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    'Escravos do mar' sustentam ind�stria de pescados usados em ra��es animais

    IAN URBINA
    DO "NEW YORK TIMES"
    EM SONGKHLA, TAIL�NDIA

    01/08/2015 02h00 Erramos: o texto foi alterado

    A longa prova��o de Lang Long come�ou na traseira de um caminh�o. Depois de ver seus irm�os mais novos passarem fome porque o campo de arroz de sua fam�lia no Camboja n�o era suficiente para todos, ele aceitou a oferta de um traficante para cruzar a fronteira da Tail�ndia para trabalhar na constru��o.

    Era sua chance de recome�ar. No entanto, quando chegou no pa�s, passou dias vigiado por homens armados em uma sala perto do porto em Samut Prakan, a cerca de 20 quil�metros de Bancoc. Depois, foi colocado com outros seis imigrantes em um barco de madeira decr�pito. Foi o in�cio de tr�s anos brutais em cativeiro no mar.

    Adam Dean/The New York Times
    Tripula��o de barco pesqueiro na costa da Tail�ndia: alguns marinheiros t�m apenas 15 anos de idade
    Tripula��o de barco pesqueiro na costa da Tail�ndia: alguns marinheiros t�m apenas 15 anos de idade

    "Eu chorei", disse Long, 30, contando que foi revendido duas vezes entre barcos pesqueiros. Depois de suas v�rias tentativas de fuga, o capit�o o amarrava pelo pesco�o sempre que outros barcos se aproximavam.

    A embarca��o em que Long trabalhou pescava principalmente peixes pequenos e de baixo valor usados na fabrica��o de ra��o para gatos, c�es, aves, porcos e peixes criados em cativeiro. Grande parte dessa pesca prov�m das �guas ao largo da Tail�ndia e � vendida para os EUA.

    As v�timas do trabalho for�ado no mar parecem escravos de outra era. Os homens e meninos que conseguem fugir contam hist�rias terr�veis: marinheiros doentes s�o atirados ao mar, e os rebeldes s�o decapitados ou ficam trancados durante dias em por�es.

    A viol�ncia se intensificou nos �ltimos anos, segundo autoridades, como resultado das fracas leis trabalhistas mar�timas e da demanda global insaci�vel por alimentos marinhos, apesar de os estoques de pescado estarem se esgotando.

    A ind�stria pesqueira est� cada vez mais dependente da pesca de longos percursos, em que os barcos ficam no mar, �s vezes durante anos, fora do alcance das autoridades. Com o aumento dos pre�os do combust�vel e menos peixes perto do litoral, os especialistas preveem que os barcos tendem a se aventurar cada vez mais longe, aumentando as chances de maus-tratos aos trabalhadores. "A vida no mar � barata", disse Phil Robertson, da ONG Human Rights Watch. "E as condi��es l� s�o cada vez piores."

    Em nenhum lugar o problema do trabalho for�ado � mais acentuado do que no mar do Sul da China, especialmente na frota pesqueira tailandesa, que enfrenta uma escassez anual de cerca de 50 mil marinheiros, segundo a ONU. O deficit � preenchido basicamente por migrantes, a maioria de Camboja e Mianmar.

    Muitos deles, como Long, s�o atra�dos por traficantes e se tornam "escravos do mar" em campos de trabalho flutuantes. Muitas vezes eles s�o espancados por qualquer transgress�o, como costurar muito devagar uma rede rasgada ou colocar por engano uma cavala em um balde de arenques, segundo uma pesquisa da ONU com cerca de 50 cambojanos adultos e crian�as vendidos para barcos pesqueiros tailandeses. Dos entrevistados na pesquisa de 2009, 29 disseram que tinham visto o capit�o ou outros oficiais matarem um trabalhador.

    Os migrantes, que n�o t�m documentos, desaparecem al�m do horizonte em "navios-fantasmas" -barcos n�o registrados que o governo tailand�s n�o sabe que existem.

    Adam Dean/The New York Times
    Dormit�rio de navio pesqueiro na Tail�ndia, onde a jornada de trabalho chega a mais de 20 horas di�rias
    Dormit�rio de navio pesqueiro na Tail�ndia, onde a jornada de trabalho chega a mais de 20 horas di�rias

    Geralmente eles n�o falam a l�ngua de seus capit�es, n�o sabem nadar e nunca viram o mar antes de serem levados ao litoral, segunda entrevistas realizadas com 40 marinheiros e ex-tripulantes na Mal�sia, na Tail�ndia e na Indon�sia.

