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    Le�o Serva

    Londres quer polui��o zero. E n�s?

    03/07/2017 02h00

    Nelson Antoine - 27.jul.2016/Folhapress
    Caminh�o solta fuma�a preta na marginal Tiet�
    Caminh�o solta fuma�a preta na marginal Tiet�

    O prefeito de Londres acaba de mandar ao Legislativo da capital inglesa propostas para radicalizar a redu��o do tr�nsito de autom�veis e emiss�es de gases de efeito estufa. Elas preveem que nenhum ve�culo poluente circule na cidade. E quando ser� isso? Em 2050.

    Parece muito? Pode ser, mas o longo prazo permite um debate intenso ao final do qual, se aprovadas, as leis ser�o implantadas, progressivamente, sem que um sucessor as cancele.

    Em resumo, as regras ditam que a partir de 2019 comece a vigorar uma taxa por quil�metro rodado na �rea do ped�gio urbano; al�m dos atuais R$ 45 para entrar no Centro, o valor subir� com a circula��o e conforme o motor: mais poluente paga mais. A �rea pedagiada deve ser ampliada, primeiro a centros comerciais de outras regi�es da Grande Londres, at� a cidade inteira em 2050.

    Em 2033, nenhum ve�culo de transporte poder� ter motor a combust�o: t�xis, ubers, vans, �nibus e caminh�es, s� el�tricos. Nessas mais de tr�s d�cadas, as regras de estacionamento ser�o apertadas. A cidade tamb�m tem fechado vias ao tr�nsito e logo v�rias avenidas centrais v�o virar cal�ad�es, come�ando pela Oxford Street (inclusive sem bicicletas), em 2020.

    Nos anos 2040, vai ser um inferno circular de carro. Mas quem quiser ter� que pagar muito pelo direito. E a partir de 2050, poluidor, nem pagando...

    S�o Paulo tem muito a aprender com a discuss�o londrina. Mas a li��o mais importante � sobre o processo legislativo. Quando foi a �ltima vez que um congressista brasileiro prop�s algo para daqui a 33 anos? Nossa sociedade age como se o mundo fosse acabar antes disso. Nem 33, nem 23, nem tr�s anos. Estamos discutindo a lei eleitoral para o ano que vem. Os pol�ticos s� pensam nos seus mandatos. Depois, o dil�vio.

    H� 33 anos, a sociedade civil brasileira se mobilizava pela campanha das "Diretas j�", que tiraria o pa�s da ditadura militar. N�o t�nhamos essa Constitui��o (� de 1988), carros importados (de 1990) nem telefonia celular (meados dos anos 1990).

    Nesse per�odo, boas leis no Brasil foram aprovadas e depois canceladas, com sorte reaprovadas, at� ca�rem novamente.

    O prefeito Haddad, que se autodenominava "o homem novo", cancelou ou congelou as medidas aprovadas na gest�o anterior para reduzir a polui��o dos ve�culos em S�o Paulo: a inspe��o veicular, que regulava os carros particulares, e a lei Municipal de Mudan�as Clim�ticas, de 2009, que previa a elimina��o de �nibus poluentes em 2018.

    E isso n�o acontece s� entre advers�rios pol�ticos: medidas de prote��o ambiental na Amaz�nia aprovadas no governo Lula come�aram a ser desfeitas por sua sucessora, Dilma Rousseff, e seguem sendo desmontadas por Michel Temer. Nisso, o ex-vice � fiel a ela.

    A mania de criar e desfazer leis n�o impera apenas na quest�o ambiental. O presidente Collor foi eleito por uma regra eleitoral que impedia doa��es de empresas. O caixa dois de sua campanha foi atribu�do a esse veto. Leis foram criadas para que as empresas doassem com transpar�ncia. O governo Lula atribuiu o "esc�ndalo do Mensal�o" ao caixa dois eleitoral. As doa��es de empresas foram proibidas. Voltamos a 1989. Agora, o Congresso discute o seu retorno... para o ano que vem.

    Embora pare�a longe, � melhor uma boa lei em 2050 do que uma, amanh�, s� para ingl�s ver.

    leão serva

    Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.

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