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    Marcos Jank

    A geopol�tica do oceano �ndico

    13/06/2015 02h00

    O mapa mais conhecido e utilizado no mundo � a famosa proje��o de Mercator, criada em 1569 pelo cart�grafo flamengo Gerardus Mercator. Nesse mapa, a Europa aparece no centro, e a �rea de maior destaque s�o o Atl�ntico e as terras que o circundam. Isso n�o ocorreu por acaso, j� que foram essas as regi�es que dominaram a economia e a geopol�tica global naquele momento e nos quatro s�culos seguintes.

    A proje��o de Mercator divide o oceano Pac�fico em duas partes, uma na ponta direita do mapa e outra na esquerda. A �sia –continente que det�m a maior parte da terra (30%) e 60% da popula��o do planeta– aparece � direta do mapa, com menor destaque.

    Mas � logo abaixo da �sia que se encontra o Oceano mais complexo e estrat�gico da atualidade -o �ndico. Tr�s dos cinco pa�ses mais populosos do planeta gravitam em torno do �ndico –China, �ndia e Indon�sia, que somam juntos quase 3 bilh�es de pessoas. O �ndico � tamb�m o ber�o do grande arco isl�mico do planeta, que come�a nas bordas superiores do Saara e termina no arquip�lago da Indon�sia.

    Situam-se nele, tamb�m, tr�s grandes estreitos –Bab el Mandeb, Hormuz e Malaca– cuja import�ncia estrat�gica remonta �s grandes navega��es. Setenta por cento do petr�leo do planeta e metade do tr�fego de cont�ineres do mundo passam por pelo menos um desses estreitos.

    Metade da necessidade futura de energia do planeta vir� da �ndia e da China, que em breve v�o se tornar os dois maiores consumidores do planeta. A demanda de petr�leo da China vem dobrando a cada dez anos. A regi�o vive tamb�m uma intensa disputa por carv�o, g�s natural, minerais, metais, madeira e produtos agropecu�rios. Myanmar, a antiga Birm�nia, por exemplo, � o pa�s onde China e �ndia colidem nessa "disputa" por espa�o e recursos naturais.

    Ocorre que a China quer evitar o longo caminho necess�rio para trazer petr�leo e enviar as suas mercadorias, que hoje passa pelo conflitivo mar do Sul da China e pelo estreito de Malaca, que liga o �ndico ao Pac�fico entre Indon�sia, Mal�sia e Cingapura. O ex-l�der Hu Jintao denominou essa imensa vulnerabilidade na rota de bens e energia da China como o "dilema de Malaca".

    Por isso, a China vem se movimentando para construir estradas, ferrovias, oleodutos e portos que lhe deem acesso direto e r�pido ao �ndico. Recentemente o pa�s assinou um acordo multibilion�rio com o Paquist�o, principal rival da �ndia, para construir estradas e portos naquele pa�s.

    A segunda alternativa dos chineses � cruzar Myanmar, at� a ba�a de Bengala. A China tem colocado fartos recursos em Myanmar.

    No excelente livro "Monsoon - The Indian Ocean and the Future of American Power", Robert Kaplan discute o grande jogo da disputa pela hegemonia da regi�o. De um lado, a China quer se expandir verticalmente para ter acesso ao �ndico. Do outro, a �ndia tenta se expandir horizontalmente nas mesmas �reas.

    Tudo indica que s�o as �guas quentes do oceano �ndico que v�o abrigar o n�cleo central da geopol�tica mundial do s�culo 21.

    marcos sawaya jank

    Especialista em quest�es globais do agroneg�cio. Vive em Cingapura.
    Escreve aos s�bados,
    a cada duas semanas.

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