    A interven��o do governo tailand�s � rara. Os migrantes muitas vezes contam que foram resgatados pela pol�cia de um contrabandista apenas para serem revendidos a outro.

    Long n�o sabia para onde ia o peixe que apanhava. Ele soube, por�m, que a maior parte do peixe do �ltimo barco onde ele esteve detido se destinava a uma ind�stria de processamento chamada Songkla, que � uma subsidi�ria da Thai Union Frozen Products, a maior empresa de alimentos marinhos do pa�s. No �ltimo ano, a Thai Union enviou mais de 12 mil toneladas de ra��es � base de peixe para gatos e c�es para algumas das principais marcas vendidas nos Estados Unidos, como Iams, Meow Mix e Fancy Feast.

    RITMO BRUTAL DE TRABALHO

    � dif�cil exagerar os riscos da pesca comercial. Em dois dias passados a mais de 160 quil�metros do litoral em um barco de pesca tailand�s com cerca de 25 meninos cambojanos, alguns com apenas 15 anos, a reportagem testemunhou o ritmo brutal desse trabalho.

    Sob sol ou chuva, os turnos s�o de 18 a 20 horas. A temperatura no ver�o passa de 38�C. O conv�s � uma corrida de obst�culos de cordas emaranhadas, guindastes e pilhas de redes de 225 quilos. A �gua que borrifa do oceano e as v�sceras de peixes deixam o piso escorregadio, e a maioria dos meninos trabalha descal�a. O navio balan�a muito, especialmente em mar agitado e com ventos fortes.

    Grande parte do trabalho ocorre em plena escurid�o. Muitos barcos jogam suas redes de cerco � noite, quando � mais f�cil localizar os peixes visados -principalmente cavalas e arenques.

    Quando n�o est�o pescando, os cambojanos, a maioria dos quais recrutada por traficantes, separa o pescado e conserta as redes, que costumam sofrer rasg�es.

    Adam Dean/The New York Times
    San Oo, 35, que foi traficado de Mianmar para a Tail�ndia e trabalhou em barcos pesqueiros por dois anos
    San Oo, 35, que foi traficado de Mianmar para a Tail�ndia e trabalhou em barcos pesqueiros por dois anos

    Um menino de 17 anos mostrou com orgulho sua m�o em que faltavam dois dedos -cortados por uma linha de n�ilon que se enrolou em uma roldana.

    As m�os dos migrantes, que quase nunca est�o secas, t�m feridas abertas, cortes feitos pelas escamas de peixes e pelo atrito das redes. "O peixe est� dentro de n�s", disse um dos meninos. Eles mesmos suturam os cortes mais profundos, e as infec��es s�o comuns.

    A frota de pesca comercial da Tail�ndia consiste predominantemente de traineiras de fundo, chamadas de "destruidoras do mar" porque usam redes de arrasto, com pesos para afundar at� o leito oce�nico, capturando quase tudo em seu caminho. Os barcos com redes de cerco (redes circulares para apanhar peixes mais pr�ximos da superf�cie), como esse onde os cambojanos trabalham, tamb�m s�o comuns. Depois que as redes s�o puxadas para cima, elas s�o fechadas no topo, como antigas bolsas para moedas.

    Antes de chegar ao navio, a maioria dos cambojanos nunca tinha visto uma superf�cie de �gua maior que um lago. Os poucos que sabiam nadar tinham de mergulhar no mar para garantir que a boca das redes de 15 metros havia se fechado adequadamente. Se um deles se emaranhasse na rede e afundasse, provavelmente ningu�m perceberia de imediato.

    O trabalho � fren�tico e ruidoso, pois os meninos cantam em un�ssono enquanto puxam as redes.

    As refei��es consistem em uma tigela de arroz por dia, salpicada de lulas fervidas ou outros peixes de baixo valor. As cozinhas s�o cheias de baratas.

    Os membros da tripula��o dormem em turnos de duas horas, amontoados em um espa�o quente e baixo. Muitos corpos dividem o mesmo ar, deitados em redes de pesca penduradas do teto a menos de dois metros de altura. As turbinas do motor pulsam incessantemente, sacudindo o conv�s de madeira do navio. De vez em quando, o motor cospe uma nuvem preta de fuma�a nos dormit�rios.

