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    Fil�sofo e cr�tico liter�rio Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris

    DE S�O PAULO

    07/02/2017 13h37

    Ze Carlos Barretta - 5.set.2012/Folhapress
    Tzvetan Todorov, fil�sofo b�lgaro, em palestra do evento 'Fronteiras do Pensamento' em S�o Paulo, em 2012
    Tzvetan Todorov em palestra do evento 'Fronteiras do Pensamento' em S�o Paulo, em 2012

    O fil�sofo, historiador e cr�tico liter�rio Tzvetan Todorov morreu, nesta ter�a (7), em um hospital de Paris, aos 77 anos.

    Ele, que era considerado um dos grandes intelectuais europeus da atualidade, foi v�tima de complica��es da AMS (atrofia de m�ltiplos sistemas), uma doen�a neurodegenerativa, segundo informou sua fam�lia.

    Todorov, nascido na Bulg�ria em 1939, mas radicado na Fran�a desde os anos 1960, � autor de cl�ssicos dos estudos liter�rios como "A Literatura em Perigo", "Cr�tica da Cr�tica", "Simbolismo e Interpreta��o", entre outros livros.

    Seus ensaios influenciaram tamb�m a sociologia, a semi�tica e a antropologia. Para al�m da teoria liter�ria, Todorov se dedicou a estudar a hist�ria das ideias.

    Todorov deixa uma obra que falou sobre a alteridade, o amor, a barb�rie, a democracia e a vida comum, entre outros temas.

    Ele havia recentemente terminado seu �ltimo livro, "Le Triomphe de l'Artiste" (o triunfo do artista), que deve sair na Fran�a em mar�o.

    FORMALISMO

    Nascido sob a ditadura na Bulg�ria, abandonou o pa�s para fugir do comunismo em 1963. As reflex�es sobre o autoritarismo se tornariam uma marca importante da sua obra, em livros como "A Experi�ncia Totalit�ria" e "O Medo dos B�rbaros".

    O intelectual teve ainda papel importante na divulga��o do formalismo russo no Ocidente, nos anos em 1960 e 1970. O cr�ticos desse ramo da teoria liter�ria, que produziram sua obra na R�ssia dos anos 1920, sofreram persegui��o pol�tica do regime sovi�tico.

    No Brasil, esses ensaios est�o reunidos em "Formalismo Russo", volume organizado por Todorov e lan�ado aqui pela editora da Unesp. Seu ensaio "Introdu��o � Literatura Fant�stica" � considerado uma obra seminal no estudo desse g�nero liter�rio.

    Representante da corrente estruturalista – foi aluno de Roland Barthes (1915-1980) em Paris –, ele se tornou uma figura proeminente da intelectualidade francesa.

    Fundou, ao lado do cr�tico e te�rico da literatura G�rard Genette a revista "Po�tique" em 1970, antes de passar, nos anos 1980, ao campo da hist�ria das ideias. Ele tinha um cargo honor�rio do Centro Nacional de Pesquisa Cient�fica, mais conhecido como CNRS (seu acr�nimo em franc�s) e foi professor convidado em v�rias das principais universidades norte-americanas, como Columbia, Harvard e Yale.

    Em 2008, Todorov recebeu o Pr�mio Pr�ncipe de Ast�rias (hoje Princesa de Ast�rias) por sua contribui��o �s ci�ncias sociais.

    No discurso de aceita��o da honraria espanhola, Todorov se referiu aos deslocamentos em massa, amplificados na contemporaneidade, por um lado, pelas facilidades de viagem, por outro, pelas tens�es pol�ticas e guerras, e pregou a toler�ncia.

    "Antes da idade contempor�nea, o mundo jamais havia sido palco de uma circula��o t�o intensa entre os povos que o habitam, nem de tantos encontros entre cidad�os de pa�ses. As raz�es para tais movimentos de povos e indiv�duos s�o m�ltiplas [...]. A atual rapidez e facilidade das viagens convida hoje os habitantes dos pa�ses ricos a praticar um turismo de massas [...]. A popula��o de pa�ses pobres tenta, por todos os meios, ter acesso ao que considera o para�so dos pa�ses industrializados, em busca de condi��es de vida dignas. Outros fogem da viol�ncia que assola seus pa�ses: guerras, ditaduras, persegui��es, atos terroristas."

    Colocando ainda como causas de deslocamentos a quest�o clim�tica, frisou que o s�culo 21, por essas raz�es, "se apresentava como aquele em que numerosos homens e mulheres ter�o de abandonar seu pa�s de origem e adotar, de forma provis�ria ou permanente, a condi��o de estrangeiros".

    Seu discurso se conclu�a dizendo que "pela forma como percebemos e acolhemos os demais, os diferentes, podemos medir nosso grau de barb�rie ou civiliza��o". "Ser civilizado significa ser capaz de reconhecer plenamente a humanidade dos outros, ainda que tenham rostos e h�bitos diferentes dos nossos: saber colocar-nos em seu lugar e ver-nos a n�s mesmos como se de fora. Ningu�m � definitivamente b�rbaro ou civilizado e cada um � respons�vel por seus atos. Mas n�s, que hoje recebemos essa grande honra, temos a responsabilidade de avan�ar um passo a mais no sentido da civiliza��o."

    O intelectual deixa dois filhos de seu casamento com a escritora canadense Nancy Huston, que durou at� 2014.

    REPERCUSS�O

    "'As Estruturas Narrativas' e a sua "Introdu��o � Literatura Fant�stica' foram sempre uma luz quando precisei voltar � quest�o: se o material da literatura � a linguagem que usamos com tantos outros fins operacionais no dia a dia, o que d� a um texto o carimbo, o estigma, a medalha de 'liter�rio'? Seus trabalhos ajudam a pensar de que forma textos em tudo diferentes podem comungar de poderes semelhantes. E Todorov refletiu a respeito de tudo isso escrevendo de forma bonita e compreens�vel, e portanto generosa"
    Estev�o Azevedo, escritor

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    "Gostava dessa profundidade m�ltipla que o Todorov tinha, uma grande capacidade de an�lise. Como a arte contempor�nea n�o � uma coisa s� [e mistura linguagens], a especializa��o n�o deu certo. E esses caras, como ele e o Umberto Eco, ficaram em destaque. Fico pensando como vamos fazer sem eles."
    Ricardo L�sias, escritor

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    "A meu ver, seus melhores livros s�o "Teoria dos S�mbolos" e "Os G�neros do Discurso", densos de erudi��o e brilhantes na formula��o. Realizou seus dois desejos: foi um grande pesquisador (n�o da Idade M�dia), teve filhos e netos. N�o pretendia ser uma estrela internacional mas o foi, em confer�ncias s�bias e generosas. Estou muito triste por sua morte."
    Leyla Perrone-Mois�s, cr�tica liter�ria

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