Foi difícil para o torcedor do Botafogo não conter a euforia com a vitória por 3 a 0 sobre o Atlético-MG e a nova aproximação da ponta da tabela. Em meio ao frenesi, coube ao técnico Artur Jorge trazer um pouco de racionalidade e, na contramão das expectativas, afirmar que ainda é cedo para jogar sobre o time o rótulo de candidato ao título. Mas, afinal, entre o oba-oba de um lado e o excesso de cautela do outro, qual o papel do alvinegro no Brasileirão deste ano, tendo em vista o que ele já entregou e o que ainda pode apresentar?
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Na comparação com o ano passado, o Botafogo faz uma largada mais sóbria. Está longe da arrancada avassaladora com 39 pontos conquistados de 45 possíveis (e 12 à frente do primeiro perseguidor). Mas a campanha de 2023 foi tão fora da curva — seja no momento de ascensão, seja no de queda — que não serve como parâmetro. Se atualmente o time de Artur não lidera, seus 30 pontos somados o deixam a apenas um do líder Flamengo. Ou seja: a apenas uma rodada de distância da ponta da tabela.
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Alguns números mostram que o Botafogo não ocupa o pelotão da frente à toa. Na produção ofensiva, por exemplo, tem os mesmos 26 gols que contabilizava nesta altura do campeonato em 2023. O ataque é o segundo melhor do campeonato, com um gol a menos do que o Flamengo.
O número chama mais atenção pelo fato de a equipe de Artur Jorge não estar entre as que mais levam perigo ao gol adversário. A média de 11,9 finalizações por jogo, segundo o site Sofascore, é a quarta pior do campeonato. Ou seja: apesar de não chutar tanto quanto seus concorrentes, o Botafogo é altamente eficiente em suas conclusões.
Para se ter uma ideia, o Palmeiras é o time que mais finaliza por partida, com média de 19,1 vezes. Ainda assim, é apenas o quinto em gols marcados, com 22. Na comparação entre as duas equipes, a eficácia alvinegra fica evidente. Enquanto o Botafogo balança as redes a cada sete conclusões, o clube paulista precisa de quase o dobro de tentativas (13) para fazer o mesmo.
Mas talvez seja defensivamente que a “sobriedade” em relação à campanha de 2023 fica mais evidente. O Botafogo sofreu o dobro de gols em relação à mesma quantidade de jogos no Brasileiro do ano passado; foram 14 contra sete. Mas isso não é motivo de preocupação, pois trata-se do terceiro menos vazado da edição atual.
A liderança neste quesito é do Palmeiras, que faz da solidez defensiva sua grande arma para estar na parte de cima da tabela. O time de Abel Ferreira só sofreu 11 gols e passou oito das 15 rodadas sem ser vazado. Já o Botafogo conseguiu ficar intacto em cinco partidas. Ou seja: um terço do total, o que também aponta para um trabalho bem feito.
E ainda há um detalhe importante. Se não empolga num grau tão alto como o do no ano passado, a campanha atual ainda tem muita margem para progresso. A ausência de grandes destaques, uma marca até aqui, torna o time menos dependente de jogadores específicos, como ocorreu em 2023 com Tiquinho Soares e Eduardo. Mas é inegável que crescimentos individuais podem acrescentar ao coletivo.
O que não falta são nomes com potencial para ganhar mais protagonismo ao longo dos próximos jogos. Como Luiz Henrique, que parece mais adaptado seis meses após sua chegada, e os próprios Eduardo, que voltou a subir de produção após período de oscilação e lesões, e Tiquinho, que sofreu com problemas extracampo.
Isso sem contar os três reforços já certos para o restante da temporada: o centroavante Igor Jesus, o volante Allan e o meia-atacante Thiago Almada — estes dois cercados de expectativa para que assumam a titularidade. O desafio aqui é fazer com que a adaptação dos recém-chegados não atrapalhe o time.
Outro desafio é o fato de que esta realidade com apenas um campeonato não durará muito tempo. A partir da segunda quinzena, as atenções voltam a ser divididas com a Copa do Brasil e a Libertadores. Manter-se altamente competitivo no Brasileiro com o retorno do mata-mata pode ser o teste final para sabermos qual o rótulo certo a ser dado ao Botafogo de 2024.