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    Ex-perueiros se tornam caciques do transporte em S�o Paulo

    GIBA BERGAMIM JR.
    DE S�O PAULO

    13/04/2015 02h00

    Eles rodavam a cidade dirigindo Kombis abarrotadas de passageiros e faziam parte de uma rede clandestina que no ano 2000 ganhou ares de legalidade. Na ocasi�o, o prefeito de S�o Paulo, Celso Pitta, numa jogada pol�tica, deu um alvar� tempor�rio aos chamados perueiros.

    Quinze anos depois, alguns dos mesmos homens que literalmente ergueram o prefeito em comemora��o sa�ram da condi��o de marginais do sistema de transportes e viraram empres�rios.

    Atualmente comandam a opera��o de 6.000 micro-�nibus e �nibus e cuidam de uma engrenagem que transporta cerca de 4 milh�es de passageiros na capital paulista, com faturamento de R$ 2,6 bilh�es por ano –43% do sistema municipal.

    Apelidado de "Doid�o", Valter Bispo, 46, era um ilegal. Comanda hoje a Transcap, empresa que atua na zona sul, com 300 ve�culos.

    Karime Xavier/Folhapress
    Valter Bispo, 46, comanda a Transcap, na zona sul, com 300 ve�culos
    Valter Bispo, 46, comanda a empresa Transcap, na zona sul, com 300 ve�culos

    Ele ri ao se recordar de um protesto em que se vestiu de noivo e simulou o casamento da ent�o prefeita Marta Suplicy (PT), em 2001, como forma de pression�-la a legalizar a situa��o dos perueiros. � �poca, a prefeita estava de casamento marcado com Lu�s Favre, hoje seu ex-marido.

    Editoria de arte/Folhapress

    "Atualmente operamos como qualquer empresa e temos certificados de qualidade. Crescemos muito de l� para c�", disse ele, que tem uma segunda empresa, de transporte de combust�veis.

    O padr�o de vida tamb�m melhorou muito. "Tenho minha casa, um carro bom, mas me considero administrador, n�o empres�rio", diz.

    Bispo e um grupo de empres�rios presidem as antigas cooperativas de transportes.

    Entraram definitivamente no sistema ap�s ganharem licita��o em 2003, aberta durante a gest�o petista.

    Passado esse tempo, sa�ram de cena as Kombis e as Bestas financiadas "a perder de vista" e entraram �nibus e micro-�nibus novos, al�m de investimentos em garagens de at� R$ 100 milh�es.

    Se antes viviam num jogo de gato e rato com a pol�cia e a fiscaliza��o municipal, agora os antigos camel�s do transporte querem se manter no comando do neg�cio.

    Est�o de olho na licita��o que a gest�o Haddad far� neste ano e devem concorrer com os empres�rios de �nibus tradicionais, que operam hoje nos grandes corredores.

    INVESTIGA��ES

    No come�o deste ano, os antigos perueiros deixaram de se reunir em cooperativas –sistema no qual, ao menos na teoria, cada um � dono de seu ve�culo e ganha pela quantidade de passageiros. Tiveram que virar empresas, prerrogativa para participar da pr�xima concorr�ncia.

    De 2003 para c�, algumas cooperativas n�o s� cresceram como se tornaram alvo de investiga��es sobre suposta presen�a do crime organizado, incluindo a fac��o criminosa PCC, em garagens.

    Luiz Carlos Pacheco, o Pandora, estava entre os que jogaram Pitta para cima na comemora��o. Na ocasi�o, tinha apenas deten��es por fazer transporte clandestino.

    Em 2006, presidente da Cooperpam, foi preso sob suspeita de atuar no plano de resgate de um preso. A Justi�a concluiu n�o haver provas. O inqu�rito foi arquivado.

    Hoje, a Transwolff, que absorveu a Cooperpam, � uma das maiores do sistema, com 1.200 �nibus ou micro-�nibus e garagem de R$ 100 milh�es.

    Com ele tamb�m foi acusado Paulo Korek Farias, 46, que atuava numa garagem associada � Cooperpam.

    Karime Xavier/Folhapress
    Paulo Korek Farias tem empresa com 513 ve�culos e � empres�rio do grupo Katinguel�
    Paulo Korek Farias tem empresa com 513 ve�culos e � empres�rio do grupo Katinguel�

    Hoje, Farias � dono da A2, empresa com 513 ve�culos, que atua no extremo sul, e de uma via��o em Cubat�o (a 56 km de SP). "Nenhum diretor de cooperativa se envolveu com crime. Jamais", disse Farias, ap�s posar para fotos.

    Vestindo terno e sapatos importados, ele lembra que usava uma perua branca para transportar passageiros da regi�o do Campo Limpo � Vila Mariana. "� motivo de orgulho olhar para tr�s e ver o que a gente construiu", disse ele, que mora na regi�o do Jabaquara e � empres�rio do grupo de pagode Katinguel�.

    Tanto na empresa dele como na maioria das demais, a frota � subcontratada, j� que antigos cooperados passaram a ser agregados. As garagens, no entanto, ainda pertencem �s antigas cooperativas.

    Mesmo crescendo no neg�cio, os ex-perueiros afirmam que est�o longe de serem bar�es do transporte, como os cl�s portugueses que atuam h� d�cadas no sistema de �nibus, caso da fam�lia de Jos� Ruas Vaz. "Perto dos Ruas, sou s� uma viela", diz Bispo.

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