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    Monica de Bolle

    A armadilha brasileira

    27/08/2015 02h00

    �s v�speras de conhecermos o tamanho da queda do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, a ser divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira (28), assomam-se as d�vidas sobre a capacidade de rea��o da economia brasileira no ano que vem, ante a turbul�ncia que vem da China.

    Este, entretanto, n�o � um artigo sobre a China. � um artigo sobre o Brasil que n�o pode mais contar com a China, que n�o pode esperar que venha da �sia a salva��o para a retomada da confian�a e dos investimentos.

    A armadilha brasileira � antiga, embora n�o t�o vis�vel nos anos de bonan�a e durante o primeiro mandato da presidente Dilma, ainda marcado pelo brilho das commodities. Trata-se n�o da conhecida lista de problemas estruturais exaustivamente enumerada por dez entre dez economistas: a falta de infraestrutura, a carga tribut�ria excessivamente onerosa, as complexas leis trabalhistas, as dificuldades do ambiente de neg�cios.

    O Brasil, hoje, vive imbr�glio mais primitivo, se � que se pode chamar assim, do que todos esses. Trata-se do emaranhado bancos p�blicos-pol�tica monet�ria-pol�tica fiscal.

    Tal confus�o voltou a ficar em evid�ncia depois que o governo anunciou que utilizar� a Caixa Econ�mica Federal —e o Banco do Brasil— para fazer o que o BNDES andou fazendo nos �ltimos anos: emprestar para setores em dificuldade, cobrando taxas abaixo do mercado, lan�ando m�o do cr�dito p�blico como instrumento antic�clico.

    A armadilha funciona mais ou menos assim: bancos p�blicos encontram motivos para emprestar quando os mercados n�o est�o provendo os recursos de que a economia necessita —no caso do BNDES, a justificativa � que n�o h� mercados de cr�dito de longo prazo no Brasil. Contudo, quando um banco p�blico empresta a taxas subsidiadas, cascata de distor��es e inconsist�ncias � gerada.

    Pensem no BNDES. Quando o BNDES d� dinheiro barato para grandes empresas, pressiona as taxas de juros ao deixar para o resto do setor financeiro privado empresas com perfil de risco menos favor�vel. Essa � a chamada sele��o adversa que j� discuti em outras ocasi�es aqui.

    Al�m disso, ao fornecer mais cr�dito p�blico, cria-se disson�ncia com a pol�tica monet�ria, que tenta estabilizar pre�os de um lado, enquanto o cr�dito cresce e age na dire��o contr�ria, de outro.

    Os bancos p�blicos, que j� ocupam 55% do mercado de cr�dito no pa�s, entopem os mecanismos de transmiss�o da pol�tica monet�ria, for�ando o Banco Central a elevar mais os juros para controlar a infla��o.

    Por fim, o uso de recursos vultosos do Tesouro para financiar o BNDES desde 2010 —cerca de 10% do PIB— aumenta a d�vida bruta e dificulta a execu��o do Or�amento, j� que h� um subs�dio impl�cito nessa transa��o, al�m de elevar ainda mais as taxas de juros que o Tesouro paga sobre sua pr�pria d�vida.

    Afinal, para carregar ainda mais d�vida, os mercados naturalmente exigem juros maiores.

    No caso da Caixa Econ�mica, h� um agravante. O governo nos diz que recursos p�blicos n�o ser�o usados nas novas opera��es. Contudo, deixa de explicar que, em passado n�o muito distante, a Caixa j� foi recapitalizada diversas vezes com dinheiro p�blico por ter feito opera��o para as quais n�o tinha a devida per�cia.

    Est� a� a perfeita armadilha que o governo arma, mais uma vez, para o Brasil.

    monica baumgarten de bolle

    Escreveu até setembro de 2015

    � economista. Na coluna, tratou das grandes discuss�es econ�micas internacionais adaptadas ao contexto brasileiro.

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