso também permitiria ao país construir outras estações antárticas além da Estação Antártica Comandante Ferraz, localizada na Baía do Almirantado, na Ilha Rei George. Poder navegar a latitudes mais altas também possibilitaria a construção de postos avançados mais ao sul da Península Antártica, ampliando as atividades científicas coordenadas por pesquisadores brasileiros.
Entretanto, é fundamental ressaltar que, apesar de todas as dificuldades e desafios, investimentos em pesquisa na Antártica são necessários não apenas para compreender melhor as influências das mudanças climáticas em curso, mas também para que o Brasil possa para participar da discussão sobre o futuro deste lugar notável do nosso planeta. Esta edição especial visa contribuir para isso.
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KELLNER, A.W.A. Research in Antarctica – challenging but necessary. An Acad Bras Cienc [online]. 2022, vol. 94, e202294S1 [viewed 22 December 2022]. https://doi.org/10.1590/0001-37652022202294S1. Available from: https://www.scielo.br/j/aabc/a/XR3YbTv9nT85Jjhh5zmjKrk/
Links externos
Anais da Academia Brasileira de Ciências – AABC: www.scielo.br/aabc/
Para ler o número especial, acesse: https://www.scielo.br/j/aabc/i/2022.v94suppl1/
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