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    Projeto de US$ 51 milh�es p�e Brasil no mapa dos peixes

    DE S�O PAULO

    23/06/2015 02h00

    Dentro de sete meses, 20 milh�es de filhotes de peixe pesando 30 g –menos que um p�ozinho franc�s– ser�o transferidos para gaiolas de a�o flutuantes no rio Paran�.

    Seis meses depois, com quase 1 kg, ser�o o primeiro lote do maior investimento feito no pa�s em aquicultura (produ��o em cativeiro).

    O projeto, que ser� anunciado nos pr�ximos dias, come�ar� com 25 mil toneladas por ano, mas prev� quaduplicar a produ��o at� 2020.

    Se o cronograma for seguido, o Brasil chegar� perto de dobrar sua produ��o atual, de 150 mil toneladas anuais.

    Os US$ 51 milh�es investidos na primeira etapa s�o 100% capital pr�prio da Tilabras, parceria entre uma das maiores produtoras de til�pia do mundo, a americana Reagal Springs, e a brasileira Axial, holding que atua no setor por meio da Mar & Terra.

    Num terreno equivalente a um ter�o do parque Ibirapuera, comprado na �ltima semana em Selv�ria (MS), nas margens do rio, ser� constru�do tamb�m um frigor�fico.

    O rio Paran� � considerado um dos biomas mais adequados para a produ��o de til�pias em cativeiro, porque suas �guas s�o muito limpas e o n�vel de corrente � adequado.

    Nos pr�ximos 15 dias, a empresa pedir� � Uni�o concess�o para explorar uma superf�cie fluvial cem vezes maior, pelo per�odo de 20 anos, renov�veis por mais 20.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Fisgando a Isca - Brasil explora pouco seu potencial de produ��o de pescados
    Fisgando a Isca - Brasil explora pouco seu potencial de produ��o de pescados

    MILAGRE DE JESUS

    � com a til�pia, esp�cie origin�ria do rio Nilo e apontada como o peixe que Jesus multiplicou perto do mar da Galileia, que o governo brasileiro pretende expandir sua presen�a no mercado global.

    "� um divisor de �guas tanto em rela��o � escala do empreendimento quanto � estatura da empresa. Certamente vai chamar a aten��o de competidores internacionais", diz o ministro da Pesca, Helder Barbalho.

    O governo federal procurou sete Estados para tentar destravar o licenciamento ambiental da atividade: as empresas precisam provar que n�o v�o poluir as �guas com excesso de ra��o, dejetos e animais mortos.

    Outra preocupa��o � impedir que as resistentes til�pias, presentes em quase todo pa�s, se espalhem pela Amaz�nia, onde o cultivo � proibido.

    ATR�S DE BOI E FRANGO

    Mesmo sem essa regi�o, o potencial do Brasil � enorme, na avalia��o de Sylvio Santoro Filho, diretor de projeto da Tilabras. Est�o no pa�s as maiores reservas de �gua doce do mundo, e o clima quente favorece a engorda dos peixes.No inverno, chegam a parar de comer e levam at� 45 dias mais (ou seja, de 8 a 9 meses) para atingirem o tamanho necess�rio.

    O fato de que o brasileiro come poucos pescados –a m�dia � inferior a 10 kg de pescado por pessoa por ano, abaixo dos 12 kg recomendados pela OMS e metade da m�dia global (19 kg)– � visto como oportunidade de expans�o pela nova empresa.

    O Mato Grosso do Sul foi escolhido por ser grande produtor de gr�os, outro ponto forte do Brasil. Soja � insumo da ra��o, o principal item da planilha de custos da empresa, chegando a 70%. A Tilabras produzir� sua pr�pria ra��o quando estiver criando 50 mil toneladas de til�pia, ponto que viabiliza a f�brica.

    J� est�o projetadas outras duas expans�es, para 75 mil e depois 100 mil toneladas, o que deve ocorrer em 2020.

    O porte do projeto leva em conta que o mercado global de pescados tamb�m � crescente. A empresa planeja exportar 70% de seus peixes a partir, principalmente para os EUA, maiores consumidores do planeta.

    A FAO estima que a demanda global por pescados crescer� em aproximadamente 30 milh�es de toneladas at� 2030. Essa oferta adicional vir� da aquicultura, j� que a pesca n�o tem superado os cerca de 90 milh�es de toneladas anuais na �ltima d�cada.

    Entre os atuais l�deres na produ��o de pescados, poucos t�m condi��es de aumentar a produ��o de forma significativa. A China, por exemplo, l�der na produ��o de til�pias, enfrenta aumento nos custos, o que poderia abrir espa�o para o Brasil.

    A expectativa � que o pa�s, hoje l�der na exporta��o de carne bovina e de frango, galgue posi��es tamb�m no setor de pescados. "Sa�mos de pequenos produtores nacionais e passamos a multinacionais. Abriram-se as comportas para que empresas da mesma grandeza enxerguem o Brasil como oportunidade sensacional", diz Barbalho.

    Santoro admite o risco de novos competidores, mas defende que a Tilabras tem o trunfo do pioneirismo. "At� se instalarem, j� teremos ampliado e conquistado o mercado interno, fator importante de viabilidade econ�mica."

    A n�o ser que outros grandes empreendimentos tamb�m se instalem no Brasil, o pa�s ainda estar� longe das previs�es do banco holand�s Rabobank, com forte presen�a no agroneg�cio, que h� dois anos estimava 1 milh�o de toneladas de pescados em 2022.

    Reprodu��o
    cria��o de Til�pias da empresa americana Reagal Springs
    cria��o de Til�pias da empresa americana Reagal Springs

    PARCERIA

    O Brasil ser� o sexto pa�s de instala��o da Reagal Springs, que atua hoje no M�xico, Indon�sia, Honduras e Sumatra, al�m de nos EUA.