    Essas condi��es, t�picas dos barcos de pesca de longo percurso, s�o parte do motivo pelo qual a frota de pesca tailandesa sofre uma falta cr�nica de homens.

    Adam Dean/The New York Times
    Prostitutas aguardam clientes em bar de Songkha (Tail�ndia): elas s�o outras v�timas do tr�fico de pessoas
    Prostitutas aguardam clientes em bar de Songkha (Tail�ndia): elas s�o outras v�timas do tr�fico

    A Tail�ndia tem um dos mais baixos �ndices de desemprego do mundo -geralmente menos de 1%-, o que significa que os trabalhadores nativos n�o t�m dificuldade para encontrar empregos mais f�ceis e mais bem pagos em terra.

    A servid�o consentida -um sistema de trabalho de "viaje agora e pague depois", em que as pessoas trabalham para saldar a d�vida, geralmente acrescida, para conseguir passagem livre para outro pa�s- � comum no mundo em desenvolvimento, especialmente na constru��o, na agricultura, na manufatura e na ind�stria do sexo. Por�m, � mais generalizada e abusiva no mar, segundo especialistas em direitos humanos, porque esses trabalhadores ficam muito isolados.

    Historicamente, os capit�es de barcos tailandeses pagavam grandes adiantamentos aos marinheiros, para que eles pudessem sustentar suas fam�lias durante sua longa aus�ncia. Por�m, a crise de m�o de obra no pa�s transformou isso em um pre�o per capita (ou taxa "kha hua") pago aos contrabandistas que atravessam os trabalhadores na fronteira.

    O mestre da tripula��o tailandesa do barco, Tang, fez uma lista das press�es que sofrem os capit�es de alto-mar. O custo do combust�vel consome cerca de 60% da renda de um barco, o dobro de duas d�cadas atr�s. Quando os peixes s�o apanhados, armazen�-los em gelo � uma corrida contra o rel�gio. Conforme o peixe se aquece, seu conte�do de prote�na diminui, reduzindo o pre�o de venda.

    Os capit�es temem suas tripula��es t�o intensamente quanto as comandam. As barreiras da l�ngua e cultura criam divis�es. A maioria dos barcos tem tr�s oficiais tailandeses e marinheiros estrangeiros. O capit�o anda armado, em parte por causa da amea�a de piratas, mas tamb�m por medo de motins.

    As hist�rias de trabalho for�ado nem sempre s�o o que parecem, segundo o capit�o do barco, que insistiu em manter o anonimato como condi��o para permitir o embarque do rep�rter. Alguns trabalhadores se inscrevem por vontade pr�pria, mas mudam de ideia quando est�o no mar, enquanto outros inventam hist�rias de maus-tratos na esperan�a de voltar para suas fam�lias, disse.

    Ainda assim, meia d�zia de outros capit�es reconheceram que o trabalho for�ado � comum.

    Adam Dean/The New York Times
    Trabalhadores de usina de processamento de peixe em Ranong, na Tail�ndia
    Trabalhadores de usina de processamento de peixe em Ranong, na Tail�ndia

    HIST�RICO DE ABUSOS

    Os contramestres sempre t�m anfetaminas para que os trabalhadores aguentem por mais tempo, mas raramente eles usam antibi�ticos em ferimentos infeccionados. Antigos marinheiros descreveram "ilhas-pres�dios" -geralmente at�is desabitados que se contam a centenas no mar do Sul da China. Os capit�es de pesca �s vezes deixam suas tripula��es nessas ilhas durante semanas, enquanto seus barcos s�o levados ao porto para reparos.

    Outras ilhas, habitadas, mas in�spitas, tamb�m s�o usadas para deter membros da tripula��o.

    Trabalhadores em pesqueiros em uma ilha da Indon�sia chamada Benjina eram mantidos em jaulas para impedir sua fuga, relatou a ag�ncia Associated Press.

    Inacess�vel por barco durante v�rios meses por ano por causa das mon��es, Benjina tinha uma pista a�rea raramente usada e nenhum servi�o de telefonia ou internet.

    Pak, um cambojano de 38 anos que fugiu de uma traineira tailandesa no ano passado, foi parar nas ilhas Kei, no mar de Banda, no leste da Indon�sia. "Voc� pertence ao capit�o", disse Pak, que viu um homem t�o desesperado que saltou ao mar e se afogou.

