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    Ronaldo Caiado

    Se jogar para a arquibancada, Temer poder� ter o mesmo destino da antecessora

    13/08/2016 01h00

    Afastar a presidente Dilma Rousseff n�o � o fim, mas o in�cio de um novo e prolongado processo de recupera��o do pa�s. Em 13 anos de governo, o PT deixou o Brasil moribundo. O impeachment, nesses termos, equivale a lev�-lo � UTI, mas a salva��o s� vir� se os procedimentos forem rigorosos, sem concess�es. E os sinais iniciais preocupam — e muito.

    A meta fiscal deficit�ria, de R$ 170,5 bilh�es, j� de si absurda — e que condensa em n�meros o tr�gico legado do PT —, precisa ser rigorosamente cumprida. E o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, corrigindo o que dissera na v�spera seu colega da Casa Civil, Eliseu Padilha, de que a meta j� teria sido consumida em R$ 169 bilh�es, assegura que o colega se equivocou. Afirma que os n�meros mencionados s�o uma proje��o de gastos para todo o restante do ano — e n�o uma realidade j� consumada no presente. Se o fosse, estar�amos perdidos.

    O que assusta, por�m — e deu verossimilhan�a ao que foi desmentido —, n�o s�o tanto as declara��es controversas, que desorientam os agentes econ�micos, mas a pr�tica por tr�s delas, como a concess�o de aumentos salariais na esfera dos tr�s Poderes.

    O custo desses aumentos para o governo ser� de R$ 67,7 bilh�es entre 2016 e 2018. Mais que o impacto or�ament�rio, com efeito-cascata ainda n�o dimensionado, representam concess�es injustific�veis ao corporativismo, beneficiando trabalhadores que j� gozam de estabilidade funcional, em detrimento do atendimento a um vasto contingente de mais de 11 milh�es de desempregados.

    Preocupam tamb�m os termos da reestrutura��o da d�vida dos Estados, de sentido claramente eleitoreiro: desconto de 40% por at� dois anos e morat�ria por seis meses.

    Dois anos � o tempo que falta para as pr�ximas elei��es, em que o governador que n�o fez o dever de casa ter� meios de transferir o �nus de sua m� gest�o ao sucessor e ainda promover, com essa folga or�ament�ria de m�o beijada, obras que turbinem sua administra��o. N�o � nem t�cnica nem moralmente aceit�vel. Brindou-se o mau gestor. Teme-se que novas concess�es, da mesma natureza, ainda possam vir e amea�ar o cumprimento da meta.

    O pa�s, que j� opera na base do cheque especial — a tanto equivale lidar com um rombo or�ament�rio —, n�o pode permitir que seu limite seja estourado. Nessa hip�tese, ir�o aplicar a receita cl�ssica: aumento de impostos e novos cortes em investimento. Em ambos os casos, o povo paga a conta — j� est� pagando —, com reflexos em �reas essenciais, como sa�de, educa��o, seguran�a p�blica e programas sociais, que j� est�o abaixo da cr�tica.

    O governo Temer n�o pode perder de vista o que o trouxe ao poder: a miss�o de restabelecer a sa�de de um paciente terminal. N�o o far� se mantiver a gastan�a de sua antecessora. Em alguns momentos, parece ter se esquecido disso.

    O que justifica, por exemplo, o an�ncio, feito pelo mesmo Padilha, de que no pr�ximo m�s o governo recriar� o Minist�rio do Desenvolvimento Agr�rio, que ele mesmo extinguiu? Por que, havendo um Minist�rio da Agricultura — que, ao que se sabe, existe exatamente para prover o desenvolvimento agr�rio —, recriar outro, an�logo? Ou o governo n�o sabia o que fazia ao extingui-lo, o que � grave, ou recai no erro de seu antecessor, criando pastas para atender ao provimento pol�tico de cargos.

    N�o � momento de jogar para a arquibancada nem de afagar o Congresso, a pretexto de garantir o impeachment. Nessa hip�tese, corre o risco de ter o mesmo destino de sua antecessora. Sua interlocu��o � com a hist�ria, e o reconhecimento, mesmo tardio, s� vir� se n�o a trair.

    ronaldo caiado

    � senador pelo DEM-GO.
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