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Por O Globo e agências internacionais — Riade

Mais de mil pessoas morreram durante a peregrinação de cinco dias do Hajj, principalmente devido ao calor intenso na Arábia Saudita. Desse total, pelo menos 600 eram de nacionalidade egípcia, de acordo com uma contagem feita pela AFP, com base em dados coletados pelo país.

— Todas as mortes (recém-confirmadas) foram devidas ao calor — disse um diplomata árabe à agência francesa.

Os fiéis enfrentavam temperaturas altas nos locais sagrados do Islã no reino desértico: em Meca, os termômetros chegaram a registrar 47ºC na terça-feira, de acordo com o Centro Nacional de Meteorologia do país, enquanto na Grande Mesquita de Meta o calor era de 51,8ºC na segunda-feira.

A Arábia Saudita não comentou sobre as mortes ocorridas durante a peregrinação, exigida de todo muçulmano pelo menos uma vez na vida, nem ofereceu qualquer causa para os óbitos.

Nesta quarta-feira, familiares de desaparecidos durante a peregrinação percorriam os hospitais sauditas atrás dos entes queridos. O marido de Mabruka bint Salem Shushana, uma tunisiana de 70 anos, não sabe de sua esposa desde sábado, auge da peregrinação ao Monte Arafat. Ela não estava oficialmente inscrita entre os peregrinos, portanto não tinha acesso às instalações climatizadas.

— Ela estava com muito calor e não tinha onde dormir. Procurei em todos os hospitais e até agora não sei nada sobre ela — disse o marido, Mohamed.

Todos os anos, o Haji atrai milhares de peregrinos de nações de baixa renda, “muitos dos quais tiveram pouco ou nenhum atendimento de saúde pré-Hajj”, disse um artigo do Journal of Infection and Public Health. Doenças transmissíveis podem se espalhar entre as massas reunidas, muitas das quais economizaram a vida toda para suas viagens e podem ser idosas com condições de saúde preexistentes, acrescentou o texto, citado pela AP.

Embora mortes não sejam incomuns durante o evento — que só neste ano atraiu cerca de 1,8 milhão de peregrinos, entre eles, 1,6 milhão do exterior; foram 240 mortes no ano passado —, a tradição religiosa tem sido cada vez mais afetada pelas mudanças climáticas, de acordo com um estudo saudita publicado no mês passado. As temperaturas na área onde os rituais são realizados estariam aumentando 0,4ºC a cada década.

Por isso, o número de mortos deste ano sugere que algo fez com que a quantidade de óbitos aumentasse. Países como a Jordânia e Tunísia mencionaram o calor como fator determinante.

Timelapse: veja a impressionante circulação peregrinação do hajj na Arábia Saudita

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Também foram anunciadas as mortes de pelo menos 60 jordanianos, número acima dos 41 anunciados na terça-feira por Amã, além de peregrinos da Indonésia, Irã, Senegal, Tunísia e Curdistão iraquiano. Um diplomata asiático reportou, nesta quarta, "68 mortes" entre peregrinos indianos. Centenas de pessoas se enfileiraram no Complexo de Emergência da região tentando obter informações sobre seus familiares desaparecidos. De acordo com relatos de autoridades à AFP, na terça-feira, havia 550 pessoas no necrotério de al-Muaisem, um dos principais de Meca.

Peregrinação e mudança climática

Facebook e outras redes sociais também estão repletas de fotos de desaparecidos e pedidos de informações. A egípcia Ghada Mahmud Dawud está desaparecida desde sábado.

— Recebi uma ligação da filha dela me pedindo para publicar uma mensagem no Facebook que pudesse ajudar a encontrá-la — disse um amigo da família que vive na Arábia Saudita e pediu anonimato, acrescentando: — Não a encontramos na lista de falecidos, o que nos dá esperança de que esteja viva.

Na terça-feira, o ministério das Relações Exteriores do Egito disse que o governo egípcio estava colaborando com as autoridades sauditas nas operações de busca por mais cidadãos que desapareceram durante o Hajj. Autoridades sauditas relataram que mais de 2 mil peregrinos sofreram de estresse pelo calor. O número, porém, não é atualizado desde domingo — e as fontes não forneceram informações sobre as fatalidades. Ao todo, cerca de 1,83 milhão de pessoas participaram do Hajj este ano, incluindo mais de 1,6 milhão de peregrinos de 22 países e 222 mil sauditas.

Jornalistas da AFP em Mina, nos arredores de Meca, viram peregrinos despejando garrafas de água sobre suas cabeças enquanto voluntários distribuíam bebidas frias e sorvetes de chocolate que derretiam rapidamente. Autoridades da Arábia Saudita haviam aconselhado os fiéis a usar guarda-chuvas, beber bastante água e evitar a exposição ao sol durante as horas mais quentes do dia. No entanto, muitos dos rituais do Hajj, incluindo as orações no Monte Arafat que ocorreram no sábado, envolvem ficar ao ar livre por longos períodos durante o dia.

Alguns peregrinos disseram ter visto corpos imóveis na beira da estrada, além de serviços de ambulância que por vezes pareciam sobrecarregados. Outros, incluindo muitos egípcios, perderam o contato com seus parentes. No complexo médico de Meca, a segurança parecia rígida, e um funcionário lia os nomes dos mortos e suas nacionalidades. Os que disseram ser parentes dos mortos foram autorizados a entrar para identificar os falecidos.

No domingo, as autoridades sauditas afirmaram que mais de dois mil peregrinos receberam atendimento por stress térmico, sem fornecer informações precisas sobre mortes.

Irregularidades

Sem condições de pagar os procedimentos para realizar oficialmente o Hajj, dezenas de milhares de peregrinos tentam realizar o rito religioso por meio de canais irregulares. Isso os coloca fora dos registros, e eles não podem acessar instalações com ar condicionado fornecidas pelas autoridades sauditas ao longo da rota.

Segundo um dos diplomatas que falou à AFP, os “peregrinos irregulares causaram grande caos nos acampamentos dos egípcios, causando o colapso dos serviços”. As pessoas ficaram sem comida e água por “um longo tempo”.

— Eles morreram porque a maioria das pessoas não tinha onde se abrigar — disse o diplomata.

A Arábia Saudita gastou bilhões de dólares em medidas de controle de multidões e segurança para os que participam da peregrinação anual, mas o grande número de participantes torna difícil garantir a segurança. Na terça, o ministro da Saúde do país, Fahd al-Jalajel, disse que os planos de saúde para o Hajj haviam sido realizados “com sucesso”, prevenindo surtos de doenças e ameaças.

Ainda assim, as mudanças climáticas podem continuar aumentando o risco. Um estudo de 2019 realizado por especialistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts descobriu que, mesmo que o mundo consiga mitigar os piores efeitos da mudança climática, o Hajj seria realizado em temperaturas que excedem um “limiar de perigo extremo” de 2047 a 2052 e de 2079 a 2086.

O Islã segue um calendário lunar, então o Hajj ocorre cerca de 11 dias mais cedo a cada ano. Em 2030, o rito ocorrerá em abril, e nos próximos anos ocorrerá no inverno, quando as temperaturas são mais amenas. (Com AFP)

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