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Por — São Paulo


O tom de virada que marcou a chegada de Marcelo Noronha ao posto de CEO do Bradesco, com o executivo apostando na concessão de crédito à baixa renda e aos pequenos negócios para impulsionar a recuperação do banco, deu lugar a um discurso mais pé no chão, diante da piora do cenário de juros no Brasil desde que ele assumiu o cargo, em novembro do ano passado.

Quando Noronha apresentou o seu plano estratégico para os próximos cinco anos do banco, em fevereiro, o boletim Focus indicava que a Selic, em tendência de queda, terminaria 2025 a 8,5%. Seis meses depois, a mediana do mercado aponta para uma redução menor, para 9,75%, com uma parte dos analistas apostando em estagnação no nível atual, de 10,5%, e alguns chegando a acreditar que pode haver uma alta antes de uma nova leva de reduções.

Parte da postura cautelosa do banco envolve o que o próprio Noronha prometeu quando assumiu: crescer na pessoa física de baixa renda e nos pequenos negócios com uma análise mais criteriosa dos tomadores, e com isso vencer o ceticismo de analistas que estranharam a estratégia de dobrar a aposta nos clientes que mais deram prejuízo durante a rápida escalada da Selic entre 2021 e 2022.

Tanto que, no chamada pessoa física massificada (que exclui alta renda), os atrasos superiores a 30 dias para créditos concedidos há quatro meses chegaram a fevereiro representando 65% do que foram na média de 2019, a metade dos 129% (em comparação também a 2019) atingidos no segundo trimestre de 2022. Nas pequenas e médias empresas (PMEs), caíram de 122% para 59%.

Isso tem se refletido em uma taxa de aprovação de crédito 16% menor que a média apresentada em 2019, na soma dos dois públicos. Mas o banco tem sido ainda mais conservador com as pequenas e médias empresas. Na comparação com o ano passado, quando o banco segurou o crédito para estancar a deterioração dos seus balanços, o nível de aprovação cresce 26,8% na PF massificada, enquanto o avanço em PJ foi menor, de 17,1%.

"Estamos com gestão mais rígida em PMEs, com menos apetite, monitorando todos os dias. Se tiver uma mudança maior no macro, podemos regular", disse o CEO em teleconferência com analistas. "Estamos indo com segurança, sempre em linha com o mercado, sem extrapolar."

Entre analistas, chamou atenção que o banco manteve o guidance intacto mesmo com um resultado divergente na margem financeira total. Enquanto o Bradesco projeta avanço de 3% a 7% para 2024, o indicador recuou 7,5% no acumulado do primeiro semestre. A explicação: o banco afirma que o segundo semestre deve ser melhor e acredita que outros indicadores podem ajudar a compensar, como as provisões para devedores duvidosos e as receitas com prestação de serviços, o que serviria para seguir com o mesmo cenário de lucro implícito.

O banco não divulga com qual lucro líquido implícito trabalha para o ano, mas o CFO Cassiano Scarpelli disse que é razoável o intervalo de projeções do mercado, de R$ 17,5 bilhões a R$ 18,5 bilhões. A margem com o mercado, que tem preocupado analistas desde a rápida escalada da Selic, está controlada, mesmo com a piora trimestral, disse o executivo, e assim deve seguir, já que não há a expectativa de uma brusca mudança no cenário de juros, como ocorreu entre 2021 e 2022.

Marcelo Noronha, CEO do Bradesco: resultados melhoraram — Foto: Ana Paula Paiva/Valor
Marcelo Noronha, CEO do Bradesco: resultados melhoraram — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

O Bradesco é um dos que trabalham com o cenário em que a Selic deve seguir em 10,5% até o fim do ano que vem. "Uma subida de juros seria ruim para nós, pois afeta atividade econômica potencial em 2025, mas, com a potencial queda nos EUA, pode haver uma reversão disso", afirmou o CEO. E o diretor de RI, André Carvalho, complementou: "temos que lidar com isso e podemos tomar medidas internas, de aumentar eficiência, tentando compensar o efeito conjuntural."

No segundo trimestre, o banco teve lucro líquido de R$ 4,7 bilhões, alta de 4,4% em relação a igual período do ano passado e acima das expectativas do mercado. O ROAE acumulado atingiu 10,8%, um avanço em relação aos 10,2% do trimestre anterior. Na bolsa, a ação abriu em alta de mais de 3% e depois acelerou os ganhos. Por volta das 13h30, subia 6,56%, a R$ 13,48, mas ainda valendo a metade do que valia em meados de 2021.

Na teleconferência, Noronha disse que o ROAE tem se recuperado mais rápido do que o banco imaginava, mas evitou fazer promessas quanto ao momento em que o retorno deve voltar ao mesmo patamar do custo de capital. No início do ano, ele havia dito que isso aconteceria em algum momento ao longo de 2026.

"Isso teve uma troca de datas, mas não estamos prometendo ROAE. Falamos no início do ano sobre 2026, mas está mais rápido do que efetivamente estava previsto. Está acima um pouco acima do guidance, que é um piso. Achamos que dá para entregar mais", ele disse.

O banco também evitou fazer previsões em relação ao spread. Em resposta a um analista que quis saber quando o Bradesco retomaria os níveis de 9,7% ou 10%, Noronha disse que o banco quer recuperar esses resultados em algum momento, mas "respeitando" o mix de crédito que tem agora. "Se você amplia o crédito consignado, naturalmente empurra isso para frente. Mas não temos um prognóstico específico."

Já em relação ao que se espera para o índice de eficiência operacional, o CFO disse que o aumento registrado no segundo trimestre, de 46,8% para 51,3% em 12 meses, já era esperado, em razão dos investimentos feitos na transformação do banco, mas que a tendência é que o indicador comece a cair no segundo semestre de 2025, ou no início de 2026, e chegue ao patamar desejado de 40% entre 2027 e 2028.

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