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    Som�lia elege novo presidente em pleito hist�rico marcado por fraudes

    DO "NEW YORK TIMES"

    08/02/2017 15h57

    A Som�lia elegeu nesta quarta-feira (8) como presidente Mohamed Abdullahi Farmajo, avan�ando na expectativa de instaurar seu primeiro governo integralmente funcional em 25 anos.

    Farmajo, que tem cidadania americana e j� ocupou o cargo de primeiro-ministro, tomou posse ap�s o titular da Presid�ncia, Hassan Sheikh Mahamud, reconhecer sua derrota em segundo turno de vota��o.

    "Fizemos hist�ria, tomamos este caminho para a democracia e agora quero parabenizar Mohamed Abdullahi Farmajo", disse Mahamud.

    Feisal Omar/Reuters
    Somalia's newly elected President Mohamed Abdullahi Farmajo addresses lawmakers after winning the vote at the airport in Somalia's capital Mogadishu, February 8, 2017. REUTERS/Feisal Omar ORG XMIT: GGGAFR115
    O novo presidente da Som�lia, Mohamed Abdullahi Farmajo, discursa para parlamentares

    A elei��o desta quarta foi considerada como um "marco hist�rico" em um pa�s marcado por crises cr�nicas, mas tamb�m foi um dos eventos pol�ticos mais fraudulentos da Som�lia.

    E isso n�o � pouca coisa, considerando que o pa�s � classificado pela Transpar�ncia International, organiza��o mundial de combate � corrup��o, como o mais corrupto do mundo.

    Pesquisadores somalis estimam que pelo menos US$ 20 milh�es (R$ 62 milh�es) trocaram de m�os durante a campanha eleitoral.

    Segundo v�rios analistas, o processo todo vem sendo t�o corrompido que o grupo militante Al Shabaab, uma das organiza��es isl�micas mais perigosas do mundo, nem sequer est� tentando atrapalhar a elei��o, j� que o mercado livre de corrup��o faz os militantes parecerem quase honestos em compara��o.

    "Esta elei��o vem sendo fant�stica para o Al Shabaab", comentou Mohamed Mubarak, diretor de uma organiza��o somali de combate � corrup��o. "O governo perde ainda mais legitimidade e o Al Shabab ganha a chance de comprar um lugar nele!"

    H� d�cadas o mundo vem injetando mais sangue e dinheiro na Som�lia que em praticamente qualquer outro pa�s, com a exce��o do Iraque ou Afeganist�o. A disfun��o pol�tica somali causou sofrimento e mortes em escala �pica, e os problemas do pa�s tendem a n�o respeitar suas fronteiras.

    Oficiais militares americanos, europeus e africanos dizem que os problemas da Som�lia, que v�o do terrorismo � pirataria, n�o podem ser solucionados unicamente pela for�a. A resposta, eles dizem, seria o governo da Som�lia come�ar a funcionar como tal e oferecer uma alternativa ao caos.

    Antes mesmo de esta elei��o ser marcada por corrup��o estarrecedora, a paci�ncia j� estava se esgotando. Agora, com o presidente dos EUA, Donald Trump, transmitindo a mensagem de "a Am�rica em primeiro lugar", muitos diplomatas e agentes humanit�rios que h� anos trabalham para tentar resolver os problemas da Som�lia receiam que o pa�s esteja na mira de Trump.

    O presidente incluiu a Som�lia entre os sete pa�ses cobertos por sua proibi��o de ingresso nos EUA, e alguns temem que ele suste o envio de assist�ncia.

    Muitos especialistas sobre a Som�lia acham que isso apenas desestabilizaria o pa�s ainda mais, alimentando o caos que o converteu em um risco global de terrorismo. E assistentes humanit�rios dizem que este seria um momento dif�cil para cortar o envio de ajuda � Som�lia, porque o pa�s pode estar se dirigindo a mais uma fase de fome generalizada.

    AL SHABAAB NA SOM�LIAGrupo extremista isl�mico domina regi�o do pa�s

    'ESTADO FAJUTO'

    A Som�lia vem cambaleando de crise em crise desde 1991, quando o governo central se desintegrou, l�deres militares de cl�s fragmentaram o pa�s e uma fome generalizada se instalou.

    Desde ent�o, combina��es diversas de l�deres militares, tecnocratas e isl�micos foram reconhecidos como sendo o governo oficial, apesar de n�o governarem sobre muito territ�rio, oferecerem qualquer servi�o p�blico nem garantirem a seguran�a nacional.

    "O governo somali n�o possui autoridade, n�o tem o apoio da popula��o, n�o exerce monop�lio sobre a viol�ncia", disse um ex-ministro do planejamento e atual candidato a presidente, Abdirahman Abdishakur Warsame. "� um Estado fajuto."

    Alguns anos atr�s, as principais fontes de assist�ncia � Som�lia –Estados Unidos, Reino Unido, Uni�o Europeia, Su�cia e It�lia– estudaram um plano para promover elei��es diretas.

    V�rios diplomatas ocidentais disseram que sentiram press�o de seus pa�ses de origem para mostrar que a Som�lia estava fazendo progresso, depois de tanto dinheiro ter sido investida nela.

    Mas a amea�a do Al Shabab fez com que fosse dif�cil promover elei��es diretas em muitas partes do pa�s, ent�o os apoiadores ocidentais apostaram em um processo eleitoral mais limitado, baseado nos cl�s tradicionais somalis.

    Elei��es corruptas baseadas no sistema de cl�s n�o constituem novidade no pa�s. De acordo com v�rios pesquisadores, quando o presidente Hassan Sheikh Mohamud foi eleito, em 2012, muitos l�deres de cl�s receberam propina de US$ 5.000 (R$15,6 mil) para escolher o representante do cl� no Parlamento.

    Desta vez, contudo, em vez de os l�deres dos cl�s escolherem todos os deputados, diplomatas ocidentais defenderam um processo mais amplo e inclusivo pelo qual cada um dos 275 membros da c�mara baixa do Parlamento seria escolhido por conven��es de cl�s, com 51 delegados em cada conven��o.

    Diplomatas ocidentais acharam que a exig�ncia de 51 votos para definir cada vaga no Parlamento dificultaria o pagamento de subornos. Hoje eles admitem que se equivocaram.

    Michael Keating, l�der da miss�o da ONU na Som�lia, argumenta que e a elei��o na Som�lia n�o deve ser julgada segundo os mesmos padr�es que uma elei��o em um pa�s est�vel.

    Ele disse que, embora a corrup��o "evidentemente seja um problema grave", o processo eleitoral atual � mais leg�timo que outros anteriores, tendo produzido mais deputadas mulheres e alguma reconcilia��o entre cl�s.

    Mesmo assim, ele disse: "N�o estamos andando por a� dizendo que foi fant�stico. N�o foi."

    Tradu��o de CLARA ALLAIN

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