• Opini�o

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    Editorial: Entre o c�u e o inferno

    21/12/2014 02h00

    Neste ano, centenas de milhares de pessoas se arriscaram em uma viagem em mar aberto, atormentada n�o s� pela escassez de alimentos como tamb�m por oscila��es de temperatura e ventos de 150 quil�metros por hora.

    Em uma travessia que pode durar seis dias, realizada em geral em prec�rias embarca��es, sa�am da �frica rumo � Europa. Fugiam do inferno da guerra e da mis�ria.

    Como mostrou reportagem desta Folha, esses imigrantes pagaram at� � 2.000 (R$ 6.800) a aliciadores que prometiam o para�so do outro lado do Mediterr�neo.

    At� o fim de novembro, de acordo com a Organiza��o Internacional de Migra��o, cerca de 160 mil pessoas, tr�s vezes mais do que em 2013, foram resgatadas a caminho da It�lia –estima-se que outras 3.000 tenham morrido no trajeto.

    Por tr�s desse aumento vertiginoso de imigrantes est�o a instabilidade social e o recrudescimento de conflitos e da opress�o em alguns pa�ses �rabes e africanos.

    N�o surpreende, assim, que a maior fatia (24%) provenha da S�ria. A sangrenta guerra civil no pa�s, que j� passa de tr�s anos, tornou-se ainda mais brutal em 2014, com o fortalecimento da mil�cia radical Estado Isl�mico, que conquistou parte do territ�rio.

    Menos conhecida � a situa��o vivida pela popula��o da Eritreia, o segundo pa�s com mais imigrantes encontrados no Mediterr�neo (21%). O governo do presidente Isaias Afewerki, que ocupa o posto h� 20 anos, promove intensa persegui��o pol�tica a seus opositores.

    Cerca de 90% de todo esse contingente usa a L�bia como ponto de partida. A instabilidade institucional que reina no pa�s desde a queda do ditador Muammar Gaddafi forma terreno prop�cio para a passagem interna e a fuga � It�lia.

    A maioria dos que arriscam a travessia busca obter em solo europeu o status de refugiado. At� novembro, foram 60,7 mil pedidos de asilo ao governo italiano, mais que o dobro das solicita��es de 2013.

    Os imigrantes sem d�vida encontrar�o ambiente mais livre e tranquilo na Europa, mas n�o � certo que ter�o vida f�cil no continente.

    N�o s� a situa��o econ�mica europeia como tamb�m os campos social e pol�tico inspiram cuidados. O PIB da regi�o deve crescer menos de 1% em 2014, e a gera��o de empregos permanece aqu�m das metas estabelecidas; s�o not�rios, al�m disso, o aumento da xenofobia e a ascens�o de partidos de extrema direita em diversos pa�ses.

    Talvez n�o sejam, contudo, obst�culos demasiados para quem enfrentou cotidianamente a fome e a opress�o totalit�ria.

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