Míriam Leitão
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GERADO EM: 25/06/2024 - 04:30

Incêndios no Pantanal: Urgência na proteção dos ecossistemas brasileiros

O Pantanal está em chamas devido ao desmatamento, conversão de áreas para agricultura e pecuária, e mudanças no regime de águas. O desmatamento na Amazônia e no Cerrado também contribuem para a destruição do bioma, evidenciando a interdependência dos ecossistemas brasileiros. Medidas urgentes são necessárias para proteger o Pantanal e evitar danos irreversíveis.

"O Pantanal está secando. Literalmente secando”, diz o engenheiro florestal e ambientalista Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. São várias as razões, todas ligadas ao desmatamento e à conversão de áreas para a agricultura e pecuária. Estamos longe do período em que geralmente há incêndio, o normal é que seja lá para agosto ou setembro. Por que está batendo recorde de focos de calor antes da época? Porque este ano não teve cheia. O regime de águas no bioma das águas está mudando. Isso está conectado com o que acontece em outros biomas.

O MapBiomas monitora tudo o que ocorre em todos os biomas brasileiros, e tem um banco de dados que recua até 1985. Está preparando um relatório sobre a superfície das águas, que deve ser divulgado hoje, com a informação de que a cobertura de água no bioma está 61% abaixo da média histórica. O que está destruindo o Pantanal é a união explosiva de três eventos predatórios:

—A corrente de água que vem da Amazônia, os chamados rios voadores, está diminuindo por causa do desmatamento na região. Outro problema é que no planalto, no entorno do Pantanal, muitas áreas estão sendo convertidas em pastagem ou em campos de soja. E isso aumentou muito o assoreamento da Bacia do Paraguai, porque está vindo muito sedimento. Tanto que o Pantanal está ficando mais raso. E tem um terceiro problema que é a destruição do pasto natural para ser substituído pelo pasto plantado — diz Tasso.

O desmatamento da Amazônia faz chover menos no Pantanal. A destruição do Cerrado, no entorno do Pantanal, pela pecuária e para a produção de soja, afeta os rios da Bacia do Alto Paraguai. O pasto do bioma, que tem um ritmo natural, é retirado para dar lugar ao capim plantado exótico, que tem outro regime totalmente diferente. É assim que o país está destruindo o Pantanal.

— O pasto no Pantanal nativo alaga e depois desalaga, por isso os bois se moviam tanto, no tradicional pastoreio em caravanas — explica.

O engenheiro agrônomo Eduardo Reis Rosa, coordenador do bioma Pantanal no MapBiomas, explica que a especulação imobiliária tem gerado essa troca do pasto nativo pelo pasto plantado com capim exótico.

—O cara vai lá e compra uma propriedade com vegetação natural. Desmata, ganha dinheiro com o desmatamento. Coloca uma pastagem degradada, exótica, mal manejada. Depois vende a propriedade por quatro vezes mais porque a área é declarada como produtiva. Então, ele vai para outra área de vegetação nativa para fazer o mesmo — diz Rosa.

Todo esse desmatamento, essa destruição da vegetação nativa própria de área alagada, e substituição por capim plantado não é ilegal. Nessa região, os proprietários têm autorização para desmatar 80% da área, segundo Rosa.

No planalto do entorno há cidades que são campeãs de desmatamento, como Rondonópolis, área agrícola forte, ou Cuiabá e Campo Grande, que são outra pressão contra o bioma. O que os especialistas explicam é que toda a Bacia do Alto Paraguai está sofrendo os efeitos do desmatamento.

O governo reuniu ontem a Sala da Situação, na Casa Civil, com 19 ministérios, para saber como agir. O governador do Mato Grosso do Sul decretou emergência nos 24 municípios afetados pela estiagem. Neste mês de junho, o número de queimadas está batendo recorde e existem 627 mil hectares destruídos pelo fogo. A região de Corumbá está ardendo há vinte dias. O dramático é tudo acontecer, nesse nível de gravidade, sem ter entrado ainda na temporada de secas.

Tudo está conectado, o que acontece no Cerrado e na Amazônia seca o Pantanal. Mas há mais ligação entre áreas do Brasil do que se imagina.

— Essa falta de água explica muito a chuva no Rio Grande do Sul. A seca e o calor na Região Sudeste fizeram com que a chuva ficasse aprisionada no Sul. Tem mais água vindo do Sul porque o oceano está mais quente do que nunca, e, com isso, evapora mais água. Aí tem mais água na atmosfera e ela não consegue vir para os outros estados, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, sul da Bahia. Ao invés de chover nesses estados, choveu tudo no Rio Grande do Sul — explicou Tasso.

A proteção ambiental tem que ser em todos os biomas, porque o efeito de um sobre o outro mostra que eles são interdependentes. É uma só natureza. Ela não tem fronteiras.

(Com Ana Carolina Diniz)

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