O Festival LED terminou ontem sua terceira edição com discussões que envolveram do bebê ao vovô e um novo recorde de público. Em dois dias, 6,5 mil pessoas passaram pelo evento, 1,5 mil a mais do que no ano passado. Realizado pela Globo e Fundação Roberto Marinho, em parceria com a Editora Globo, o Festival LED tem apoio da Prefeitura do Rio e Secretaria Municipal de Educação e da Fundação Bradesco.
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O dia começou com os vários questionamentos feitos com toda a simpatia e encanto do líder indígena Ailton Krenak, imortal da Academia Brasileira de Letras.
— Não podemos reduzir a educação ao conceito ocidental de ensinar a ler e apertar botão. Como diria Paulo Freire, devemos nos afastar de uma educação bancária — disse Krenak.
Baseado na experiência comunitária típica de comunidades indígenas, Krenak avaliou que a criança tem muito a aprender nos quintais de casa e teme que o tempo na escola rompa o vínculo com a família e a vizinhança. Ele lembra que aprendeu da sua ancestralidade que os títulos da academia são menos importantes do que o conhecimento da experiência vivida.
— Fala-se da escola como sinônimo de educação. Escola é um prédio. Se não for ninguém lá, é um prédio vazio. Mas é um caixote. A educação acontece em outro plano, na identidade, na hereditariedade, no parentesco, na herança ancestral — afirmou.
A sabedoria do que se viveu também foi tema do encontro “Quantas vidas uma vida tem? Um papo sobre longevidade e a arte de se reinventar”, em que Layla Vallias, coordenadora de estudos de longevidade da Fundação Dom Cabral, lembrou que o futuro terá menos crianças e mais pessoas acima de 50 anos. O encontro, com mediação de Renata Ceribelli também teve participação do jornalista Fernando Gabeira e da atriz, bailarina e palestrante Mona Rikumbi.
— A tradição africana nos ensina que o velho não é o usado, não é o ruim. O velho é o sábio. E é importante fazer uma troca com os jovens. A escola precisa estar aberta para todas as idades. Vamos plantar juntos, comer juntos, vivendo no coletivo e entendo que é assim que vamos mudar — afirmou Mona Rikumbi.
Dados para educação
O evento ainda teve encontros sobre a educação de garotos para um futuro menos machista; um encontro de Felipe Neto com a Pequena Lô e o professor Jayse Ferreira, escolhido um dos melhores do mundo, para discutir os impactos de influenciadores digitais na juventude; e uma conversa entre o ator de “Macacos” Clayton Nascimento, o premiado autor de “O Avesso da Pele” Jeferson Tenório e a atriz Vilma Melo, com mediação da apresentadora Rita Batista, sobre quem faz história por um futuro antirracista.
— Vivemos um momento histórico onde o trabalho da negritude é mais falado, consumido e produzido. Cada vez mais temos assumido personagens protagonistas, e isso é um processo histórico. Os livros, filmes e peças escritos e que abordam as vivências da população preta já são cobrados nas escolas. Só a educação é capaz de ir contra o racismo — afirma Nascimento.
No LED Dialoga, palco no Museu de Arte do Rio criado para aprofundar diferentes discussões, os interessados em análise educacional tiveram uma aula sobre dados com Ernesto Martins Faria, fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).
— Os indicadores da educação, em especial o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), dão um panorama sobre o nível da educação básica no país. A proposta é contribuir com diagnóstico das desigualdades educacionais; mapeamento de boas práticas de redes de ensino e escolas; e atuação para que indicadores e avaliações tenham mais significado para tomar decisão.
Ledinho
Novidade neste ano, o Ledinho foi criado na Praça Mauá para ser um espaço voltado para crianças desenvolvido em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. A programação também contou com a participação da autora de livros infanto-juvenis Thalita Rebouças e com uma conversa a respeito da primeira infância.
— É importante conversar com a criança, contar uma história sua, o seu dia. Tem que ser uma coisa natural enquanto come, toma banho. Isso cria relação, vínculo — afirmou Sarah Maia, especialista em desenvolvimento infantil da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.