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    Entenda a evolu��o da crise que atinge a economia dos EUA

    da Folha Online

    05/12/2008 11h44

    Bancos de diversos ramos --investimentos, varejo, hipotecas--, nos Estados Unidos e em outros pa�ses, principalmente a Europa, j� sofreram preju�zos bilion�rios e em alguns casos fecharam, desde agosto do ano passado. A raiz do problema est� no mercado de hipotecas norte-americano.

    Arte Folha

    O mercado imobili�rio dos EUA passou por uma fase de expans�o acelerada logo depois da crise das empresas "pontocom", em 2001. O Federal Reserve (Fed, o BC americano) passou a reduzir sua taxa de juros, a fim de baratear empr�stimos e financiamentos e encorajar consumidores e empresas a voltarem a gastar.

    O setor imobili�rio se aproveitou desse momento de juros baixos: a demanda por im�veis cresceu, atraindo compradores. Em 2003, por exemplo, os juros do Fed chegaram a cair para 1% ao ano --menor taxa desde o fim dos anos 50.

    Em 2005, o "boom" no mercado imobili�rio j� estava avan�ado; comprar uma casa (ou mais de uma) tornou-se um bom neg�cio, n�o s� para quem queria adquirir a casa pr�pria, mas tamb�m para quem procurava em que investir. Tamb�m cresceu a procura por novas hipotecas, a fim de usar o dinheiro do financiamento para quitar d�vidas e consumir.

    As companhias hipotec�rias descobriram nessa �poca um nicho ainda a ser explorado no mercado: o de clientes do segmento "subprime", caracterizados, de modo geral, pela baixa renda, por vezes com hist�rico de inadimpl�ncia e com dificuldade de comprovar. O segmento "subprime", assim caracterizado, representa um risco maior de inadimpl�ncia que os de outras categorias de cr�dito. mas justamente por ser de maior risco, as taxas de retorno s�o bem mais altas.

    A promessa de retornos altos atraiu gestores de fundos e bancos, que compraram esses t�tulos "subprime" das companhias hipotec�rias e permitiram que uma nova quantia em dinheiro fosse emprestada, antes mesmo do primeiro empr�stimo ser pago. Um outro gestor, interessado no alto retorno envolvido com esse tipo de papel, comprou o t�tulo adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerou uma cadeia de venda de t�tulos.

    Por�m, se a ponta (o tomador) n�o consegue pagar sua d�vida inicial, ele d� in�cio a um ciclo de n�o-recebimento por parte dos compradores dos t�tulos. O resultado: todo o mercado passa a ter medo de emprestar e comprar os "subprime", o que termina por gerar uma crise de liquidez (retra��o de cr�dito).

    Ap�s atingir um pico em 2006, os pre�os dos im�veis, no entanto, passaram a cair. Os juros do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o cr�dito e afastaram compradores; com isso, a oferta come�ou a superar a demanda e, desde ent�o, o que se viu foi uma espiral descendente no valor dos im�veis.

    Com os juros altos, a inadimpl�ncia aumentou e o temor de novos calotes fez o cr�dito sofrer uma desacelera��o expressiva no pa�s como um todo. Sem oferta suficiente de cr�dito, a economia dos EUA desaqueceu. Com menos liquidez (dinheiro dispon�vel), menos se compra, menos as empresas lucram e menos pessoas s�o contratadas.

    No mundo da globaliza��o financeira, cr�ditos gerados nos EUA podem ser convertidos em ativos que v�o render juros para investidores na Europa e outras partes do mundo. Por isso o pessimismo influencia os mercados globais e atinge t�o profundamente a Europa.

    Primeiros efeitos

    Esse era o cen�rio quando o o BNP Paribas Investment Partners --divis�o do banco franc�s BNP Paribas-- congelou, em agosto do ano passado, cerca de 2 bilh�es de euros dos fundos Parvest Dynamic ABS, o BNP Paribas ABS Euribor e o BNP Paribas ABS Eonia. A alega��o do banco era de preocupa��es sobre os pagamentos de cr�dito "subprime" nos EUA.

    Diante dessa medida, o mercado imobili�rio reagiu com p�nico. Gigantes do setor hipotec�rio, como a American Home Mortgage (AHM), uma das 10 maiores empresa do setor de cr�dito imobili�rio e hipotecas dos EUA, pediu concordata. A Countrywide Financial, outra gigante do setor, teve de ser comprada pelo Bank of America.

    Citigroup, UBS, Bear Stearns e outros grupos financeiros de escala global perderam bilh�es com os pap�is ligados a hipotecas "subprime".

    Um ano depois

    A crise, longe de perder f�lego, teve suas for�as renovadas em setembro deste ano. As gigantes hipotec�rias americanas Fannie Mae e Freddie Mac deram sinais de que poderiam quebrar. Com quase a metade dos US$ 12 trilh�es em empr�stimos para a habita��o nos EUA em seus registros, o Departamento do Tesouro interveio para evitar o pior: anunciou uma ajuda de at� US$ 200 bilh�es.

