Bagaceira

Bagaceira

A cantora e compositora paraense Dona Onete comemora 85 anos em 2024 com Bagaceira, um convite para dançar e festejar. Seu quarto álbum de inéditas mistura gêneros que fazem parte da sua história, como banguê, brega, carimbó, toada de boi e lambada. “Os ritmos ribeirinhos do interior [do Pará] demoraram a chegar a Belém. Colaboro com esse resgate da nossa cultura regional para que o povo entenda, receba e abrace o nosso carimbó chamegado e as nossas festas originais. Eu sou um produto desses ritmos”, diz Dona Onete ao Apple Music. A artista assina todas as composições e a direção criativa de Bagaceira, acompanhada por músicos que estão com ela desde o começo da carreira, como Félix Robatto e Pio Lobato, representantes da guitarrada paraense. “Eu trago as águas, os costumes e as tradições amazônicas em verso e prosa. A maraca e o banjo se misturam à guitarra e ao trompete. Bagaceira é um cartão de visitas para que todos venham conhecer a beleza cabocla do Pará”, diz ela. A seguir, Dona Onete, conhecida como “a rainha do carimbó chamegado”, comenta as faixas do álbum. Bagaceira “Bagaceira é uma festa muito bonita e gostosa do interior do Pará, mas que já tomou conta da cidade de Belém. E ela tem uma grande diversidade de gêneros latinos, caribenhos e caboclos. O povo se mistura e se alegra. Na música eu falo de um fim de festa em que o pessoal chega de popopô [barco típico da região] ao Ver-O-Peso [mercado público na zona portuária de Belém].” Banguê Latino “Eu já tinha esta música escrita há muitos anos, mas à época eu ainda era iniciante como compositora. Ela fala sobre o sangue latino que sobe à cabeça. Felizes os que têm esse amor. É como eu digo na letra, ‘É muito bom é bom demais/ É tão gostoso o amor que a gente faz’.” Meu Boi Campeou “A música valoriza o boi-bumbá [festa folclórica] e é uma homenagem aos grandes cantadores de boi, como o mestre Fabico e o mestre Piticaia, ambos já falecidos. Quando eu tinha 11 anos, viajava pelo Pará com a minha avó, que era parteira, então tive muito contato com essa cultura, principalmente na Ilha de Marajó. No Pará, quando o boi campeia, ou seja, bate as patas no chão, é sinal de que vai chover forte.” Lunlambumbarimbó (Feat: Felix Robatto) “‘Lun’ de lundu, ‘lam’ de lambada, ‘bum’ de boi-bumbá e ‘rimbó’ de carimbó. Eu misturei essas palavras e o resultado ficou ‘Lunlambumbarimbó’, para dançar na Ilha de Marajó. É uma homenagem às cidades paraenses que têm esses ritmos. Também falo de um vaqueiro marajoara que dança e se veste bonito para montar no cavalo. Ele é pescador, historiador e professor. É também para a cabocla marajoara, que se movimenta linda e graciosa.” Festa no Ver-O-Peso “Esta é uma homenagem às crianças. O urubu e a garça são dois personagens de que os pequenos do Pará gostam muito. O urubu é o melhor gari do mercado Ver-O-Peso. E a dona garça, namorada do urubu, é uma princesa. Tem também a formiga, o rato e a mosca. São cinco personagens, cada um com um ritmo, que fazem uma festa da limpeza no cartão postal de Belém.” Feitiço da Lua “A faixa fala sobre o grande feitiço que a lua tem sobre a gente. Mesmo quando não temos um amor, a gente romantiza e pensa em muita coisa ao olhar para ela. Tudo fica mais lindo quando a lua está perto de uma estrela colorida. Ela é feiticeira e deixa a gente maluca – tem o poder de seduzir. A música foi escrita há mais de 15 anos, quando eu ainda era integrante do Coletivo Rádio Cipó [projeto que valoriza a cultura do Pará].” Curió Cantador “A música relata algo que aconteceu próximo à minha janela. Chegaram dois senhores, um com um curió e outro com uma curiola. Um dia, um senhor abriu a gaiola da curiola, se esqueceu de fechá-la e ela voou. Depois disso, o curió nunca mais cantou. Após muita insistência, o outro senhor resolveu soltar o curió. Então o pássaro saiu, pousou em um muro e voltou a cantar.” Chamego Caboclo “A faixa traz o requebrado da mulher do Pará – ela anda nas ondas e no ar. Por isso eu canto, ‘Fala caboco, de onde vem esse chamego tão louco/ Vem do tamaquaré/ Da bota que vira mulher/ Do boto que vira homem/ Daquelas coisitas que põe no café/ Rabo de jiboia, do dente de jacaré’. Ela aborda as superstições que nós temos aqui. Usamos muitas proteções contra o mau-olhado.” Paixão Cabocla “A faixa retoma lembranças do primeiro show grande que eu fiz com o Coletivo Radio Cipó. Foi em uma feira para cerca de 8 mil pessoas em Brasília, onde, pela primeira vez, eu coloquei uma flor no cabelo, que depois viraria a minha assinatura. Ela fala sobre a paixão cabocla, que é muito louca. Só quem já viveu um amor no Pará sabe como isso acontece.” Avesso do Avesso “É uma história doida que eu escrevi depois de terminar um casamento. A música fala sobre uma pessoa que tem duas caras. Para você ela diz uma coisa e para o outro ela diz outra. Você pode ser bonito e atraente, mas mesmo assim pode levar um chifre. Acho que muita gente vai se identificar com isso.”

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