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    �rica Fraga

    Avan�o educacional no Brasil citado pela OCDE n�o convence

    16/08/2017 02h00

    John Vizcaino - 30.set.2015/Reuters
    Teacher Father Juan Humberto Cruz poses for pictures with 4th grade students at Semillas de Esperanza (Seeds of Hope) school in Soacha, near Bogota, Colombia, June 11, 2015. Nearly three years after Taliban gunmen shot Pakistani schoolgirl Malala Yousafzai, the teenage activist last week urged world leaders gathered in New York to help millions more children go to school. World Teachers' Day falls on 5 October, a Unesco initiative highlighting the work of educators struggling to teach children amid intimidation in Pakistan, conflict in Syria or poverty in Vietnam. Even so, there have been some improvements: the number of children not attending primary school has plummeted to an estimated 57 million worldwide in 2015, the U.N. says, down from 100 million 15 years ago. Reuters photographers have documented learning around the world, from well-resourced schools to pupils crammed into corridors in the Philippines, on boats in Brazil or in crowded classrooms in Burundi. REUTERS/John Vizcaino PICTURE 9 OF 47 FOR WIDER IMAGE STORY "SCHOOLS AROUND THE WORLD"SEARCH "EDUCATORS SCHOOLS" FOR ALL IMAGES ORG XMIT: PXP09
    Estudantes em escola na Col�mbia; pa�s tem conseguido progressos mais r�pidos no Pisa que o Brasil

    H� alguns dias, queria pesquisar sobre reforma educacional e entrei na p�gina do Pisa, exame internacional de aprendizagem aplicado pela OCDE (Organiza��o para a Coopera��o e o Desenvolvimento Econ�mico).

    De cara, vi uma chamada para um v�deo justamente com o t�tulo: "How Does Pisa Shape Education Reform?".

    Olhei a legenda e me surpreendi ao ler que os dois exemplos de pa�ses que foram capazes de "melhorar seu desempenho no teste e fazer seus sistemas educacionais mais inclusivos" citados eram Alemanha e Brasil.

    Acostumada a escrever e ler exaustivamente sobre o fiasco da aprendizagem brasileira, achei interessante que justo nosso pa�s pudesse ser mencionado como uma hist�ria positiva.

    O esp�rito do v�deo, bem curto, � ressaltar que, ao revelar o que diferentes pa�ses t�m atingido em termos de educa��o, o Pisa os estimula a ir atr�s dos bons exemplos.

    O exame � aplicado a cada tr�s anos tanto em pa�ses membros da OCDE (os desenvolvidos e alguns emergentes como M�xico e Chile) quanto em na��es parceiras (caso do Brasil) e busca avaliar a aprendizagem de alunos de 15 anos em matem�tica, leitura e ci�ncias.

    brasil atr�s da col�mbia - Pontua��o em matem�tica no Pisa

    No caso da Alemanha, o v�deo destaca que a primeira edi��o do Pisa, em 2000, mostrou um desempenho fraco e desigual —considerando os estudantes mais e menos favorecidos— do pa�s em leitura na compara��o com a m�dia da OCDE.

    Apontando em seguida que, em resposta, pol�ticas especificas para mudar o quadro foram adotadas: escolas em tempo integral viraram norma; obriga��es foram estipuladas; professores receberam incentivos para investir em seu desenvolvimento.

    Resultado: o sistema se tornou mais igualit�rio e a Alemanha avan�ou de um patamar abaixo da m�dia da OCDE em leitura para um n�vel superior a esse recorte.

    "A meio mundo de dist�ncia", diz ent�o o v�deo, o Brasil foi o pa�s com a nota mais baixa na edi��o do Pisa de 2003.

    Em seguida, menciona que mais da metade dos alunos brasileiros teve desempenho inferior ou igual � marca considerada como o mais baixo n�vel de profici�ncia em matem�tica, disciplina que foi o foco do exame naquele ano.

    Acrescenta, ent�o, que o pa�s estipulou a meta de atingir a m�dia da OCDE em 2021. Mas n�o menciona politicas especificas adotadas.

