Quem liga a TV no hor�rio nobre em Portugal e se depara com S�lvia Pfeifer, Zez� Motta e Gracindo J�nior pode demorar um tempo para perceber que n�o se trata de uma produ��o da Globo, mas sim de uma telenovela lusa.

"Ouro Verde", produzida pela TVI, emissora mais assistida de Portugal, e no ar desde janeiro, tem um enorme n�cleo brasileiro, e parte da trama se passa no Brasil.

A presen�a de artistas brasileiros nas novelas portuguesas vem crescendo. Nomes conhecidos do grande p�blico, mas que no Brasil andam um tanto sumidos da telinha t�m passado temporadas de trabalho al�m-mar.

Muitos, ali�s, j� eram rostos conhecidos tamb�m do p�blico lusitano que, desde 1975, pouco ap�s o fim da ditadura salazarista, passou a acompanhar telenovelas brasileiras. Durante anos, elas lideraram a audi�ncia local.

"Gabriela, Cravo e Canela", protagonizada por S�nia Braga, foi a primeira a ser exibida e mais de 40 anos depois ainda � muito lembrada.

Com o tempo, as produ��es locais passaram a figurar entre os programas mais assistidos. Diante disso, a presen�a dos atores brasileiros nos folhetins portugueses foi interpretada como uma esp�cie de movimento natural.

Al�m da experi�ncia internacional, a possibilidade de ganhar em euros ajuda a convencer cada vez mais atores a cruzar o Atl�ntico.

BOAS F�RIAS

"O Roberto Talma [diretor] me chamou para fazer a promo��o do lan�amento da novela 'O Astro' em Portugal", diz a atriz �rsula Corona.

"Meu primeiro convite de uma produ��o local aconteceu num per�odo em que estava para entrar de f�rias. A proposta foi t�o fascinante que digo que foram as melhores f�rias da minha vida", diz ela, que acaba de participar da novela "Ouro Verde".

A atriz, que tamb�m participou de "Malha��o", "Viver a Vida" e "Totalmente Demais", fez personagens com destaque em Portugal.

Sua estreia na novela "Sol de Inverno" –no papel de uma vil� �rf� que virava traficante de �rg�os e depois se apaixonava por uma de suas v�timas– teve muita repercuss�o entre os portugueses.

"Foi sensacional, at� apanhei na rua duas vezes", diverte-se Corona, que acabou de voltar ao Brasil, mas ainda se divide entre em Portugal e Londres, onde vai apresentar um programa.

Fora da televis�o brasileira desde 2015, quando participou de "Totalmente Demais", S�lvia Pfeifer tamb�m acaba de voltar ao Brasil, ap�s mais de seis meses gravando "Ouro Verde".

Ela diz ter adorado a experi�ncia. "Foram duas semanas entre o convite e a ida do Brasil para Portugal. Foi um tempo curto, mas fui supercontente com o trabalho."

Al�m das saudades de casa, Pfeifer diz que o portugu�s europeu foi um desafio adicional. "O idioma, por mais que seja parecido, n�o � igual. E eu, como tinha que usar algumas express�es portuguesas, ficava com aten��o maior. Esse fato de ter que lidar com uma l�ngua diferente � um exerc�cio muito bom para o ator", comenta.

Ao contr�rio das duas colegas, Joana Balaguer mudou-se de vez para Portugal. Uma das protagonistas de "Malha��o" em 2005, quando viveu a vil� Jaqueline, ela terminou, h� pouco mais de um m�s, sua segunda participa��o em uma novela local.

Ela � hoje casada com um portugu�s, mas explica que seu primeiro convite no pa�s aconteceu antes da uni�o.

"Vim passar f�rias em Portugal em 2010 e fui convidada para um teste. N�o achei que fosse rolar, mas eu fui chamada e foi �timo", conta.

Ap�s mais de tr�s anos sem atuar, dedicando-se inteiramente ao filho Martin, 3, ela voltou � dramaturgia portuguesa para "Amor Maior", novela da emissora SIC.

"Tem muitas diferen�as entre fazer novela em Portugal e no Brasil. Mas em Portugal chama a aten��o a responsabilidade de todos", diz.

"Voc� n�o v� o diretor e o assistente de produ��o pedindo sil�ncio. Os atores entram e respeitam. No Brasil, muitas vezes se tem de pedir cinco ou dez vezes."

Joana Balaguer diz que pretende continuar atuando no pa�s, embora tamb�m se dedique a um site e um canal no YouTube, ambos chamados "Cidades de Portugal".

NOVEL�ES

Cheias de intrigas, beb�s de pais desconhecidos e hist�rias de amor imposs�vel, as novelas lusas t�m um diferencial importante em rela��o �s brasileiras: a dura��o.

Enquanto, por exemplo,"Avenida Brasil", sucesso da Globo em 2012, durou cerca de sete meses, a portuguesa "Anjo Selvagem" come�ou em 2001 e s� acabou em 2003, ap�s mais de 600 cap�tulos –aqui chamados de epis�dios.

Com menos recursos que as brasileiras –e sem algo como um Projac–, as tramas portuguesas costumam ter muitas cenas internas.

As diferen�as, por�m, n�o parecem afastar os brasileiros. Uma conhecida agente de talentos de Lisboa, que pediu para n�o ser identificada, diz que "pelo menos" dois nomes conhecidos no Brasil a procuram por semana para trabalhar em Portugal.