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    Hist�ria do Google Glass tem trai��o amorosa e erros de estrat�gia

    NICK BILTON
    DO "NEW YORK TIMES"

    09/02/2015 11h17

    Esta � uma hist�ria que envolve muita intriga p�blica, uma tecnologia vest�vel futur�stica, um laborat�rio secreto, modelos de moda, paraquedistas e um tri�ngulo amoroso no escrit�rio que p�s fim ao casamento de um bilion�rio. � a hist�ria do Google Glass.

    Antes de come�ar, essa � a parte da hist�ria em que eu provavelmente deveria explicar o que � o Google Glass. Mas nem preciso. O Google Glass n�o chegou ao mundo despercebido. Em lugar disso, explodiu nele com toda a pompa e aten��o normalmente reservadas a um Apple iQualquercoisa.

    Desde que foi lan�ado, em 2012, o Google Glass vem sendo visto como O aparelho, objeto obrigat�rio de desejo de todo mundo, de nerds e presidentes de empresas a chefs de cozinha e profissionais da moda. Era o brinquedinho compuls�rio que ditaria o padr�o para uma nova classe de computadores vest�veis.

    A revista "Time" o apontou como uma das "melhores inven��es do ano". O aparelho foi alvo de um artigo de 12 p�ginas na revista "Vogue". Um epis�dio de "Os Simpsons" foi dedicado ao Google Glass, ainda que Homer os chamasse de "Oogle Goggles"; e o produto foi alvo de muitas par�dias c�micas, por exemplo no "Saturday Night Live", no "The Colbert Report" e em numerosos v�deos no YouTube. Presidentes de todo o mundo o testaram. O pr�ncipe Charles usou o Google Glass, e o mesmo vale para Oprah, Beyonc�, Jennifer Lawrence e Bill Murray.

    Tamb�m houve o momento, na semana de moda de Nova York de 2012, em que Diane von Furstenberg apareceu com um Google Glass vermelho, e enviou suas modelos � passarela usando vers�es do aparelho em diferentes cores. Mais tarde, em um v�deo de produ��o refinada, Furstenberg, usando um novo modelo produzido pela DVF (Made for Glass), dizia a Isabelle Olsson, designer do Google, que "revelamos o Google Glass ao mundo".

    DESIST�NCIA

    Mas talvez o maior impacto tenha surgido no m�s passado, quando, do nada, o Google anunciou que o Glass, tal qual o conhecemos, sairia de linha.

    Para compreender o que houve de errado, � preciso recuar no tempo alguns anos, e voltar aos modernos escrit�rios do Google em Mountain View, Calif�rnia. L�, em meio �s figueiras e �s edifica��es coloridas, os fundadores da empresa e um pequeno grupo de executivos de confian�a desenvolveram uma lista de cem ideias futuristas.

    Elas inclu�am um GPS para uso em espa�os fechados e um projeto chamado Google Brain. Mas a maior empolga��o estava reservada para um novo g�nero de computadores vest�veis que poderiam ser usados junto � pele ou, talvez, em forma de �culos.

    Pelo final de 2009, Eric Schmidt, ent�o presidente-executivo do Google, abordou Sebastian Thrun, um pesquisador genial que trabalhava com m�ltiplas disciplinas na Universidade Stanford, e o contratou para transformar essas ideias em produtos. Thrun, instru�do a criar um nome bacana, decidiu que o laborat�rio seria provisoriamente conhecido como Google X, esperando desenvolver nome melhor mais adiante.

    De acordo com diversos funcion�rios do Google que trabalharam nos primeiros est�gios do Projeto X (todos os quais s� aceitaram falar do assunto sob a condi��o de que seus nomes n�o fossem revelados, porque ainda trabalham para a empresa ou t�m rela��es de neg�cios com ela), o laborat�rio logo encontrou um lar sigiloso no complexo que sedia o Google, ocupando o segundo piso em um edif�cio an�nimo na avenida Charleston, 1.489. L�, nasceu o primeiro projeto do laborat�rio: um produto de realidade virtual que mais tarde se tornaria o Google Glass.

    Thrun recrutou diversos cientistas e pesquisadores prestigiados para trabalhar no Glass, entre os quais Astro Teller e Babak Parviz, os dois pesquisadores de vanguarda quanto � computa��o vest�vel, e a designer Olsson. N�o demorou para que Sergey Brin, cofundador do Google, se tornasse um dos comandantes do projeto X.

    LAN�AMENTO

    Para refor�ar a ideia de que o Glass era uma obra em progresso, o Google decidiu que a primeira vers�o n�o seria vendida no varejo, e limitou sua distribui��o aos Google Explorers, um grupo seleto de geeks e jornalistas que pagaram US$ 1.500 pelo privil�gio de estar entre os usu�rios iniciais.