    O Lehman Brothers, no entanto, foi deixado � pr�pria sorte: afetado pelas perdas com a crise dos "subprime", o banco viu malograrem tentativas de encontrar um comprador e de levantar fundos junto a outras institui��es privadas para tocar suas opera��es financeiras. Mesmo o governo negou um empr�stimo. No �ltimo dia 15, a solu��o encontrada pelo banco foi pedir concordata.

    Ao fim do Lehman se seguiram a venda do Merrill Lynch ao Bank of America; a ajuda de US$ 85 bilh�es � seguradora AIG, tamb�m sob risco de quebrar por falta de fontes de capta��o de empr�stimos; a quebra do banco do segmento de empr�stimos em poupan�a ("savings & loans") Washington Mutual (WaMu) --no que, segundo analistas, foi a maior fal�ncia de um banco nos Estados Unidos--; e a venda do Wachovia, quarto maior dos EUA, que anunciou a fus�o com o Wells Fargo, em uma opera��o de US$ 15,1 bilh�es em troca de a��es.

    Os problemas do Wachovia t�m boa parte de sua origem na aquisi��o da companhia hipotec�ria Golden West Financial em 2006, por cerca de US$ 25 bilh�es, quando o mercado imobili�rio ainda estava em um momento de euforia. Com a compra, o Wachovia assumiu US$ 122 bilh�es em hipotecas do tipo 'Pick-A-Payment', na qual a Golden West era especialista. Nessa modalidade, os mutu�rios tinham permiss�o para deixar de fazer alguns pagamentos.

    Combate

    Para combater a onda de quebradeira entre as institui��es financeiras e acalmar o mercado, o Congresso dos EUA aprovou o plano de ajuda de US$ 700 bilh�es. A aprova��o coloca na m�o do secret�rio do Tesouro, Henry Paulson, dinheiro para tentar reverter a crise que abala o mercado financeiro mundial.

    O plano do governo americano � usar os US$ 700 bilh�es para comprar um artigo conhecido por um nome pouco atraente: t�tulos "podres", ou pap�is cujo resgate � muito improv�vel --conseq�entemente, cujo risco de calote � alto. A maioria destes ativos s�o ligados justamente �s hipotecas "subprime" (de alto risco).

    Antes de ser aprovada, a proposta de Bush foi bastante modificada pelos senadores e deputados. A vers�o incluiu no plano mais US$ 150 bilh�es em corte de impostos, benef�cios fiscais para a classe m�dia, pequenos empres�rios e fam�lias atingidas por acidentes naturais.

    Al�m disso, o pacote limita os poderes do Executivo para gerir o pacote, estreita a vigil�ncia sobre a aplica��o dos recursos e reduz os pagamentos milion�rios aos grandes executivos por tr�s das institui��es financeiras que quebraram.

    Antes do pacote bilion�rio, um outro pacote de est�mulo foi aprovado em fevereiro e surtiu algum efeito, com o envio de cheques de restitui��es aos contribuintes. O dinheiro extra favoreceu os gastos dos consumidores entre abril e julho, o que se refletiu nos dados do PIB (Produto Interno Bruto). No segundo trimestre, a economia cresceu 2,8% (ligeiramente menor que os 3,3% em um c�lculo pr�vio). Analistas dizem, no entanto, que, sem o benef�cio do dinheiro extra, nos pr�ximos trimestres o desempenho econ�mico americano dever� ser inferior.

    G7 e Tesouro

    Em mais um passo na tentativa de amenizar os efeitos da crise financeira, o secret�rio do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, anunciou em novembro que o governo daquele pa�s vai comprar a��es de institui��es financeiras com fundos do pacote de US$ 700 bilh�es aprovado pelo Congresso americano.

    Os pa�ses membro do G7 decidiram tomar "todas as medidas necess�rias para desbloquear o cr�dito e os mercados monet�rios" para que os bancos disponham de "amplo acesso � liquidez" (oferta de dinheiro).

    O grupo dos sete pa�ses mais industrializados, reunido em Washington, anunciou a ado��o de um "plano de a��o" de cinco pontos para enfrentar a crise financeira internacional.

    Veja os pontos:

    1 - Adotar a��es decisivas e utilizar todas as ferramentas dispon�veis para apoiar as institui��es financeiras importantes para o sistema e evitar sua fal�ncia.

    2 - Dar todos os passos necess�rios para descongelar os mercados de cr�dito e c�mbio e garantir que os bancos e outras institui��es financeiras tenham amplo acesso � liquidez e fundos.

    3 - Garantir que bancos e outros intermedi�rios financeiros maiores possam, segundo sua necessidade, reunir capital de fontes p�blicas e privadas, em volumes suficientes para restabelecer a confian�a e prosseguir com os empr�stimos para fam�lias e neg�cios.

    4 - Assegurar que os respectivos seguros nacionais de dep�sitos e programas de garantias sejam suficientemente robustos e consistentes para que os pequenos correntistas mantenham a confian�a no sistema.

    5 - Atuar, quando for apropriado, para reativar os mercados secund�rios para hipotecas (os mercados de compra de hipotecas por entidades financeiras).

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