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Por — Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira que o Brasil fará um "novo aporte de recursos" para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês). A maior agência da ONU na Faixa de Gaza pode ficar sem fundo para manter suas atividades humanitárias em razão do crescente número de países que suspenderam suas doações em meio às alegações sobre a influência do Hamas na organização. A entidade está sob investigação após acusação de Israel de que alguns de seus integrantes supostamente teriam ligação com o Hamas.

— Meu governo fará um novo aporte de recursos para UNRWA e exortamos todos os países a manterem e reforçar suas contribuições — disse o presidente.

Lula deu as declarações após sessão do Conselho de Representantes da Liga dos Estados Árabes, no Egito. Em seu discurso, Lula voltou a condenar os ataques do Hamas de 7 de outubro, que desencadearam o conflito atual, mas chamou de "reação desproporcional e indiscriminada" as ações de Israel. Lula ainda afirmou que não se pode "banalizar" a morte de civis como "dano colateral" de um conflito.

— O ataque do Hamas no dia 7 de outubro contra civis israelenses é indefensável e mereceu veemente condenação do Brasil. A reação desproporcional e indiscriminada de Israel é inadmissível e constitui um dos mais trágicos episódios desse novo conflito. As perdas humanas e materiais são irreparáveis. Não podemos banalizar a morte de milhares civis como mero dano colateral.

Ao falar sobre a escassez de recursos para a agência da ONU em Gaza, Lula afirmou que as denúncias precisam ser investigadas, mas criticou o corte de doações por países ricos. O presidente brasileiro afirmou que as ações humanitárias na região não podem ser paralisadas e que não é possível uma "punição coletiva".

— No momento em que o povo palestino mais precisa de apoio, os países ricos decidem cortar ajuda humanitaria para agência da ONU para os refugiados palestinos. As recentes denúncias contra funcionários da agência precisam ser devidamente investigadas, mas não podem paralisá-las. Refugiados palestinos na Jordânia, na Síria e no Líbano também ficarão desamparados. É preciso pôr fim a essa desumanidade e covardia. Basta de punições coletivas.

Sob investigação

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, anunciou a criação de um comitê independente para avaliar a "neutralidade" da sua Agência para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês), cujos funcionários foram acusados por Israel de estarem envolvidos no ataque do Hamas em 7 de outubro. O Estado judeu afirmou que seu governo planeja levar ao comitê provas que ligam a agência ao "terrorismo".

A UNRWA anunciou que pode ser forçada a encerrar suas operações até o fim do mês, após mais de uma dúzia de países — incluindo os Estados Unidos, a Alemanha, o Reino Unido e a Suécia, que estão entre seus principais doadores — terem suspendido o seu financiamento. A agência também está presente na Cisjordânia, no Líbano, na Síria e na Jordânia.

Segundo a ONU, nove funcionários foram imediatamente identificados e demitidos, um foi confirmado como morto, e outros dois ainda passam pela identificação do nome.

Entenda a crise

A UNRWA enfrenta uma grande controvérsia desde que Israel denunciou que vários funcionários da agência participaram do ataque terrorista do Hamas há quase quatro meses, que deixou 1,2 mil mortos e 250 pessoas como reféns, segundo as autoridades israelenses. A acusação levou o chefe da agência, Philippe Lazzarini, a anunciar a demissão de "vários" funcionários, afirmando que qualquer agente envolvido em atos de terrorismo ria “responsabilizado, inclusive através de processo criminal”. António Guterres, secretário-geral da ONU, afirmou estar "horrorizado com a notícia" e disse ter pedido a Lazzarini que investigasse o assunto "rapidamente", segundo a BBC.

Um dossiê fornecido ao governo americano, revisado pelos jornais americanos New York Times e Wall Street Journal, detalha as alegações de Israel e lista os nomes e cargos dos funcionários da agência, assim como as respectivas acusações. Entre os que foram apontados como envolvidos, sete seriam professores em escolas administradas pela agência, dois seriam funcionários das instituições de ensino, mas em outras funções, e um seria balconista, outro assistente social e o último chefe de almoxarifado. Eles teriam sido identificados pelo rastreamento de seus celulares.

No mesmo dia do anúncio da demissão, os Estados Unidos, principal financiador da UNRWA, comunicaram a suspensão do financiamento à agência. O país enviou várias centenas de milhões de dólares no ano passado e US$ 340 milhões em 2022.

Desde então, Austrália, Reino Unido, Canadá, Itália, Holanda, Alemanha, Finlândia, França, Japão, Romênia, Estônia, Islândia, Suécia e Áustria seguiram a decisão do governo americano. A UE afirmou que não está previsto "nenhum financiamento adicional para a UNRWA até o final de fevereiro". Já a Suíça anunciou que só realizará os pagamentos que ainda não foram feitos e estão planejados para este ano quando tivesse mais informações sobre as acusações.

A UNRWA fornece há décadas uma série de serviços sociais à população de Gaza — altamente dependente de ajuda humanitária de organizações internacionais — construindo e operando escolas, abrigos e clínicas médicas, gerando empregos, e através da distribuição de água, alimentos e medicamentos. "A UNRWA é a espinha dorsal de toda a resposta humanitária em Gaza", declarou Guterres.

Mas, a agência sempre esteve envolvida em atritos com Israel, que a acusa de estar "totalmente infiltrada pelo Hamas" — afirmação rejeitada pela agência. O país há muito questiona a atuação da UNRWA, vinculada ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), e classifica seus métodos como antiquados, sobretudo o fato de ela oferecer o status de refugiado a todos os palestinos, mesmo os que não estão instalados em campos de refugiados. Para o governo israelense a medida prolonga a guerra de independência de 1948 e legitima o chamado "direito ao retorno" por gerações

Após o anúncio das demissões e a suspensão do financiamento em massa por parte de vários países, o Estado judeu apelou à agência humanitária que interrompa o seu trabalho após o término da guerra.

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