    Os cr�ticos acusam a Tail�ndia pelo que consideram uma falha deliberada em atacar as principais causas dos abusos cometidos na pesca. Comparada a seus vizinhos, a Tail�ndia tem regras menos estritas sobre quanto tempo os barcos podem permanecer no mar.

    Adam Dean/The New York Times
    Lang Long, 30, assiste TV em abrigo, ap�s ser resgatado de navio no mar do Sul da China
    Lang Long, 30, assiste TV em abrigo, ap�s ser resgatado de navio no mar do Sul da China

    Outra ind�stria tailandesa em que o trabalho for�ado � comum � a do sexo, disse Robertson, da HRW. As duas ind�strias se cruzam em cidades pobres como Ranong, na fronteira entre Tail�ndia e Mianmar. Corretores de m�o de obra operam com impunidade nessas cidades. Os bares de karaok� funcionam como bord�is e armadilhas de d�vida.

    Nas tavernas, as garotas s�o baratas. Por�m, para os homens empobrecidos, na maioria birmaneses, algumas noites podem ser uma quantia r�gia. Para saldar essas d�vidas, os migrantes �s vezes s�o vendidos para trabalhar no mar.

    � dif�cil verificar os barcos quanto a abusos aos direitos humanos. Oficiais das Marinhas da Tail�ndia, da Mal�sia e da Indon�sia disseram que raramente inspecionam viola��es de trabalho e imigra��o. As autoridades dizem que n�o t�m barcos nem combust�vel necess�rios para alcan�ar os navios com maior tend�ncia a usar m�o de obra cativa.

    OFERTA E DEMANDA

    O barco que levou Long ao cativeiro e posteriormente o resgatou era conhecido como "nave-m�e".

    Carregando de tudo, desde combust�vel e comida extra a redes avulsas e m�o de obra substituta, esses navios vagarosos, muitas vezes com mais de 30 metros de comprimento, funcionam como lojas de suprimentos ambulantes.

    As naves-m�es s�o o motivo pelo qual as traineiras podem pescar a mais de 2.000 quil�metros da terra. Elas permitem que os pescadores fiquem no mar durante meses ou anos.

    Quando uma carga de peixe � transferida para uma nave-m�e, quase n�o h� como determinar sua proveni�ncia. A cadeia de suprimento para as 25 milh�es de toneladas de peixes mi�dos apanhados anualmente em todo o globo -cerca de um ter�o de todo o pescado capturado no mar e grande parte dele usado em ra��es para animais- � quase invis�vel.

    Sasinan Allmand, da Thai Union Produtos Congelados, disse que sua companhia faz auditorias rotineiras em suas f�bricas e nos barcos atracados para garantir que n�o haja trabalho for�ado e infantil. As auditorias envolvem verifica��o dos contratos da tripula��o, passaportes, recibos de pagamento e condi��es de trabalho. Questionada se as auditorias s�o conduzidas nos barcos de pesca que ficam em alto-mar, ela n�o quis responder.

    Adam Dean/The New York Times
    Migrante do Camboja em barco pesqueiro no mar do Sul da China
    Migrante do Camboja em barco pesqueiro no mar do Sul da China

    Os defensores de direitos humanos pedem mais fiscaliza��o, a exig�ncia de que todos os barcos de pesca comercial tenham transmissores de sinais eletr�nicos para monitoramento e a proibi��o do sistema de longas estadias no mar. No entanto, suas demandas tiveram pouca repercuss�o.

    Algumas empresas de ra��es para animais est�o tentando parar de usar peixes. A Mars Inc., que vendeu mais de US$ 16 bilh�es em comida para animais de estima��o em todo o mundo em 2012, aproximadamente um quarto do mercado mundial, substituiu a carne de peixe em alguns de seus produtos. At� 2020, a companhia pretende usar apenas peixes n�o amea�ados, apanhados legalmente ou criados em fazendas e certificados como n�o ligados ao trabalho for�ado.

    RESGATE

    Em Songkha, na costa sudeste da Tail�ndia, Suchat Junthalukkhana folheou um grosso fich�rio, cada p�gina com uma foto de um marinheiro que sua organiza��o, a Stella Maris Seafarers Center, havia ajudado. "Recebemos um novo caso toda semana."

    O destino dos homens que escapam dos barcos de pesca muitas vezes depende de encontros casuais com desconhecidos altru�stas que fazem contato com o Stella Maris ou outros grupos que formam um sistema an�nimo que abrange Mal�sia, Indon�sia, Camboja e Tail�ndia.