    Apenas diz que, desde ent�o, os alunos brasileiros com pior desempenho avan�aram o equivalente a um ano letivo de aprendizagem, mesmo em um contexto de forte inclus�o educacional.

    O v�deo afirma ainda que o Brasil ainda precisa avan�ar muito, mas que se baseia em par�metros internacionais.

    O que eu tinha na mem�ria sobre nossa trajet�ria no Pisa era que avan�amos muito pouco em leitura e ci�ncias e que demos um salto em matem�tica —de um patamar catastr�fico para outro p�ssimo—, mas que parte desse progresso foi devolvido nos �ltimos tr�s anos.

    Depois de ver o v�deo, deu vontade olhar os dados. Eu pensava: o Brasil � um dos pa�ses com desempenho mais baixo, mas j� foi o pior! E, realmente, em 2003, entre os 40 pa�ses testados, a nota brasileira em matem�tica ficou em �ltimo lugar, atr�s da obtida pelos alunos da Tun�sia.

    E em 2015? Bem, h� dois anos, cinco pa�ses tiveram desempenho mais baixo que o do Brasil na disciplina. Mas a amostra se expandiu significativamente desde 2003. Em 2015, 73 na��es foram testadas e, entre as cinco piores que o Brasil, apenas a Tun�sia havia participado da edi��o de 2003.

    Ou seja, nesses 12 anos, alguns poucos pa�ses ou territ�rios com desempenho mais sofr�vel que o nosso entraram na lista, e o Brasil s� conseguiu ultrapassar a Tun�sia.

    Mas tinha outra quest�o mencionada pelo v�deo da OCDE: os alunos brasileiros com pior desempenho conseguiram progredir.

    A organiza��o separa as notas dos alunos em sete n�veis de profici�ncia, que v�o de "abaixo de 1" (o pior poss�vel) a 6.

    Entre 2003 e 2015, o percentual de estudantes do Brasil no patamar mais catastr�fico diminuiu de 53,3% para 43,7%.

    Trata-se de uma redu��o importante principalmente por ser reflexo de uma melhora no n�vel de aprendizagem dos alunos com menor n�vel socioecon�mico.

    Mas � inevit�vel perguntar: dada a gravidade do nosso problema, ser� que n�o dever�amos estar avan�ando ainda mais rapidamente?

    O n�vel 2 de profici�ncia � considerado o m�nimo necess�rio para o exerc�cio da cidadania e espantosos 70,3% dos alunos brasileiros ainda est�o abaixo desse patamar em matem�tica.

    Desde 2003, o pa�s conseguiu uma redu��o de 4,9 pontos percentuais nessa taxa, menos do que as quedas atingidas por Peru (-8,4) e Indon�sia (-7) em apenas tr�s anos, entre 2012 e 2015 (partindo de n�veis parecidos com o nosso).

    Restava um ponto tamb�m relevante. O Brasil conseguiu pequenos avan�os em um contexto de forte inclus�o educacional, que poderia ter levado a pioras nos nossos resultados.

    Fato, mas n�o somos os �nicos. A Col�mbia, por exemplo, tem conseguido progressos mais r�pidos que os nossos —partindo de patamares pr�ximos— tamb�m em meio a grande expans�o da cobertura escolar.

    Os resultados do pa�s vizinho est�o longe de ser uma maravilha. Mas, em 2015, a Col�mbia nos ultrapassou em leitura, ci�ncias e matem�tica. Tamb�m conseguiu reduzir a taxa de baix�ssima profici�ncia um pouco mais do que o Brasil.

    Talvez um prop�sito do v�deo da OCDE seja ressaltar que tanto na��es desenvolvidas quanto as menos ricas podem progredir. S� n�o me convenci de que o Brasil era um bom exemplo do segundo grupo.

    érica fraga

    � jornalista com mestrado em Economia Pol�tica Internacional no Reino Unido. Venceu os pr�mios Esso, CNI e Citigroup. M�e de tr�s meninos, escreve sobre educa��o, �s quartas.

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