• Equil�brio e Sa�de

    Thursday, 11-Jul-2024 02:39:36 -03

    Transplante de rim n�o compat�vel � melhor do que ficar na fila de espera

    MARIANA VERSOLATO
    EDITORA-ADJUNTA DE "COTIDIANO"

    14/03/2016 02h00

    Faz cinco anos que a carioca Viviane Mann Rechtman, 55, vive com um terceiro rim, doado por seu marido, Felipe, 56. Com o transplante, as sess�es di�rias de di�lise acabaram, a qualidade de vida melhorou e a vida seguiu.

    A hist�ria deles seria igual a milhares de outras n�o fosse por algo que normalmente impediria esse final feliz: os dois eram incompat�veis.

    Ap�s algumas transfus�es de sangue e tr�s gesta��es, Viviane desenvolveu muitos anticorpos anti-HLA em resposta imune a essas c�lulas estrangeiras. HLA �, grosso modo, o sistema do corpo que classifica c�lulas como "pr�prias" ou "impr�prias".

    Os anticorpos anti-HLA de Viviane ent�o atacariam e destruiriam um rim estranho -incluindo o de seu marido, como os exames apontaram.

    Mas um procedimento relativamente novo, chamado dessensibiliza��o, consegue filtrar o sangue, retirar os anticorpos "rebeldes" e permitir que o transplante seja feito mesmo nesses casos.

    "A di�lise me fazia muito mal, e eu tinha que fazer toda noite. Era dependente daquela m�quina", conta ela, que passou pelos procedimentos -dessensibiliza��o e depois transplante- no hospital Albert Einstein, em S�o Paulo. "Agora, tenho um novo rim que vale por tr�s."

    O relato de Viviane � corroborado por um novo estudo, publicado na prestigiosa revista m�dica "New England Journal of Medicine", que aponta que receber um rim de doador vivo e incompat�vel traz benef�cios. �, inclusive, melhor do que ficar na fila � espera de um transplante de falecido compat�vel.

    RIM NOVO - �rg�o de uma pessoa 'incompat�vel' pode ser usado

    Os pesquisadores comparam um grupo de pessoas que passaram pela dessensibiliza��o e receberam um rim de doador vivo HLA-incompat�vel com outros dois grupos: pessoas que ficaram na fila de espera e receberam um rim de doador morto; e pessoas que tamb�m ficaram na fila, mas n�o receberam o �rg�o.

    A sobrevida do primeiro grupo em compara��o com o segundo foi 13,6% maior depois de oito anos. Em rela��o ao terceiro grupo, a sobrevida foi 36,6% maior.

    VALE A PENA?

    A ideia do estudo, segundo os autores, era avaliar se havia benef�cio em termos de sobrevida para compensar passar por todo o processo.

    "Eles mostram que se voc� pega esse paciente, faz a dessensibiliza��o, que � um procedimento muito pesado, e transplanta o rim, ele vai melhor do que quem fica aguardando", diz Alvaro Pacheco e Silva Filho, coordenador do programa de transplante renal do Einstein.

    Se n�o fossem retirados, os anticorpos destruiriam r�pido o rim transplantado, diz ele. "A dessensibiliza��o muda totalmente a hist�ria."

    PERFIL

    No Einstein, cerca de 20 pacientes j� passaram por esses procedimentos. Estima-se que entre 10% e 20% dos pacientes que precisam de um rim se encaixariam no programa por terem anticorpos contra a maioria da popula��o, ou contra o �nico doador poss�vel.

    Mas, se o paciente n�o tem um doador vivo � m�o, n�o faz sentido passar pela dessensibiliza��o, j� que o procedimento tem que ser seguido imediatamente pelo transplante e pode ser feito mesmo depois da opera��o, para que os anticorpos "rebeldes" n�o voltem a ser produzidos.

    Silva Filho lembra ainda que a t�cnica de retirada dos anticorpos aumenta o risco de infec��o e requer equipe especializada. Tamb�m custa caro -acima de R$ 50 mil.

    Por todos esse motivos, � improv�vel pensar no procedimento como algo que possa reduzir significativamente a lista de espera por transplante renal, segundo os especialistas ouvidos.

    Valter Duro Garcia, coordenador de transplantes da Santa Casa, afirma, por�m, que os procedimentos para transplante incompat�vel poderiam ser introduzidos no SUS para casos de urg�ncia, desde que de maneira organizada e considerando os custos e riscos.

    Edi��o impressa

    Fale com a Reda��o - [email protected]

    Problemas no aplicativo? - [email protected]

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024