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    Em enc�clica, papa responsabiliza ricos por problemas ambientais

    REINALDO JOS� LOPES
    COLABORA��O PARA A FOLHA

    15/06/2015 21h47

    Alvo de expectativa e pol�micas antes mesmo de ser lan�ada, a nova enc�clica do papa Francisco, que aborda quest�es ambientais, vazou nesta segunda (15) pela revista italiana "L'Espresso", que colocou uma vers�o do texto para download em seu site.

    A carta, que ser� lan�ada oficialmente na quinta (18) e cuja vers�o divulgada o Vaticano classificou como "rascunho", � uma tentativa ambiciosa de unir ambientalismo e f� crist�. No texto, o pont�fice condena a ina��o internacional diante da mudan�a clim�tica e argumenta que a humanidade n�o tem direito de destruir outros seres vivos.

    Vincenzo Pinto/AFP
    Papa Francisco sa�da fi�is ao chegar � pra�a de S�o Pedro, no Vaticano, para cerim�nia, em maio
    Papa Francisco sa�da fi�is ao chegar � pra�a de S�o Pedro, no Vaticano, para cerim�nia, em maio

    Batizado de "Laudato Si" ("Louvado sejas", em italiano medieval), o documento empresta o t�tulo e parte do conte�do do C�ntico das Criaturas, poema de s�o Francisco de Assis no qual ele chama Sol, Lua e Terra de irm�os.

    Apesar do lirismo, a enc�clica, dirigida ao mundo todo e n�o s� aos cat�licos, faz um ataque contundente � forma como as na��es, sobretudo as mais ricas, lidam com a quest�o ambiental.

    A raiz do problema, segundo Francisco, � a submiss�o da sobreviv�ncia das pessoas e das demais criaturas a interesses puramente econ�micos, pautados por um avan�o tecnol�gico desenfreado que n�o tem referencial �tico claro para lhe servir de freio.

    "H� um esfor�o de converg�ncia entre posi��es culturais tidas como opostas. A tradi��o m�stica crist� se encontra com o desejo atual de alternativa ao consumismo e � mercantiliza��o das coisas", diz Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do N�cleo F� e Cultura da PUC-SP.

    HERDEIRO DE BENTO

    � raro que se apontem semelhan�as entre Francisco e seu cerebral predecessor, o alem�o Bento 16, mas o ponto mais surpreendente da enc�clica talvez seja a retomada de temas centrais do magist�rio do papa que renunciou.

    Francisco atribui parte da crise ambiental � preval�ncia do relativismo moral e filos�fico —� ideia de que n�o existem certos e errados "naturais" e que, portanto, o ser humano teria liberdade absoluta para fazer o que quiser consigo e com o mundo.

    Para ambos os pont�fices, essa � uma ideia desastrosa, por n�o levar em conta os limites impostos pela natureza —e pela sabedoria divina— aos desejos humanos.

    "A enc�clica pode ser resumida � frase 'tudo est� conectado'", diz Rodrigo Coppe Caldeira, especialista em hist�ria do catolicismo da PUC-MG. "O papa aponta a hipocrisia de tratar dos problemas ecol�gicos sem considerar, por exemplo, os pobres ou os embri�es descartados."

    Apesar de ressaltar que n�o cabe � Igreja Cat�lica tomar partido em debates cient�ficos ou pol�ticos, mas sim fomentar o di�logo, o papa argentino assinala que, nos debates diplom�ticos sobre a mudan�a clim�tica, as na��es pobres n�o podem ser penalizadas economicamente por um problema que deriva, em grande parte, da polui��o gerada em pa�ses ricos.

    "Trata-se talvez do primeiro pronunciamento de uma autoridade internacional que admite n�o haver sa�da a n�o ser a aceita��o de algum 'decrescimento' pelas sociedades de superabund�ncia em favor do avan�o dos mais vulner�veis", diz o ex-ministro do Meio Ambiente Rubens Ricupero. "Soar� ut�pico; prefiro dizer que � 'prof�tico'."

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