Malu Gaspar
PUBLICIDADE
Malu Gaspar

Análises e informações exclusivas sobre política e economia

Informações da coluna

A postura cautelosa do Ministério das Relações Exteriores no acompanhamento da crise política na Venezuela, por ora restrita à cobrança da divulgação das atas eleitorais da eleição presidencial do último dia 28 pelo regime de Nicolás Maduro, até agora não resultou em concessões por parte do chavismo e tampouco diminuiu a tensão no país vizinho, onde mais de 2 mil pessoas já foram encarceradas pelo apoio ao oposicionista Edmundo González Urrutia.

Mas o Itamaraty pretende manter a posição de não escalar o tom contra Maduro, alinhada com os governos da Colômbia e do México, até segunda ordem. Oficialmente, o governo Luiz Inácio Lula da Silva tem condicionado o reconhecimento do resultado à apresentação das atas pelo chavismo.

Interlocutores da chancelaria brasileira têm dito nos bastidores e afirmaram à equipe do blog que, se a própria oposição venezuelana adotou como estratégia a cobrança pela divulgação das atas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), resta ao governo brasileiro apenas apoiar.

“A oposição acredita que a insistência nas atas é correta e indicam reiteradamente estar dispostos a negociar uma transição [de poder]. Não podemos ter a pretensão de saber mais do que eles, que decidiram participar desse processo eleitoral”, declarou uma fonte do Itamaraty à equipe do blog sob reserva.

“Se a opção da oposição foi essa, quem se coloca de forma construtiva [na mediação da crise] deve respeitá-la e apoiá-la”, complementou.

Por esse raciocínio, a diplomacia brasileira não poderia atropelar as instâncias internas da política do país se a oposição não endurecer o discurso ou radicalizar sua atuação.

Antecipando a possibilidade do regime chavista forjar os resultados, os opositores se mobilizaram antes da eleição presidencial para coletar as atas eleitorais, espécie de boletim de urna, e conduzir uma apuração paralela. Eles afirmam ter computado 81,7% das atas e projetam uma vitória esmagadora de González com 67% dos votos.

Mas os comprovantes cobrados pelos opositores e pelo Brasil jamais foram divulgados pelo CNE, cujo site continua fora do ar. O regime atribui o problema a uma “guerra cibernética”.

Os documentos são cruciais para auditar o resultado proclamado pela Justiça Eleitoral da Venezuela, que indicou uma vitória de Maduro com 51% dos votos, mas as circunstâncias tampouco sugerem que as atas, caso divulgadas em algum momento, serão fiéis aos votos depositados pelos eleitores venezuelanos.

A leitura no MRE é de que, caso Maduro fraude os comprovantes ou mantenha a recusa a fornecer os documentos, o Brasil sob Lula se distanciará do antigo aliado venezuelano, como o fez no caso da Nicarágua, governada por um regime de exceção liderado pelo ex-guerrilheiro sandinista Daniel Ortega, que já foi próximo do presidente brasileiro.

“Lula está no lado certo da história na Nicarágua. Não pré-julguemos no caso da Venezuela”, argumentou a mesma fonte do Itamaraty.

Nesta segunda-feira, 30 ex-lideranças mundiais divulgaram uma carta em que pedem uma posição mais enfática por parte de Lula no impasse venezuelano. A lista, formada em boa parte por políticos de centro-direita, conta com ex-chefes de Estado ou de governo como Mauricio Macri (Argentina), Iván Duque (Colômbia), Vicente Fox (México) e Mariano Rajoy (Espanha).

Já o presidente da França, Emmanuel Macron, telefonou para Lula também nesta segunda-feira para elogiar a mediação liderada pelo Brasil junto à Colômbia e ao México, países governados pela esquerda que mantinham relações próximas com Maduro, mas ainda não reconheceram os resultados e cobram a divulgação das atas eleitorais.

Mais recente Próxima Dividido, TCU vai julgar se Lula deve devolver relógio de R$ 60 mil recebido de presente