    A iniciativa para a parceria surgiu da empresa brasileira, que planejava aumentar sua participa��o no setor.

    Fundada em 2003, a Mar & Terra produz em Itapor� (MS) pintado e til�pia e, em Rond�nia, pirarucu (� a �nica empresa do pa�s autorizada a exportar essa esp�cie nativa). Hoje, produz aproximadamente 1.000 toneladas de pescado por ano e compra outras 5.000 toneladas, no mercado ou de engorda com produtores integrados.

    Os brasileiros visitaram, ao longo de um ano, v�rios criadouros fora do Brasil e conclu�ram que a Regal tinha tecnologia adequada para o tamanho do projeto que tinham em mente.

    Do lado da Reagal, o interesse era o de diversificar a produ��o. A americana tamb�m registrar� um aumento significativo na produ��o, j� que, somando todas as suas opera��es, vende hoje 100 mil toneladas de til�pias por ano.

    Quando come�ar a produzir pescados para consumo, no pr�ximo ano, a Tilabras vai colocar no mercado entre 25 mil e 30 mil toneladas de til�pias, cinco vezes o que sai dos tanques dos maiores produtores do pa�s atualmente.

    No come�o ser�o vendidos peixes inteiros, para o mercado interno, mas, at� o final de 2016, quando completa a primeira fase de investimentos, a Tilabras espera ter conclu�do a constru��o do frigor�fico, o que lhe permitir� vender o peixe tamb�m em fil�s, frescos e congelados.

    Em cinco anos, a produ��o deve chegar a 100 mil toneladas anuais.

    Selv�ria, onde ficar�o as instala��es industriais, est� a 45 km de Tr�s Lagoas, de onde deve vir a maior parte da m�o de obra —no pico de produ��o, a empresa projeta 1.850 funcion�rios diretos, quase um ter�o de todos os selvirenses.

    Santoro afirma que boa parte dos funcion�rios devem ser recrutada entre agricultores e que todos ter�o que ser treinados, mesmo os que j� tenham experi�ncia em frigor�ficos bovinos, pois o uso da faca � diferente.

    ENTRAVES

    Estudo do BNDES sobre o setor, divulgado em 2012, aponta os principais gargalos � evolu��o: dificuldades no licenciamento ambiental, falta de tecnologia e de cr�dito.

    Um dos problemas apontados por empres�rios s�o as dificuldades burocr�ticas e de licenciamento.

    O Minist�rio da Pesca diz que, al�m de tentar agilizar a concess�o de licen�as, tem negociado com governos estaduais a redu��o do custo de produ��o, principalmente pelo abatimento de tributos que incidem sobre a ra��o.

    A expectativa � que haja algum avan�o em rela��o � desonera��o no pr�ximo trimestre.

    Outro gargalo importante � o custo de exporta��o. Um cont�iner que saia do Brasil com destino aos EUA custa 60% mais que um despachado da China, a maior produtora global, com 40 milh�es de toneladas por ano.

    No momento, Santoro diz que as condi��es do porto de Santos s�o adequadas para escoar sua produ��o. Mas est�o em estudo outras op��es, inclusive na regi�o Norte.

    O rio Paran� � naveg�vel at� a bacia do Prata, mas a empresa n�o v� potencial de exporta��o para o Mercosul.

    F�MEAS VIRAM MACHOS

    Neste ano, a Tilabras deve montar seu laborat�rio para a produ��o de alevinos, fase larval que d� origem aos peixes.

    A produ��o de alevinos crescer� paralelamente � constru��o da engorda, e a empresa pretende us�-los todos em sua fazenda, vendendo apenas eventuais saldos.

    Como os machos se desenvolvem muito mais que as f�meas, os alevinos s�o colocados em um banho morno com horm�nios e todos ficam do sexo masculino.

    Eles v�o para a recria quando atingem de 2 a 3 gramas, em tanques menores. Quando chegam aos 30 gramas, s�o transferidos para seu habitat definitivo: tanques de 15 e 20 metros de di�metro interno com profundidades de 4 a 6 metros, suficientes para conter 70 toneladas de peixes adultos.

    Cada um dos tanques –200 na fase inicial e 800 daqui a cinco anos– recebe aproximadamente 100.000 alevinos por ciclo de seis meses.

    Quando saem da �gua, por meio de um mecanismo de suc��o, as til�pias est�o com cerca de 900 gramas —h� casos em que os clientes pedem peixes um pouco menores ou maiores.

    A Tilabras pretende come�ar a vender peixes inteiros, frescos e congelados, e, numa segunda etapa, fil�s que ser�o processados e embalados no frigor�fico que ser� constru�do em Selv�ria.

    CONCESS�O

    Como as �guas dos rios s�o da Uni�o, � preciso que a empresa obtenha a concess�o para us�-las.

    O processo � regulamentado pelo decreto 4.895 de 2003, e prev� um prazo de 20 anos, renov�veis por mais 20.

    A ANA (Ag�ncia Nacional de �guas) calcula a capacidade de suporte de cada manancial, ou seja, quantos peixes cada reservat�rio pode produzir, e estipula um valor pela concess�o.

    Normalmente, ele � de R$ 500 por hectare, segundo Felipe Matias, secret�rio de Aquicultura do Minist�rio da Pesca –no caso da Tilabras, a �rea de cria��o deve ter 600 hectares, o que levaria o pre�o m�nmo a cerca de R$ 300 mil.

    Al�m de estabelecer esse valor de outorga, o licenciamento exige autoriza��o da Marinha e licen�a ambiental.

    A concess�o � por processo licitat�rio —vence quem oferecer a maior outorga.

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