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Por Ana Rosa Alves

Kremlin do lado, Kiev do outro e um mundo no meio, calculando quais alianças e compromissos compensam mais. Alguns poucos países, todos com má relação com o Ocidente, juntaram-se aos russos. A ampla maioria do mundo condena formalmente a guerra na Ucrânia, mas não se convence com o argumento das potências ocidentais de que mais ajuda é necessária para os ucranianos recuperarem o território perdido. Nada, contudo, é preto no branco.

Um primeiro passo para entender o tabuleiro é olhar para a votação na Assembleia Geral da ONU em 23 de fevereiro, véspera do primeiro aniversário da invasão. A resolução para que os russos deixassem o território ocupado teve o endosso de 141 países. Já 32 nações, incluindo as gigantes Índia e China, abstiveram-se, e outras sete votaram contra (se você está acessando pelo app, veja aqui).

Um voto favorável à medida não vinculante no fórum da ONU, entretanto, não passa de um apoio simbólico: por trás do placar alto, há um leque de posições que vão do endosso incondicional à neutralidade prática. Entre os mais fiéis, Estados Unidos, Reino Unido e boa parte dos Estados-membros da União Europeia (UE). Nos mais hesitantes, fatia significativa de um Sul Global que teme os impactos de um rompimento total com a Rússia.

Só nos primeiros 12 meses de guerra, segundo o levantamento feito pela organização alemã Instituto Kiel para a Economia Mundial, o apoio militar à Ucrânia foi de US$ 94,27 bilhões. Para fins comparativos, o Produto Interno Bruto (PIB) ucraniano foi de US$ 200 bilhões em 2021, o ano derradeiro antes da guerra.

São as armas de tecnologia avançada ocidentais que sustentam os esforços de Kiev, cujo arsenal soviético praticamente se esvaiu no início da guerra. Foram milhares de projéteis, artilharia, sistemas de defesa antiaérea e blindados. O medo de coberligerância impunha uma linha vermelha a tanques, caças e mísseis de longo alcance, que nos últimos meses foi aliviado. Até o momento, contudo, apenas os britânicos cederam os mísseis desejados pelo presidente Volodymyr Zelensky.

O ranking de ajuda militar é liderado com folga pelos americanos, que até aquele momento já haviam destinado US$ 49,8 bilhões à causa, quantia que já aumentou em alguns bilhões com auxílios posteriores. Em segundo lugar consta a soma das nações da União Europeia e as instituições do bloco, com compromissos que em fevereiro chegavam a US$ 20,6 bilhões. O terceiro lugar é do Reino Unido.

Quase todos os 20 maiores contribuintes militares são europeus, sinal da preocupação continental com a guerra em sua vizinhança — temor particularmente aguçado em antigas repúblicas da Cortina de Ferro, como a Polônia e a República Tcheca. Também constam na lista Canadá e Japão, países integrantes do Grupo dos Sete (G7), e aliados como a Austrália.

Juntamente com a ajuda militar, destinam para o país de Zelensky auxílio financeiro — modalidade na qual as instituições europeias são líderes — e humanitário na casa dos bilhões. Há também uma enxurrada de sanções encabeçadas pelos ocidentais que almejam minar as capacidades russas de financiar a guerra. Englobam de pessoas a semicondutores e combustíveis russos, por exemplo.

Além dos integrantes da UE e do G7, aplicam as medidas econômicas representantes de outras nações europeias, além de aliados como Taiwan, Nova Zelândia e Coreia do Sul. O grupo que soma cerca de 40 integrantes, contudo, não consegue convencer a vasta maioria de Estados que votaram para condenar a invasão a tomar medidas mais contundentes.

Complica o fato de muitas nações não terem programas autônomos de sanções e só aderirem às medidas que passarem pelo crivo da ONU, como é o caso de países como o Brasil e Indonésia. Como um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, entretanto, a Rússia tem poder de veto e inviabiliza que isso aconteça.

Longe de apoiarem Putin, muitos desses países hesitantes, em especial os mais pobres, veem os impactos da guerra no preço dos alimentos e dos combustíveis como dissuasores. A opinião pública em seus respectivos territórios também dificulta maiores comprometimentos, frente à fadiga natural de um conflito que já dura 15 meses e o distanciamento que vários deles têm da guerra, vista como um imbróglio exclusivamente russo e europeu. Seus interesse próprios, via de regra, falam mais altos.