    Um desses salvadores inadvertidos foi Som Nang, 41, que disse que seu nome significa "boa sorte" em khmer. Tendo trabalhado nos cais durante v�rios anos, Som Nang j� tinha ouvido hist�rias sobre a brutalidade nos barcos de pesca. Por�m, nada o preparou para o que ele testemunharia em sua viagem de estreia em uma nave-m�e no final de 2013.

    Depois de uma viagem de quatro dias, o barco de suprimentos de Som encostou em uma traineira dilapidada com bandeira tailandesa. A tripula��o eram oito homens que tinham terminado duas semanas de pesca em �guas indon�sias, sem a permiss�o necess�ria.

    Foi dif�cil n�o notar Long, agachado perto da proa do pesqueiro, disse Som Nang. Ao redor de seu pesco�o machucado, havia um colar de metal enferrujado, preso a uma corrente de um metro enrolada em um poste de ancoragem. Long olhava sem piscar para qualquer um que fizesse contato visual. "Por favor, ajude-me", murmurava, segundo Som Nang, que tamb�m � cambojano.

    Adam Dean/The New York Times
    Homem trabalha descarregando barris cheios de peixes em porto de Songkhla, na Tail�ndia
    Homem trabalha descarregando barris cheios de peixes em porto de Songkhla, na Tail�ndia

    Isso foi 30 meses depois que Long conheceu um traficante na fronteira tailandesa-cambojana durante uma festa. Long disse que n�o pretendia trabalhar na Tail�ndia, mas a oferta de emprego foi atraente. Quando, em vez disso, ele chegou a um porto perto de Samut Prakan, o traficante o vendeu para um capit�o de navio por cerca de US$ 530, menos que o pre�o de um b�falo. Ele foi obrigado a entrar em um barco e enviado para oeste durante quatro dias.

    Um relat�rio da pol�cia mais tarde descreveu seu relato da chegada ao cativeiro: "Tr�s barcos de pesca cercaram o barco de suprimentos e come�aram a lutar por Long", diz o relat�rio. Discuss�es semelhantes irromperam um ano depois, quando Long foi vendido novamente no meio da noite entre traineiras.

    Quanto mais tempo ele passava nos barcos, mais sua d�vida ao traficante deveria diminuir, melhorando suas perspectivas de liberta��o. No entanto, aconteceu o contr�rio, explicou Long.

    Long disse que muitas vezes pensou em saltar no mar para fugir. No entanto, ele n�o sabia nadar e nenhuma vez viu terra durante o tempo que ficou no mar. Por mais que temesse os capit�es, o oceano o assustava ainda mais. As ondas, �s vezes de 15 metros de altura, sacudiam o barco e invadiam o conv�s.

    Quando o barco de Som Nang apareceu, Long estava usando o colar intermitentemente havia cerca de nove meses. O capit�o geralmente o prendia uma vez por semana, sempre que outros barcos se aproximavam.

    Som Nang disse que perguntou por que Long estava acorrentado. "Porque ele fica tentando fugir", respondeu o capit�o, segundo Som. Depois de voltar ao porto, ele contatou a Stella Maris, que come�ou a levantar os 25 mil baht, ou aproximadamente US$ 750, necess�rios para comprar a liberdade de Long.

    Nos v�rios meses seguintes, Som reabasteceu o pesqueiro duas vezes. Em ambas Long estava acorrentado. Som disse que tentou discretamente tranquiliz�-lo, dizendo que estava trabalhando para libert�-lo.

    Em abril de 2014, o cativeiro de Long terminou da maneira menos dram�tica. Som Nang levou um saco de papel cheio de dinheiro tailand�s do Stella Maris at� um ponto de encontro no meio do mar do Sul da China, aproximadamente a uma semana de viagem do litoral.

    Depois de trocarem poucas palavras, o dinheiro foi entregue ao capit�o de Long. Com sua d�vida paga, Long, muito magro, embarcou no barco de Som e come�ou a jornada de volta � terra firme e � esperan�a de chegar em casa.

    Long est� no processo de repatria��o para sua aldeia natal, Koh Sotin, no Camboja.

    Ele disse que tentou manter um registro dos dias e meses passados no mar fazendo marcas na grade de madeira. Mas, afinal, desistiu. "Achei que nunca mais veria a terra de novo."

    Colaboraram KITTY BENNETT e SUSAN C. BEACHY

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