Por Malu Gaspar

Itamaraty tenta conversa de Maduro e González com Lula e líderes do México e da Colômbia

Conversas devem ocorrer de forma separada até o final de semana e têm o objetivo de enviar dois recados


Da esquerda para a direita: o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; o candidato oposicionista à presidência da Venezuela, Edmundo González; o ditador venezuelano, Nicolás Maduro; o presidente da Colômbia, Gustavo Petro e o do México, Andrés Manuel López Obrador Fotos de Rodrigo Arangua/AFP, Raul Arboleda/AFP, Juan Barreto/AFP, Luis Acosta/AFP e Presidência do México

O chanceler Mauro Vieira está trabalhando nos últimos dias para coordenar uma conversa entre Lula e os presidentes do México e da Colômbia com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o oposicionista Edmundo González Urrutia para tentar iniciar uma negociação de fato em torno de uma solução para a crise venezuelana.

De acordo com diplomatas envolvidos nessa tentativa, as conversas ocorreriam de forma separada até o final da semana e teriam como objetivo enviar dois recados e fazer uma pergunta aos dois. Ainda falta obter uma resposta positiva de ambos.

Tanto Nicolás Maduro como Edmundo González reivindicam a vitória na eleição presidencial de 18 de julho. O presidente da Venezuela, porém, não apresentou atas que comprovem os números divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral, controlado por seu governo.

Já a oposição conseguiu copiar e digitalizar pouco mais de 81% das atas eleitorais, que equivalem a boletins de urnas, segundo as quais o oposicionista ganhou a eleição com 67% dos votos contra 30% de Maduro.

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O primeiro recado dos presidentes Gustavo Petro (Colômbia), Andrés Manuel López Obrador (México) e Lula será destinado a Maduro e dirá que os três países não abrem mão da divulgação dessas atas para a verificação "imparcial" dos resultados. Do contrário, não reconhecerão a vitória do ditador

Contra radicalização

A segunda mensagem, destinada aos dois, será um aviso de que qualquer radicalização de posições impediria uma atuação da diplomacia desses países por uma solução negociada. Em outras palavras, os presidentes dirão tanto ao ditador quanto ao oposicionista que, se houver uma escalada do conflito e da violência, eles serão obrigados a se retirar do esforço de negociação.

Desde o dia 28, após o CNE proclamar a vitoria de Maduro com 51% dos votos contra 44% de Gonzalez, as ruas das cidades venezuelanas foram tomadas por protestos, reprimidos de forma violenta pelo regime.

Segundo organizações de direitos humanos, 23 pessoas já morreram nos confrontos e mais de mil já estão presas – entre elas 100 adolescentes.

Por isso, a pergunta que os presidentes farão a Maduro é se há de fato uma disposição em abrir um diálogo para que se tente chegar a uma solução negociada. Embora isso hoje pareça pouco provável, dadas as atitudes do ditador venezuelano, no Itamaraty ainda se torce por uma brecha para negociação.

Lula, Petro e López Obrador divulgaram na última quinta-feira (1) uma nota conjunta defendendo que as “controvérsias” sobre o resultado da eleição presidencial sejam resolvidas pela “via institucional” e com a “verificação imparcial dos resultados”.

A iniciativa foi elogiada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, que telefonou para Lula na última segunda (5). Sob pressão, Maduro informou que entregou as atas para a Suprema Corte venezuelana, que é totalmente aparelhada pelo chavismo. Não se trata, portanto, de uma solução que atenda o critério de checagem imparcial demandado pelo Brasil e os outros dois países.

Por outro lado, a divulgação de uma carta assinada por González e pela líder da oposição, María Corina Machado, pedindo para que as instituições do país vizinho “procedam” a proclamação do candidato de oposição como presidente eleito, serviu como um banho de água fria para os esforços do Itamaraty por uma “saída negociada” para a crise.

Em resposta, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, anunciou a abertura de um inquérito criminal contra González e María Corina por instigação à insurreição e à desobediência de leis, além de “usurpação de funções”, “disseminação de informações falsas” e conspiração.

Na semana passada, o ditador venezulano disse em um pronunciamento à imprensa que os dois opositores deveriam “ser presos”, e María Corina afirmou temer pela sua vida em um artigo publicado no The Wall Street Journal.

Depois disso, Maduro pediu para conversar com Lula pelo telefone. Mas o brasileiro não atendeu e agora tenta fazer um telefonema incluindo os três presidentes.

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