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    'O Turista Aprendiz', de M�rio de Andrade, � relan�ado

    MAUR�CIO MEIRELES
    COLUNISTA DA FOLHA

    25/11/2015 17h00

    Foram mais de 30 anos fora de cat�logo, mas agora um dos relatos de viagem mais importantes da literatura brasileira est� de volta. "O Turista Aprendiz", di�rio de duas viagens de M�rio de Andrade -uma para a Amaz�nia e outra para o Nordeste-, acaba de ser relan�ado.

    Organizado em 1976 por Tel� Ancona Lopes, pesquisadora da USP e uma das maiores especialistas na obra andradiana do pa�s, "O Turista..." traz as impress�es de M�rio nas duas expedi��es. A primeira, que ocorreu de maio a agosto de 1927, rendeu material que depois foi parar em "Macuna�ma". A segunda, com car�ter mais etnogr�fico, feita entre novembro de 1928 e fevereiro de 1929, � um registro da cultura popular no per�odo.

    O relan�amento � uma parceria entre o Ieb-Usp (Instituto de Estudos Brasileiros) e o Iphan (Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional). Al�m da professora Tel�, a nova edi��o � organizada tamb�m por Tatiana Longo Figueiredo.

    Divulga��o
    M�rio de Andrade na Praia do Chap�u Virado, em maio de 1927, no Par�

    Durante as viagens, M�rio tamb�m se arriscou como fot�grafo, usando sua "Codaque", como chamava sua c�mera.

    A nova edi��o de "O Turista Aprendiz" traz um CD-ROM com essas imagens, que, al�m de registrarem os locais por onde ele passou, mostram o modernista em momentos descontra�dos -�s vezes usando trajes de banho, como na Praia do Chap�u Virado, no Par�.

    Um DVD traz o document�rio "A Casa de M�rio" , dirigido por Luiz Bargman, sobre o local onde o escritor viveu em S�o Paulo, na rua Lopes Chaves.

    "S�o duas viagens muito importantes. Al�m da import�ncia como documenta��o, � um saboroso guia de viagens", afirma Eduardo Jardim, bi�grafo do modernista. "O livro continua importante para a academia, mas tamb�m pode alcan�ar um p�blico mais amplo."

    Jardim ressalta ainda que, ao fazer os registros etnogr�ficos, M�rio sabia que aquelas manifesta��es populares podiam desaparecer com a urbaniza��o do Brasil.

    Algumas passagens de "O Turista Aprendiz" hoje s�o lend�rias, como a que o modernista conta como teve seu "corpo fechado" em uma casa de catimb� de Natal. "Isso come�ou me divertindo, o ritmo era gostoso, e, defuma��o principiada, me tomou uma prodigiosa vontade de rir", escreve o autor sobre a cerim�nia religiosa.

    M�rio de Andrade faz um registro das roupas, das comidas e dos h�bitos dos locais que visita. Al�m da m�sica, � claro, parte importante de "O Turista Aprendiz" -como as can��es dos carregadores de piano do sert�o ou dos mendigos.

    "M�rio mostra o Brasil como uma unidade cheia de diversidade, mas uma diversidade cheia de tens�es", diz Eduardo Jardim.

    LEIA TRECHOS DO DI�RIO:

    Natal, 28 de dezembro de 1928

    Hoje, �ltima sexta-feira do ano, apesar do dia ser par, era muito prop�cio para coisas de feiti�aria. Por isso aproveitei pra "fechar o corpo" no catimb� de dona Plastina, l� no fundo dum bairro pobre, sem ilumina��o, sem bonde, branquejado pelo are�o das dunas. (...) N�o tem mais melef�cio nem da terra nem das �guas, nem de por baixo da terra nem dos ares que me venha atentar, estou de corpo fechado. Mestre Xaramundi desceu pela rama da jurema, limpador de "mat�ria" (corpo) e me alimpou."

    Autom�vel, 3 de fevereiro de 1929

    Ser�o 13 horas talvez, n�o sei... Ando j� meio perdendo a no��o de hor�rio nesta vida viajeira. At� a no��o dos nomes topogr�ficos. Me esque�o de perguntar por onde passo, ando misturando tanto as coisas que deixei de ser um indiv�duo compreensivo para me tornar essencialmente, unicamente mesmo, sensitivo."

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