Neste grupo há também nações como o Brasil, que, apesar de condenarem a invasão no papel, posicionam-se como neutras e defendem uma saída negociada, sem descartar que a Ucrânia seja forçada a ceder território aos russos. O plano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é criar um clube da paz para intermediar um cessar-fogo, mas no fim de semana perdeu uma oportunidade de se encontrar com Zelensky às margens da cúpula do G7.

A Turquia, por exemplo, classifica a política de ambos lados como “baseada em provocações”. Já a Arábia Saudita prometeu uma doação humanitária à Ucrânia no valor de US$ 400 milhões, apesar de coordenar ao lado dos russos a Opep+, aliança de nações ricas em petróleo.

Há também as 32 nações que oficialmente se abstiveram no voto de fevereiro, grupo formado principalmente por Estados africanos e asiáticos — entre eles, destacam-se Índia, China e África do Sul. Dos Brics, portanto, o Brasil foi o único a condenar de forma explícita a invasão.

Críticos afirmam, no entanto, que a abstenção de Índia e China, em particular, equivaleria a um apoio tácito ao Kremlin. Ambos aumentaram significativamente suas trocas comerciais com os russos, compensando em parte o impacto das sanções impostas pelo Ocidente.

Só no ano passado, o comércio sino-russo chegou a US$ 109 bilhões. O fluxo de gás natural importado pelo gasoduto Poder da Sibéria aumentou ao menos 50% no ano passado, segundo a Gazprom. No primeiro quadrimestre deste ano, o aumento do comércio bilateral foi de 38,7% em comparação com o mesmo período do ano passado, equivalendo a US$ 53,48 bilhões.

A situação indiana é parecida, com o comércio bilateral atingindo o recorde de US$ 44 bilhões no ano passado. Em uma reunião bilateral com Lula às margens do G7, o primeiro-ministro Nadrendra Modi disse que ambos países não são neutros em relação à guerra na Ucrânia e sim interessados na manutenção da paz.

Os americanos afirmam que a África do Sul deu armas e munição para a Rússia, com o embaixador dos EUA no país afirmando que um navio carregando-as zarpou da Cidade do Cabo em dezembro. O governo sul-africano — que perto do aniversário da guerra participou de exercícios navais com russos e chineses — nega que este seja o caso e abriu uma investigação para apurar as denúncias.

O apoio explícito à Rússia é pequeno, o que facilita mapeá-lo. No voto na ONU de três meses atrás, apenas Bielorrússia, Eritreia, Mali, Coreia do Norte, Nicarágua e Síria juntaram-se a Moscou para repudiar a resolução.

O regime sírio, que busca se reabilitar no cenário internacional após mais de uma década de guerra civil, sobreviveu em parte devido a uma intervenção russa. Isolada e antagonista no cenário global, Pyongyang vê o alinhamento com Moscou como um colete salva-vidas. Segundo os americanos, a Coreia do Norte enviou armas e munições para os russos e para os mercenários do Wagner.

Em março, Washington afirmou que os russos estariam negociando com Pyongyang o envio de armas em troca de alimentos e commodities para aliviar a fome no país. Qualquer acordo desse tipo com os russos violaria resoluções da ONU que impedem os norte-coreanos de exportar ou comprar armas de outros países.

A motivação iraniana, cuja economia é asfixiada pelas sanções dos Estados Unidos, é similar. Segundo estimativas ocidentais, Teerã já forneceu mais de 1,7 mil drones kamikazes para o Kremlin, cujo uso em ataques contra o solo ucraniano vêm sendo frequentes.

O Mali, que havia optado pela abstenção em suas votações prévias na ONU sobre a Ucrânia, mudou de lado após receber assistência militar do Kremlin. Mercenários do Wagner, o grupo paramilitar, já haviam antes sido enviados para o país com a missão de lutar contra rebeldes islâmicos após um golpe de Estado.

A Eritreia também estreitou as relações com Moscou para driblar as restrições econômicas. Quem também tendeu para a esfera russa foi a Nicarágua, historicamente próxima de Moscou e com quem os russos têm um pacto de segurança.

Já a vizinha Bielorrússia é talvez a mais próxima de Moscou: o presidente Alexander Lukashenko, que governa ininterruptamente desde 1994, é um grande aliado do presidente russo, Vladimir Putin. O Kremlin anunciou em março planos de enviar armas nucleares para a nação fronteiriça com a Ucrânia e afirmou treinar pilotos bielorrussos para usá-los. Há armas convencionais e soldados russos no país vizinho, que ainda assim hesita em se envolver de forma mais direta.

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