O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou nesta sexta-feira a destituição de todos os chefes regionais de recrutamento militar do Exército ucraniano e a abertura de investigações criminais contra eles diante de suspeitas de recebimento de propina para facilitar a evasão de possíveis convocados, incluindo o transporte deles para fora do país.
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“Este sistema [de recrutamento] deve ser administrado por pessoas que sabem exatamente o que é a guerra e por que o cinismo e o suborno durante a guerra são traição”, disse Zelensky em um vídeo compartilhado pelo Telegram. “Os soldados que passaram pela linha de frente ou que não podem estar nas trincheiras porque perderam a saúde, os membros, mas preservaram a dignidade e não têm cinismo, são os que podem ser encarregados desse sistema de recrutamento.”
A medida é a mais recente tentativa do governo ucraniano de fechar o cerco à corrupção no país em guerra, descrita muitas vezes pela imprensa internacional como "um mal endêmico". De acordo com o presidente, foram abertas 112 investigações criminais contra os recrutadores após uma inspeção feita por órgãos anticorrupção, pelos serviços de segurança (SBU) e pelo Ministério Público.
Zelensky disse, no pronunciamento desta sexta, que combater a corrupção é uma prioridade, detalhando que irregularidades foram identificadas em regiões tão variadas quanto Donetsk, Poltava, Vinnitsia, Odessa e Kiev.
"Enriquecimento ilegal, legalização de fundos obtidos ilegalmente, lucros ilícitos, transporte ilegal dos recrutas através da fronteira. Nossa solução: demitimos todos os comissários militares", anunciou Zelensky.
No início desta semana, a Agência de Investigação do Estado da Ucrânia já havia informado a abertura de inquéritos relacionados ao recrutamento. O chefe do Centro Territorial de Recrutamento e Apoio Social do Distrito de Kiev, cujo nome não foi identificado, foi detido sob acusação de participar de um esquema em grande escala para produzir documentos fictícios, alegando que homens em idade de recrutamento eram incapazes de servir e permitindo-lhes deixar o país — por um suborno de US$ 10 mil cada (cerca de R$ 49 mil).
Com poucas exceções, homens entre 18 e 60 anos não têm permissão para deixar o país desde a invasão em grande escala da Ucrânia. A Guarda de Fronteiras do Estado disse que alguns são presos todos os dias ao tentar cruzar a fronteira.
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Os índices de corrupção na Ucrânia são um dos fatores apontados pela União Europeia como barreira para a entrada no bloco. Durante a guerra, alguns casos emblemáticos envolvendo autoridades do alto escalão do poder público foram revelados, como a prisão por corrupção do presidente da Suprema Corte de Justiça e a prisão preventiva de um coronel por suspeita de que teria gastado 4 milhões de euros para comprar uma casa de luxo na Espanha em plena invasão russa.
Apesar disso, a iniciativa anticorrupção direcionada às autoridades envolvidas com o processo de recrutamento coincide com um momento em que analistas militares começam a apontar uma possível preocupação com a reposição de homens no front ucraniano — algo diretamente afetado pelas supostas evasões facilitadas pelos oficiais.
Zelensky afirmou que o general Valery Zaluzhnyi, comandante chefe das Forças Armadas, será o responsável por coordenar o processo de substituição dos funcionários destituídos. Ele contará com o apoio do SBU para inspecionar os novos indicados.
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