As sinalizações positivas para o governo Lula indicadas na nova pesquisa Datafolha divulgada nesta semana se distribuíram pelas cinco regiões do país, mas tiveram maior intensidade no Sul. Pela primeira vez desde o início da atual gestão petista, o resultado numérico de avaliações “bom” e “ótimo” (36%) entre os sulistas supera o de “ruim” e “péssimo” (33%), ainda que dentro da margem de erro — que para a região é estimada em seis pontos percentuais para mais ou menos. Até março, só os resultados do Nordeste produziam um gráfico em que a linha da aprovação aparece acima da que indica reprovação.
Em relação ao levantamento anterior, as avaliações positivas do governo no Sul tiveram variação de seis pontos, passando de 30% para 36%. Já a taxa dos insatisfeitos oscilou para baixo, de 40% para os atuais 33%. Embora essa variação tenha se dado dentro da margem de erro, a intensidade dessa mudança indica ser maior a probabilidade de se tratar de queda real.
Dentro do governo houve comemorações pelos resultados da pesquisa e existe o entendimento de que essa possível melhora no Sul se deve às ações federais no socorro ao Rio Grande do Sul após as enchentes que atingiram o estado. O ministro da Secretaria Especial de Reconstrução do RS, Paulo Pimenta, celebrou nas redes sociais o que chamou de “crescimento da aprovação” horas depois de afirmar que “na hora da dificuldade, Lula não soltou a mão do povo gaúcho”.
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Para o professor de ciência política Daniel de Mendonça, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), os dados indicam “boa repercussão” das ações emergenciais do governo federal, mas é preciso aguardar as próximas pesquisas para constatar se de fato essa melhora se consolida.
— O presidente veio três ou quatro vezes ao estado no meio da tragédia e houve uma ação muito clara do governo em auxiliar o Rio Grande do Sul. Essas mudanças indicadas pela pesquisa em relação ao Sul têm muito mais a ver com os gaúchos, porque Paraná e Santa Catarina ainda são muito reticentes ao PT — analisa.
As ressalvas dos sulistas em relação a Lula são anteriores ao início de seu terceiro mandato na Presidência. No segundo turno da eleição de 2022, o petista obteve só 38,2% dos votos válidos na região na disputa contra Jair Bolsonaro (PL), seu pior resultado dentre as cinco regiões.
Pimenta ganha força
Daniel de Mendonça avalia que ainda é cedo para fazer projeções sobre os impactos dessa maré positiva para o governo nas eleições municipais de outubro. O professor, contudo, diz que os resultados até aqui dão força a Paulo Pimenta, possível candidato ao governo gaúcho em 2026:
— Situações extraordinárias podem ser também uma grande oportunidade ou a ruína de uma estratégia política. O ministro tem aparecido muito nos meios de comunicação do estado, e seu futuro dependerá não só de sua habilidade política, mas do que ele de fato vai conseguir angariar via ações do governo federal.
Apesar de sinalizarem maior satisfação com o governo federal, os sulistas demonstram pessimismo acima da média com a economia. São 24% dos moradores da região os que acham que a situação econômica do país melhorou nos últimos meses, taxa numericamente inferior à média nacional, de 27% — percentual que é puxado para cima pelo Nordeste, onde 40% veem melhora. Quando perguntados sobre o próprio futuro financeiro, 36% dos moradores do Sul projetam piora nos próximos meses, enquanto em todo o país essa resposta é comum a 28%.
O Sul abriga cerca de 15% do eleitorado e é a terceira região mais populosa do país. No Sudeste, primeiro do ranking, a aprovação do governo se manteve estável em 31%, enquanto a taxa de avaliações “ruim” ou “péssimo” variou de 37% para 36% desde março. No Nordeste, o percentual de “bom” e “ótimo” estacionou em 48% e a taxa de reprovação oscilou um ponto para baixo, de 20% para 19%.
O Datafolha entrevistou presencialmente 2.008 eleitores de 16 anos ou mais em 113 municípios brasileiros, no período de 4 a 13 de junho. A margem de erro geral da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou menos, para um nível de confiança de 95%.