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    Ministro do Ex�rcito na gest�o Sarney, Le�nidas Pires Gon�alves morre no Rio

    RICARDO MENDON�A
    EDITOR-ADJUNTO DE "PODER"

    04/06/2015 17h44

    Figura de destaque na transi��o da ditadura para a democracia e, na sequ�ncia, ministro do Ex�rcito no governo Jos� Sarney (1985-1990), o general da reserva Le�nidas Pires Gon�alves morreu nesta quinta (4) aos 94 anos, no Rio.

    No final da ditadura, sob o governo do general Jo�o Baptista Figueiredo, Gon�alves era comandante do 3� Ex�rcito, com sede em Porto Alegre.

    Embora alguns historiadores tenham atribu�do a ele o papel de garantidor da posse de Sarney ap�s a morte de Tancredo Neves, instante crucial da transi��o, n�o h� registro de articula��o golpista relevante naquele 1985.

    Poucos duvidam, por�m, que Gon�alves desempenharia esse papel caso surgisse um movimento de resist�ncia.

    Em 1982, promovido a general-de-divis�o, Gon�alves chegou a ser citado como poss�vel sucessor de Figueiredo, segundo o Dicion�rio Hist�rico-Biogr�fico Brasileiro (FGV).

    Foi quando declarou que a democracia era "uma tarefa sem fim e um objetivo da revolu��o de 1964", express�o que usava para designar o golpe.

    Marcos Vin�cio - fev.88/Folhapress
    O general e ex-ministro Le�nidas Pires Gon�alves, em reuni�o do alto comando do Ex�rcito, em 1988
    O general e ex-ministro Le�nidas Pires Gon�alves, em reuni�o do alto comando do Ex�rcito, em 1988

    Na carreira militar, Gon�alves testemunhou alguns dos momentos mais decisivos da hist�ria pol�tica do pa�s.

    Em 1945, quando o general �lcio Souto e o ent�o major Ernesto Geisel entravam no Pal�cio da Guanabara para destituir Get�lio Vargas da Presid�ncia, o ajudante-de-ordens Gon�alves os acompanhava na incurs�o. Ele chegou a trocar palavras com o pr�prio Vargas, que, af�vel mesmo na queda, disse que se lembrava de seu pai, m�dico.

    Em 1964, na imin�ncia da queda de Jo�o Goulart, o tenente-coronel Gon�alves estava ao lado do gabinete de Castelo Branco, que logo depois tomaria o poder. Ali, chegou a presenciar um di�logo entre Geisel e Costa e Silva, em que o segundo assegurava que seria ele quem assumiria "essa coisa toda". Assumiu, mas s� tr�s anos depois, em 1967.

    RECADO

    Gon�alves foi escolhido para ser ministro do Ex�rcito por Tancredo. Sarney o manteve. Dois meses ap�s a posse, o novo ministro advertiu que os militares deveriam se abster de coment�rios pol�ticos.

    Era um claro recado a um oficial que, dias antes, questionado sobre o papel do governo na negocia��o de uma greve, respondeu que "cacete n�o � santo, mas faz milagres".

    O per�odo coincide com a cess�o de eventos que o jornalista Elio Gaspari costuma chamar de "anarquia militar", cuja express�o mais vis�vel na �poca era a sequ�ncia de explos�es de bancas de jornal.

    O mesmo Gon�alves, por�m, prestou solidariedade ao coronel Brilhante Ustra quando o ent�o adido militar no Uruguai foi publicamente acusado pela deputada Bete Mendes de ter sido seu torturador.

    Em entrevista � Folha em 2014, Gon�alves disse discordar da interpreta��o prevalecente sobre o golpe de 1964. "A verdade � filha do poder. N�s, militares, nunca fomos intrusos da hist�ria. Mas, infelizmente, a hist�ria contada hoje � mentirosa", disse.

    Ele reconheceu que houve torturas, mas com ressalvas: "Houve [tortura]. Voc� n�o controla a ra�a humana. N�o gosto de falar sobre o tema [...] acho que temos problemas maiores no pa�s para ficarmos olhando para tr�s. N�o entendo por qu� se discute tanto uma coisa do passado, h� 50 anos. Voc� quer parar o pa�s por causa de quatro, cinco mortos? Eles ganharam no tapet�o. N�o querem falar da subvers�o da esquerda [...] A revolu��o n�o foi limpinha, n�s tamb�m cometemos equ�vocos".

    Em nota, Sarney lamentou a morte do general e destacou sua import�ncia na mudan�a do regime. "Sua participa��o na transi��o democr�tica foi decisiva e a ele devemos grande parte da extin��o do militarismo -a agrega��o do poder militar ao poder pol�tico", disse.

    Gon�alves "pacificou o Ex�rcito", disse Sarney. "[Ele] reconduziu os militares aos seus deveres profissionais."

    Gon�alves deixa esposa, dois filhos, quatro netos e sete bisnetos. O vel�rio ser� neste s�bado no Pal�cio Duque de Caxias, no Rio. A crema��o ser� por volta das 13 horas no cremat�rio S�o Francisco Xavier, no bairro do Caju.

    Colaborou Rubens Valente, de Bras�lia

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