    A estrat�gia deu errado. A exclusividade refor�ou o interesse j� intenso, com ve�culos de m�dia brigando por seu peda�o da hist�ria. Com a grande empolga��o do p�blico pelo projeto, o Google simplesmente transformou uma pequena fogueira em conflagra��o, ao lan��-lo em escala limitada.

    "A equipe do Google X sabia que o produto n�o estava nem perto de pronto para lan�amento", disse um antigo funcion�rio do Google. Mas Brin e a equipe de marketing do Google tinham outros planos.

    Em uma confer�ncia do Google para desenvolvedores, em junho de 2012, por exemplo, paraquedistas usando o Glass pousaram no topo do sal�o de confer�ncia, percorreram o telhado de bicicleta e desceram ao sal�o, sob aplausos estrondosos. (Eu estava l�, e nunca vi uma demonstra��o de produto como aquela.)

    Brin parecia muito feliz com a aten��o, e foi comparado a Tony Stark, o empres�rio dos quadrinhos do Homem de Ferro. Mais tarde naquele ano, Brin assistiria ao desfile de von Furstenberg na primeira fila, usando orgulhosamente um Google Glass.

    N�o era assim que o Glass deveria ter sido introduzido. O que estava acontecendo n�o era a experi�ncia discreta que os engenheiros do Google prefeririam ter conduzido enquanto ajustavam o produto. Era como ver algu�m murmurando um segredo em um megafone.

    Mas paraquedistas e modelos n�o bastam, e o brilho do produto logo come�ou a se desgastar. Os resenhistas de tecnologia que por fim receberam o Glass o descreveram como "o pior produto de todos os tempos", apontando, com raz�o, que sua bateria durava nada, e que se tratava de "um produto repleto de bugs".

    Surgiram quest�es de privacidade, com as pessoas temerosas de ser gravadas em v�deo em momentos privados, por exemplo ao usar o banheiro, como aconteceu comigo em outra confer�ncia do Google, na qual me vi cercado de pessoas usando o Glass. O produto tamb�m foi proibido em bares, cinemas, cassinos de Las Vegas e outros lugares que n�o querem ver seus fregueses gravando imagens sem autoriza��o.

    O Glass logo deixou de ser um acess�rio cobi�ado para se tornar alvo de piada. Surgiu um site no Tumblr chamado Homens Brancos Usando Google Glass.

    TRAI��O

    Ent�o, no come�o de 2014, um esc�ndalo digno de jornal sensacionalista varreu o Google X. Entre as impressoras 3D e os chips, havia surgido um caso de amor entre Brin e Amanda Rosenberg, uma executiva de marketing do Google Glass que havia ajudado a organizar o desfile de Diane von Furstenberg. Brin decidiu deixar a mulher para ficar com Rosenberg, que tamb�m decidiu acabar seu namoro com outro funcion�rio do Google. Uma reviravolta ainda mais estranha, reportada pela "Vanity Fair", envolvia o fato de que a mulher de Brin antes disso tudo era amiga de Rosenberg.

    E desde ent�o o Google Glass pareceu definhar. Funcion�rios que trabalharam no come�o do projeto X deixaram a companhia, entre os quais Parvitz, que se transferiu para a Amazon. Brin, que estava enfrentando as consequ�ncias de seu caso no Google, tamb�m parou de usar o Glass em p�blico.

    E foi assim que chegamos ao m�s passado, quando o Google anunciou abruptamente o encerramento do programa Google Glass. Isso foi reportado em quase toda parte como a morte do produto. Mas pode ser que n�o.

    Em sua nova vida, o Glass ser� comandado por Ivy Ross, designer de joias que comanda a divis�o de �culos inteligentes do Google, e Tony Fadell, antigo executivo de produto da Apple e criador da Nest. Diversas pessoas informadas sobre os planos de Fadell para o Glass afirmam que ele pretende redesenhar o �culos do zero e que s� o lan�aria quando estivesse pronto.

    "N�o haver� experi�ncias p�blicas", disse um assessor de Fadell. "Tony conhece produtos e n�o vai lan�ar qualquer coisa que n�o esteja perfeita."

    Quanto a von Furstenberg, ela n�o tem arrependimentos. Em entrevista, disse que o Google Glass era nada menos que revolucion�rio. "Foi a primeira vez que pessoas falaram de tecnologia vest�vel", afirmou. "A tecnologia avan�a cada vez mais r�pido, e o Google Glass ser� parte da Hist�ria".

    Tradu��o de PAULO MIGLIACCI

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